Petrobras nega denúncias que acusam a empresa de fornecer conhecimento estratégico a concorrentes
Sindicalistas
acusam a Petrobras de prática ilícita ao transferir conhecimento especializado
em curso que pode beneficiar concorrentes; em nota à Sputnik Brasil, empresa
diz que treinamento não envolve informações estratégicas.
A
Petrobras vem sendo acusada por sindicalistas de fornecer conhecimento
especializado em geologia a funcionários de empresas prestadoras de serviço
concorrentes, o que configuraria prática ilícita de transferência de
informações estratégicas.
A
acusação foi feita em uma carta enviada ao presidente da empresa, Jean Paul
Prates, pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) na última terça-feira (14).
A
denúncia aponta que o treinamento vem sendo repassado por meio de um curso de
capacitação, que, segundo relatos de funcionários, não abrange os treinamentos
para atividades já realizadas por profissionais terceirizados.
"O
curso significa capacitar profissionais de empresas que prestam serviços para
todas as outras petroleiras concorrentes, para que estes substituam a presença
de geólogos da Petrobras nas plataformas, o que envolve informações
estratégicas sobre aperfeiçoamento em descrição de amostras de calha,
interpretação de perfis e estratégias para caracterização de reservatório e
parada de poços após perfuração da seção evaporítica", diz a denúncia.
Segundo
o coordenador-geral da federação, Deyvid Bacelar, "a situação é
grave". "Estamos falando de geólogos terceirizados atuando em momento
crítico do projeto de perfuração de poços e em circunstâncias que impactam
diretamente na qualidade de aquisição de dados e na segurança da operação,
podendo até mesmo resultar em perda do poço, o que configura prejuízo
incalculável", disse o coordenador.
Ele
acrescenta que o conhecimento fornecido pelo curso "foi adquirido a muito
custo e ao longo de anos de vivência operacional por parte da equipe de
perfuração da Petrobras". Segundo ele, esse conhecimento é desejado por
empresas concorrentes, que "visam obtê-lo a partir da contratação desses
profissionais treinados pela própria Petrobras".
Procurada
pela Sputnik Brasil, a Petrobras negou a denúncia e destacou que o curso citado
pela FUP é um "treinamento básico, oferecido desde 2001 às equipes de
empresas prestadoras de serviços em atividades de mudlogging", termo dado
à análise da lama retirada de poços perfurados.
"O
principal objetivo deste treinamento é a padronização na execução dos serviços
de descrições de rochas, elaboração de documentação e fluxo de comunicação. É
realizado esporadicamente, quando da mudança de companhia prestadora de
serviços, quando iniciam novos contratos, e tem a curta duração de 16 horas. Em
resumo, este treinamento não é comparável aos cursos internos da Petrobras para
as equipes de geólogos, os quais têm duração básica de 840 horas e abrangência
para todas as atividades necessárias à plena capacitação e exercício da função,
além de outros treinamentos complementares", disse a empresa, em nota à
Sputnik Brasil.
A
Petrobras acrescentou que o treinamento não configura a transferência de
conhecimentos estratégicos.
"Reiteramos
que estes contratos de prestação de serviços são cobertos por cláusulas de
confidencialidade e que o conhecimento compartilhado não constitui conhecimento
estratégico, pois faz parte de práticas da indústria aplicadas ao contexto dos
poços da empresa."
a. Lucro recorde das
petrolíferas eleva pressão por mais taxas
Os
mercados financeiros ficaram atônitos em abril de 2020, quando o preço do
petróleo cru fechou
negativo pela primeira vez na história. À medida que a demanda
despencava por causa dos primeiros lockdowns em reação à pandemia de covid-19, o principal
preço de referência do petróleo nos Estados Unidos caiu para -37 dólares o
barril (cerca de -205 reais na época).
Os
pessimistas chegaram a dizer que os preços nunca se recuperariam. Eles
alertaram que os dias gloriosos das grandes empresas petrolíferas
internacionais estavam contados e previram que o fim da era dos hidrocarbonetos
estava próximo. Embora estivessem corretos sobre a tendência, seus prazos
estavam errados.
As
mesmas cinco gigantes petrolíferas ocidentais – ExxonMobil, Shell,
Chevron, BP e Total – que tiveram enormes prejuízos em 2020, acabam de anunciar
coletivamente mais de 196 bilhões de dólares (1 trilhão de reais) em lucros no
ano passado, ajudadas pelo aumento na demanda por petróleo causado pela guerra
na Ucrânia e a recuperação pós-pandemia.
26)
Ganhos recordes
Durante
grande parte do primeiro semestre do ano passado, o preço do petróleo
ultrapassou 100 dólares e, em março, o petróleo Brent atingiu 139 dólares o
barril. No resto do ano, ficou entre 70 e 95 dólares − muito mais do que
os 40 a 50 dólares necessários para as grandes petrolíferas terem lucro.
O
lucro da Exxon em 2022 foi um recorde não apenas para a empresa, mas para
qualquer gigante petrolífero americano ou europeu. Os ganhos de quase 28
bilhões de dólares da BP foram os mais altos em seus 114 anos de
história, enquanto a Shell lucrou mais que o dobro do ano anterior.
A
brasileira Petrobras também teve lucros recordes ao longo de 2022. A estatal
lucrou 145 bilhões de reais (27,8 bilhões de dólares) nos três primeiros
trimestres do ano passado − o resultado do quatro trimestre e o
consolidado do ano serão divulgados em 1º de março. Esses
valores extraordinários contribuíram para que a política de
preços praticada
pela estatal se tornasse um dos temas da campanha eleitoral do ano.
Além
da alta dos preços do petróleo, a queda dos níveis de endividamento ajudou as
principais empresas petrolíferas a aumentarem os investimentos na produção
de combustíveis
fósseis, já
que os governos priorizaram a segurança energética devido ao choque de
fornecimento causado pelas sanções
ocidentais a Moscou e
pelos inconsistentes fornecimentos de energia do Kremlin para a Europa após
a invasão da
Ucrânia.
O
CEO da BP, Bernard Looney, foi criticado por ambientalistas quando disse que
queria "voltar atrás" em alguns dos investimentos em energias
renováveis, devido ao risco de a escassez de petróleo e gás provocarem maior
volatilidade de preços.
27)
UE foi processada por taxar lucros extras
A
raiva pública aos anúncios de lucros recordes da petrolíferas é visceral, não
apenas devido à necessidade urgente de dar impulso à energia verde.
Durante o último ano, famílias e empresas foram duramente atingidas
pela inflação e
o aumento dos preços da energia. Embora muitos governos tenham tentado
amortizar os preços com subsídios, muitos acham que os altos lucros obtidos
pelas companhias petrolíferas ignoram a dificuldade alheia e mais vozes
pediram uma taxa extra sobre seus lucros.
O
Reino Unido e a União Europeia (UE) já impuseram tributos temporários sobre os
lucros do setor de petróleo e gás. Políticos e sindicatos pedem uma taxação
mais alta. Em suas atualizações de resultados, Shell, Total e BP revelaram que
as novas taxas lhes custariam cada uma cerca de 2 bilhões de dólares, ou seja,
de 5% a 8% dos lucros.
A
ExxonMobil está inclusive processando a UE para obrigar o bloco a suspender sua
nova taxa sobre os lucros extras. A maior empresa petrolífera dos Estados
Unidos argumenta que Bruxelas excedeu sua autoridade ao impor o tributo, o que
normalmente seria da competência dos governos nacionais.
O
porta-voz da Exxon, Casey Norton, disse em dezembro que o imposto "minaria
a confiança dos investidores, desencorajaria os investimentos e aumentaria a
dependência da energia importada".
28)
Biden pede mais tributos sobre petrolíferas
O
presidente americano, Joe Biden, usou seu discurso do Estado da União em 7 de
fevereiro para pedir que os gigantes da energia fóssil fossem mais taxados,
propondo uma quadruplicação dos tributos pagos na recompra de ações.
"Quando
falei com um grupo [de empresas de energia], eles disseram: 'Estamos com medo
de que vocês vão fechar todas as refinarias de petróleo de qualquer maneira,
então por que deveríamos investir nelas? Vamos precisar de petróleo por pelo
menos mais uma década'", relatou Biden ao Congresso. "Em vez disso,
elas usaram esses lucros recordes para comprar de volta as próprias ações,
recompensando seus CEOs e acionistas. As corporações precisam fazer a coisa
certa."
As
principais empresas petrolíferas ocidentais gastaram um valor recorde de 110
bilhões de dólares em pagamento de dividendos e recompras de ações em 2022, de
acordo com a agência de notícias Reuters.
As
gigantes do petróleo cortaram seus investimentos de longo prazo nos últimos
anos, em parte após a exploração do petróleo de xisto nos EUA na última década,
mas também depois de sofrerem grandes perdas por causa da pandemia. Com um
futuro cada vez mais incerto devido à transição para a energia verde, permanece
a hesitação sobre grandes investimentos.
29)
Reabertura da China deve aumentar demanda
Mais
preocupação pode estar a caminho para os consumidores e empresas à medida que
a China
reabre, depois
de três anos de política de covid zero, aumentando ainda mais a demanda por
petróleo e os lucros das petrolíferas.
Embora
não se espere que os preços do petróleo atinjam em breve o pico de 150 dólares
por barril, como em julho de 2008, alguns analistas preveem que o preço poderá
chegar a 100 dólares novamente no final deste ano − antes que uma recessão ou
retração atinja as principais economias e a demanda fique estagnada.
Em
sua última previsão do mercado petrolífero, publicada na terça-feira, o Oxford
Energy Institute previu que os preços do petróleo chegariam a 95,7 dólares por
barril, em parte como resultado da demanda da economia chinesa. E o Goldman
Sachs prevê que os preços voltarão a 100 dólares até dezembro.
A
Rússia informou na semana passada que planeja cortar a produção em meio milhão
de barris por dia a partir do próximo mês, o que fez com que os preços
subissem. Moscou culpou as sanções petrolíferas ocidentais, incluindo um teto de
preço imposto pela União Europeia, de 60 dólares para o petróleo bruto
russo. O Kremlin desviou até agora o petróleo que costumava enviar à Europa
para a China e Índia, embora com um desconto de 30%.
Outro
sinal de forte demanda por petróleo veio esta semana do Barclays Capital, que
prevê lucros ainda maiores para as principais empresas petrolíferas. Ele
estabeleceu uma meta de preço de 10 libras (12 dólares) para as ações
da BP, quase o dobro em relação ao seu preço do no início do mês, de 5,61
libras.
a. OPEP revisa para
cima sua previsão para demanda global de petróleo em 2023
A
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) revisou para cima suas
previsões para o crescimento da demanda global de petróleo em 2023, de acordo
com o relatório de fevereiro. Além disso, a entidade revisou para baixo sua
previsão para a produção de hidrocarbonetos líquidos (petróleo e condensado) na
Rússia.
"A
previsão de crescimento da demanda global por petróleo aumentou um pouco, em
0,1 milhão de barris por dia [mb/d] para 2,3 mb/d", afirma o documento.
Ainda
de acordo com o comunicado, a demanda mundial por petróleo em 2023 deve atingir
101,87 mb/d em comparação com 99,55 mb/d em 2022.
Em
relação às previsões de crescimento da demanda mundial de petróleo em 2022,
segundo a publicação, elas permaneceram inalteradas no patamar de 2,5 mb/d.
Espera-se
que nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
o aumento seja de 0,4 mb/d, enquanto nos países não pertencentes à OCDE chegue
a 2 mb/d em 2023.
30) Previsão da OPEP
para Rússia em 2023
A
OPEP reviu para baixo a sua previsão para a produção de hidrocarbonetos
líquidos (petróleo e condensado) na Rússia para 10,1 mb/d em 2023, informou a
entidade no seu relatório mensal.
Em
sua previsão de janeiro, a OPEP previu uma redução na produção russa de
hidrocarbonetos líquidos de 0,850 mb/d, para um nível médio de 10,2 mb/d.
"Em
2023, a produção de hidrocarbonetos líquidos na Rússia deverá diminuir 0,9
mb/d, para uma média de 10,1 mb/d", afirma o documento.
No
entanto, a OPEP manteve sua avaliação de aumentar a produção de petróleo da
Rússia para 11 mb/d em 2022.
A
organização continua a considerar que as previsões para a Rússia são
"caracterizadas por um elevado grau de incerteza".
Em
fevereiro, o vice-primeiro-ministro russo, Aleksandr Novak, afirmou que a
produção e as exportações de petróleo permanecem estáveis. Logo depois, Novak
anunciou que a Rússia vai reduzir a produção de petróleo em 0,5 mb/d em março
para restaurar as relações de mercado.
a. Crise energética na
Alemanha: terminais flutuantes de GNL triplicaram seu preço em 2022
O
custo dos terminais flutuantes de gás natural liquefeito (GNL) a serem construídos
na Alemanha mais do que triplicou para € 10 bilhões (cerca de R$ 55,7 bilhões)
até dezembro de 2022. De acordo com o Ministério Federal para Assuntos
Econômicos e Proteção Climática, este é o "valor máximo dos custos
esperados que podem ocorrer entre 2022 e 2038".
Em
2022, o orçamento inicialmente calculado era de cerca de € 2,9 bilhões
(aproximadamente R$ 16,1 bilhões). Esse valor foi definido durante a primeira
fase de reorganização do setor de gás, relatado pelo ministério alemão.
Em
"extensa coordenação com várias partes interessadas", "novos
preços foram identificados e os custos iniciais antecipados foram
ajustados". Isso afeta, por exemplo, os preços de exploração e os custos
de atividades de infraestrutura adicionais em terra.
Novos
terminais também foram adicionados. Documentos da Comissão de Orçamento mostram
que os dois terminais seriam fretados por 15 anos, em vez dos 10 inicialmente
previstos. Portanto, a Alemanha discutiu a opção de reduzir o prazo para 10
anos, mas ainda não tomou uma decisão.
Num
contexto de rejeição das entregas de gás russo devido à operação militar
especial na Ucrânia, o governo alemão está promovendo ativamente a construção
de terminais de recepção de importação de GNL. Eles consistem principalmente em
navios e infraestrutura em terra e podem ser colocados em funcionamento mais
rapidamente do que os terminais fixos. Até 2026, um total de 11 terminais de
GNL devem estar em operação. Atualmente, três deles já estão estacionários.
Anteriormente,
uma análise do Rastreador de Ação Climática (CAT, na sigla em inglês) descobriu
que muito mais infraestrutura de GNL está sendo construída em todo o mundo do
que realmente seria necessário. De acordo com esses dados, o excesso de oferta
projetada de GNL pode chegar a cerca de 500 megatoneladas já em 2030, o que
equivaleria a quase cinco vezes o volume de gás russo importado pela União
Europeia (UE) em 2021.
No
entanto, o projeto de GNL do governo causa muito ressentimento, principalmente
entre os ambientalistas, que nos recentes protestos na cidade alemã de
Lutzerath mostraram que estão dispostos a defender suas ideias diante dos
policiais armados.
Fonte:
Sputnik Brasil/Deutsche Welle
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