Noblat:
Arrependidos de terem feito o L erram ao comparar Lula a Bolsonaro
Há
quem pense que Lula e Bolsonaro se equivalem. E que ache que Lula, ao contar o
que desejava para Sérgio Moro enquanto esteve preso em Curitiba, ou ao pôr em
dúvida que o PCC tenha planejado sequestrar o ex-juiz, foi capaz de se
equivaler ao pior do bolsonarismo. Um absurdo, para lá de absurdo.
Em
5 de setembro do ano passado, a menos de um mês de derrotar Bolsonaro no
primeiro turno da eleição, Lula aproveitou um discurso que fez em São Paulo
para comparar-se a Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, alguns
dos maiores líderes políticos do século XX, e todos pacifistas. Disse:
“Eu não me incomodo mais com o fato da minha
prisão. Eu fico olhando, eu fico vendo, e Mandela foi preso e saiu para ser
presidente da República. Gandhi foi preso e foi ele quem libertou a Índia da
Inglaterra e depois mataram ele. Luther King foi preso e depois fez a luta que
fez. E eu estou convencido de que aqui no Brasil vai acontecer a mesma coisa”.
A
modéstia não é o forte de Lula. Político é narcisista. Como não seria? Vive a
pedir votos argumentando que é o melhor, que só ele fará bem ao povo. Ao citar
Mandela, Gandhi e Luther King, mirou em Mandela, que depois de 27 anos preso se
elegeu presidente da África do Sul, ganhou o Nobel da Paz e pacificou o país.
Lula
sonha em ganhar o Nobel da Paz, que a ditadura militar de 64 impediu que fosse
concedido a Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. Mas Lula não é
Mandela, assim como a conjuntura no Brasil guarda muitas diferenças com a da
África do Sul à época da libertação de Mandela e do seu apogeu.
Mandela
se elegeu com 62% dos votos contra 20% do segundo candidato mais votado, e 10%
do terceiro. Lula venceu Bolsonaro pelo apertado placar de 50,90% dos votos
válidos contra 49,10%. Ninguém contestou a vitória de Mandela; a de Lula foi
alvo do golpe de 8 de janeiro e ainda é contestada.
Bolsonaro
pode tornar-se inelegível por ter conspirado contra a democracia, coisa que
Lula e o PT jamais fizeram ao longo de sua história. O bolsonarismo, porém,
segue vivo e com a esperança de voltar a abocanhar o poder em 2026 se o governo
Lula for um fiasco. Mandela teve maioria para governar; Lula ainda não tem.
“Eu não me incomodo mais com o fato da minha
prisão” foi mais uma expressão do desejo de Lula à época do que verdade – à
época e também hoje. Ele se incomodava e continua incomodado. Quem não se
incomodaria de ter ficado 580 dias preso injustamente, segundo o Supremo
Tribunal Federal?
Ele
errou, e feio, não por ter desejado que Moro se ferrasse, mas por ignorar as
fartas evidências de que Moro escapou de ser morto pelo crime organizado graças
a uma operação da Polícia Federal, e justamente durante seu governo.
Ressuscitou Moro, um senador apagado, e reanimou o bolsonarismo. Foi ruim.
Comparar
Lula com seu antecessor, no entanto, é um grave erro. É não saber distinguir entre
os dois Quem se lembrará daqui a alguns anos que Lula desejou mal a Moro? Quem
se esquecerá do mal que Bolsonaro fez ao Brasil? Passou da hora de Lula
esquecer Moro e Bolsonaro e começar a entregar ao país o que prometeu.
“Brasil vive crise de expectativas”, diz
economista
A
economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), é coautora de um estudo que, embora ainda
não concluído, vem provocando considerável alarido dentro e fora do Brasil. O
trabalho mostra, pela primeira vez, que as expectativas de inflação estão
relacionadas com as decisões que as empresas tomam para definir o preço de seus
produtos.
Assim,
se essas expectativas estiverem ancoradas, ou seja, dentro da meta de inflação
do governo para determinado período, o repasse para os produtos de um eventual
tranco do dólar é menor. Nesse caso, ele fica entre 1% e 2% na primeira rodada
de reajustes. Agora, quando as tais expectativas estão desancoradas os
reajustes de preços promovidos pelas empresas saltam para 5% ou até 7%.
O
ponto é que, como diz Silva, o “Brasil vive uma crise de expectativas”, na qual
as âncoras sumira. Ou seja, seguindo a lógica da pesquisa, algo nada
recomendável para o processo inflacionário. E qual a consequência para o país
dessa situação? É isso o que a economista explica.
LEIA
A ENTREVISTA:
• Qual a melhor síntese do estudo do qual
a senhora participa?
É
que as expectativas importam. A arte do controle das expectativas é crucial
para a estabilidade da economia de um país. Se, desancoradas, as expectativas
resultam em reajustes maiores de preço dos produtos. Ou seja, elas têm peso no
processo inflacionário. E o Brasil vive uma espécie de crise de expectativas.
• E qual a origem dessa crise?
Ela
está sendo provocada, por exemplo, pela contaminação da política na atuação do
Banco Central, na política monetária. E sempre que isso acontece a situação
fica pior.
• Pior em quais aspectos?
Os
custos para reduzir a inflação são maiores. Antes dessas disputas do governo
com o Banco Central, há cerca de quatro meses, as estimativas eram de que
teríamos uma redução dos juros básicos mais ou menos no início do segundo
semestre. Agora, esse momento de queda das taxas está cada vez mais sendo empurrado
mais para frente. Assim, como resultado final dessa situação, vamos colher
menos crescimento econômico. Por isso, é até difícil entender a lógica dessa
estratégia do governo de criar ruídos com o Banco Central.
• Mas o objetivo seria pressionar o BC
para baixar os juros o quanto antes.
Sim,
mas é preciso entender que o Banco Central faz projeções de inflação. Como a
meta de 2024 é de 3%, e todas as estimativas apontam que a inflação estará
acima desse nível, o que ele faz? Aumenta os juros. O protocolo é esse. Eu
entendo o desespero de um governo que vive da perspectiva de crescimento. Ele
quer reeditar o mundo maravilhoso do primeiro mandato de Lula. O problema é que
tudo mudou. O mundo não é mais o mesmo.
• Mudou como?
Desde
o ano passado, todos sabíamos que 2023 seria um ano de ajustes. As cadeias
produtivas ainda não estão totalmente acertadas, os países estão combatendo a
inflação e, por isso, aumentando juros. Em resumo, o diagnóstico do paciente
está – e já estava – muito claro. O que temos é um mundo com menos crescimento
e mais inflação. Então, não dá para vender o paraíso se ainda estamos no
purgatório.
• Muitos especialistas acreditam que as
expectativas podem melhorar com o novo arcabouço fiscal (que fixa regras para
manter a dívida pública numa trajetória equilibrada). A senhora compartilha
dessa opinião?
Vamos
esperar para ver as novas regras fiscais. Mas a agravante é que esse conflito
todo em andamento também afeta a credibilidade da equipe econômica. Qual é a
força que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem hoje no governo? Além do
mais, o que vemos são alguns sinais de uma política econômica mais tradicional
e outros de tentativas de atalhos. E isso é muito complicado. Das outras vezes
que tentamos pegar atalhos deu ruim. Muito ruim.
• Que tipos de atalhos?
Atalhos
em ações e discursos que defendem que o setor público pode resolver o problema
do baixo crescimento. Ou ainda, que basta reduzir os juros para a economia
crescer. Os que pregam que a inflação um pouco mais alta não importa. E falam
isso justamente sobre a inflação, terrível para os mais pobres. Os ricos se
protegem, têm poupança, colocam o dinheiro na renda fixa. E o problema
adicional é que, quando essas coisas não dão certo, precisamos de mais
políticas sociais para compensar a situação. Para quem defende atalhos, tenho
só uma pergunta: se isso nunca deu certo até aqui, por que vai dar certo a
partir de agora?
• A senhora mencionou as polícias sociais.
Há dinheiro para elas?
A
grande questão hoje não é gastar mais, mas, sim, rever e buscar maior
eficiência nos gastos que realizamos. Esse é uma discussão que o governo
anterior não quis fazer, mas que abre um espaço enorme para que o país possa
ser mais eficaz e justo. Agora, não pode cair nessa história de que “gasto é
vida” (termo usado por Dilma Rousseff, quando ocupava a Casa Civil, no governo
Lula 2). Mesmo por que quem vai pagar a conta? O governo e os políticos vão
propor, por exemplo, um aumento da carga tributária? Isso vai ter de ser uma
escolha da sociedade.
• E como as pessoas que seguem a linha de
pensamento econômico do tipo “gasto é vida” devem receber o estudo do qual a
senhora participa?
Para
esse pessoal, as expectativas não importam. Mas não é isso o que mostra o
estudo. E ele não trata do mercado, dos agentes econômicos, sempre muito
criticados pelo governo. Ele aborda as empresas e mostra como elas aumentam
seus preços quando as expectativas estão desancoradas.
Nota:
O
estudo sobre a definição de preços quando as expectativas estão desencoradas
analisou dados de julho 2008 a dezembro de 2020 e contou ainda com a
participação dos economistas Marco Bonomo (Insper), Carlos Carvalho (Kapitalo
Investimentos), Daniel Abib (EPGE-FGV), João Ayres (IADB), Stefano Eusepi
(University of Texas, Austin), Marina Perrupato (IADB).
Governo Lula estica a corda sobre lista
tríplice para indicação à PGR
A
seis meses do término do mandato de Augusto Aras à frente da Procuradoria-Geral
da República (PGR), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem reiterado
que não irá seguir a lista tríplice na escolha do próximo procurador-geral,
puxando a corda que tem na outra ponta a Associação Nacional dos Procuradores
da República (ANPR).
Por
trás da desistência desse método de escolha, estão críticas de Lula à Lava
Jato. Na terça-feira (21/3), em entrevista à TV 247, o mandatário ressaltou
mais uma vez que vai quebrar a tradição de seus governos anteriores na
indicação e criticou a Força Tarefa de Curitiba por ter, na visão dele,
prejudicado a imagem do Ministério Público Federal (MPF). “Quase destruíram a
imagem da seriedade do Ministério Público. Um bando de moleque irresponsáveis”,
disse.
O
presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, disse ao Metrópoles que as críticas
feitas por Lula não têm relação com a lista, pois o procurador-geral não tinha
nenhuma interferência direta na atuação dos colegas de Curitiba.
“Acho
que a gente tem que olhar a Lava Jato de uma forma cada vez mais profissional.
Vamos ver o que funcionou, coisas que deram certo e as que não deram, como a
questão da competência, para que a gente não repita os erros do passado”, disse
ele. “Não faz sentido essa correlação de um caso com a escolha do
procurador-geral da República”, emendou.
A
lista tríplice é adotada em todos os Ministérios Públicos e passou a ser
tradição na escolha do chefe do MPF a partir de 2003, no primeiro governo Lula.
Porém, em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou Aras, um dos 23
subprocuradores-gerais da República, cujo nome não constava da lista elaborada
pela associação.
No
entanto, quem rompeu a “tradição” foi Michel Temer (MDB), que, em 2017,
escolheu Raquel Dodge, a segunda colocada da lista tríplice, como nova PGR. O
primeiro da lista havia sido Nicolao Dino, então vice-procurador geral
eleitoral.
Durante
seu mandato no MPF, Aras foi criticado por suposto alinhamento ao Planalto e
leniência em relação a investigações contra o então mandatário.
A
cada fala de Lula e integrantes do governo contra a lista, a ANPR tem reforçado
sua posição por meio da divulgação de comunicados à imprensa. Na última
quarta-feira (22/3), por exemplo, a nota da associação dizia o seguinte:
“Ao
tratar a definição do PGR como uma escolha pessoal, o presidente da República
abre mão da transparência necessária ao processo e se desvincula da preocupação
com a autonomia da instituição e com a independência do PGR”.
A
entidade tenta marcar uma reunião com o presidente Lula antes da elaboração da
lista, que deverá ser concluída em junho, após votação interna. A ideia é
defender o modelo, sem ainda ter a definição dos nomes. No entanto, ainda não
há sinalização de agendamento por parte do Palácio do Planalto.
Em
café da manhã com jornalistas, também na quarta, o ministro Rui Costa, da Casa
Civil, disse que “os interesses das corporações não necessariamente se alinham
ao interesse da sociedade”.
“Não
está na lei isso. Lista tríplice é uma invenção do Brasil. Na Inglaterra, na
Alemanha… onde tem lista tríplice para compor órgão? Isso é uma captura do
Estado brasileiro pelas corporações de Estado para seus interesses”, disse
Costa, que é um dos principais auxiliares de Lula.
Em
reação, o presidente da associação dos procuradores afirmou que o argumento do
corporativismo só costuma ser aplicado ao Ministério Público Federal.
“Acho
curioso esse argumento de chamar de corporativista e ele só se aplicar a um
Ministério Público dos 30 que nós temos no Brasil”, afirmou Ubiratan Cazetta.
“O próprio Rui Costa foi governador da Bahia por dois mandatos. Ele
provavelmente recebeu e não fez essa crítica em três ou talvez até quatro listas
tríplices para procurador-geral de Justiça da Bahia. O que é diferente o
Ministério Público Federal em relação aos Ministérios Públicos dos estados?”,
emendou.
Correndo
por fora
Segundo
a coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, integrantes do MPF passaram a
considerar a opção de tentar fazer com que os nomes pelos quais Lula esteja
interessado apareçam no rol de indicação. Adotar essa estratégia seria uma
maneira de manter a força da lista como meio de escolha do PGR.
No
entanto, também há a avaliação de que a posição do governo contrária à lista
tríplice poderá gerar outro efeito: de levar alguns nomes a correrem por fora,
sem o respaldo da lista.
Internamente,
há uma compreensão de que nomes associados ao bolsonarismo não deverão se
candidatar em 2023 por avaliarem que não há chances políticas para serem
escolhidos. Geralmente, as listas trazem um perfil de candidatos com condições
de transitar com o presidente da República de ocasião.
Fato
exemplar aconteceu com Nicolao Dino em 2019, quando não colocou seu nome à
disposição por entender que, caso o fizesse, poderia aumentar a indisposição de
Bolsonaro com o modelo. No final das contas, o então mandatário ignorou a lista
tríplice nas duas indicações a que teve direito, em 2019 e em 2021.
Possíveis
candidatos
Para
além da rejeição a bolsonaristas, o perfil dos integrantes da lista deste ano
deverá ser moderado. Na disputa, provavelmente estarão os subprocuradores Mario
Bonsaglia, Luiza Frischeisen e José Adonis Callou de Araújo. Há uma eleição
interna entre procuradores do MPF para fechar os nomes.
Enquanto
isso, o subprocurador Antônio Carlos Bigonha, crítico da atuação do MPF na Lava
Jato, tem procurado integrantes do Executivo e até conselheiros e amigos do
presidente para viabilizar seu nome. Bigonha já esteve com o presidente da
Fiesp, Josué Gomes, que é filho do vice-presidente de Lula nos dois primeiros
mandatos, José Alencar (1931-2011).
O
subprocurador Paulo Gonet, próximo do ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Gilmar Mendes, também tem feito campanha de forma extraoficial.
Fonte:
Metrópoles
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