Família
dona do avião com maconha tem história de grilagem e assassinato de sem-terra
A Polícia Federal apreendeu no sábado (27) um avião carregado com 290 quilos de skunk, um tipo
de maconha concentrada, no Aeroporto Internacional de Belém. Um homem foi preso
em flagrante e teve o celular apreendido. A droga ocupava todo o espaço da
aeronave, fora os assentos para um passageiro e o piloto. O avião, que estava
em um hangar de voos particulares, pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular
(IEQ), que fundada e liderada por um tio da senadora Damares Alves
(Republicanos-DF), Josué Bengtson.
Josué e os filhos, Paulo e Marcos, acumulam um
histórico de corrupção e violência no campo. Marcos
Bengtson foi preso em 2010, acusado de ser o mandante
do assassinato do sem-terra José Valmeristo Soares, o Caribé, em Santa Luzia
(PA). Antes de matar Caribé, os criminosos o torturaram. O camponês João
Batista Galdino também foi torturado, mas conseguiu escapar com vida. Em 2019,
este observatório relembrou o crime, que permanece impune.
Na época do assassinato, Marcos era administrador da
Fazenda Cambará, atualmente Acampamento Quintino Lira, terra pública
possivelmente grilada pela família Bengtson. A área já está georreferenciada
para criação do assentamento. Em 2014, após ação de reintegração de posse
pedida pela família e negada pela Justiça, o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) realizou vistoria e demarcou a área. Dias depois, a
demarcação foi destruída a mando do fazendeiro.
As agressões aos sem-terra continuaram. Em outubro
de 2015, dois jovens foram vítimas de uma emboscada. Um deles levou um tiro de
raspão e o outro foi ferido com coronhadas no rosto. Em abril de 2022, os
acampados denunciaram o descumprimento a um acordo feito por meio da Vara Agrária de Castanhal para que
houvesse o respeito em relação a área desafetada. Segundo os acampados, o
conflito permaneceu e o fazendeiro entrava na área com gado e máquinas destruindo
as roças.
EX-DEPUTADO FOI CONDENADO POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
Eleito deputado federal pela primeira vez em 1999
pelo PTB, partido de Roberto Jefferson, Josué Bengtson foi condenado em 2018
pela Justiça Federal à perda do mandato por enriquecimento ilícito. Ele fez
parte de um esquema de desvio de recursos da saúde no Pará, conhecido como
‘máfia das ambulâncias’. Seus direitos políticos foram suspensos por oito anos.
Segundo denúncias do Ministério Público Federal
(MPF), o pastor direcionava verbas a municípios, onde licitações eram fraudadas
e o dinheiro era depositado na conta dele e da igreja que comanda.
Com o pai inelegível, o pastor Paulo Bengtson se
candidatou em 2018 e foi eleito deputado federal. Durante o mandato, foi
secretário da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), grupo que reúne, no
Congresso, deputados e senadores da bancada ruralista. Ele não conseguiu se
reeleger em 2022 e agora é secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico,
Mineração e Energia do Pará.
JOSUÉ BENGTSON É PADRINHO POLÍTICO DE DAMARES ALVES
Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Damares se mudou para
Brasília em 1999 para trabalhar no gabinete do tio, então deputado federal pelo
Pará. O pai da senadora e ela mesma foram pastores da mesma igreja fundada por
Josué.
A ex-ministra foi retratada na série de reportagens
deste observatório sobre a as ações do governo anterior que contribuíram com a
morte de 700 mil brasileiros na pandemia de Covid-19: “Esplanada
da Morte (III): deboche de Damares esconde ataques a povos vulneráveis“. Em notícia exclusiva, o De Olho contou, em 2019, que uma ONG ligada à
senadora levou malária a indígenas
isolados.
A senadora Damares Alves confirmou que o avião
apreendido com drogas pertence à igreja ligada a seu tio. De acordo com a
assessoria da IEQ, o avião monomotor é utilizado há três anos para o transporte
de pastores e para remover pessoas doentes, quando necessário. Segundo a igreja, um prestador de serviços terceirizados que faz a limpeza do avião
procurou o piloto para fazer um voo em que seriam, supostamente, transportadas
peças de tratores.
A Polícia Federal informou que realizou a ação “a
partir de informações de inteligência”. A jornalista Andreia Sadi informou em
sua conta de Twitter que a PF já monitorava o avião apreendido.
Ø Glauber Braga escorraça Eduardo Bolsonaro: “Relação com as milícias”
A sessão da Comissão de Relações Exteriores da
Câmara dos Deputados foi quente na manhã desta quarta-feira (31), em Brasília.
Após uma nova e repetitiva intervenção de protesto contra a presença do
presidente venezuelano Nicolás Maduro no Brasil, por parte do deputado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), o filho do ex-presidente teve que ouvir poucos e boas do
deputado Glauber Braga (Psol-RJ).
“Vocês adoram sentar no colo do príncipe saudita,
nesse caso, em específico, não falam em ditadura... Aí, quando se trata do
reestabelecimento das relações diplomáticas com um país vizinho na América
Latina... Fica quietinho, fica quietinho que agora eu estou falando, e você já
falou bastante... Fica quietinho, fica calmo, fica quietinho... Você já
devolveu todos os colares? Já devolveu todos os colares?”, começou dizendo o
parlamentar de esquerda, que precisou mandar o deputado de extrema direita
calar-se.
Eduardo Bolsonaro, numa reação bastante comum por
parte dos integrantes de seu clã nesse tipo de situação, partiu para a ofensa
pessoal e falou da mãe de Braga, a médica e ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ)
Saudade Braga, que atualmente vive um quadro delicado de saúde. O psolista não
deixou barato.
“A minha mãe é uma mulher que hoje já não está mais
na disputa política, porque ela tem Alzheimer avançado... Mas com a cretinice
que lhe é peculiar, o deputado Eduardo Bolsonaro fez questão aqui hoje de
citá-la... Eu queria falar ao deputado Eduardo Bolsonaro que lave a boca pra
falar de quem não pode estar no palco político pra realizar sua defesa... E o
que vier da boca desse, que mais uma vez exibiu sua cretinice, evidentemente,
não precisa da parte dela de nenhuma defesa... Porque se precisasse, eu aqui o
faria... Agora, eu sim faço perguntas bastante concretas ao deputado Eduardo
Bolsonaro: deputado, o que fazia a mãe e a ex-esposa de Adriano da Nóbrega,
matador do ‘escritório do crime’, no gabinete do seu irmão na Assembleia
Legislativa? A relação da sua família com o crime organizado no Rio de Janeiro
e com as milícias é antiga, e isso o senhor nunca responde... E vai se esconder
novamente atrás de falsas ilações”, disparou Braga.
Ø Bolsonarista passa vergonha em tentativa de intimidar Sâmia
A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) sofreu
nesta quarta-feira (31) uma nova tentativa de intimidação durante sessão da CPI
do MST. Após entreveros envolvendo o presidente
tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS) e o relator Ricardo Salles
(PL-SP) – em episódios que MPF apontou como ‘violência política de gênero – foi
a vez do deputado Abílio Brunini (PL-MT) fracassar na tentativa de intimidá-la.
Nas imagens, o bolsonarista estava em pé diante de
uma Sâmia Bomfim sentada em sua cadeira. Em dado momento ela diz que Abílio
estava tumultuando a CPI do MST, da qual sequer é um membro e pede que ele
saia. O bolsonarista sorri ironicamente e diz: “E se eu quiser ficar
aqui?”
Sâmia se irrita com a atitude, pede que ele pare de
importuná-la, aponta uma cadeira e ordena: “Senta!” Foi nesse momento que o
deputado se revoltou com a colega e em linguagem corporal agressiva, como a de
alguém que vai começar uma briga contra outros marmanjos, volta a se postar
diante da parlamentar do Psol, encarando-a em tom intimidatória, para
a reprovação geral da casa.
Abílio Jacques Brunini Moumer, ou apenas Abílio
Brunini, nasceu em Cuiabá em 1980. Já passou pelo PSC entre 2016 e 2020, época
em que era vereador da sua cidade natal, e pelo Podemos entre 2020 e 2022, em
período que esteve sem mandato após perder as eleições para a prefeitura da
capital do Mato Grosso. Em 2022 se juntou ao PL, de Bolsonaro, com o qual se
elegeu deputado federal.
·
MPF vê violência política de gênero contra Sâmia
Bomfim e aciona PGR
As cenas de truculência do deputado tenente-coronel
Zucco (Republicanos-RS) nas sessões da CPI do MST (Movimento dos Trabalhadores
sem Terra) chamaram a atenção do Ministério Público Federal (MPF). O
bolsonarista de carteirinha foi enquadrado pelo órgão após cortar de modo
afrontoso o microfone da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol).
O MPF considera que houve violência política de
gênero contra a parlamentar durante sessão, e acionou a Procuradoria-Geral da
República (PGR). A denúncia cita o episódio em que a parlamentar teve o
microfone desligado durante sua fala pelo presidente da comissão na abertura
dos trabalhos na última semana.
Veja o momento em que o deputado Zucco retira a
palavra de Sâmia, logo depois de a deputada ter apontado suposta participação
do parlamentar na arruaça golpista de 8 de janeiro.
Na manifestação do MPF, a procuradora Raquel
Branquinho, coordenadora do grupo de trabalho sobre violência política de
gênero, afirmou que os fatos noticiados sobre a conduta de Zucco na comissão se
enquadram como crime pelo Código Eleitoral. A legislação prevê pena de reclusão
de um a quatro anos para quem constranger e humilhar parlamentar ou candidata
por ser mulher como o objetivo de "impedir ou dificultar a sua campanha
eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo".
A procuradora pede ainda que a PGR instaure
investigação para apurar o caso mediante a oitiva da vítima, a deputada Sâmia
Bomfim. Ela também pede o depoimento das testemunhas presentes na ocasião, a
preservação de vídeos e a gravação do local onde ocorreram os fatos, entre
outras medidas.
TRUCULÊNCIA SE REPETE
Nesta terça-feira (30), o relator da CPI do MST,
deputado Ricardo Salles (PL-SP), do "ir passando a boiada", repetiu a
cena de truculência. O ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro cortou
o microfone da deputada federal Sâmia Bomfim quando ela dizia que os barracos
onde integrantes do movimento social residiam foram invadidos, e que a polícia
abusou da autoridade.
ZUCCO INVESTIGA, MAS É INVESTIGADO
Presidente da CPI do MST, o tenente Coronel Zucco
é investigado pela PF por ordem do STF sob a suspeita de ter
estimulado atos golpistas. Próximo ao ex-vice-presidente da República,
Hamilton Mourão, Zucco se notabilizou por propor, durante a pandemia, a
liberação “de atividades de dança, bem como as aulas de música no formato
individual”.
Matéria publicada pelo Brasil de
Fato também revela que o deputado federal recebeu
R$ 60 mil de Celso Rigo, proprietário da marca de arroz Prato Fino, para
financiamento de campanha em 2022. Um dos principais sócios de Rigo, José Renan
Toniazzo, é dono de área que já foi ocupada ao menos 3 vezes pelo
movimento.
Ø Quem são os deputados da CPI do MST financiados por ruralistas acusados
de crimes ambientais
A oposição bolsonarista, que costuma taxar o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como um grupo criminoso, conseguiu
juntar votos suficientes para dar início à chamada CPI do MST, cujo principal
objetivo é atacar e desgastar o Governo Lula. Neste domingo (21), o jornal O
Globo deu luz a um verdadeiro conflito de interesses que envolve 7
parlamentares escalados para as investigações. De acordo com o jornal, os
integrantes da CPI foram financiados por 10 ruralistas acusados de crimes
ambientais.
As acusações são diversas. Vão de grilagem de terras
e desmatamento ilegal de áreas florestais, até o contrabando de madeira, ouro e
outros produtos provenientes de práticas de extrativismo.
Entre os 7 parlamentares citados, 6 têm ligações
diretas com o agronegócio. São eles Evair Melo (PP-ES), Domingos Sávio (PL-MG),
Joaquim Passarinho (PL-PA), Marcos Pollon (PL-MS), Coronel Assis (União
Brasil-MT) e Marussa Boldrin (MDB-GO). O sétimo parlamentar, Charles Fernandes
(PSD-BA) é o único que vem da base do governo na Câmara dos Deputados.
A própria relatória da CPI do MST, instalada na
última quarta-feira (17), ficou por conta do ex-ministro do Meio Ambiente de
Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP). Ele próprio investigado no passado por
participação em esquema de contrabando de madeira ilegal. Já o presidente da
CPI, tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), é conhecido publicamente como um
crítico feroz do MST.
<<<<
Confira a seguir os parlamentares da CPI do MST que foram financiados por
ruralistas
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Evair Melo (PP-ES)
O deputado Evair Melo foi um dos indicados à
vice-presidência da CPI do MST. Na campanha eleitoral do último ano ele recebeu
pouco mais de R$ 60 mil de Nelson e Geraldo Vigolo, os dois irmãos
proprietários do grupo Bom Jesus Agropecuária.
O Ministério Público da Bahia chegou a denunciar
Nelson no âmbito da Operação Faroeste que investigava a compra e venda de sentenças
judiciais com o fim de legalizar grilagens de terras no interior do estado. A
defesa de Nelson Vigolo alega que o ruralista teria sido uma vítima do esquema
e que foi a própria empresa quem teria feito a denúncia do esquema do Conselho
Nacional de Justiça.
Além disso, o próprio Grupo Bom Jesus Agropecuária
foi multado por três vezes pelo Ibama. Os valores das multas superariam os R$
10 milhões e, em um dos casos, em que a autuação se refere ao desmatamento
ilegal de uma área adquirida pela empresa, os advogados alegam que a infração
teria ocorrido antes da negociação da terra. O Ibama ainda não encerrou tais
investigações.
·
Domingos Sávio (PL-MG)
O bolsonarista Domingos Sávio também foi financiado
pelos irmãos Vigolo. Teria recebido deles em torno de R$ 45 mil na última
campanha eleitoral. Mas além deles, também recebeu cerca de R$ 25 mil do
fazendo Mauro Schaedler. O doador de campanha acumula R$ 2,7 milhões em multas
ambientais. São três autuações do Ibama sob a alegação de empreender, sem
licença ambiental, uma série de atividades com forte potencial poluidor e
extrativo.
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Joaquim Passarinho (PL-PA)
Passarinho é outro detrator do MST que está escalado
para compor a CPI. Sua campanha para deputado federal no ano passado contou com
a doação de R$ 50 mil do dono do Frigorífico Rio Maria, Roberto Paulinelli. O
doador acumula R$ 387 mil em multas, nos últimos 6 anos, por acusações de
crimes ambientais que seguem em investigação.
·
Coronel Assis (União Brasil-MT)
O bolsonarista Coronel Assis, suplente da CPI do
MST, recebeu no ano passado R$ 80 mil de Edmar de Queiroz para fazer campanha.
Queiroz é um madeireiro e minerador investigado pela Polícia Federal por
participação em esquema de contrabando de ouro. Ele ainda é dono da empresa
Madeplacas, que em 2005 foi pivô de suspeita de contrabando de madeira na
Amazônia.
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Marcos Pollon (PL-MS)
Já o sul-mato-grossense e presidente do Proarmas, Marcos Pollon, foi apontado pela reportagem como
financiado por Renato Burgel, empresário sojeiro. O doador foi autuado por duas
infrações ambientais referentes ao plantio de sementes modificadas geneticamente
em áreas de proteção ambiental.
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Marussa Boldrin (MDB-GO)
Também escalada para a CPI do MST, a emedebista
goiana Marussa Boldrin recebeu doações de dois empresários autuados por
infrações ambientais.
Um deles é Oscar Strochon, que trabalha com a
produção e comercialização de sementes. Ele acumula duas multas no valor de R$
400 mil aproximadamente, por empreender obras com forte potencial poluidor e
sem licença em áreas do combalido Cerrado brasileiro.
Além dele, Boldrin também foi financiada por José
Fava Neto, autuado por três vezes pelo Ibama por realizar plantios irregulares
na Bahia em áreas protegidas de cerrado.
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Charles Fernandes (PSD-BA)
Na base do governo na Câmara, Fernandes
aparentemente não é um exemplo a ser seguido na esquerda. De acordo com o
levantamento, ele recebeu R$ 27,6 mil durante a campanha de Manoel Rubens. Além
de ser ex-prefeito da cidade de Palmas do Monte Alto (BA), recebeu uma multa de
R$ 100 mil do Ibama pelo corte de árvores classificadas como protegidas.
Fonte: De Olho nos Ruralistas/Fórum
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