sábado, 11 de março de 2023


 Petrobras nega denúncias que acusam a empresa de fornecer conhecimento estratégico a concorrentes

Sindicalistas acusam a Petrobras de prática ilícita ao transferir conhecimento especializado em curso que pode beneficiar concorrentes; em nota à Sputnik Brasil, empresa diz que treinamento não envolve informações estratégicas.

A Petrobras vem sendo acusada por sindicalistas de fornecer conhecimento especializado em geologia a funcionários de empresas prestadoras de serviço concorrentes, o que configuraria prática ilícita de transferência de informações estratégicas.

A acusação foi feita em uma carta enviada ao presidente da empresa, Jean Paul Prates, pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) na última terça-feira (14).

A denúncia aponta que o treinamento vem sendo repassado por meio de um curso de capacitação, que, segundo relatos de funcionários, não abrange os treinamentos para atividades já realizadas por profissionais terceirizados.

"O curso significa capacitar profissionais de empresas que prestam serviços para todas as outras petroleiras concorrentes, para que estes substituam a presença de geólogos da Petrobras nas plataformas, o que envolve informações estratégicas sobre aperfeiçoamento em descrição de amostras de calha, interpretação de perfis e estratégias para caracterização de reservatório e parada de poços após perfuração da seção evaporítica", diz a denúncia.

Segundo o coordenador-geral da federação, Deyvid Bacelar, "a situação é grave". "Estamos falando de geólogos terceirizados atuando em momento crítico do projeto de perfuração de poços e em circunstâncias que impactam diretamente na qualidade de aquisição de dados e na segurança da operação, podendo até mesmo resultar em perda do poço, o que configura prejuízo incalculável", disse o coordenador.

Ele acrescenta que o conhecimento fornecido pelo curso "foi adquirido a muito custo e ao longo de anos de vivência operacional por parte da equipe de perfuração da Petrobras". Segundo ele, esse conhecimento é desejado por empresas concorrentes, que "visam obtê-lo a partir da contratação desses profissionais treinados pela própria Petrobras".

Procurada pela Sputnik Brasil, a Petrobras negou a denúncia e destacou que o curso citado pela FUP é um "treinamento básico, oferecido desde 2001 às equipes de empresas prestadoras de serviços em atividades de mudlogging", termo dado à análise da lama retirada de poços perfurados.

"O principal objetivo deste treinamento é a padronização na execução dos serviços de descrições de rochas, elaboração de documentação e fluxo de comunicação. É realizado esporadicamente, quando da mudança de companhia prestadora de serviços, quando iniciam novos contratos, e tem a curta duração de 16 horas. Em resumo, este treinamento não é comparável aos cursos internos da Petrobras para as equipes de geólogos, os quais têm duração básica de 840 horas e abrangência para todas as atividades necessárias à plena capacitação e exercício da função, além de outros treinamentos complementares", disse a empresa, em nota à Sputnik Brasil.

A Petrobras acrescentou que o treinamento não configura a transferência de conhecimentos estratégicos.

"Reiteramos que estes contratos de prestação de serviços são cobertos por cláusulas de confidencialidade e que o conhecimento compartilhado não constitui conhecimento estratégico, pois faz parte de práticas da indústria aplicadas ao contexto dos poços da empresa."

a.    Lucro recorde das petrolíferas eleva pressão por mais taxas

Os mercados financeiros ficaram atônitos em abril de 2020, quando o preço do petróleo cru fechou negativo pela primeira vez na história. À medida que a demanda despencava por causa dos primeiros lockdowns em reação à pandemia de covid-19, o principal preço de referência do petróleo nos Estados Unidos caiu para -37 dólares o barril (cerca de -205 reais na época).

Os pessimistas chegaram a dizer que os preços nunca se recuperariam. Eles alertaram que os dias gloriosos das grandes empresas petrolíferas internacionais estavam contados e previram que o fim da era dos hidrocarbonetos estava próximo. Embora estivessem corretos sobre a tendência, seus prazos estavam errados.

As mesmas cinco gigantes petrolíferas ocidentais – ExxonMobil, Shell, Chevron, BP e Total – que tiveram enormes prejuízos em 2020, acabam de anunciar coletivamente mais de 196 bilhões de dólares (1 trilhão de reais) em lucros no ano passado, ajudadas pelo aumento na demanda por petróleo causado pela guerra na Ucrânia e a recuperação pós-pandemia.

26)   Ganhos recordes

Durante grande parte do primeiro semestre do ano passado, o preço do petróleo ultrapassou 100 dólares e, em março, o petróleo Brent atingiu 139 dólares o barril. No resto do ano, ficou entre 70 e 95 dólares − muito mais do que os 40 a 50 dólares necessários para as grandes petrolíferas terem lucro.

O lucro da Exxon em 2022 foi um recorde não apenas para a empresa, mas para qualquer gigante petrolífero americano ou europeu. Os ganhos de quase 28 bilhões de dólares da BP foram os mais altos em seus 114 anos de história, enquanto a Shell lucrou mais que o dobro do ano anterior.

A brasileira Petrobras também teve lucros recordes ao longo de 2022. A estatal lucrou 145 bilhões de reais (27,8 bilhões de dólares) nos três primeiros trimestres do ano passado − o resultado do quatro trimestre e o consolidado do ano serão divulgados em 1º de março. Esses valores extraordinários contribuíram para que a política de preços praticada pela estatal se tornasse um dos temas da campanha eleitoral do ano.

Além da alta dos preços do petróleo, a queda dos níveis de endividamento ajudou as principais empresas petrolíferas a aumentarem os investimentos na produção de combustíveis fósseis, já que os governos priorizaram a segurança energética devido ao choque de fornecimento causado pelas sanções ocidentais a Moscou e pelos inconsistentes fornecimentos de energia do Kremlin para a Europa após a invasão da Ucrânia.

O CEO da BP, Bernard Looney, foi criticado por ambientalistas quando disse que queria "voltar atrás" em alguns dos investimentos em energias renováveis, devido ao risco de a escassez de petróleo e gás provocarem maior volatilidade de preços.

27)   UE foi processada por taxar lucros extras

A raiva pública aos anúncios de lucros recordes da petrolíferas é visceral, não apenas devido à necessidade urgente de dar impulso à energia verde. Durante o último ano, famílias e empresas foram duramente atingidas pela inflação e o aumento dos preços da energia. Embora muitos governos tenham tentado amortizar os preços com subsídios, muitos acham que os altos lucros obtidos pelas companhias petrolíferas ignoram a dificuldade alheia e mais vozes pediram uma taxa extra sobre seus lucros.

O Reino Unido e a União Europeia (UE) já impuseram tributos temporários sobre os lucros do setor de petróleo e gás. Políticos e sindicatos pedem uma taxação mais alta. Em suas atualizações de resultados, Shell, Total e BP revelaram que as novas taxas lhes custariam cada uma cerca de 2 bilhões de dólares, ou seja, de 5% a 8% dos lucros.

A ExxonMobil está inclusive processando a UE para obrigar o bloco a suspender sua nova taxa sobre os lucros extras. A maior empresa petrolífera dos Estados Unidos argumenta que Bruxelas excedeu sua autoridade ao impor o tributo, o que normalmente seria da competência dos governos nacionais.

O porta-voz da Exxon, Casey Norton, disse em dezembro que o imposto "minaria a confiança dos investidores, desencorajaria os investimentos e aumentaria a dependência da energia importada".

28)   Biden pede mais tributos sobre petrolíferas

O presidente americano, Joe Biden, usou seu discurso do Estado da União em 7 de fevereiro para pedir que os gigantes da energia fóssil fossem mais taxados, propondo uma quadruplicação dos tributos pagos na recompra de ações.

"Quando falei com um grupo [de empresas de energia], eles disseram: 'Estamos com medo de que vocês vão fechar todas as refinarias de petróleo de qualquer maneira, então por que deveríamos investir nelas? Vamos precisar de petróleo por pelo menos mais uma década'", relatou Biden ao Congresso. "Em vez disso, elas usaram esses lucros recordes para comprar de volta as próprias ações, recompensando seus CEOs e acionistas. As corporações precisam fazer a coisa certa."

As principais empresas petrolíferas ocidentais gastaram um valor recorde de 110 bilhões de dólares em pagamento de dividendos e recompras de ações em 2022, de acordo com a agência de notícias Reuters.

As gigantes do petróleo cortaram seus investimentos de longo prazo nos últimos anos, em parte após a exploração do petróleo de xisto nos EUA na última década, mas também depois de sofrerem grandes perdas por causa da pandemia. Com um futuro cada vez mais incerto devido à transição para a energia verde, permanece a hesitação sobre grandes investimentos.

29)   Reabertura da China deve aumentar demanda

Mais preocupação pode estar a caminho para os consumidores e empresas à medida que a China reabre, depois de três anos de política de covid zero, aumentando ainda mais a demanda por petróleo e os lucros das petrolíferas.

Embora não se espere que os preços do petróleo atinjam em breve o pico de 150 dólares por barril, como em julho de 2008, alguns analistas preveem que o preço poderá chegar a 100 dólares novamente no final deste ano − antes que uma recessão ou retração atinja as principais economias e a demanda fique estagnada.

Em sua última previsão do mercado petrolífero, publicada na terça-feira, o Oxford Energy Institute previu que os preços do petróleo chegariam a 95,7 dólares por barril, em parte como resultado da demanda da economia chinesa. E o Goldman Sachs prevê que os preços voltarão a 100 dólares até dezembro.

A Rússia informou na semana passada que planeja cortar a produção em meio milhão de barris por dia a partir do próximo mês, o que fez com que os preços subissem. Moscou culpou as sanções petrolíferas ocidentais, incluindo um teto de preço imposto pela União Europeia, de 60 dólares para o petróleo bruto russo. O Kremlin desviou até agora o petróleo que costumava enviar à Europa para a China e Índia, embora com um desconto de 30%.

Outro sinal de forte demanda por petróleo veio esta semana do Barclays Capital, que prevê lucros ainda maiores para as principais empresas petrolíferas. Ele estabeleceu uma meta de preço de 10 libras (12 dólares) para as ações da BP, quase o dobro em relação ao seu preço do no início do mês, de 5,61 libras.

a.    OPEP revisa para cima sua previsão para demanda global de petróleo em 2023

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) revisou para cima suas previsões para o crescimento da demanda global de petróleo em 2023, de acordo com o relatório de fevereiro. Além disso, a entidade revisou para baixo sua previsão para a produção de hidrocarbonetos líquidos (petróleo e condensado) na Rússia.

"A previsão de crescimento da demanda global por petróleo aumentou um pouco, em 0,1 milhão de barris por dia [mb/d] para 2,3 mb/d", afirma o documento.

Ainda de acordo com o comunicado, a demanda mundial por petróleo em 2023 deve atingir 101,87 mb/d em comparação com 99,55 mb/d em 2022.

Em relação às previsões de crescimento da demanda mundial de petróleo em 2022, segundo a publicação, elas permaneceram inalteradas no patamar de 2,5 mb/d.

Espera-se que nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o aumento seja de 0,4 mb/d, enquanto nos países não pertencentes à OCDE chegue a 2 mb/d em 2023.

30)   Previsão da OPEP para Rússia em 2023

A OPEP reviu para baixo a sua previsão para a produção de hidrocarbonetos líquidos (petróleo e condensado) na Rússia para 10,1 mb/d em 2023, informou a entidade no seu relatório mensal.

Em sua previsão de janeiro, a OPEP previu uma redução na produção russa de hidrocarbonetos líquidos de 0,850 mb/d, para um nível médio de 10,2 mb/d.

"Em 2023, a produção de hidrocarbonetos líquidos na Rússia deverá diminuir 0,9 mb/d, para uma média de 10,1 mb/d", afirma o documento.

No entanto, a OPEP manteve sua avaliação de aumentar a produção de petróleo da Rússia para 11 mb/d em 2022.

A organização continua a considerar que as previsões para a Rússia são "caracterizadas por um elevado grau de incerteza".

Em fevereiro, o vice-primeiro-ministro russo, Aleksandr Novak, afirmou que a produção e as exportações de petróleo permanecem estáveis. Logo depois, Novak anunciou que a Rússia vai reduzir a produção de petróleo em 0,5 mb/d em março para restaurar as relações de mercado.

a.    Crise energética na Alemanha: terminais flutuantes de GNL triplicaram seu preço em 2022

O custo dos terminais flutuantes de gás natural liquefeito (GNL) a serem construídos na Alemanha mais do que triplicou para € 10 bilhões (cerca de R$ 55,7 bilhões) até dezembro de 2022. De acordo com o Ministério Federal para Assuntos Econômicos e Proteção Climática, este é o "valor máximo dos custos esperados que podem ocorrer entre 2022 e 2038".

Em 2022, o orçamento inicialmente calculado era de cerca de € 2,9 bilhões (aproximadamente R$ 16,1 bilhões). Esse valor foi definido durante a primeira fase de reorganização do setor de gás, relatado pelo ministério alemão.

Em "extensa coordenação com várias partes interessadas", "novos preços foram identificados e os custos iniciais antecipados foram ajustados". Isso afeta, por exemplo, os preços de exploração e os custos de atividades de infraestrutura adicionais em terra.

Novos terminais também foram adicionados. Documentos da Comissão de Orçamento mostram que os dois terminais seriam fretados por 15 anos, em vez dos 10 inicialmente previstos. Portanto, a Alemanha discutiu a opção de reduzir o prazo para 10 anos, mas ainda não tomou uma decisão.

Num contexto de rejeição das entregas de gás russo devido à operação militar especial na Ucrânia, o governo alemão está promovendo ativamente a construção de terminais de recepção de importação de GNL. Eles consistem principalmente em navios e infraestrutura em terra e podem ser colocados em funcionamento mais rapidamente do que os terminais fixos. Até 2026, um total de 11 terminais de GNL devem estar em operação. Atualmente, três deles já estão estacionários.

Anteriormente, uma análise do Rastreador de Ação Climática (CAT, na sigla em inglês) descobriu que muito mais infraestrutura de GNL está sendo construída em todo o mundo do que realmente seria necessário. De acordo com esses dados, o excesso de oferta projetada de GNL pode chegar a cerca de 500 megatoneladas já em 2030, o que equivaleria a quase cinco vezes o volume de gás russo importado pela União Europeia (UE) em 2021.

No entanto, o projeto de GNL do governo causa muito ressentimento, principalmente entre os ambientalistas, que nos recentes protestos na cidade alemã de Lutzerath mostraram que estão dispostos a defender suas ideias diante dos policiais armados.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Deutsche Welle

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