quarta-feira, 3 de maio de 2023

Rússia resiste às sanções porque 'dólar não é tão sólido quanto diziam seus ideólogos', diz analista

Se o Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece que as sanções econômicas impostas a Moscou por causa do conflito na Ucrânia não funcionaram, isso implica que o processo de transformação da economia global em uma ordem multipolar é ainda mais rápido do que o Ocidente reconhece, afirmou um analista econômico à Sputnik.

O FMI publicou um relatório no dia 28 de abril afirmando que a Europa sofreu com as sanções econômicas contra a Rússia porque seu suprimento de recursos energéticos era limitado, enquanto a Rússia "provou ser mais resistente às sanções do que muitos analistas inicialmente esperavam".

O órgão global destaca que, apesar da queda de sua economia durante o segundo trimestre de 2022, o país eurasiático conseguiu melhorar seus indicadores no terceiro e quarto trimestres, reduzindo seu produto interno bruto (PIB) em apenas 2,1%, segundo estimativas do Banco Central da Rússia.

"A grande melhora nos termos de comércio e os volumes resilientes de exportação de petróleo e gás impulsionaram as receitas nesta área para máximos históricos e apoiaram a economia da Rússia em 2022", enfatiza o FMI.

Além disso, o órgão aponta que "a capacidade da Rússia de redirecionar as exportações de petróleo dos países sancionadores para os países não sancionadores foi confirmada por informações independentes e não oficiais, enquanto as receitas de exportação de gás também foram altas, apesar de sua queda acentuada nos volumes".

A esse respeito, o Ph.D. em economia política pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Óscar Rojas, assegura que se "instituições conservadoras ortodoxas" como o FMI reconhecem um rearranjo da economia, isso significa que grande parte do mundo ocidental nega a inutilidade da política de sanções, pois na realidade está acontecendo o contrário, que é a transformação econômica diante da emergência de uma ordem multipolar que "está mais acelerada do que realmente se aceita".

"O dólar foi na história imediata a última moeda que teve a possibilidade de assumir o controle de quase 90% das transações [internacionais]. Então, a partir de agora, veremos uma recomposição de uma nova estrutura de cesta de moedas", explica o especialista.

Após a Segunda Guerra Mundial, "estabeleceu-se o controle unilateral da economia norte-americana" em toda a ordem econômica mundial, portanto, "nesse contexto de unilateralismo, foi quando as sanções funcionaram", aponta Rojas.

"Esse mundo unilateral não funciona mais, não existe mais. Isso também tem a ver com a aceleração da integração que ocorreu com o projeto de globalização após a queda do muro [de Berlim]", diz o economista mexicano.

A mídia especializada, como The Economist, explicou recentemente que as políticas de sanções contra Moscou falharam devido a dois elementos principais. O primeiro, porque "sempre houve grandes lacunas no regime de sanções". E o segundo, porque a economia e o comércio russos são versáteis, tendo encontrado uma forma de sobreviver e até se fortalecer em canais alternativos que não subscreveram as sanções de Washington e seus parceiros da União Europeia (UE).

Além disso, a busca por alternativas econômicas promoveu outras moedas como o yuan chinês, moeda com a qual foram pagos 16% das exportações russas durante 2022, e permitiu a consolidação de sistemas de pagamentos interbancários alternativos ao SWIFT, como é o caso do CIPS, um modelo similar administrado por Pequim.

Nesse sentido, Óscar Rojas considera que o conflito na Ucrânia e as subsequentes sanções econômicas aceleraram o processo de desdolarização que já havia começado após a crise econômica de 2008 e que ganhou força após a chamada Primavera Árabe.

"Todo mundo percebeu que, depois da crise de 2008, e agora com esses processos inflacionários mundiais, fica claro que uma moeda como o dólar não é tão sólida quanto diziam seus ideólogos", diz o especialista.

A tendência de desdolarização da economia mundial foi observada por vários especialistas e até aceita pela própria secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, que reconheceu que as sanções econômicas aceleram essa tendência.

Apesar disso, ainda não há um reconhecimento tácito desse fenômeno, pois um sistema imperial funciona de duas formas, a administrativa, onde entram instituições como o próprio FMI, e a ideológica, onde entram em jogo os meios de comunicação com os quais "se sustenta a conceituação do modelo anterior", explica Rojas.

"Ainda há resistência e é natural. Os fenômenos históricos sempre têm um período em que, digamos assim, podem morrer em uma década e ideologicamente acabar desaparecendo até a próxima. Ainda há uma fase de adaptação e compreensão dos novos fenômenos", explica o acadêmico.

Neste contexto, e perante o apelo de alguns países a não dependerem da moeda dos Estados Unidos, o especialista considera que "já se prenuncia uma crise de reorganização [econômica]", que vai poder claramente materializar-se até 2050, ou antes, caso se verifiquem fenômenos que aceleram a integração multipolar e até levem a UE a reconsiderar as condições de uso de uma moeda única.

"Me atreveria a dizer que, embora não seja o regresso às moedas nacionais, poderia ser uma refundação de um regime de moeda única, mas teria de ser em outros termos", conclui o especialista.

·         Colunista: economia da Rússia é resiliente, enquanto a Europa está em crise e declínio econômico

A Europa está sofrendo as consequências da crise ucraniana, a economia da Ucrânia está em uma situação desastrosa, enquanto as coisas estão muito melhores na Rússia, escreve o colunista Kenneth Rapoza em um artigo na Forbes.

"A economia russa permanece surpreendentemente estável, em grande parte porque mercados emergentes como a Índia e a China ignoram as sanções ocidentais […]. De acordo com o FMI [Fundo Monetário Internacional], o crescimento na Rússia em 2023 será maior do que na Alemanha e no Reino Unido, onde a queda será de 0,3%", escreve o analista.

O autor do artigo observa que o declínio econômico na Europa se deve às consequências do conflito ucraniano, tais como o aumento dos preços da energia, o problema da imigração e a alta inflação. Rapoza aponta ainda para a questão das divergências políticas na Europa.

"Com o passar do tempo, as ações militares na Ucrânia só vão agravar as divisões, já que o presidente francês, Emmanuel Macron, se aliou à China, pedindo negociações de paz e contrariando os EUA e a Alemanha, que enviam tanques para a Ucrânia", acrescentou o analista.

Em 2022 a queda do Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia foi de 29,1%, ressaltou o colunista. De acordo com Rapoza, todos esperavam que o conflito ucraniano custasse caro para a Rússia, mas é a Europa que está pagando um preço altíssimo por isso, indica o autor.

"Quanto mais duram as ações militares, mais dolorosas elas são para a Europa – e parece que ela [a Europa] não pode fazer muito em relação a isso", conclui o artigo.

O Ocidente aumentou a pressão das sanções sobre a Rússia por causa da Ucrânia, o que levou a um aumento dos preços da eletricidade, combustíveis e alimentos na Europa e nos EUA.

 

Ø  FMI alerta para risco de fragmentação do comércio global

 

O Fundo Monetário Internacional alertou para os riscos de uma grande fragmentação do comércio na região da Ásia-Pacífico que estão se tornando cada vez mais notáveis.

'Os riscos de fragmentação comercial global estão se tornando mais salientes", indicou o FMI em relatório.

Os riscos estão crescendo em função das disputas comerciais entre os EUA e a China, incluindo as novas restrições no comércio de produtos tecnológicos, bem como as tensões geopolíticas vinculadas ao conflito na Ucrânia.

O FMI alertou que a Ásia permanece especialmente vulnerável para reduzir o fluxo do comércio transfronteiriço e investimento internacional direto.

Uma potencial redução poderia ser efetuada com a fragmentação global em múltiplos blocos, com os exportadores asiáticos estando expostos a China, Europa e EUA.

"Enquanto isso, uma redução a médio prazo na produtividade e investimento na China, que poderia ser moldada devido às pressões da fragmentação, pode ter implicações adversas profundas e inesperadas para o resto da região", indica o relatório.

O FMI ainda destacou que a inflação no mundo "não está desacelerando da maneira esperada", mesmo com os bancos centrais elevando seus tipos de interesses.

 

Ø  Leste Europeu está pondo em perigo uma salvação econômica para a Ucrânia

 

A Polônia impôs uma proibição às importações de grãos da Ucrânia, já que o partido no poder Lei e Justiça não quer alienar os eleitores antes das eleições parlamentares do outono europeu, informou a Bloomberg.

"Uma tábua de salvação econômica crucial para a Ucrânia está sendo posta em perigo pelos governos do Leste Europeu que se debatem com os limites do apoio público a Kiev", observa o artigo.

As autoridades polonesas queriam garantir que o apoio de Varsóvia a Kiev não alienasse os eleitores, e é por isso que eles impuseram uma proibição à importação de grãos, dizem os autores do artigo com referência a um funcionário local.

O líder do partido no poder Lei e Justiça, Jaroslaw Kaczynski, por sua vez, acredita que a "decisão difícil" da Polônia acabará ajudando a Ucrânia.

"Não é do interesse de nossos amigos que a Polônia esteja mergulhada em uma crise – e que vejamos pessoas chegando ao poder aqui que mudarão a política de apoio radical à Ucrânia", afirmou ele.

A Comissão Europeia disse na sexta-feira (28) que, em princípio, chegou a um acordo para permitir que o trânsito de grãos ucranianos seja retomado através de cinco países da União Europeia que impuseram restrições.

Os países que impuseram as medidas foram Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia, citando preocupações de que grãos da Ucrânia destinados a serem exportados para outros países tivessem acabado em seus mercados, o que estava derrubando os preços para os agricultores locais.

·         'Ucrânia não é um ator livre; são dependentes do que EUA ditam', diz cientista político americano

Falando com a prestigiosa revista britânica New Statesman, o comentarista político e linguista americano, Noam Chomsky, não poupou palavras para responsabilizar os Estados Unidos e a OTAN pelo conflito na Ucrânia, e assinalou que o lado russo está lutando "com moderação" ao contrário da destruição em massa que os EUA fizeram na invasão do Iraque.

Chomsky, uma das vozes mais críticas no que se refere à política externa de Washington, disse que foram os EUA e o Reino Unido que "recusaram" negociar a paz na Ucrânia, com o objetivo de promover seus próprios interesses nacionais.

"A Ucrânia não é um ator livre; são dependentes do que EUA ditam ", disse o linguista, também acrescentando que os Estados Unidos estão fornecendo armas a Kiev simplesmente para enfraquecer a Rússia.

"Para os EUA, isso é uma pechincha. Por uma fração do orçamento militar colossal, os EUA são capazes de degradar severamente as forças militares de seu único adversário militar real", apontou o acadêmico.

Nesse sentido, o linguista elogia a atuação da Rússia no conflito por sua moderação, comparando-o com a brutal invasão liderada pelos EUA e o Reino Unido ao Iraque em 2003. A destruição em grande escala da infraestrutura que se viu no Iraque, argumenta, "não ocorreu na Ucrânia".

Ele acrescentou: "Sem dúvida, a Rússia poderia fazê-lo, presumivelmente com armas convencionais. [A Rússia] poderia tornar Kiev tão inabitável quanto Bagdá, poderia avançar para atacar linhas de abastecimento no oeste da Ucrânia."

O repórter da New Statesman afirma que quando ele quis pressionar Chomsky sobre se ele estava insinuando que a Rússia estava lutando de uma forma mais humana, o cientista político afirmou categoricamente: "Não estou sugerindo, é óbvio."

Chomsky recorda que os inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) tiveram que ser retirados após o início da invasão do Iraque porque "o ataque foi muito severo e extremo [...]. Esse é o estilo de guerra dos Estados Unidos e do Reino Unido".

Mais tarde, na reportagem, o pensador lamenta que os dignitários estrangeiros não tenham visitado Bagdá como se tivessem viajado para Kiev, apesar de a situação no terreno ser totalmente diferente.

"Quando os EUA e o Reino Unido estavam despedaçando Bagdá, algum líder estrangeiro foi visitar Bagdá? Não, porque quando os EUA e o Reino Unido vão para a guerra, eles vão para a jugular. Eles destroem tudo: comunicações, transporte, energia, choque e temor - qualquer coisa que faça a sociedade funcionar."

Consultando sobre como poderia ser um possível acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, Chomsky mencionou que a primeira coisa é que a Ucrânia não seja membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"Essa é a linha vermelha que todo líder russo tem insistido desde [o ex-presidente russo Boris] Yeltsin e [o ex-presidente soviético Mikhail] Gorbachev", explicou, acrescentando que a Ucrânia deve oferecer "um grau de autonomia" a Donbass e que a questão do status da península da Crimeia pode ser discutida mais tarde (no passado, Chomsky afirmou que a vontade dos seus habitantes é pertencer à Federação da Rússia, como demonstrou o referendo de 2014).

O analista internacional também questionou a adesão da Finlândia à OTAN (oficializada em 2 de abril) e a intenção da Suécia de fazer parte da aliança militar internacional, para a qual falta a aprovação da Turquia.

Para o autor do livro "O que o tio Sam realmente quer", a razão por trás destes realinhamentos está vinculada às indústrias militares de ambos os países, já que esse cenário garante "novas e grandes oportunidades de mercado [e] um novo acesso a equipamentos avançados". Pensar que isso tem algo a ver com o conflito na Ucrânia, explica, é acreditar na "propaganda ocidental".

 

Ø  Secretária do Tesouro: EUA podem dar calote na dívida pública em 1º de junho

 

O Departamento do Tesouro norte-americano alertou para as suas dificuldades em financiar as operações do governo federal, a ponto de se encontrar insolvente para o cumprimento integral das suas obrigações a partir de 1º de junho.

Em plena jornada internacional de comemoração do Dia do Trabalhador, a agência norte-americana indicou em carta dirigida à Câmara dos Representantes que já havia demonstrado em análise anterior a existência de risco de descumprimento de suas obrigações de financiamento para a operação pública.

"Depois de revisar as receitas fiscais federais recentes, nossa melhor estimativa é que não seremos capazes de continuar cumprindo todas as obrigações do governo até o início de junho e, potencialmente, até 1º de junho, se o Congresso não aumentar ou suspender o imposto antes desse prazo", disse a chefe do Tesouro, Janet Yellen, como signatária da carta.

O Tesouro qualificou dizendo que sua estimativa é baseada nas informações atualmente disponíveis, sem esquecer que aspectos como arrecadação de impostos e gastos são fatores inerentemente variáveis, portanto esse risco de inadimplência pode ser adiado por algumas semanas.

"É impossível prever com uma data exata quando o Tesouro não conseguirá pagar as contas do governo, e continuarei atualizando o Congresso nas próximas semanas à medida que mais informações estiverem disponíveis", disse Yellen enfatizando, no entanto, que é imperativo que o Poder Legislativo atue o quanto antes em sua regulamentação do limite de endividamento.

"Para que forneça certeza de longo prazo no sentido de que o governo continuará a fazer seus pagamentos", disse a secretária.

Ela também destacou que esperar "até o último minuto para suspender ou aumentar o limite da dívida pode causar sérios danos à confiança dos empresários e dos consumidores", além de prejudicar os custos dos contribuintes e prejudicar a classificação de crédito dos Estados Unidos.

Assim, Yellen enfatizou que se a Câmara dos EUA falhar em lidar com esta crise, isso vai causar danos às famílias do país, prejudicar a posição de liderança global dos EUA e levantar dúvidas sobre sua capacidade de defender seus interesses nacionais.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário