Diretor da CIA
ligou para Moscou após rebelião do Grupo Wagner para dar recado, diz mídia
americana
William
Burns telefonou para o chefe do serviço de inteligência estrangeira da Rússia,
Sergei Naryshkin, e acredita-se que esse seja o contato de mais alto nível
entre os dois governos desde a rebelião.
De
acordo com fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal, o diretor da CIA,
William Burns, discretamente ligou para Moscou após a rebelião fracassada do
líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, transmitindo uma mensagem de que os
Estados Unidos não tinham envolvimento com a ação.
A
mensagem do chefe da CIA foi: "Os EUA não estavam envolvidos. Este é um
assunto interno da Rússia", disse um funcionário citado pela mídia.
A
ligação de Burns faz parte de uma estratégia mais ampla da Casa Branca para
sinalizar ao líder russo, Vladimir Putin, e seu círculo íntimo que Washington
não teve nenhum papel na ação de Prigozhin e não está buscando cenários
parecidos para atiçar as tensões na Rússia, escreve o jornal.
Burns,
cuja carreira diplomática de 32 anos incluiu uma passagem como embaixador em
Moscou, tem sido frequentemente o interlocutor preferido de Joe Biden com a
Rússia.
Em
novembro de 2021, Biden o despachou para capital russa, onde falou por uma
linha telefônica segura com Putin. Em novembro de 2022, ele se encontrou com
Naryshkin em Ancara, Turquia, para alertar a Rússia sobre as consequências caso
ela usasse armas nucleares no conflito na Ucrânia.
Na
noite de sábado (24), na cidade russa de Rostov-no-Don, a sede do Distrito
Militar do Sul foi tomada pelas forças e equipamentos do Grupo Wagner.
Isso
aconteceu após as declarações de Yevgeny Prigozhin sobre os supostos ataques
das Forças Armadas russas contra os campos do Grupo Wagner, tendo tanto o Ministério
da Defesa da Rússia quanto o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia
negado isso.
A
rebelião armada foi interrompida graças às difíceis negociações que o líder
belarusso Aleksandr Lukashenko conduziu durante todo o sábado, em acordo com
Vladimir Putin.
Como
resultado, Prigozhin concordou em ir para Belarus, alguns dos combatentes que
não participaram da rebelião se ofereceram para assinar um contrato com o
Ministério da Defesa e o resto do Grupo Wagner não será perseguido.
·
Não
é interessante para EUA assumir responsabilidade pela segurança da Ucrânia, diz
especialista
Fornecer
a Kiev garantias de segurança da Organização do Tratado do Atlântico Norte
poderia levar a uma guerra nuclear com a Rússia, escreve o especialista militar
e tenente-coronel americano reformado Daniel Davis, em um artigo no
19FortyFive.
Enquanto
os combates continuam, os membros da OTAN seguem discutindo as exigências do
presidente ucraniano Vladimir Zelensky, que quer que Kiev receba garantias de
segurança na cúpula da aliança de julho em Vilnius, na forma da adesão da
Ucrânia ao bloco militar.
Segundo
Davis, não importa quão forte seja a simpatia do Ocidente pela Ucrânia ou sua
antipatia pela Rússia, os Estados Unidos não devem, em circunstância alguma,
fornecer a Kiev quaisquer garantias de segurança.
Qualquer
promessa firme à Ucrânia de que os Estados Unidos ou a Aliança Atlântica
estarão prontos para entrar em guerra com a Rússia, diga-se de passagem,
possuidora de armas nucleares, expõe claramente a segurança futura dos EUA a
riscos excessivamente altos e desnecessários, acredita o autor.
De
acordo com ele, trata-se de uma nobre ganância de desejar que todos os povos do
mundo sejam livres e independentes.
O
artigo também relembra que alguns analistas ocidentais argumentam que a OTAN
pode seguramente estender garantias de segurança à Ucrânia sob o Artigo 5 de
sua Carta, assim como a Alemanha Ocidental foi admitida na aliança em 1955,
enquanto a Alemanha Oriental permaneceu na esfera de influência soviética.
No
entanto, todos os apoiadores de tal política externa estão unidos pela atenção
míope às supostas vantagens para Kiev e uma falta quase completa de pensamento
realista sobre a provável reação da Rússia, acredita Davis.
Além
disso, ele está convencido de que "não é do interesse dos EUA" se
comprometer a se juntar um dia à guerra contra a Rússia com armas nucleares em
nome de uma "Ucrânia ressentida".
Segundo
o especialista, os EUA podem apoiar a Ucrânia e ajudá-la a se defender sem
arriscar uma terceira guerra mundial, como vem acontecendo desde o início do
conflito em fevereiro de 2022.
Ø
Por que a Rússia
usa mercenários do grupo Wagner em guerra
Por
que Rússia usa mercenários do grupo Wagner em guerra? A BBC News Brasil faz um
resumo de questões-chave envolvendo o grupo de mercenários.
O
grupo Wagner contribui com soldados e dinheiro para a Rússia. O grupo também é
conhecido por seu estilo de combate mais agressivo e pouco convencional.
O
líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, tem ligações
próximas com o presidente russo Vladimir Putin — pelo menos até
recentemente, antes da curta rebelião do Wagner contra
Moscou.
Além
disso, especialistas dizem que Putin se beneficia dos métodos pouco
convencionais do Wagner, que não poderiam ser adotados abertamente por tropas
oficiais.
O
uso de forças mercenárias é tecnicamente ilegal na Rússia, mas o Wagner
registrou-se como empresa em 2022, para driblar a lei. Os EUA classificaram o
grupo como uma "organização criminosa" em janeiro.
O
grupo Wagner possui um contigente de 25 mil soldados, segundo declaração
recente de seu líder, Yevgeny Prigozhin.
O
número não é grande dentro do universo militar russo. A Rússia possui mais de 1
milhão de militares, além de 900 mil funcionários civis que trabalham na
defesa. Cerca de 5 mil soldados do Wagner marcharam rumo ao Kremlin na curta
rebelião de junho.
Mas
o Wagner é um dos grupos que mais cresceram nos últimos anos. Isso acontece
porque o Wagner consegue recrutar prisioneiros russos para combater na Ucrânia.
Fontes americanas dizem que 80% das tropas do Wagner na Ucrânia são formadas
por ex-prisioneiros russos.
O
Wagner conduz algumas das operações militares mais delicadas da Rússia, como
na batalha pela cidade de Bakhmut, no leste da
Ucrânia.
Um
comandante militar ucraniano disse que o Wagner tem um estilo de combate mais
agressivo e menos convencional, e que surpreende seus inimigos no campo de
batalha.
"Os
soldados do Wagner avançam abertamente sob fogo em nossa direção, mesmo que
vários deles estejam caindo pelo caminho, mesmo que de 60 pessoas em seu
pelotão restem apenas 20. É muito difícil resistir a uma invasão dessas. Não
estávamos preparados para isso, e estamos aprendendo agora", disse um
comandante ucraniano em Bakhmut à BBC.
Outro
motivo pelo qual a Rússia emprega os serviços do Wagner é a chamada
"negação plausível" — o uso de agentes privados permite que o governo
russo negue o envolvimento em operações controversas.
Segundo
o jornalista Ilya Zhegulev, que estuda o Wagner, Prigozhin “nunca se recusou a
fazer trabalhos sujos”.
A
Rússia por vezes se distancia do Wagner quando julga conveniente. Em janeiro, o
ministério russo da Defesa não reconheceu que havia combatentes do grupo
lutando na Ucrânia, provocando a ira de Prigozhin.
Nas
semanas anteriores à invasão, circularam informações de que o Wagner estariam
realizando “ataques de bandeira falsa” — que serviriam de pretexto para o
Kremlin autorizar a invasão da Ucrânia.
O
grupo também é "usado pelo Kremlin para impor a disciplina no campo de
batalha“, de acordo com Marina Miron, especialista do Kings College, em
Londres.
Ø
Grupo
Wagner segue recrutando mesmo após rebelião, aponta investigação da BBC
O
Grupo Wagner ainda está recrutando combatentes em toda a Rússia, dias depois de
liderar um motim que levou Vladimir Putin a aumentar o temor de uma guerra
civil.
Por
meio de um número de telefone russo, ligamos para mais de uma dúzia de centros
de recrutamento dizendo, caso questionassem, que estávamos perguntando em nome
de um irmão.
Todos
aqueles que responderam confirmaram que tudo continuava como antes.
De
Kaliningrado, no oeste, a Krasnodar, no sul, ninguém acreditava que o grupo
estava sendo dissolvido.
Na
cidade ártica de Murmansk, uma mulher do clube esportivo Viking confirmou que
ainda estava contratando mercenários para a guerra na Ucrânia.
"É
para lá que estamos recrutando, sim. Se alguém quiser ir, é só me ligar e
marcamos um dia."
A
longa lista de pontos de contato de Wagner está localizada principalmente em
clubes de luta, incluindo escolas de artes marciais e clubes de boxe.
Várias
pessoas que atenderam o telefone enfatizaram que os novos membros estavam
assinando contratos com o próprio grupo mercenário, não com o Ministério da
Defesa russo.
"Não
tem absolutamente nada a ver com o Ministério da Defesa", disse um homem
do clube esportivo Sparta em Volgogrado. "Nada parou, ainda estamos
recrutando."
A
exigência para que os mercenários se transferissem para o Ministério da Defesa,
afetando assim o Grupo Wagner e seu chefe Yevgeny Prigozhin, estava no cerne do
levante armado que explodiu no fim de semana passado.
Foi
o maior desafio à autoridade do
presidente Putin em seu governo de mais de 20 anos, apesar de o
Kremlin se esforçar para tentar parecer que a resposta do líder russo ao
episódio foi forte e fundamental para evitar a escalada do conflito.
No
entanto, o processo criminal contra os
mercenários foi arquivado, em um país onde vários ativistas da oposição estão
cumprindo longas penas de prisão apenas por se manifestarem contra a guerra da
Rússia contra a Ucrânia.
Até
mesmo o líder do Wagner foi liberado, aparentemente se mudando para a Belarus -
embora o jato particular de Prigozhin tenha sido rastreado voando de volta para
a Rússia na noite de terça-feira.
E
seu exército, que marchou sobre Moscou e atirou em helicópteros e em um avião
em pleno voo, ainda não parece ter sido impactado.
"Estamos
trabalhando. Se algo tivesse mudado, eles teriam nos contado. Mas não há
nada", esclareceu uma recrutadora em Krasnodar, no sul da Rússia.
O
salário de um mercenário do Wagner continua sendo generosos 240 mil rublos
(cerca de R$13 mil) por mês; os contratos são de seis meses.
Na
quinta-feira, o presidente do comitê de defesa no parlamento da Rússia disse
que Prigozhin havia sido avisado anteriormente de que o prazo para o Grupo
Wagner ser dissolvido pelo Ministério da Defesa não era negociável.
"O
Ministério da Defesa disse que todos os grupos devem assinar contratos, e todos
começaram a fazer isso. Todos, exceto o Prigozhin", comentou Andrei
Kartapolov, se referindo ao motim como um ato de traição.
"Ele
foi informado de que o Wagner não participaria mais da Operação Militar
Especial", em referência à guerra da Rússia contra a Ucrânia. "Também
não obteria financiamento ou recursos materiais."
Vladimir
Putin, que passou anos negando qualquer vínculo oficial com o grupo Wagner, mudou
o discurso repentinamente após o motim do fim de semana. Aparentemente tentando
reduzir a relevância de Prigozhin, Putin afirmou que o grupo era 100%
financiado pelo Estado russo.
Os
aspectos práticos da sobrevivência do Wagner, portanto, não são claros.
No
sábado, Putin assinou uma lei que indica que apenas o Ministério da Defesa pode
agora recrutar nas prisões russas, o que anteriormente era uma fonte importante
de novos combatentes do Wagner no conflito com a Ucrânia.
Mas
a campanha de recrutamento mais ampla do grupo continua.
Em
Volgogrado, o homem com quem falamos disse que se alguém se inscrevesse hoje,
"poderia distribuí-lo amanhã" e confirmou que Belarus agora era um
possível destino.
No
início desta semana, o líder de longa data de Belarus, Alexander Lukashenko -
que se orgulha ao descrever seu papel como mediador do fim do levante de sábado
- disse que os combatentes do Wagner são bem-vindos por lá.
Ele
sugeriu que o exército bielorrusso tinha muito a aprender com eles.
Um
membro bielorrusso do Wagner, que atende pela alcunha de "Brest", deu
a entender que o grupo seria uma boa proteção para Lukashenko antes das
eleições parlamentares do próximo ano, caso houvesse mais protestos em massa
contra seu governo autoritário.
Em
um vídeo postado no Telegram e filmado em local desconhecido, "Brest"
também lembrou que a fronteira com a Belarus fica "a menos de 300
quilômetros de Kiev". Foi como uma ameaça velada.
Ainda
não há sinais de que os mercenários do Wagner estejam se mudando para a
Belarus.
"Tudo
está como antes, por enquanto. Nada mudou", disse uma mulher em Saratov,
centro da Rússia, confirmando que ainda estava recrutando homens para lutar na
Ucrânia.
"Todo
mundo vai para Molkino, como de costume. Para o centro de treinamento. Eles
obtêm todas as informações lá", acrescentou ela, aparentemente se
referindo a um campo de tiro anteriormente ligado ao Wagner no sul da Rússia.
Então,
alguma coisa mudará depois de 1º de julho? "Espero que não. Não sei. Mas
as pessoas ainda estão nos contatando, é claro."
Fonte:
Sputnik Brasil/BBC News Brasil
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