quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Um ano sem Zagallo: Velho Lobo contou em livro bastidores de 1970 e ensaiou guerra contra a imprensa

Neste domingo, dia 5 de janeiro, completou um ano a morte de Mário Jorge Lobo Zagallo, um dos maiores vencedores do esporte brasileiro em todos os tempos. Bicampeão do mundo como jogador em 1958 e 1962 e campeão como treinador em 1970, o Velho Lobo morreu aos 92 anos em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

A conquista da Copa de 1970 ficou eternizada num livro raro, o único escrito pelo Velho Lobo. A obra "As lições da Copa" foi lançada em 1971 pela antiga editora Bloch - hoje só se encontra em sebos ou pela internet por mais de R$ 100. A obra é um diário de bordo que vai desde o convite para ser treinador da Seleção a menos de três meses do Mundial até a volta olímpica no estádio Azteca, na Cidade do México.

Em 187 páginas, Zagallo narra as agruras da formação da equipe, as polêmicas de bastidores que incluem o drama pela dúvida na recuperação de Tostão e uma pimenta daquelas com uma parte da imprensa, direcionada a um jornalista famoso da época.

Meses antes da Copa, em setembro de 1969, Tostão havia recebido uma bolada no olho em jogo do Cruzeiro contra o Corinthians. Sofreu descolamento de retina e ficou seis meses em recpuperação até voltar aos campos, depois de passar por cirurgia. No livro, Zagallo conta em detalhes tudo que passou com os médicos e com o próprio Tostão.

"Se colocar o rapaz para jogar, poderei ser um criminoso. E se ele ficar cego?", relatou, confidenciando que, quando conversava com Tostão, fixava-se nos olhos do atacante e admitia que a "aparência" de uma das vistas "não era boa".

Na preparação no México, em Guanajuato, Tostão ainda sofrera derrame no olho esquerdo, o que levou ainda maior desconfiança às vésperas da Copa, mas Roberto Abdalla, médico que acompanhava Tostão e esteve ao lado da seleção brasileira no México, garantiu que "a retina está perfeita" e que "o aspecto é feio, mas não atrapalha em nada a visão do jogador, que poderá jogar sem receio".

- Acreditei na sua ciência - contou Zagallo no livro, revelando também que Tostão chegou a sugerir o corte quando sofreu outro derrame. Artilheiro das eliminatórias, Tostão foi titular em todos os seis jogos da Copa, fez dois gols e deu quatro assistências.

·        Corridas - e convencimento - com Rivellino

Em 1970, Zagallo tinha encerrado a carreira havia pouco mais de cinco anos. Ainda não completara 39 anos e usou a forma física para treinar o time. Em "Lições da Copa", conta vitória pessoal ao preparar Rivellino, camisa 10 em todos os clubes, para ser um meia pela esquerda com importante funções defensivas.

"Um craque. Mas não combatia, voltava caminhando quando as coisas se tornavam difíceis, ou quando perdíamos a jogada", dizia Zagallo que passou a instruir Riva dentro do campo, perseguindo-o:

- Eu corria ao seu lado, dentro do campo, dando-lhe instruções; falando, verberando, enfatizando... Somente à custa de muito grito, muita bronca e muita instrução, em clima de convencimento, Rivellino e Clodoaldo aprenderam como deveriam colocar-se e agir em campo.

Ao longo de todo o relato do livro, Zagallo deixa recados indiretos ao esquema anterior de João Saldanha, que considerava inadequado para ganhar a Copa, e rebate críticas da imprensa, ao melhor estilo "vocês vão ter que me engolir". Desabafo que consagrou 27 anos depois em La Paz, na altitude boliviana, quando o Brasil foi campeão da Copa América, em 1997.

No livro, Zagallo diz que "deplora a conduta de certos comentaristas", acusa tentativa de "massacre de reputação de jogadores altamente qualificados", referindo-se a Paulo Cézar Caju, que era seu titular original quando assumiu a Seleção. Caju perdeu a vaga, mas foi importante na Copa - um dos melhores em campo na vitória sobre a Inglaterra, então campeã do mundo.

- Fui malhado como se me tivesse convertido em Judas - desabafou numa das páginas, em um dos diversos relatos contra seus críticos.

Zagallo atribui as dificuldades do primeiro tempo contra o Uruguai, adversário da semifinal, à "sórdida campanha de descrédito movida por uma parte da imprensa brasileira ou por certos jornalistas imprestáveis". O antídoto - contra o fantasma de 1950, do vice no Maracanã - veio ao melhor estilo Velho Lobo no intervalo da partida.

- Como é que é, vocês pretendem perder para aquele timinho? É isso mesmo, o timinho uruguaio não vale um caracol. É vergonhoso para vocês terem que sair do campo de cara baixa. Eles é que devem tremer, não vocês - gritou no vestiário.

O jogo terminou 3 a 1, de virada, para o Brasil. Zagallo conta que os jogadores lhe agradeceram pela bronca do intervalo e opina, no livro, que ganharam de três, mas poderia ter sido de quatro ou cinco.

·        Um "serzinho" na imprensa

Zagallo dividiu a obra em capítulos por jogos. E não poupou adjetivos e desabafos. Alguns deles direcionados ao duelo contra a Inglaterra. Os atuais campeões do mundo chegaram à Copa de 1970 como "deuses mascarados, vestidos de empáfia e ostentando uma superioridade intraduzível".

Enquanto os brasileiros iam treinar e confraternizavam com o povo mexicano - levando até flores para a torcida -, os ingleses levaram água, alimento e "até mesmo um ônibus", ressaltou Zagallo, sobre o distanciamento britânico. No duelo ainda na primeira fase, uma jogada genial de Tostão e um passe milimétrico de Pelé fizeram Jairzinho encher a rede da Inglaterra na vitória por 1 a 0.

No relato do capítulo "Pedras e seres no caminho", há um alvo principal: Geraldo Bretas. Radialista e comentarista da TV Tupi, o jornalista configurou-se na "pedra no caminho" para Zagallo. Ele é descrito por Zagallo como "comentarista de uma emissora de televisão de São Paulo e colecionador de desaforos por ele próprio usados a granel". Em outros momentos, sem citar o nome, trata Bretas com desprezo e o chama de "esse serzinho"

O ressentimento era antigo, pois Zagallo lembrou no livro que Bretas "malha a seleção brasileira desde 1958, talvez antes". Zagallo relata uma entrevista na concentração da Seleção em que é perguntado, durante a primeira fase, se o Brasil permaneceria "no fundo do vale". O jornalista chegou a ser proibido de ir na concentração brasileira. Zagallo relata a seguinte discussão:

- Para mim, a Seleção está uma porcaria. Continua jogando errado.

- Olhe aqui, velho, você não entende bosta nenhuma de futebol. Só sabe destruir - rebateu Zagallo, confessando que disse algumas palavras a mais que preferiu não detalhar no livro.

Com seis jogos e seis vitórias - 19 gols marcados e seis sofridos -, a seleção brasileira de 1970 é até hoje considerada uma das melhores de todos os tempos. Foi a última Copa de Pelé, companheiro de Zagallo no bicampeonato de 1958 e 1962. O Rei tinha relacionamento um tanto quanto estremecido com João Saldanha, treinador da Seleção nas eliminatórias e um dos responsáveis pela formação daquela equipe.

O Velho Lobo revela no livro que tinha também suas diferenças com Saldanha, que haviam começado ainda nos tempos de Botafogo. Para Zagallo, Saldanha não gostava do seu estilo de jogo. Mas garantia que nunca havia tido "graves desentendimentos pessoais".

 

¨      2025: um ano com muito futebol. Por Percival Maricato

Já temos futebol em 2025: a Copa São Paulo de Futebol Júnior, conhecida como Copinha,  traz dezenas de times de jovens aspirantes ao estrelato, que disputam ferrenhamente  esse tradicional torneio. No meio do mês já começam os campeonatos regionais e em fevereiro , dia 15, temos o início da Libertadores. Em 15 de junho temos a largada da Copa do Mundo de Clubes, que segue até 13 de julho. O Brasileirão vai de 29 de  março até 29  de novembro.  Os campeonatos europeus também já estão disponíveis. Os grandes do Brasil vão estrear com times reforçados, há dezenas de novidades. Teremos um ano para ninguém reclamar de falta de grandes jogos.

<><> A Copinha

A Copa de Futebol Junior, também conhecida como Copinha, tem sua nova edição com 128 times de todo o  país, é jogada por grupos em diversas cidades do Estado de São Paulo e sua final se dá em 25 de janeiro, quando é disputada a final. São mais de mil atletas querendo mostrar seu futebol, em versões anteriores revelou grandes craques, os jovens merecem a atenção dos torcedores. O Palmeiras já apresentou credenciais de sua garotada: deu de 9 x 0 no Náutico. Goleadas nunca faltam no início do torneio.

<><> Em admiradores, os times e campeonatos europeus goleiam os brasileiros

A Global Fan  Raport, afirma que dos fãs de futebol que admiram times de outros países que não do seu, o Real Madrid ganha longe,  tem 37%, mais que o Flamengo (19%) e  o  Corinthians  (14%) juntos no Brasil. Vem a seguir o Barcelona, com 16%  e o  Manchester City com 5,7%. Essa preferência se dá por tradição, resultados atuais, melhores jogadores, só depois vem influência de amigos. Mas sem dúvida a conquista dessa preferência  no estrangeiro também se dá pela exposição que estes clubes têm na TV, no streaming, nas redes sociais em que investem. Aliás, outros esportes, o futebol americano por exemplo, estão trabalhando para obter torcedores no país. Lembremos que em Cuba e na Venezuela eles acabaram impondo o costume de jogar o baseball, tão forte era a colonização.

<><> Os times europeus contam com a estupidez e avidez dos brasileiros

Além de trabalharem para ganhar torcedores os europeus contam a estupidez dos brasileiros. Os times brasileiros  aumentam de forma  extorsiva  o preço  dos ingressos, os canais que televisionam os jogos cobram caríssimo pelas assinaturas. Os times brasileiros tudo fazem para perder torcedores. Só a classe média pode pagar um ingresso e não sofrer falta de dinheiro para pagar bens essenciais à família no fim do mês.  Como consequência, apesar de todos os títulos já obtidos pela seleção, apesar dos grandes craques revelados, apenas 2,23% dos pesquisados tem preferência pelo campeonato brasileiro, contra 32% que preferem ver o inglês. Muito provavelmente o futebol brasileiro já é batido até pelos times árabes na preferência mundial. E agora que se tornam propriedade de capitalistas, muitos perdem a aura popular e romântica, distanciam-se dos torcedores  e viram mercadoria. Esporte do povo?  Por mais alguns anos, talvez.

<><> Clubes brasileiros devem mais de r$ 3.6 bi em ações de recuperação

Mais uma prova de má gestão de times brasileiros: reportagem do Jornal Valor Econômico informa que 21 times brasileiros devem R$ 3.6 bilhões e estão tentando adiar o pagamento desses valores através de recuperação judicial, recuperação extra-judicial (Lei das SAFs) e concentração de execuções, formas diferentes com que se busca o mesmo objetivo. O efeito indireto e imediato é que o crédito fica cada vez mais caro para os clubes em geral, pois os credores constatam aumento de riscos. É mais uma vez o futebol-mercadoria, e as dívidas resultado da irresponsabilidade e incompetência de dirigentes que acabam não respondendo pelos prejuízos e levam os clubes a venderem o time de futebol no mercado, algo como oferecer geladeira ou chinelo em lojas.

 

¨      Fair play financeiro: funcionaria no futebol brasileiro?

No cenário atual do futebol mundial, a sustentabilidade financeira tornou-se um tema central para a sobrevivência e o sucesso dos clubes. O Fair Play Financeiro (FFP) surge como um conjunto de regras condicionais para evitar que os clubes gastem além de suas receitas na busca incessante por títulos, evitando assim problemas financeiros que possam comprometer sua longevidade. Este mecanismo, adotado pela UEFA, apresenta-se como uma solução possível para muitos clubes do futebol brasileiro, ainda que enormes desafios impeçam a implementação no país a curto prazo.

O Fair Play Financeiro da UEFA foi implementado em 2011 com o objetivo de promover a responsabilidade financeira entre os clubes europeus. Segundo dados da própria UEFA, desde a sua implementação, cerca de 50 clubes foram punidos por descumprimento das regras, que incluem limites de gastos com transferências, além da exigência de que os clubes operem dentro de suas receitas. Em 2023, por exemplo, apenas o Manchester City teve sanções severas, demonstrando a rigorosidade e a eficácia do FFP e a imparcialidade do mecanismo.
No Brasil, onde a gestão financeira dos clubes enfrenta crises frequentes, a adoção de um sistema semelhante ao FFP poderia evitar a geração de desastres financeiros que já ocorreram várias vezes levando Clubes quase a falência. Clubes como o Vasco da Gama, Cruzeiro e o Corinthians já enfrentaram sérios problemas com endividamento, muitas vezes resultando de gastos descontrolados para manter a competitividade. Implementar o FFP no Brasil ajudaria a garantir que os clubes operem de maneira sustentável, equilibrando receitas e despesas e promovendo uma gestão mais transparente e responsável.

No entanto, a implementação do FFP no Brasil enfrenta obstáculos consideráveis, principalmente devido ao ego dos dirigentes e cartolas que frequentemente priorizam resultados imediatos em detrimento da saúde financeira a longo prazo. A cultura de investimentos milionários em contratações e negociações exorbitantes, muitas vezes financiadas por fontes não sustentáveis, é uma prática constante. Sem uma mudança de mentalidade e um compromisso real com a responsabilidade financeira, a adoção do FFP poderá se arrastar ainda por um longo tempo..
Apesar desses desafios, existem exemplos positivos onde princípios semelhantes ao FFP têm sido aplicados com sucesso. Na Itália, a Serie A modificou o seu regulamento excluindo os clubes que apresentem balanços financeiros em desacordo com a regra. Isso resultou em maior estabilidade financeira para os clubes e menor impacto em crises econômicas. Outro exemplo é a Liga Espanhola, que, ao fortalecer as regras de controle financeiro, conseguiu reduzir o endividamento excessivo de seus clubes sem perder a qualidade de seu produto o futebol.
Para que o FFP seja implementado no Brasil, é necessário um esforço conjunto entre clubes, federação e órgãos reguladores, além de uma mudança cultural que valorize a gestão financeira responsável. A educação financeira dos dirigentes e a criação de mecanismos de fiscalização rigorosos são passos fundamentais para garantir que os clubes brasileiros possam seguir um caminho de sustentabilidade e sucesso a longo prazo.

O Fair Play Financeiro representa uma oportunidade crucial para o futebol brasileiro reverter seu histórico de crises economicas e promover uma gestão mais saudável e sustentável. Embora os desafios sejam consideráveis, especialmente devido ao comportamento dos dirigentes, os benefícios potenciais para os clubes e para o esporte como um todo são inegáveis. Inspirando-se nos exemplos bem-sucedidos da Europa, o Brasil pode dar um passo decisivo para um futebol mais equilibrado, competitivo e financeiramente estável.

 

Fonte: Ge/Jornal GGN/Buriti News

 

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