Rússia resiste às
sanções porque 'dólar não é tão sólido quanto diziam seus ideólogos', diz
analista
Se
o Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece que as sanções econômicas
impostas a Moscou por causa do conflito na Ucrânia não funcionaram, isso
implica que o processo de transformação da economia global em uma ordem
multipolar é ainda mais rápido do que o Ocidente reconhece, afirmou um analista
econômico à Sputnik.
O
FMI publicou um relatório no dia 28 de abril afirmando que a Europa sofreu com
as sanções econômicas contra a Rússia porque seu suprimento de recursos
energéticos era limitado, enquanto a Rússia "provou ser mais resistente às
sanções do que muitos analistas inicialmente esperavam".
O
órgão global destaca que, apesar da queda de sua economia durante o segundo
trimestre de 2022, o país eurasiático conseguiu melhorar seus indicadores no
terceiro e quarto trimestres, reduzindo seu produto interno bruto (PIB) em
apenas 2,1%, segundo estimativas do Banco Central da Rússia.
"A
grande melhora nos termos de comércio e os volumes resilientes de exportação de
petróleo e gás impulsionaram as receitas nesta área para máximos históricos e
apoiaram a economia da Rússia em 2022", enfatiza o FMI.
Além
disso, o órgão aponta que "a capacidade da Rússia de redirecionar as
exportações de petróleo dos países sancionadores para os países não
sancionadores foi confirmada por informações independentes e não oficiais,
enquanto as receitas de exportação de gás também foram altas, apesar de sua
queda acentuada nos volumes".
A
esse respeito, o Ph.D. em economia política pela Universidade Nacional Autônoma
do México (UNAM), Óscar Rojas, assegura que se "instituições conservadoras
ortodoxas" como o FMI reconhecem um rearranjo da economia, isso significa
que grande parte do mundo ocidental nega a inutilidade da política de sanções,
pois na realidade está acontecendo o contrário, que é a transformação econômica
diante da emergência de uma ordem multipolar que "está mais acelerada do
que realmente se aceita".
"O
dólar foi na história imediata a última moeda que teve a possibilidade de
assumir o controle de quase 90% das transações [internacionais]. Então, a
partir de agora, veremos uma recomposição de uma nova estrutura de cesta de
moedas", explica o especialista.
Após
a Segunda Guerra Mundial, "estabeleceu-se o controle unilateral da
economia norte-americana" em toda a ordem econômica mundial, portanto,
"nesse contexto de unilateralismo, foi quando as sanções funcionaram",
aponta Rojas.
"Esse
mundo unilateral não funciona mais, não existe mais. Isso também tem a ver com
a aceleração da integração que ocorreu com o projeto de globalização após a
queda do muro [de Berlim]", diz o economista mexicano.
A
mídia especializada, como The Economist, explicou recentemente que as políticas
de sanções contra Moscou falharam devido a dois elementos principais. O
primeiro, porque "sempre houve grandes lacunas no regime de sanções".
E o segundo, porque a economia e o comércio russos são versáteis, tendo
encontrado uma forma de sobreviver e até se fortalecer em canais alternativos
que não subscreveram as sanções de Washington e seus parceiros da União
Europeia (UE).
Além
disso, a busca por alternativas econômicas promoveu outras moedas como o yuan
chinês, moeda com a qual foram pagos 16% das exportações russas durante 2022, e
permitiu a consolidação de sistemas de pagamentos interbancários alternativos
ao SWIFT, como é o caso do CIPS, um modelo similar administrado por Pequim.
Nesse
sentido, Óscar Rojas considera que o conflito na Ucrânia e as subsequentes
sanções econômicas aceleraram o processo de desdolarização que já havia
começado após a crise econômica de 2008 e que ganhou força após a chamada
Primavera Árabe.
"Todo
mundo percebeu que, depois da crise de 2008, e agora com esses processos
inflacionários mundiais, fica claro que uma moeda como o dólar não é tão sólida
quanto diziam seus ideólogos", diz o especialista.
A
tendência de desdolarização da economia mundial foi observada por vários
especialistas e até aceita pela própria secretária do Tesouro dos Estados
Unidos, Janet Yellen, que reconheceu que as sanções econômicas aceleram essa
tendência.
Apesar
disso, ainda não há um reconhecimento tácito desse fenômeno, pois um sistema imperial
funciona de duas formas, a administrativa, onde entram instituições como o
próprio FMI, e a ideológica, onde entram em jogo os meios de comunicação com os
quais "se sustenta a conceituação do modelo anterior", explica Rojas.
"Ainda
há resistência e é natural. Os fenômenos históricos sempre têm um período em
que, digamos assim, podem morrer em uma década e ideologicamente acabar
desaparecendo até a próxima. Ainda há uma fase de adaptação e compreensão dos
novos fenômenos", explica o acadêmico.
Neste
contexto, e perante o apelo de alguns países a não dependerem da moeda dos
Estados Unidos, o especialista considera que "já se prenuncia uma crise de
reorganização [econômica]", que vai poder claramente materializar-se até
2050, ou antes, caso se verifiquem fenômenos que aceleram a integração
multipolar e até levem a UE a reconsiderar as condições de uso de uma moeda
única.
"Me
atreveria a dizer que, embora não seja o regresso às moedas nacionais, poderia
ser uma refundação de um regime de moeda única, mas teria de ser em outros
termos", conclui o especialista.
·
Colunista:
economia da Rússia é resiliente, enquanto a Europa está em crise e declínio
econômico
A
Europa está sofrendo as consequências da crise ucraniana, a economia da Ucrânia
está em uma situação desastrosa, enquanto as coisas estão muito melhores na
Rússia, escreve o colunista Kenneth Rapoza em um artigo na Forbes.
"A
economia russa permanece surpreendentemente estável, em grande parte porque
mercados emergentes como a Índia e a China ignoram as sanções ocidentais […].
De acordo com o FMI [Fundo Monetário Internacional], o crescimento na Rússia em
2023 será maior do que na Alemanha e no Reino Unido, onde a queda será de
0,3%", escreve o analista.
O
autor do artigo observa que o declínio econômico na Europa se deve às
consequências do conflito ucraniano, tais como o aumento dos preços da energia,
o problema da imigração e a alta inflação. Rapoza aponta ainda para a questão
das divergências políticas na Europa.
"Com
o passar do tempo, as ações militares na Ucrânia só vão agravar as divisões, já
que o presidente francês, Emmanuel Macron, se aliou à China, pedindo
negociações de paz e contrariando os EUA e a Alemanha, que enviam tanques para
a Ucrânia", acrescentou o analista.
Em
2022 a queda do Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia foi de 29,1%, ressaltou
o colunista. De acordo com Rapoza, todos esperavam que o conflito ucraniano
custasse caro para a Rússia, mas é a Europa que está pagando um preço altíssimo
por isso, indica o autor.
"Quanto
mais duram as ações militares, mais dolorosas elas são para a Europa – e parece
que ela [a Europa] não pode fazer muito em relação a isso", conclui o
artigo.
O
Ocidente aumentou a pressão das sanções sobre a Rússia por causa da Ucrânia, o
que levou a um aumento dos preços da eletricidade, combustíveis e alimentos na
Europa e nos EUA.
Ø
FMI
alerta para risco de fragmentação do comércio global
O
Fundo Monetário Internacional alertou para os riscos de uma grande fragmentação
do comércio na região da Ásia-Pacífico que estão se tornando cada vez mais
notáveis.
'Os
riscos de fragmentação comercial global estão se tornando mais salientes",
indicou o FMI em relatório.
Os
riscos estão crescendo em função das disputas comerciais entre os EUA e a
China, incluindo as novas restrições no comércio de produtos tecnológicos, bem
como as tensões geopolíticas vinculadas ao conflito na Ucrânia.
O
FMI alertou que a Ásia permanece especialmente vulnerável para reduzir o fluxo
do comércio transfronteiriço e investimento internacional direto.
Uma
potencial redução poderia ser efetuada com a fragmentação global em múltiplos
blocos, com os exportadores asiáticos estando expostos a China, Europa e EUA.
"Enquanto
isso, uma redução a médio prazo na produtividade e investimento na China, que
poderia ser moldada devido às pressões da fragmentação, pode ter implicações
adversas profundas e inesperadas para o resto da região", indica o
relatório.
O
FMI ainda destacou que a inflação no mundo "não está desacelerando da
maneira esperada", mesmo com os bancos centrais elevando seus tipos de
interesses.
Ø
Leste
Europeu está pondo em perigo uma salvação econômica para a Ucrânia
A
Polônia impôs uma proibição às importações de grãos da Ucrânia, já que o
partido no poder Lei e Justiça não quer alienar os eleitores antes das eleições
parlamentares do outono europeu, informou a Bloomberg.
"Uma
tábua de salvação econômica crucial para a Ucrânia está sendo posta em perigo
pelos governos do Leste Europeu que se debatem com os limites do apoio público
a Kiev", observa o artigo.
As
autoridades polonesas queriam garantir que o apoio de Varsóvia a Kiev não
alienasse os eleitores, e é por isso que eles impuseram uma proibição à
importação de grãos, dizem os autores do artigo com referência a um funcionário
local.
O
líder do partido no poder Lei e Justiça, Jaroslaw Kaczynski, por sua vez,
acredita que a "decisão difícil" da Polônia acabará ajudando a
Ucrânia.
"Não
é do interesse de nossos amigos que a Polônia esteja mergulhada em uma crise –
e que vejamos pessoas chegando ao poder aqui que mudarão a política de apoio
radical à Ucrânia", afirmou ele.
A
Comissão Europeia disse na sexta-feira (28) que, em princípio, chegou a um
acordo para permitir que o trânsito de grãos ucranianos seja retomado através
de cinco países da União Europeia que impuseram restrições.
Os
países que impuseram as medidas foram Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e
Eslováquia, citando preocupações de que grãos da Ucrânia destinados a serem
exportados para outros países tivessem acabado em seus mercados, o que estava
derrubando os preços para os agricultores locais.
·
'Ucrânia
não é um ator livre; são dependentes do que EUA ditam', diz cientista político
americano
Falando
com a prestigiosa revista britânica New Statesman, o comentarista político e
linguista americano, Noam Chomsky, não poupou palavras para responsabilizar os
Estados Unidos e a OTAN pelo conflito na Ucrânia, e assinalou que o lado russo
está lutando "com moderação" ao contrário da destruição em massa que
os EUA fizeram na invasão do Iraque.
Chomsky,
uma das vozes mais críticas no que se refere à política externa de Washington,
disse que foram os EUA e o Reino Unido que "recusaram" negociar a paz
na Ucrânia, com o objetivo de promover seus próprios interesses nacionais.
"A
Ucrânia não é um ator livre; são dependentes do que EUA ditam ", disse o
linguista, também acrescentando que os Estados Unidos estão fornecendo armas a
Kiev simplesmente para enfraquecer a Rússia.
"Para
os EUA, isso é uma pechincha. Por uma fração do orçamento militar colossal, os
EUA são capazes de degradar severamente as forças militares de seu único
adversário militar real", apontou o acadêmico.
Nesse
sentido, o linguista elogia a atuação da Rússia no conflito por sua moderação,
comparando-o com a brutal invasão liderada pelos EUA e o Reino Unido ao Iraque
em 2003. A destruição em grande escala da infraestrutura que se viu no Iraque,
argumenta, "não ocorreu na Ucrânia".
Ele
acrescentou: "Sem dúvida, a Rússia poderia fazê-lo, presumivelmente com
armas convencionais. [A Rússia] poderia tornar Kiev tão inabitável quanto
Bagdá, poderia avançar para atacar linhas de abastecimento no oeste da
Ucrânia."
O
repórter da New Statesman afirma que quando ele quis pressionar Chomsky sobre
se ele estava insinuando que a Rússia estava lutando de uma forma mais humana,
o cientista político afirmou categoricamente: "Não estou sugerindo, é
óbvio."
Chomsky
recorda que os inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) tiveram que
ser retirados após o início da invasão do Iraque porque "o ataque foi
muito severo e extremo [...]. Esse é o estilo de guerra dos Estados Unidos e do
Reino Unido".
Mais
tarde, na reportagem, o pensador lamenta que os dignitários estrangeiros não
tenham visitado Bagdá como se tivessem viajado para Kiev, apesar de a situação no
terreno ser totalmente diferente.
"Quando
os EUA e o Reino Unido estavam despedaçando Bagdá, algum líder estrangeiro foi
visitar Bagdá? Não, porque quando os EUA e o Reino Unido vão para a guerra,
eles vão para a jugular. Eles destroem tudo: comunicações, transporte, energia,
choque e temor - qualquer coisa que faça a sociedade funcionar."
Consultando
sobre como poderia ser um possível acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia,
Chomsky mencionou que a primeira coisa é que a Ucrânia não seja membro da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Essa
é a linha vermelha que todo líder russo tem insistido desde [o ex-presidente
russo Boris] Yeltsin e [o ex-presidente soviético Mikhail] Gorbachev",
explicou, acrescentando que a Ucrânia deve oferecer "um grau de
autonomia" a Donbass e que a questão do status da península da Crimeia
pode ser discutida mais tarde (no passado, Chomsky afirmou que a vontade dos
seus habitantes é pertencer à Federação da Rússia, como demonstrou o referendo
de 2014).
O
analista internacional também questionou a adesão da Finlândia à OTAN
(oficializada em 2 de abril) e a intenção da Suécia de fazer parte da aliança
militar internacional, para a qual falta a aprovação da Turquia.
Para
o autor do livro "O que o tio Sam realmente quer", a razão por trás
destes realinhamentos está vinculada às indústrias militares de ambos os
países, já que esse cenário garante "novas e grandes oportunidades de
mercado [e] um novo acesso a equipamentos avançados". Pensar que isso tem
algo a ver com o conflito na Ucrânia, explica, é acreditar na "propaganda
ocidental".
Ø
Secretária
do Tesouro: EUA podem dar calote na dívida pública em 1º de junho
O
Departamento do Tesouro norte-americano alertou para as suas dificuldades em
financiar as operações do governo federal, a ponto de se encontrar insolvente
para o cumprimento integral das suas obrigações a partir de 1º de junho.
Em
plena jornada internacional de comemoração do Dia do Trabalhador, a agência
norte-americana indicou em carta dirigida à Câmara dos Representantes que já
havia demonstrado em análise anterior a existência de risco de descumprimento
de suas obrigações de financiamento para a operação pública.
"Depois
de revisar as receitas fiscais federais recentes, nossa melhor estimativa é que
não seremos capazes de continuar cumprindo todas as obrigações do governo até o
início de junho e, potencialmente, até 1º de junho, se o Congresso não aumentar
ou suspender o imposto antes desse prazo", disse a chefe do Tesouro, Janet
Yellen, como signatária da carta.
O
Tesouro qualificou dizendo que sua estimativa é baseada nas informações
atualmente disponíveis, sem esquecer que aspectos como arrecadação de impostos
e gastos são fatores inerentemente variáveis, portanto esse risco de
inadimplência pode ser adiado por algumas semanas.
"É
impossível prever com uma data exata quando o Tesouro não conseguirá pagar as
contas do governo, e continuarei atualizando o Congresso nas próximas semanas à
medida que mais informações estiverem disponíveis", disse Yellen enfatizando,
no entanto, que é imperativo que o Poder Legislativo atue o quanto antes em sua
regulamentação do limite de endividamento.
"Para
que forneça certeza de longo prazo no sentido de que o governo continuará a
fazer seus pagamentos", disse a secretária.
Ela
também destacou que esperar "até o último minuto para suspender ou
aumentar o limite da dívida pode causar sérios danos à confiança dos
empresários e dos consumidores", além de prejudicar os custos dos
contribuintes e prejudicar a classificação de crédito dos Estados Unidos.
Assim,
Yellen enfatizou que se a Câmara dos EUA falhar em lidar com esta crise, isso
vai causar danos às famílias do país, prejudicar a posição de liderança global
dos EUA e levantar dúvidas sobre sua capacidade de defender seus interesses
nacionais.
Fonte:
Sputnik Brasil
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