Polícia Civil
envelhecida: efetivo terá baixa de 85% com aposentadorias na Bahia
De
acordo com ofício Nº 094/2023 da Coordenação de Recursos Humanos da Polícia
Civil, encaminhado em 11 de maio deste ano ao Gabinete do Delegado-Geral (GDG),
ao qual o CORREIO teve acesso, 764 delegados, investigadores e escrivães têm
entre 25 e 44 anos (homens e mulheres). Os demais, 4.546, têm entre 45 e 74
anos.
“Antigamente, eram 30 anos de contribuição, por se tratar de atividade de
risco. Com reforma da Previdência de 2020, passou a exigir também a idade, 56
para os homens e 52 para as mulheres. Porém, como a maioria desses colegas
entram 1997 e averbaram o tempo de fora, ou seja, o período em que estavam no
setor privado, eles completam o tempo de contribuição”, explicou o presidente
do Sindpoc, Estácio Lopes.
Segundo
ele, grande parte de quem está hoje na Polícia Civil passou nos concursos de
1974, 1982, 1992 e 1997. “Então, esses 85%, daqui a cinco anos, estarão aptos
para se aposentar. Nós já temos uma polícia com idade avançada!”, declarou.
A
situação no efetivo da PC foi também motivo de denúncia do juiz Waldir Viana,
titular da Vara de Execuções Penais de Camaçari. Com exclusividade, o
magistrado disse ao CORREIO que “ a Polícia Civil está sucateada”. Segundo ele,
o baixo efetivo é a principal causa que trava o trabalho do Judiciário. Ele
cita, como exemplo, a delegacia de homicídios do município, que conta com
quatro agentes para apurar uma média de 200 assassinatos por ano.
Em
abril de 2022, o Tribunal de Contas do Estado (TCE/BA) apontou que o quadro
funcional da polícia judiciária na Bahia não cumpria a Lei Estadual nº
11.370/2009 (Lei Orgânica da PC/BA), que determina o quantitativo de 8.933
servidores – o que indica um déficit de quase 40% no quadro atual. “Em maio do
ano passado, a Polícia Civil nos informou que 1.047 policiais já preencheriam
os requisitos de aposentadoria. De lá pra cá, em 13 meses, 135 já não trabalham
mais nas unidades”, informou Estácio.
O
concurso mais recente da categoria foi em julho do ano passado. De acordo com a
PC, foram disponibilizadas 1.000 vagas imediatas, sendo 150 para delegado, 700
para investigador e 150 vagas para escrivão. No último dia 19, foram convocados
mais 260 investigadores e 128 delegados do cadastro reserva. Um total de 1.388
futuros policiais civis. No entanto, segundo o Sindpoc, um acréscimo
irrelevante. “Na verdade, o aumento do efetivo foi apenas de 341 servidores
(1.388 – 1.047) do atual quadro de 5.310. A maioria vai entrar para substituir
quem já saiu ou está saindo”, argumentou Lopes.
O
sindicato diz que o número ideal é uma média de 11 mil servidores. “A gente
precisa de concursos anuais com no mínimo 1 mil vagas, até 2028. A nossa
avaliação é em cima das necessidades das delegacias, principalmente no interior
do estado, do aumento da população baiana, que hoje chega a 15 milhões de
habitantes, e pelos critérios da ONU”, pontuou Lopes. O número ideal de
policiais recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) é de um para 250
habitantes.
A
defasagem do número de policiais é preocupante para o professor Luís Lourenço,
pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos) da
Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Se não recompõe o número defasado, com o
passar do tempo, os policiais que estão na ativa vão envelhecendo. O problema
que se pode ter com policiais a mais tempo em serviço decorre também da
insalubridade do serviço policial. É um trabalho associado à síndrome de
burnout (esgotamento físico), alto estresse, uma série de coisas. Então, a
recomposição do efetivo tem que ter uma certa frequência, para que a gente não
tenha policiais sobrecarregados e trabalhando há muito tempo”, disse.
A
opinião é a mesma do também especialista em segurança pública, o professor de
Direito Penal e Processo Penal René Silva Almeida. “É preciso novos
profissionais para executarem o mesmo trabalho que são hoje realizados por
pessoas que ingressaram há 20, 30 anos, para que se possa prestar um bom
serviço à sociedade”, pontou Almeida.
·
Morte
A
situação põe a categoria em risco. “Muitos estão doentes e também não têm a
mesma agilidade de antes e que é imprescindível para desempenho da função.
Recentemente, fizemos inspeção na Deam (Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher) de Brotas e neste dia, em toda a unidade, só havia três
colegas, uma de 50, outra de 55 e a terceira de 66 anos. Se chega um grupo
armado, elas teriam que chance?”, indagou o presidente do Sindpoc.
Em
maio de 2019, o investigador Pedro Rodrigues do Carmo Filho, 63, foi dominado e
morto com a própria arma. Ele estava num ônibus, às margens da rodovia BR-324,
quando dois homens anunciaram o assalto. Para evitar um confronto, esperou a
dupla terminar a ação. Depois, seguiu os dois a pé e disparou contra um dos criminosos,
que faleceu no hospital. Já o comparsa conseguiu fugir para a mata, onde foi
descoberto por Pedro. Foi quando a luta entre os dois teve início. “Ele agarrou
o cara, mas não teve força para imobilizá-lo. O assaltante, que era um rapaz,
conseguiu tomar de Pedro e atirou duas vezes”, contou Lopes.
·
Sem previsão
Em
nota, a Polícia Civil disse que o quadro funcional atual é de 5.283 – 27 a
menos que o quantitativo informado nos relatórios do GDG e TCE/BA.
A
respeito da necessidade de concursos nos próximos cinco anos, a PC disse que
não tem previsão. “Considerando que todas as etapas de um concurso público
devem ser obedecidas, o tempo para início e encerramento de cada certame é
indefinido, não sendo possível precisar quando será lançado o próximo edital”,
diz nota enviada ao CORREIO. O posicionamento relata ainda que a PC tem o
objetivo de atingir o número de servidos conforme Lei Orgânica da instituição.
Ø
TJ-BA inicia
julgamento que pode causar rombo milionário ao Estado
Reiniciou
nessa segunda-feira, 10, na Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia
(TJ-BA) a nova etapa da longa batalha judicial protagonizada por um grupo de
mais de 50 ex-deputados, cônjuges
pensionistas e espólios, contra a Assembleia Legislativa (ALBA) e o Estado da
Bahia pelo pagamento de indenizações milionárias
A
ação, que se arrasta desde 2008, e que teve seu valor estimado pela ALBA em R$
150 milhões à época, já foi julgada em diversas instâncias, incluindo o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), com
vitórias para ambos os lados e tem como foco a Caixa de Previdência Parlamentar
(CPP) extinta em 1997 com base na Lei Estadual nº 7244.
No
texto, foi legislado que o dispositivo, que era de contribuição obrigatória
desde 1967, seria extinto, "sendo sucedido em todos os direitos e
obrigações, pela Assembleia Legislativa, a qual assumirá, mediante recursos
anualmente consignados no seu orçamento, a concessão, manutenção e pagamento
dos benefícios".
O
novo julgamento ocorre após o juiz Marcelo de Oliveira Brandão, da 5ª Vara da
Fazenda Pública de Salvador, em outubro de 2021, julgar procedente uma Ação de
Repetição de Indébito, que tem como objetivo a devolução de valores cobrados
indevidamente de uma pessoa, seja ela natural ou jurídica, protocolada pelos
requerentes.
Após
a decisão, o Estado da Bahia passou a figurar no polo passivo da ação, já que a
AL-BA não possui personalidade jurídica e recursos próprios e a Lei nº 7.244
ordenou a liquidação da CPP a partir de um "liquidante nomeado pela Mesa
Diretora da Assembleia Legislativa, competindo-lhe administrar o Patrimônio da
Caixa".
Agora,
o processo volta para o Tribunal de Justiça da Bahia e será relatado pela
Desembargadora Cassinelza da Costa Santos Lopes e demais desembargadores que
integram a turma julgadora.
A
ação deveria ser julgada em 2021, mas foi adiada sequencialmente por conta da
pandemia da Covid-19, já que uma série de recursos pedia pela sessão
presencial, e pela morte do ex-deputado Roque Aras, um dos requerentes, o que
originou um processo para habilitação dos seus herdeiros como parte do
processo.
A
Sessão Plenária Virtual ocorre entre às 12h do dia 10/07 e às 12h do dia 17/07
de forma pública e com transmissão ao vivo no portal do Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia.
• Imbróglio judicial
Com
a promulgação da Lei Estadual nº 7244., o grupo entrou com ação argumentando
que a extinção causou uma mudança no cálculo das pensões e que por isso, as
contribuições feitas para a CPP não estariam sendo pagas integralmente já que
não contabilizadas as contribuições referentes à parte variável, os chamados
"penduricalhos", parte variável de contribuição referentes a verbas
recebidas pelos parlamentares, como gastos com gasolinas, alimentação, fax e
outras despesas.
Em
2008, a ação foi rejeitada no pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) por
27 votos contra 1. Na ocasião, o órgão acolheu recurso interposto pela
Procuradoria Geral da Assembleia Legislativa, representada pelo seu
procurador-geral Graciliano Bonfim, que até hoje permanece no posto.
Após
sucessivas decisões judiciais favoráveis para ambos os lados, e a vitória da
Assembleia no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o grupo de ex-parlamentares
modificou o argumento do pedido original por conta de uma observação feita pela
relatora, a Ministra Maria Thereza de Assis Moura, que versa que o
"eventual recolhimento de contribuição incidente sobre verba que não
integra a remuneração não tem o condão de modificar o critério legal e
constitucional de cálculo dos benefícios, conquanto possa ser objeto de ação
própria, visando ao ressarcimento de valores pagos indevidamente".
Os
requerentes entraram então com a Ação de Repetição de Indébito
"buscando-se a restituição de quantias pagas a título de contribuição
previdenciária cobrada sobre parcela variável do subsídio percebidos pelos
autores da demanda ora em análise", ocasião em que a sentença do juiz
Marcelo de Oliveira Brandão, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Salvador, julgou
a ação procedente.
Após
a decisão, o procurador-geral da ALBA, Graciliano Bonfim, que atua no caso
desde 2007, afirmou que houveram tentativas de acordo entre as partes, sem
sucesso, e que a Ação de Repetição de Indébito não possui fundamento pois, pede
"não o recálculo da aposentadoria, mas a devolução do que eles teriam pago
indevidamente. Só que não houve nenhum pagamento indevido".
Procurado
pela reportagem de A TARDE, já que a ALBA teve a "ilegitimidade passiva ad
causam" pela decisão do juiz Marcelo de Oliveira Brandão reconhecida,
Graciliano preferiu não comentar o caso e afirmar que irá aguardar o
julgamento, "mas alimenta a esperança de que a decisão seja favorável ao
Estado, pela manifesta ocorrência da prescrição. Aguardemos então, a decisão da
Justiça".
Também
procurada pela reportagem de A TARDE, que questionou se o valor orçado pela
ALBA em R$ 150 milhões em 2008 teria sofrido correção monetária, a
Procuradoria-Geral do Estado, na figura do Procurador Dr. Fernando Telles,
afirmou que "Não temos, neste momento processual, como precisar este
valor. Somente em uma fase processual posterior, se vitoriosa a tese dos
ex-deputados".
Fonte:
Correio/A Tarde
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