domingo, 2 de julho de 2023

Diretor da CIA ligou para Moscou após rebelião do Grupo Wagner para dar recado, diz mídia americana

William Burns telefonou para o chefe do serviço de inteligência estrangeira da Rússia, Sergei Naryshkin, e acredita-se que esse seja o contato de mais alto nível entre os dois governos desde a rebelião.

De acordo com fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal, o diretor da CIA, William Burns, discretamente ligou para Moscou após a rebelião fracassada do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, transmitindo uma mensagem de que os Estados Unidos não tinham envolvimento com a ação.

A mensagem do chefe da CIA foi: "Os EUA não estavam envolvidos. Este é um assunto interno da Rússia", disse um funcionário citado pela mídia.

A ligação de Burns faz parte de uma estratégia mais ampla da Casa Branca para sinalizar ao líder russo, Vladimir Putin, e seu círculo íntimo que Washington não teve nenhum papel na ação de Prigozhin e não está buscando cenários parecidos para atiçar as tensões na Rússia, escreve o jornal.

Burns, cuja carreira diplomática de 32 anos incluiu uma passagem como embaixador em Moscou, tem sido frequentemente o interlocutor preferido de Joe Biden com a Rússia.

Em novembro de 2021, Biden o despachou para capital russa, onde falou por uma linha telefônica segura com Putin. Em novembro de 2022, ele se encontrou com Naryshkin em Ancara, Turquia, para alertar a Rússia sobre as consequências caso ela usasse armas nucleares no conflito na Ucrânia.

Na noite de sábado (24), na cidade russa de Rostov-no-Don, a sede do Distrito Militar do Sul foi tomada pelas forças e equipamentos do Grupo Wagner.

Isso aconteceu após as declarações de Yevgeny Prigozhin sobre os supostos ataques das Forças Armadas russas contra os campos do Grupo Wagner, tendo tanto o Ministério da Defesa da Rússia quanto o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia negado isso.

A rebelião armada foi interrompida graças às difíceis negociações que o líder belarusso Aleksandr Lukashenko conduziu durante todo o sábado, em acordo com Vladimir Putin.

Como resultado, Prigozhin concordou em ir para Belarus, alguns dos combatentes que não participaram da rebelião se ofereceram para assinar um contrato com o Ministério da Defesa e o resto do Grupo Wagner não será perseguido.

·         Não é interessante para EUA assumir responsabilidade pela segurança da Ucrânia, diz especialista

Fornecer a Kiev garantias de segurança da Organização do Tratado do Atlântico Norte poderia levar a uma guerra nuclear com a Rússia, escreve o especialista militar e tenente-coronel americano reformado Daniel Davis, em um artigo no 19FortyFive.

Enquanto os combates continuam, os membros da OTAN seguem discutindo as exigências do presidente ucraniano Vladimir Zelensky, que quer que Kiev receba garantias de segurança na cúpula da aliança de julho em Vilnius, na forma da adesão da Ucrânia ao bloco militar.

Segundo Davis, não importa quão forte seja a simpatia do Ocidente pela Ucrânia ou sua antipatia pela Rússia, os Estados Unidos não devem, em circunstância alguma, fornecer a Kiev quaisquer garantias de segurança.

Qualquer promessa firme à Ucrânia de que os Estados Unidos ou a Aliança Atlântica estarão prontos para entrar em guerra com a Rússia, diga-se de passagem, possuidora de armas nucleares, expõe claramente a segurança futura dos EUA a riscos excessivamente altos e desnecessários, acredita o autor.

De acordo com ele, trata-se de uma nobre ganância de desejar que todos os povos do mundo sejam livres e independentes.

O artigo também relembra que alguns analistas ocidentais argumentam que a OTAN pode seguramente estender garantias de segurança à Ucrânia sob o Artigo 5 de sua Carta, assim como a Alemanha Ocidental foi admitida na aliança em 1955, enquanto a Alemanha Oriental permaneceu na esfera de influência soviética.

No entanto, todos os apoiadores de tal política externa estão unidos pela atenção míope às supostas vantagens para Kiev e uma falta quase completa de pensamento realista sobre a provável reação da Rússia, acredita Davis.

Além disso, ele está convencido de que "não é do interesse dos EUA" se comprometer a se juntar um dia à guerra contra a Rússia com armas nucleares em nome de uma "Ucrânia ressentida".

Segundo o especialista, os EUA podem apoiar a Ucrânia e ajudá-la a se defender sem arriscar uma terceira guerra mundial, como vem acontecendo desde o início do conflito em fevereiro de 2022.

 

Ø  Por que a Rússia usa mercenários do grupo Wagner em guerra

 

Por que Rússia usa mercenários do grupo Wagner em guerra? A BBC News Brasil faz um resumo de questões-chave envolvendo o grupo de mercenários.

O grupo Wagner contribui com soldados e dinheiro para a Rússia. O grupo também é conhecido por seu estilo de combate mais agressivo e pouco convencional.

O líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, tem ligações próximas com o presidente russo Vladimir Putin — pelo menos até recentemente, antes da curta rebelião do Wagner contra Moscou.

Além disso, especialistas dizem que Putin se beneficia dos métodos pouco convencionais do Wagner, que não poderiam ser adotados abertamente por tropas oficiais.

O uso de forças mercenárias é tecnicamente ilegal na Rússia, mas o Wagner registrou-se como empresa em 2022, para driblar a lei. Os EUA classificaram o grupo como uma "organização criminosa" em janeiro.

O grupo Wagner possui um contigente de 25 mil soldados, segundo declaração recente de seu líder, Yevgeny Prigozhin.

O número não é grande dentro do universo militar russo. A Rússia possui mais de 1 milhão de militares, além de 900 mil funcionários civis que trabalham na defesa. Cerca de 5 mil soldados do Wagner marcharam rumo ao Kremlin na curta rebelião de junho.

Mas o Wagner é um dos grupos que mais cresceram nos últimos anos. Isso acontece porque o Wagner consegue recrutar prisioneiros russos para combater na Ucrânia. Fontes americanas dizem que 80% das tropas do Wagner na Ucrânia são formadas por ex-prisioneiros russos.

O Wagner conduz algumas das operações militares mais delicadas da Rússia, como na batalha pela cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

Um comandante militar ucraniano disse que o Wagner tem um estilo de combate mais agressivo e menos convencional, e que surpreende seus inimigos no campo de batalha.

"Os soldados do Wagner avançam abertamente sob fogo em nossa direção, mesmo que vários deles estejam caindo pelo caminho, mesmo que de 60 pessoas em seu pelotão restem apenas 20. É muito difícil resistir a uma invasão dessas. Não estávamos preparados para isso, e estamos aprendendo agora", disse um comandante ucraniano em Bakhmut à BBC.

Outro motivo pelo qual a Rússia emprega os serviços do Wagner é a chamada "negação plausível" — o uso de agentes privados permite que o governo russo negue o envolvimento em operações controversas.

Segundo o jornalista Ilya Zhegulev, que estuda o Wagner, Prigozhin “nunca se recusou a fazer trabalhos sujos”.

A Rússia por vezes se distancia do Wagner quando julga conveniente. Em janeiro, o ministério russo da Defesa não reconheceu que havia combatentes do grupo lutando na Ucrânia, provocando a ira de Prigozhin.

Nas semanas anteriores à invasão, circularam informações de que o Wagner estariam realizando “ataques de bandeira falsa” — que serviriam de pretexto para o Kremlin autorizar a invasão da Ucrânia.

O grupo também é "usado pelo Kremlin para impor a disciplina no campo de batalha“, de acordo com Marina Miron, especialista do Kings College, em Londres.

 

Ø  Grupo Wagner segue recrutando mesmo após rebelião, aponta investigação da BBC

 

O Grupo Wagner ainda está recrutando combatentes em toda a Rússia, dias depois de liderar um motim que levou Vladimir Putin a aumentar o temor de uma guerra civil.

Por meio de um número de telefone russo, ligamos para mais de uma dúzia de centros de recrutamento dizendo, caso questionassem, que estávamos perguntando em nome de um irmão.

Todos aqueles que responderam confirmaram que tudo continuava como antes.

De Kaliningrado, no oeste, a Krasnodar, no sul, ninguém acreditava que o grupo estava sendo dissolvido.

Na cidade ártica de Murmansk, uma mulher do clube esportivo Viking confirmou que ainda estava contratando mercenários para a guerra na Ucrânia.

"É para lá que estamos recrutando, sim. Se alguém quiser ir, é só me ligar e marcamos um dia."

A longa lista de pontos de contato de Wagner está localizada principalmente em clubes de luta, incluindo escolas de artes marciais e clubes de boxe.

Várias pessoas que atenderam o telefone enfatizaram que os novos membros estavam assinando contratos com o próprio grupo mercenário, não com o Ministério da Defesa russo.

"Não tem absolutamente nada a ver com o Ministério da Defesa", disse um homem do clube esportivo Sparta em Volgogrado. "Nada parou, ainda estamos recrutando."

A exigência para que os mercenários se transferissem para o Ministério da Defesa, afetando assim o Grupo Wagner e seu chefe Yevgeny Prigozhin, estava no cerne do levante armado que explodiu no fim de semana passado.

Foi o maior desafio à autoridade do presidente Putin em seu governo de mais de 20 anos, apesar de o Kremlin se esforçar para tentar parecer que a resposta do líder russo ao episódio foi forte e fundamental para evitar a escalada do conflito.

No entanto, o processo criminal contra os mercenários foi arquivado, em um país onde vários ativistas da oposição estão cumprindo longas penas de prisão apenas por se manifestarem contra a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

Até mesmo o líder do Wagner foi liberado, aparentemente se mudando para a Belarus - embora o jato particular de Prigozhin tenha sido rastreado voando de volta para a Rússia na noite de terça-feira.

E seu exército, que marchou sobre Moscou e atirou em helicópteros e em um avião em pleno voo, ainda não parece ter sido impactado.

"Estamos trabalhando. Se algo tivesse mudado, eles teriam nos contado. Mas não há nada", esclareceu uma recrutadora em Krasnodar, no sul da Rússia.

O salário de um mercenário do Wagner continua sendo generosos 240 mil rublos (cerca de R$13 mil) por mês; os contratos são de seis meses.

Na quinta-feira, o presidente do comitê de defesa no parlamento da Rússia disse que Prigozhin havia sido avisado anteriormente de que o prazo para o Grupo Wagner ser dissolvido pelo Ministério da Defesa não era negociável.

"O Ministério da Defesa disse que todos os grupos devem assinar contratos, e todos começaram a fazer isso. Todos, exceto o Prigozhin", comentou Andrei Kartapolov, se referindo ao motim como um ato de traição.

"Ele foi informado de que o Wagner não participaria mais da Operação Militar Especial", em referência à guerra da Rússia contra a Ucrânia. "Também não obteria financiamento ou recursos materiais."

Vladimir Putin, que passou anos negando qualquer vínculo oficial com o grupo Wagner, mudou o discurso repentinamente após o motim do fim de semana. Aparentemente tentando reduzir a relevância de Prigozhin, Putin afirmou que o grupo era 100% financiado pelo Estado russo.

Os aspectos práticos da sobrevivência do Wagner, portanto, não são claros.

No sábado, Putin assinou uma lei que indica que apenas o Ministério da Defesa pode agora recrutar nas prisões russas, o que anteriormente era uma fonte importante de novos combatentes do Wagner no conflito com a Ucrânia.

Mas a campanha de recrutamento mais ampla do grupo continua.

Em Volgogrado, o homem com quem falamos disse que se alguém se inscrevesse hoje, "poderia distribuí-lo amanhã" e confirmou que Belarus agora era um possível destino.

No início desta semana, o líder de longa data de Belarus, Alexander Lukashenko - que se orgulha ao descrever seu papel como mediador do fim do levante de sábado - disse que os combatentes do Wagner são bem-vindos por lá.

Ele sugeriu que o exército bielorrusso tinha muito a aprender com eles.

Um membro bielorrusso do Wagner, que atende pela alcunha de "Brest", deu a entender que o grupo seria uma boa proteção para Lukashenko antes das eleições parlamentares do próximo ano, caso houvesse mais protestos em massa contra seu governo autoritário.

Em um vídeo postado no Telegram e filmado em local desconhecido, "Brest" também lembrou que a fronteira com a Belarus fica "a menos de 300 quilômetros de Kiev". Foi como uma ameaça velada.

Ainda não há sinais de que os mercenários do Wagner estejam se mudando para a Belarus.

"Tudo está como antes, por enquanto. Nada mudou", disse uma mulher em Saratov, centro da Rússia, confirmando que ainda estava recrutando homens para lutar na Ucrânia.

"Todo mundo vai para Molkino, como de costume. Para o centro de treinamento. Eles obtêm todas as informações lá", acrescentou ela, aparentemente se referindo a um campo de tiro anteriormente ligado ao Wagner no sul da Rússia.

Então, alguma coisa mudará depois de 1º de julho? "Espero que não. Não sei. Mas as pessoas ainda estão nos contatando, é claro."

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Brasil

 

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