terça-feira, 28 de março de 2023

Noblat: Arrependidos de terem feito o L erram ao comparar Lula a Bolsonaro

Há quem pense que Lula e Bolsonaro se equivalem. E que ache que Lula, ao contar o que desejava para Sérgio Moro enquanto esteve preso em Curitiba, ou ao pôr em dúvida que o PCC tenha planejado sequestrar o ex-juiz, foi capaz de se equivaler ao pior do bolsonarismo. Um absurdo, para lá de absurdo.

Em 5 de setembro do ano passado, a menos de um mês de derrotar Bolsonaro no primeiro turno da eleição, Lula aproveitou um discurso que fez em São Paulo para comparar-se a Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, alguns dos maiores líderes políticos do século XX, e todos pacifistas. Disse:

 “Eu não me incomodo mais com o fato da minha prisão. Eu fico olhando, eu fico vendo, e Mandela foi preso e saiu para ser presidente da República. Gandhi foi preso e foi ele quem libertou a Índia da Inglaterra e depois mataram ele. Luther King foi preso e depois fez a luta que fez. E eu estou convencido de que aqui no Brasil vai acontecer a mesma coisa”.

A modéstia não é o forte de Lula. Político é narcisista. Como não seria? Vive a pedir votos argumentando que é o melhor, que só ele fará bem ao povo. Ao citar Mandela, Gandhi e Luther King, mirou em Mandela, que depois de 27 anos preso se elegeu presidente da África do Sul, ganhou o Nobel da Paz e pacificou o país.

Lula sonha em ganhar o Nobel da Paz, que a ditadura militar de 64 impediu que fosse concedido a Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. Mas Lula não é Mandela, assim como a conjuntura no Brasil guarda muitas diferenças com a da África do Sul à época da libertação de Mandela e do seu apogeu.

Mandela se elegeu com 62% dos votos contra 20% do segundo candidato mais votado, e 10% do terceiro. Lula venceu Bolsonaro pelo apertado placar de 50,90% dos votos válidos contra 49,10%. Ninguém contestou a vitória de Mandela; a de Lula foi alvo do golpe de 8 de janeiro e ainda é contestada.

Bolsonaro pode tornar-se inelegível por ter conspirado contra a democracia, coisa que Lula e o PT jamais fizeram ao longo de sua história. O bolsonarismo, porém, segue vivo e com a esperança de voltar a abocanhar o poder em 2026 se o governo Lula for um fiasco. Mandela teve maioria para governar; Lula ainda não tem.

 “Eu não me incomodo mais com o fato da minha prisão” foi mais uma expressão do desejo de Lula à época do que verdade – à época e também hoje. Ele se incomodava e continua incomodado. Quem não se incomodaria de ter ficado 580 dias preso injustamente, segundo o Supremo Tribunal Federal?

Ele errou, e feio, não por ter desejado que Moro se ferrasse, mas por ignorar as fartas evidências de que Moro escapou de ser morto pelo crime organizado graças a uma operação da Polícia Federal, e justamente durante seu governo. Ressuscitou Moro, um senador apagado, e reanimou o bolsonarismo. Foi ruim.

Comparar Lula com seu antecessor, no entanto, é um grave erro. É não saber distinguir entre os dois Quem se lembrará daqui a alguns anos que Lula desejou mal a Moro? Quem se esquecerá do mal que Bolsonaro fez ao Brasil? Passou da hora de Lula esquecer Moro e Bolsonaro e começar a entregar ao país o que prometeu.

 

       “Brasil vive crise de expectativas”, diz economista

 

A economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é coautora de um estudo que, embora ainda não concluído, vem provocando considerável alarido dentro e fora do Brasil. O trabalho mostra, pela primeira vez, que as expectativas de inflação estão relacionadas com as decisões que as empresas tomam para definir o preço de seus produtos.

Assim, se essas expectativas estiverem ancoradas, ou seja, dentro da meta de inflação do governo para determinado período, o repasse para os produtos de um eventual tranco do dólar é menor. Nesse caso, ele fica entre 1% e 2% na primeira rodada de reajustes. Agora, quando as tais expectativas estão desancoradas os reajustes de preços promovidos pelas empresas saltam para 5% ou até 7%.

O ponto é que, como diz Silva, o “Brasil vive uma crise de expectativas”, na qual as âncoras sumira. Ou seja, seguindo a lógica da pesquisa, algo nada recomendável para o processo inflacionário. E qual a consequência para o país dessa situação? É isso o que a economista explica.

LEIA A ENTREVISTA:

•        Qual a melhor síntese do estudo do qual a senhora participa?

É que as expectativas importam. A arte do controle das expectativas é crucial para a estabilidade da economia de um país. Se, desancoradas, as expectativas resultam em reajustes maiores de preço dos produtos. Ou seja, elas têm peso no processo inflacionário. E o Brasil vive uma espécie de crise de expectativas.

•        E qual a origem dessa crise?

Ela está sendo provocada, por exemplo, pela contaminação da política na atuação do Banco Central, na política monetária. E sempre que isso acontece a situação fica pior.

•        Pior em quais aspectos?

Os custos para reduzir a inflação são maiores. Antes dessas disputas do governo com o Banco Central, há cerca de quatro meses, as estimativas eram de que teríamos uma redução dos juros básicos mais ou menos no início do segundo semestre. Agora, esse momento de queda das taxas está cada vez mais sendo empurrado mais para frente. Assim, como resultado final dessa situação, vamos colher menos crescimento econômico. Por isso, é até difícil entender a lógica dessa estratégia do governo de criar ruídos com o Banco Central.

•        Mas o objetivo seria pressionar o BC para baixar os juros o quanto antes.

Sim, mas é preciso entender que o Banco Central faz projeções de inflação. Como a meta de 2024 é de 3%, e todas as estimativas apontam que a inflação estará acima desse nível, o que ele faz? Aumenta os juros. O protocolo é esse. Eu entendo o desespero de um governo que vive da perspectiva de crescimento. Ele quer reeditar o mundo maravilhoso do primeiro mandato de Lula. O problema é que tudo mudou. O mundo não é mais o mesmo.

•        Mudou como?

Desde o ano passado, todos sabíamos que 2023 seria um ano de ajustes. As cadeias produtivas ainda não estão totalmente acertadas, os países estão combatendo a inflação e, por isso, aumentando juros. Em resumo, o diagnóstico do paciente está – e já estava – muito claro. O que temos é um mundo com menos crescimento e mais inflação. Então, não dá para vender o paraíso se ainda estamos no purgatório.

•        Muitos especialistas acreditam que as expectativas podem melhorar com o novo arcabouço fiscal (que fixa regras para manter a dívida pública numa trajetória equilibrada). A senhora compartilha dessa opinião?

Vamos esperar para ver as novas regras fiscais. Mas a agravante é que esse conflito todo em andamento também afeta a credibilidade da equipe econômica. Qual é a força que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem hoje no governo? Além do mais, o que vemos são alguns sinais de uma política econômica mais tradicional e outros de tentativas de atalhos. E isso é muito complicado. Das outras vezes que tentamos pegar atalhos deu ruim. Muito ruim.

•        Que tipos de atalhos?

Atalhos em ações e discursos que defendem que o setor público pode resolver o problema do baixo crescimento. Ou ainda, que basta reduzir os juros para a economia crescer. Os que pregam que a inflação um pouco mais alta não importa. E falam isso justamente sobre a inflação, terrível para os mais pobres. Os ricos se protegem, têm poupança, colocam o dinheiro na renda fixa. E o problema adicional é que, quando essas coisas não dão certo, precisamos de mais políticas sociais para compensar a situação. Para quem defende atalhos, tenho só uma pergunta: se isso nunca deu certo até aqui, por que vai dar certo a partir de agora?

•        A senhora mencionou as polícias sociais. Há dinheiro para elas?

A grande questão hoje não é gastar mais, mas, sim, rever e buscar maior eficiência nos gastos que realizamos. Esse é uma discussão que o governo anterior não quis fazer, mas que abre um espaço enorme para que o país possa ser mais eficaz e justo. Agora, não pode cair nessa história de que “gasto é vida” (termo usado por Dilma Rousseff, quando ocupava a Casa Civil, no governo Lula 2). Mesmo por que quem vai pagar a conta? O governo e os políticos vão propor, por exemplo, um aumento da carga tributária? Isso vai ter de ser uma escolha da sociedade.

•        E como as pessoas que seguem a linha de pensamento econômico do tipo “gasto é vida” devem receber o estudo do qual a senhora participa?

Para esse pessoal, as expectativas não importam. Mas não é isso o que mostra o estudo. E ele não trata do mercado, dos agentes econômicos, sempre muito criticados pelo governo. Ele aborda as empresas e mostra como elas aumentam seus preços quando as expectativas estão desancoradas.

Nota:

O estudo sobre a definição de preços quando as expectativas estão desencoradas analisou dados de julho 2008 a dezembro de 2020 e contou ainda com a participação dos economistas Marco Bonomo (Insper), Carlos Carvalho (Kapitalo Investimentos), Daniel Abib (EPGE-FGV), João Ayres (IADB), Stefano Eusepi (University of Texas, Austin), Marina Perrupato (IADB).

 

       Governo Lula estica a corda sobre lista tríplice para indicação à PGR

 

A seis meses do término do mandato de Augusto Aras à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem reiterado que não irá seguir a lista tríplice na escolha do próximo procurador-geral, puxando a corda que tem na outra ponta a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Por trás da desistência desse método de escolha, estão críticas de Lula à Lava Jato. Na terça-feira (21/3), em entrevista à TV 247, o mandatário ressaltou mais uma vez que vai quebrar a tradição de seus governos anteriores na indicação e criticou a Força Tarefa de Curitiba por ter, na visão dele, prejudicado a imagem do Ministério Público Federal (MPF). “Quase destruíram a imagem da seriedade do Ministério Público. Um bando de moleque irresponsáveis”, disse.

O presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, disse ao Metrópoles que as críticas feitas por Lula não têm relação com a lista, pois o procurador-geral não tinha nenhuma interferência direta na atuação dos colegas de Curitiba.

“Acho que a gente tem que olhar a Lava Jato de uma forma cada vez mais profissional. Vamos ver o que funcionou, coisas que deram certo e as que não deram, como a questão da competência, para que a gente não repita os erros do passado”, disse ele. “Não faz sentido essa correlação de um caso com a escolha do procurador-geral da República”, emendou.

A lista tríplice é adotada em todos os Ministérios Públicos e passou a ser tradição na escolha do chefe do MPF a partir de 2003, no primeiro governo Lula. Porém, em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou Aras, um dos 23 subprocuradores-gerais da República, cujo nome não constava da lista elaborada pela associação.

No entanto, quem rompeu a “tradição” foi Michel Temer (MDB), que, em 2017, escolheu Raquel Dodge, a segunda colocada da lista tríplice, como nova PGR. O primeiro da lista havia sido Nicolao Dino, então vice-procurador geral eleitoral.

Durante seu mandato no MPF, Aras foi criticado por suposto alinhamento ao Planalto e leniência em relação a investigações contra o então mandatário.

A cada fala de Lula e integrantes do governo contra a lista, a ANPR tem reforçado sua posição por meio da divulgação de comunicados à imprensa. Na última quarta-feira (22/3), por exemplo, a nota da associação dizia o seguinte:

“Ao tratar a definição do PGR como uma escolha pessoal, o presidente da República abre mão da transparência necessária ao processo e se desvincula da preocupação com a autonomia da instituição e com a independência do PGR”.

A entidade tenta marcar uma reunião com o presidente Lula antes da elaboração da lista, que deverá ser concluída em junho, após votação interna. A ideia é defender o modelo, sem ainda ter a definição dos nomes. No entanto, ainda não há sinalização de agendamento por parte do Palácio do Planalto.

Em café da manhã com jornalistas, também na quarta, o ministro Rui Costa, da Casa Civil, disse que “os interesses das corporações não necessariamente se alinham ao interesse da sociedade”.

“Não está na lei isso. Lista tríplice é uma invenção do Brasil. Na Inglaterra, na Alemanha… onde tem lista tríplice para compor órgão? Isso é uma captura do Estado brasileiro pelas corporações de Estado para seus interesses”, disse Costa, que é um dos principais auxiliares de Lula.

Em reação, o presidente da associação dos procuradores afirmou que o argumento do corporativismo só costuma ser aplicado ao Ministério Público Federal.

“Acho curioso esse argumento de chamar de corporativista e ele só se aplicar a um Ministério Público dos 30 que nós temos no Brasil”, afirmou Ubiratan Cazetta. “O próprio Rui Costa foi governador da Bahia por dois mandatos. Ele provavelmente recebeu e não fez essa crítica em três ou talvez até quatro listas tríplices para procurador-geral de Justiça da Bahia. O que é diferente o Ministério Público Federal em relação aos Ministérios Públicos dos estados?”, emendou.

Correndo por fora

Segundo a coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, integrantes do MPF passaram a considerar a opção de tentar fazer com que os nomes pelos quais Lula esteja interessado apareçam no rol de indicação. Adotar essa estratégia seria uma maneira de manter a força da lista como meio de escolha do PGR.

No entanto, também há a avaliação de que a posição do governo contrária à lista tríplice poderá gerar outro efeito: de levar alguns nomes a correrem por fora, sem o respaldo da lista.

Internamente, há uma compreensão de que nomes associados ao bolsonarismo não deverão se candidatar em 2023 por avaliarem que não há chances políticas para serem escolhidos. Geralmente, as listas trazem um perfil de candidatos com condições de transitar com o presidente da República de ocasião.

Fato exemplar aconteceu com Nicolao Dino em 2019, quando não colocou seu nome à disposição por entender que, caso o fizesse, poderia aumentar a indisposição de Bolsonaro com o modelo. No final das contas, o então mandatário ignorou a lista tríplice nas duas indicações a que teve direito, em 2019 e em 2021.

Possíveis candidatos

Para além da rejeição a bolsonaristas, o perfil dos integrantes da lista deste ano deverá ser moderado. Na disputa, provavelmente estarão os subprocuradores Mario Bonsaglia, Luiza Frischeisen e José Adonis Callou de Araújo. Há uma eleição interna entre procuradores do MPF para fechar os nomes.

Enquanto isso, o subprocurador Antônio Carlos Bigonha, crítico da atuação do MPF na Lava Jato, tem procurado integrantes do Executivo e até conselheiros e amigos do presidente para viabilizar seu nome. Bigonha já esteve com o presidente da Fiesp, Josué Gomes, que é filho do vice-presidente de Lula nos dois primeiros mandatos, José Alencar (1931-2011).

O subprocurador Paulo Gonet, próximo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, também tem feito campanha de forma extraoficial.

 

Fonte: Metrópoles

 

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