terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Neodescolonização: não há espaço para bases militares estrangeiras na África em 2025, nota analista

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas afirmam que dar andamento ao processo de neodescolonização e conter o fluxo migratório de jovens são desafios para o continente africano neste ano.

O ano de 2025 promete ser movimentado para a África. Neste ano, o G20 terá como sede a África do Sul, fazendo do país palco de discussões geopolíticas.

Há, ainda, a expectativa em torno do chamado processo de neodescolonização, no qual países estão rompendo laços militares e de assistência com ex-metrópoles europeias, sobretudo a França. Também há a esperança de muitos países de que o continente repita o excelente crescimento econômico de 2024, que, segundo o relatório "Perspectivas Econômicas Africanas 2024", do Banco Africano de Desenvolvimento, ficou em 3,7%, acima da média global de 3,2%.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas fazem um panorama das perspectivas para a África em 2025, destacando a situação em alguns países este ano.

Eden Pereira, professor de história e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e Relações Sul-Sul (NIEAAS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o continente africano — por ser uma das regiões mais populosas do mundo, com um grande mercado, uma quantidade considerável de cientistas e rica em recursos naturais — continuará a atrair o interesse de grandes potências; em especial Rússia, China e Estados Unidos.

Segundo ele, os EUA ensaiaram uma aproximação com o continente em 2024, ao passo que China e Rússia já têm agendas consolidadas na região e pretendem expandir a cooperação.

"A China, por causa dos seus projetos econômicos relacionados à iniciativa da Nova Rota da Seda, porque uma série de países africanos já aderiram há muito tempo e agora estão tendo uma renovação de todo o seu parque de infraestrutura, parque industrial […]. Temos também, com relação à Rússia, uma presença muito importante que tem crescido. […] ela tem abrangido algumas demandas do continente que a China não tem sido capaz de dar conta nos seus projetos, sobretudo em projetos de infraestrutura energética", explica.

Pereira afirma que os projetos de China e Rússia na África se diferenciam dos projetos dos EUA porque focam o desenvolvimento.

"Essas disputas tendem a se acirrar a partir do ano de 2025, sobretudo porque essa abordagem militar dos EUA […] se especifica ainda mais com a entrada da administração [de Donald] Trump a partir de agora. Porque Trump […] vai ter uma política [para a África] que vai ser muito agressiva, muito mais agressiva do que foi, por exemplo, a política da administração [de Joe] Biden."

Para Eden Pereira, dois países em especial devem se destacar economicamente em 2025: Senegal e Egito. Ele frisa que o novo presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, apresentou um plano de 25 anos de desenvolvimento, que abrange toda uma reestruturação política e energética do Senegal, em termos de contratos também envolvendo empresas estrangeiras que operam no país.

Por outro lado, o especialista destaca que o Egito tem desenvolvido uma série de projetos de telecomunicações, abastecimento e energia, que possibilitam que o país se torne um dos principais produtores de manufatura de indústria em continente africano.

"O Egito é um país que, embora não tenha um crescimento econômico que hoje consiga abafar alguns problemas de desabastecimento, porque o país tem uma inflação consideravelmente alta, mas é um país com grandes potenciais e que ao longo da atual presidência do presidente egípcio, [Abdel] Fattah al-Sisi, tem passado por um processo de razoável estabilidade econômica."

Mamadou Diallo, mestre em ciência política e doutor em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enfatiza que o processo de neodescolonização no continente africano deve continuar em 2025, e que se a França e a União Europeia (UE) não quiserem perder mercados na região, terão de "redefinir e redesenhar as parcerias".

"Não tem mais espaço para a presença de uma base militar francesa no continente africano. […] Eu espero que a própria França tome a decisão de retirar suas tropas antes que sejam mandados embora, como foi em outros lugares do Sahel."

Ele afirma que a agenda da África do Sul para o G20 segue um pouco a do Brasil, com foco em questões ambientais fundamentais para o país e, também, na reorganização e reestruturação do sistema internacional.

"Acho que as temáticas que foram discutidas no Rio, no G20, vão voltar na África do Sul. Vão ser defendidas de uma forma muito mais enfática. Além disso, acho que a questão do racismo, da raça e do racismo, acho que vai voltar para a África do Sul. Lembrando que a conferência de Durban [em 2001] foi um pontapé inicial para esses movimentos sobre o combate ao racismo. Acho que esse é um tema muito caro à África do Sul, devido ao próprio histórico do país pelo apartheid. São questões centrais que vão ter um espaço maior."

Sobre a declaração dada pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, no final de 2024, de que países africanos terão assento no Conselho de Segurança da ONU em 2025, Diallo afirma que não basta criar um assento sem mudar a balança de poder na ONU, principalmente no que diz respeito ao poder de veto.

"Teria que mudar o próprio equilíbrio de poder, no sentido de que não são somente os países que criaram a ONU ou que lideraram o sistema westfaliano a partir de 1945 que continuam tendo a prerrogativa de decidir […]. Me parece que essas vagas, sem o peso necessário, a gente vai continuar sendo periférico dentro do sistema."

Diallo afirma ainda que o crescimento econômico da África só será convertido em desenvolvimento quando os africanos se conscientizarem de que "não adianta ter um crescimento econômico, sendo que metade das empresas que geram esse crescimento são estrangeiras" e vão levar para seus países de origem o lucro gerado.

Ele aponta que um dos dois principais desafios para o continente africano em 2025 é alcançar a estabilidade, solucionando problemas internos e se distanciando do discurso de que são causados por influência externa.

"Claro que você tem uma influência externa, mas essa influência externa não teria respaldo se você não tem uma elite interna que está pronta a se subordinar às políticas internacionais", explica.

O segundo desafio, segundo ele, é resolver a dinâmica social, estancando, principalmente, o fluxo migratório de jovens que têm como base a ideia de que o sucesso está no exterior.

"Essa é uma ideia que o continente africano tem que combater não somente em 2025, mas isso tem que fazer parte de uma agenda positiva do continente africano. Mostrar que a gente tem exemplos extraordinários, a própria tecnologia de informação… Quando você olha o que está se criando no continente africano, é extraordinário. Então os jovens podem ter sucesso em seus próprios países. Eu não preciso migrar para ter sucesso", afirma o especialista.

 

¨      A 'crise invisível' no país onde mais crianças fogem da guerra que em qualquer outro

Mahmoud é um adolescente atrevido que exibe o maior dos sorrisos, apesar de ter perdido os dentes da frente em uma brincadeira de criança.

Ele é um órfão sudanês abandonado duas vezes e deslocado duas vezes na grave guerra de seu país.

Mahmoud é uma das quase cinco milhões de crianças sudanesas que perderam quase tudo ao serem empurradas de um lugar para o outro no que é hoje a pior crise humanitária do mundo.

Em nenhum outro lugar do mundo há tantas crianças fugindo e tantas pessoas vivendo com uma fome tão aguda.

fome já foi declarada em uma área do país — e muitas outras regiões subsistem à beira da inanição, sem saber de onde virá a próxima refeição.

"É uma crise invisível", diz o novo chefe de assistência humanitária da ONU, Tom Fletcher. "Vinte e cinco milhões de sudaneses, mais da metade do país, precisam de ajuda agora."

Em uma época de muitas crises sem precedentes, em que guerras devastadoras em lugares como Gaza e Ucrânia dominam a ajuda e a atenção do mundo, Fletcher escolheu o Sudão para sua primeira missão de campo como uma forma de destacar essa situação difícil.

"Essa crise não é invisível para a ONU, para nossos trabalhadores humanitários na linha de frente, que arriscam e perdem suas vidas para ajudar o povo sudanês", disse ele à BBC, enquanto viajávamos com ele em sua viagem de uma semana.

A maioria das pessoas de sua equipe que trabalha no local também são sudaneses que perderam suas casas, suas vidas antigas, nessa luta brutal pelo poder entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares.

A primeira visita de campo de Fletcher o levou ao orfanato Maygoma, de Mahmoud, em Kassala, no leste do Sudão, que hoje abriga cerca de 100 crianças em uma escola de três andares, em ruínas, que virou abrigo.

Eles viviam com seus cuidadores na capital do país, Cartum, até que o exército e as RSF apontaram suas armas um para o outro em abril de 2023, o que afetou o orfanato enquanto o país era arrastado para um turbilhão de violência terrível, saques sistemáticos e abusos chocantes.

Quando os combates se espalharam pelo novo abrigo dos órfãos em Wad Madani, na região central do Sudão, os que sobreviveram fugiram para Kassala.

Quando pedi a Mahmoud, de 13 anos, que fizesse um pedido, ele imediatamente abriu um grande sorriso de dentes largos.

"Quero ser governador de um estado para poder assumir o comando e reconstruir as casas destruídas", respondeu ele.

Para 11 milhões de sudaneses que foram levados de um refúgio a outro, retornar ao que restou de seus lares e reconstruir suas vidas seria o maior presente de todos.

Por enquanto, até mesmo encontrar comida para sobreviver é uma batalha diária.

E para as agências de ajuda humanitária, incluindo a ONU, fazer com que o alimento chegue até eles é uma tarefa titânica.

Após quatro dias de reuniões de Fletcher em Porto Sudão, o chefe do exército, general Abdel Fattah al-Burhan, anunciou na rede social X que havia dado permissão à ONU para estabelecer mais centros de abastecimento e usar mais três aeroportos regionais para prestar assistência.

Algumas das permissões já haviam sido concedidas anteriormente, mas outras representaram um passo adiante.

O novo anúncio também foi feito no momento em que o Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês) da ONU obteve sinal verde para chegar às comunidades atingidas atrás das linhas controladas pela RSF, incluindo o campo de Zamzam, em Darfur, que abriga cerca de meio milhão de pessoas, onde a fome foi recentemente declarada.

"Estamos pressionando há meses para chegar a essas comunidades", diz Alex Marianelli, que dirige as operações do WFP em Porto Sudão.

Atrás de nós, em um armazém do WFP, trabalhadores sudaneses cantam enquanto carregam caminhões com caixas de alimentos que vão para a pior das piores áreas.

Marianelli reflete que nunca trabalhou em um ambiente tão difícil e perigoso.

Na comunidade de ajuda humanitária, alguns criticam a ONU, dizendo que ela ficou de mãos atadas ao reconhecer o general Burhan como o governante de fato do Sudão.

"O general Burhan e suas autoridades controlam esses postos de controle e o sistema de permissões e acesso", disse Fletcher em resposta. "Se quisermos entrar nessas áreas, precisamos lidar com eles."

Ele espera que a rival RSF também coloque as pessoas em primeiro lugar.

"Irei a qualquer lugar, falarei com qualquer pessoa para conseguir essa ajuda e salvar vidas", diz Fletcher.

Na guerra impiedosa do Sudão, todas as partes em conflito foram acusadas de usar a fome como arma de guerra.

Isso também acontece com a violência sexual, que a ONU descreve como "uma epidemia" no Sudão.

A visita da ONU coincidiu com os "16 dias de ativismo", marcados globalmente como uma campanha para acabar com a violência de gênero.

Em Porto Sudão, o evento em um campo de desabrigados, o primeiro a ser montado quando a guerra começou, foi especialmente comovente.

"Temos que fazer melhor, temos que fazer melhor", disse Fletcher, que deixou de lado seu discurso preparado quando ficou de frente para fileiras de mulheres e crianças sudanesas.

Perguntei a algumas das mulheres que estavam lá o que acharam de sua visita.

"Precisamos muito de ajuda, mas o trabalho principal deve ser feito pelos próprios sudaneses", afirma Romissa, que trabalha para um grupo de ajuda local e conta sua própria jornada angustiante de Cartum no início da guerra.

"Este é o momento de o povo sudanês se unir."

Os sudaneses estão tentando fazer muito com pouco.

Em um abrigo simples de dois cômodos, uma casa segura chamada Shamaa (ou vela, em português), traz um pouco de luz para a vida de mulheres solteiras vítimas de abuso e crianças órfãs.

A fundadora, Nour Hussein al-Sewaty, conhecida como Mama Nour, também começou a vida no orfanato de Maygoma.

Ela também teve que fugir de Cartum para proteger as pessoas que estavam sob seus cuidados.

Uma mulher que agora está abrigada com ela foi estuprada antes da guerra, depois foi sequestrada e estuprada novamente.

Até mesmo a formidável Mama Nour está agora no limite.

"Estamos muito exaustos. Precisamos de ajuda", declara ela. "Queremos sentir o cheiro do ar fresco. Queremos sentir que ainda há pessoas no mundo que se preocupam conosco, o povo do Sudão."

 

¨      Sul Global impulsionou mudanças na governança global em 2024, declara Pequim

A cooperação intensiva entre os países do Sul Global representa uma nova dinâmica em relação às mudanças na governança global, diz o Ministério das Relações Exteriores chinês, destacando o papel do Brasil como o anfitrião de uma das maiores cúpulas de 2024.

Durante uma conferência na terça-feira (31), falando sobre a ascensão do Sul Global e sua influência no mundo, Ning disse que o fato de o Sul Global ter ganho uma posição significativa no cenário global em 2024 é um sinal distintivo de grandes mudanças mundiais.

"Os países do Sul Global, trabalhando de mãos dadas, trouxeram uma nova dinâmica e uma nova perspectiva de melhorar a governança global", disse a porta-voz da chancelaria chinesa, citada pelo jornal Global Times.

Segundo o artigo, o ano de 2024 pode ser definido como "Ano do Sul Global", tendo como pano de fundo:

A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, realizada de 22 a 24 de outubro deste ano;

A expansão do bloco no início do ano: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita;

O Brasil e Peru, que sediaram encontros internacionais importantes, as cúpulas do Grupo dos 20 (G20) e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC).

Ning afirmou que a China vai continuar a defender multilateralismo e os interesses das nações em desenvolvimento, além de reunir as forças do Sul Global a fim de contribuir para o avanço da humanidade.

¨      Ex-analista da CIA sugere ao que pode levar a recusa de Kiev de transporte do gás russo

A insatisfação da Eslováquia com o fim do trânsito de gás russo através da Ucrânia poderia desencadear a desintegração da OTAN, declarou o ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA), Ray McGovern, em entrevista ao canal no YouTube Dialogue Works.

"Mais discórdia espera a OTAN. A Eslováquia está realmente indignada com as palavras desagradáveis [...] de pessoas como os poloneses. […] Suponho que a OTAN não vai existir no mundo por muito tempo", disse ele.

Nesta quarta-feira (1º), o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, chamou a suspensão do trânsito de gás russo através da Ucrânia de vitória para Kiev e seus aliados.

Além disso, segundo McGovern, o destino da Aliança Atlântica será determinado pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, após assumir o cargo. Sua imprevisibilidade e ceticismo sobre o papel do bloco militar também podem contribuir para o colapso da aliança.

"A OTAN permanecerá conosco por não mais do que alguns anos", sugeriu o analista.

As autoridades eslovacas declararam repetidamente que querem manter a possibilidade de transportar gás russo mais para o Ocidente através do seu território, porque o país recebe cerca de € 500 milhões (R$ 3,17 bilhões) por ano como taxas de trânsito. O primeiro-ministro eslovaco Robert Fico havia declarado que seu país deve ser indenizado pelo prejuízo se Kiev cessar o trânsito. Ele também ameaçou a Ucrânia com a interrupção do fornecimento de eletricidade e a redução do apoio para seus cidadãos que estão na Eslováquia.

¨      Gigante do aço dos EUA chama decisão de Biden sobre acordo com Japão de 'vergonhosa e corrupta'

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de bloquear a aquisição da principal produtora de aço do país, US Steel Corporation, pela empresa japonesa Nippon Steel é "vergonhosa e corrupta", disse o CEO da firma norte-americana, David Burritt.

"A ação do presidente Biden hoje é vergonhosa e corrupta. Ele deu uma revanche política a um líder sindical, ao mesmo tempo em que prejudicou o futuro da nossa empresa, nossos trabalhadores e nossa segurança nacional", disse Burritt em um comunicado.

"Ele insultou o Japão, um aliado vital da economia e da segurança nacional, e colocou a competitividade americana em risco."

Segundo Burritt, o que o empresariado norte-americano necessita é de um presidente que "soubesse como obter o melhor negócio para os EUA e que trabalhasse duro pra que isso acontecesse."

"Não se engane: esse investimento é o que garante um grande futuro para a US Steel, nossos funcionários, nossas comunidades e nosso país. Pretendemos combater a corrupção política do presidente Biden."

Na sexta-feira, Biden proibiu o acordo de US$ 14,9 bilhões (R$ 91,7 bilhões), citando preocupações com a segurança nacional. Em resposta, a Nippon Steel Corporation (NSC) entrará com uma ação legal contra o governo dos EUA, informou a mídia japonesa.

A NSC e a US Steel emitiram uma declaração conjunta, condenando a proibição. As empresas argumentaram que nenhuma evidência confiável de um problema de segurança nacional havia sido fornecida e que o processo foi "manipulado" para promover a "agenda política" de Biden.

As duas empresas concordaram no final de 2023 que a NSC adquiriria a US Steel em uma transação em espécie a US$ 55,00 por ação. Isso representa um valor patrimonial de aproximadamente US$ 14,1 bilhões (R$ 86,7 bilhões). Somado a transferência da dívida da empresa, o valor sobe para um total de US$ 14,9 bilhões.

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Mundo

 

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