quarta-feira, 28 de junho de 2023

Lula quer impedir ocupações de terra dando a terra antes ao MST

O presidente Lula (PT) afirmou nesta terça-feira (27) que seu governo vai criar uma “prateleira” de terras improdutivas para que haja uma política de assentamentos antes de movimentos sociais invadirem as propriedades rurais.

“Eu falei com o ministro Paulo Teixeira [Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] esses dias: ‘Ô, Paulo, por que a gente tem que esperar o movimento invadir uma terra para a gente mandar o Incra avaliar se ela é produtiva ou improdutiva?'”, disse Lula, durante live nas redes sociais.

Lula na sequência afirmou que vai então montar uma lista de terras que serão avaliadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e ficarão disponíveis para iniciar uma política de assentamento.

“Ao invés de as pessoas invadirem, a gente oferece [as terras], organiza. Essa é uma novidade que eu não pensei no primeiro e no segundo mandato. Pensei agora e vamos fazer. Vamos fazer uma prateleira das chamadas terras improdutivas desse país e terras devolutas que a gente pode fazer assentamento agrário, para quem quiser trabalhar no campo sem precisar brigar com ninguém”, completou.

A questão da invasão de terras provocou um grande desgaste ao governo no início do mandato, com o MST chegando a ocupar uma área da Embrapa. As ações levaram a Câmara dos Deputados a abrir uma CPI para investigar o tema.

Além dos riscos da investigação de um movimento aliado, as invasões também criaram dificuldades para o governo Lula atrair o agronegócio, setor que se tornou próximo de Bolsonaro.

Em uma das tentativas de reaproximação, o governo Lula lança ainda nesta terça-feira o Plano Safra 2023/2024, que terá o valor recorde de R$ 364 bilhões.

Lula realizou nesta terça-feira (27) a sua terceira transmissão ao vivo nas redes sociais, a Conversa com o Presidente. Assim como nas anteriores, ele foi entrevistado pelo jornalista Marcos Uchôa.

As lives são tentativas da Secretaria de Comunicação da Presidência de impulsionar o desempenho do mandatário nas redes sociais, campo que foi bastante explorado pelo bolsonarismo.

O governo buscou deixar claro que as transmissões seriam diferentes das lives de Jair Bolsonaro (PL), que usava o espaço muitas vezes para disparar fake news e ataques contra os adversários. Lula, no entanto, descumpriu a sua promessa na segunda transmissão e usou o meio para atacar adversários.

Voltou a chamar Jair Bolsonaro de fascista e disse que o então presidente, após perder as eleições, ficou “trancado dentro de casa para ficar preparando o golpe.”

A live desta terça-feira dedicou bastante tempo para questões mais amenas, como a vida pessoal do presidente e alguns bastidores de suas viagens oficiais ao exterior.

Lula disse que não gosta de viver no Palácio da Alvorada, porque é tudo muito grande, precisa caminhar “200 metros” para ir buscar um café, outros 40 metros para ir ao banheiro.

O presidente então relatou que está com “saudades” de sua casa, em São Paulo.

“Ontem estava me queixando com a [primeira-dama] Janja que estava com saudade de casa, faz tempo que eu não vou em casa. Estou precisando ir para ver meus filhos, inclusive. Mas aí chegou a viagem para a Bahia, eu tenho que viajar”, afirmou.

Lula ainda comentou que não costuma de alimentar bem durante as viagens ao exterior e que não gosta da comida de palácios, de uma forma geral. Em um momento bastante explorado pelo entrevistador, para mostrar o lado pessoal do presidente, ele respondeu que prefere “feijão com arroz” e refeições de maior substância.

O presidente também abordou em diversos momentos a questão da desigualdade, acrescentando que esse é um dos pontos que o une ao Papa Francisco, com quem encontrou no Vaticano na semana passada. Relatou que o papa e ele trabalham para transformar a questão da desigualdade em algo capaz de “indignar a sociedade”.

“O Papa Francisco é o grande líder que temos hoje na face da terra. Embora não seja um político militante, as falas dele são palavras de conteúdo muito forte, como a questão da paz, da desigualdade”, afirmou.

 

       Direita vê Haddad como “surpresa positiva”

 

Em meio a rearranjos na articulação política iniciados nas últimas semanas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem se mostrado com cada vez mais prestígio entre representantes do Congresso Nacional.

“É uma surpresa positiva. Ele tem feito um trabalho, tem sido um interlocutor até muitas das vezes, até por atendimento aos senadores, aos parlamentares de um modo geral na articulação. Ele tem surpreendido positivamente”, avaliou o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), em entrevista ao Metrópoles (assista à íntegra abaixo).

 “Pegou confiança de praticamente todos os parlamentares por esse trabalho que ele está desenvolvendo com muita seriedade”, disse, elogiando o respeito às metas colocadas pelo governo federal no novo marco fiscal. “Tudo o que foi relacionado a essas questões do governo, ele está fazendo de tudo para que seja cumprido”, concluiu.

O presidente do colegiado, um dos mais importantes da Casa, também avaliou positivamente o trabalho da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ex-senadora pelo MDB.

Presidido nacionalmente por Gilberto Kassab, o PSD, tem hoje três ministérios: o da Pesca, com o André de Paula, o da Agricultura, com Carlos Fávaro, e o de Minas Energia, com Alexandre Silveira.

“Estão faltando líderes dentro do governo Lula”, afirma Kassab

Ao mesmo tempo em que seu partido integra o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo.

Para Cardoso — que já foi filiado ao PR (atual PL), MDB, PSB e PP —, há uma independência da sigla à qual hoje está filiado em relação ao governo. “Ter três ministérios no governo não significa que não se pode fazer composições nos estados, como é o caso de São Paulo”, pontua ele, que preside o PSD em Goiás.

“O partido sempre foi um partido de centro. O PSD é um partido de centro. Nunca foi nos cobrado pela presidência, no caso, Gilberto Kassab, uma postura de: ‘Ora pelo fato, pelo fato de ter os três ministérios, tem que voltar 100% com o governo’.”

“No meu caso, nós temos apoiado, temos ajudado. Não temos na Comissão de Assuntos Econômicos, matérias de interesse ao governo, ao país que sejam travadas ou postergadas”, frisou.

Vanderlan Cardoso foi da base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Foi, a meu modo de ver, um excelente governo. Teve pela frente a pandemia, bilhões e bilhões (de reais) foram investidos para diminuir o impacto negativo que poderia vir com a pandemia na área econômica”, considerou.

Ele avalia que será “um grande erro” se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar os direitos políticos de Bolsonaro. A Corte Eleitoral iniciou, na última quinta-feira (22/6), julgamento de uma ação que pode tornar o ex-presidente inelegível, o que não significa, necessariamente, a perda de seus direitos políticos.

 

       Lula anunciará redução da pobreza em 6 meses

 

Colocado na berlinda por alas do governo que ofereceram o comando do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), gestor do Bolsa Família, ao grupo político do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), conforme revelou o Valor, o titular da pasta, Wellington Dias (PT), segue alheio ao fogo amigo e com o pé no acelerador.

Nos próximos dias, ele deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar os detalhes de um programa de fomento ao empreendedorismo, com foco nas dezenas de milhões de inscritos no Cadastro Único, que está sendo alinhavado pelos técnicos do MDS.

Nos próximos dias, o ministro também deve anunciar o número de pessoas e de famílias que saíram da linha da pobreza desde o início do governo, a partir do cruzamento de dados do MDS e da Caixa Econômica Federal.

Alertado de que parcela expressiva dos brasileiros de baixa renda sonhava mais com o próprio negócio do que com a carteira assinada, Lula passou a exaltar o empreendedorismo na campanha eleitoral.

Uma das pessoas que alertou o petista sobre a mudança de cenário foi o presidente e fundador da XP Investimentos, Guilherme Benchimol. Em abril do ano passado, Benchimol ponderou ao então candidato que 76% dos moradores de favelas e comunidades de baixa renda têm, tiveram ou pretendem ter uma micro ou pequena empresa.

Pesquisa do Data Favela, Instituto Locomotiva e Central Única das Favelas (Cufa) de 2022 mostrou que 35% dos moradores dessas comunidades sonham com o próprio negócio, enquanto somente 10% querem arrumar um emprego, e 9% falam em ter uma profissão, com diploma de curso superior.

O programa de estímulo ao empreendedorismo do MDS mira a criação de um fundo garantidor social, que dará suporte aos microempreendedores individuais (MEI) e aos inscritos no Cadastro Único que desejam abrir o próprio negócio, mas não têm avalista nem bens para dar em garantia.

Já existe um diálogo avançado entre o MDS, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e o Banco da Amazônia (Basa) para que um fundo dessa natureza alcance centenas de mulheres que se dedicam à plantação e produção de guaraná na região. Uma parceria com a Coca-Cola Brasil daria garantia da compra direta do insumo para a fabricação do refrigerante.

Enquanto o fundo garantidor não sai do papel, Dias tem percorrido o país para assinar parcerias com a iniciativa privada voltadas à inclusão sócio-econômica dos 94 milhões de inscritos no Cadastro Único do ministério.

A meta de Wellington Dias é encaminhar 1 milhão de inscritos no cadastro para vagas de trabalho com carteira assinada ou projetos de empreendedorismo. O ministro faz uma conta: se cumprir o objetivo, vai gerar economia aos cofres públicos com o programa de R$ 8,4 bilhões ao ano, e R$ 32 bilhões até 2026.

Na sexta-feira, Dias firmou acordo de contratação pela Coca-Cola, na fábrica em Jundiaí (SP), de inscritos no Cadastro Único. Há potencial de 600 vagas até o fim do ano.

O primeiro acordo dessa natureza foi firmado em março com o Grupo Carrefour Brasil, que pretende contemplar inscritos no Cadastro Único com até 7 mil vagas em todo o país.

Pelo modelo do acordo de cooperação técnica firmado pelo ministério com as empresas, as prefeituras – que administram os cadastros do Bolsa Família nos municípios – encaminham uma lista de inscritos aos potenciais empregadores. Os selecionados são encaminhados para programas de capacitação, e se efetivados, terão a carteira assinada. O beneficiário que melhorar de renda pode continuar no programa por até dois anos, recebendo 50% do valor do benefício.

Embora o MDS tenha sido oferecido ao Centrão, na realidade, não há previsão de que Lula afaste Wellington Dias, seu aliado de décadas, da função. Não há mais trocas ministeriais no horizonte, além da nomeação do deputado Celso Sabino (PA) para o lugar de Daniela Carneiro (RJ), ambos do União Brasil, no comando do Ministério do Turismo.

A posse de Sabino está prevista para a próxima semana, porque o futuro ministro aguarda o retorno da esposa, Erika Sabino, que está em Portugal.

Circula nos gabinetes palacianos, entretanto, que Lula não poderá se furtar a promover uma reforma ministerial ampla no ano que vem, porque terá que acomodar as forças políticas que o apoiam à conjuntura das eleições municipais.

Lula continua sob pressão para abrir espaço no primeiro escalão ao grupo político de Arthur Lira. Aliados do alagoano convenceram emissários do presidente de que ao invés de contemplar, no varejo, quadros do PP, Republicanos e PL não bolsonarista com vagas no segundo escalão, a melhor estratégia seria agraciar o bloco com um ministério de porteira fechada.

A expectativa entre auxiliares de Lula, entretanto, é que sob o bombardeio de novas denúncias, que alçaram a investigação contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF), dilua-se, aos poucos, o poder de fogo de Lira, e com isso, o estoque de munição para fazer cobranças ao governo.

 

Fonte: FolhaPress/Metrópoles/Valor Econômico

 

Nenhum comentário: