Por que o envelhecimento do cérebro varia
de pessoa para pessoa?
Pesquisadores estão
descobrindo insights mais profundos sobre como o cérebro humano envelhece e
quais fatores podem estar ligados a um envelhecimento cognitivo mais saudável,
incluindo exercícios físicos, evitar o tabaco, falar uma segunda língua ou até mesmo
tocar um instrumento musical.
Alguns aspectos das
habilidades cognitivas na idade avançada podem estar relacionados aos
resultados dos testes por volta dos 11 anos de idade, de acordo com um artigo
de revisão publicado nesta quinta-feira (7) na revista Genomic Psychiatry da
Genomic Press New York.
O artigo, baseado em
dados dos estudos do Lothian Birth Cohorts na Escócia, sugere que cerca de
metade das variabilidades na cognição das pessoas em idades mais avançadas —
por que algumas pessoas podem ter declínio cognitivo maior do que outras? —
podem já estar presentes em suas infâncias.
No entanto, alguns
fatores de estilo de vida adulto ainda parecem estar ligados a um melhor
desempenho cognitivo e a um envelhecimento mais lento do cérebro.
“Descobrimos que
coisas como manter-se fisicamente e mentalmente ativo e engajado, ter poucos
fatores de risco ‘vasculares’ (como pressão alta, colesterol, tabagismo, IMC),
falar uma segunda língua, tocar instrumentos musicais e ter um cérebro mais
jovem e muitos outros mostram associações detectáveis, mas pequenas”, disse
Simon Cox, autor do novo artigo e diretor dos estudos do Lothian Birth Cohort
da Universidade de Edimburgo.
“Chegamos à ideia de
que ‘Marginal Gains, Not Magic Bullet’ [do inglês, ganhos marginais, sem bala
de prata] é uma boa maneira de pensar em uma receita para um melhor
envelhecimento cognitivo: em vez de descobrir que uma única coisa tem um risco
enorme, vemos muitos e muitos (muitas vezes parcialmente sobrepostos) fatores
que provavelmente contribuem um pouco para seu risco de envelhecimento
cognitivo”, disse Cox.
Ele acrescentou que
esses aspectos de estilo de vida — quando considerados todos juntos — podem
somar cerca de 20% das diferenças observadas nos declínios cognitivos entre as
idades de 70 a 82 anos.
Os estudos do Lothian
Birth Cohorts envolvem dados de dois estudos de idosos: um grupo de adultos
escoceses nascidos em 1921 e outro grupo nascido em 1936. Todos fizeram um
teste cognitivo validado aos 11 anos e foram então testados em seus 70, 80 e 90
anos para funções cognitivas e condicionamento físico, entre outros fatores.
“Foi uma visão geral
narrativa realmente prática sobre os ‘pormenores’ do porquê esse tipo de
pesquisa é tão difícil e várias melhores práticas para reter o máximo de valor
possível quando você inicia um estudo de longo prazo como este”, disse
Isaacson, diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da
Flórida, que não participou do artigo.
Existe um corpo
robusto de pesquisa sobre diferenças-chave no estilo de vida que podem
contribuir para diferenças em um cérebro envelhecido. Por exemplo, o sono ruim
é um fator de risco chave para o declínio cognitivo, e problemas de saúde
mental, como a depressão, são fatores de risco conhecidos para o
desenvolvimento da demência.
Fazer exercícios
regulares, como caminhar ou andar de bicicleta apenas três vezes por semana,
pode melhorar as habilidades de pensamento, de acordo com um estudo de 2018.
Adicionar uma dieta saudável ao coração à sua rotina também pode ajudar a
retardar o envelhecimento cerebral e reduzir o risco de demência. E um estudo
de 2020 sugere que a meditação diária pode retardar o envelhecimento cerebral.
Os especialistas
desenvolveram uma ferramenta chamada Brain Care Score e um estudo publicado no
ano passado mostrou que ela pode ajudar a avaliar o risco de uma pessoa
desenvolver demência ou ter um derrame à medida que envelhece.
A pontuação de 21
pontos refere-se ao desempenho de uma pessoa em 12 fatores relacionados à
saúde, relacionados a componentes físicos, de estilo de vida e socioemocionais
da saúde, segundo o estudo, publicado na revista Frontiers in Neurology. Os
pesquisadores descobriram que os participantes com uma pontuação mais alta
tinham um risco menor de demência ou derrame mais tarde na vida.
Esses 12 fatores são:
• pressão arterial;
• açúcar no sangue;
• colesterol;
• índice de massa corporal;
• nutrição;
• consumo de álcool;
• tabagismo;
• atividades aeróbicas;
• sono;
• estresse;
• relacionamentos sociais;
• encontrar significado ou propósito na
vida.
Para qualquer pessoa
que deseja melhorar a saúde de seu cérebro envelhecido, “ver seu médico pelo
menos uma vez por ano ou duas vezes por ano” para conversar sobre sua saúde
física geral, saúde vascular e doenças crônicas é importante, disse Isaacson.
“Essas coisas podem
não causar exatamente Alzheimer, mas podem acelerar o envelhecimento cognitivo
e acelerar o declínio cognitivo. Então, consulte seu médico de família e
verifique sua pressão arterial — todos precisam conhecer seus números. Qual é a
sua pressão arterial? Qual é o seu açúcar no sangue em jejum? Quais são seus
números de colesterol?”, disse ele.
“Outra coisa
importante é acompanhar a saúde dos ossos. Acho que muitas pessoas não sabem
que a saúde óssea, a força muscular e a força de preensão são coisas
absolutamente imprescindíveis e predizem os resultados da saúde cerebral ao
longo do tempo.”
¨ Dormir mal aos 40 anos está ligado ao envelhecimento do cérebro,
diz estudo
Pessoas na meia-idade
(faixa etária entre 40 e 60 anos) que têm um sono ruim podem apresentar sinais
de envelhecimento cerebral, de acordo com um estudo publicado no último dia 23,
na revista médica Neurology, da Academia Americana de Neurologia.
O estudo não prova que
a má qualidade do sono pode acelerar o envelhecimento do cérebro, mas mostra
uma associação entre sono ruim, incluindo dificuldade para dormir ou
despertares frequentes, e sinais de envelhecimento cerebral.
“Problemas de sono
foram associados em pesquisas anteriores a habilidades de pensamento e memória
ruins mais tarde na vida, colocando as pessoas em maior risco de demência”, diz
o autor do estudo Clémence Cavaillès, da University of California San Francisco,
nos Estados Unidos, em comunicado à imprensa. “Nosso estudo, que usou exames
cerebrais para determinar a idade cerebral dos participantes, sugere que o sono
ruim está associado a quase três anos de envelhecimento cerebral adicional já
na meia-idade.”
Para chegar às
conclusões, o estudo incluiu 589 pessoas que tinham idade média de 40 anos no
início da pesquisa. Os participantes preencheram questionários de sono tanto no
início do estudo e após cinco anos. Além disso, eles foram submetidos a exames
cerebrais 15 anos após o início do trabalho.
A partir das respostas
dos participantes, os pesquisadores enumeraram a quantidade de características
associadas ao sono ruim, como:
Play Video
• curta duração do sono;
• má qualidade do sono;
• dificuldade para dormir;
• dificuldade para permanecer dormindo;
• despertar cedo pela manhã;
• sonolência diurna.
Em seguida, eles
dividiram os participantes em três grupos. O primeiro, chamado “grupo baixo”,
não tinha mais do que uma característica de sono ruim. O segundo, chamado
“grupo médio”, apresentava de duas a três características. Por fim, o “grupo
alto” apresentava mais de três características.
No início do estudo,
cerca de 70% estavam no grupo baixo, 22% estavam no meio e 8% estavam no grupo
alto.
Por fim, os
pesquisadores analisaram os exames cerebrais de participantes e usaram
aprendizado de máquina (um tipo de inteligência artificial) para determinar a
idade cerebral de cada um deles.
Após ajustar fatores
como idade, sexo, pressão alta e diabetes, os pesquisadores descobriram que as
pessoas no “grupo médio” tinham uma idade cerebral média 1,6 anos maior do que
aquelas no “grupo baixo”, enquanto aquelas no “grupo alto” tinham uma idade
cerebral média 2,6 anos maior.
“Nossas descobertas
destacam a importância de abordar os problemas de sono mais cedo na vida para
preservar a saúde do cérebro, incluindo manter um cronograma de sono
consistente, praticar exercícios, evitar cafeína e álcool antes de ir para a
cama e usar técnicas de relaxamento”, afirma a autora do estudo Kristine Yaffe,
da University of California San Francisco e membro da American Academy of
Neurology, no comunicado.
“Pesquisas futuras
devem se concentrar em encontrar novas maneiras de melhorar a qualidade do sono
e investigar o impacto de longo prazo do sono na saúde do cérebro em pessoas
mais jovens”, acrescenta.
Apesar dos achados, os
pesquisadores apontam para uma limitação do estudo: os participantes relataram
seus próprios problemas de sono, sendo possível que esse relato não tenha sido
feito com precisão. Por isso, mais estudos são necessários para validar as
descobertas.
<><> Sono
e envelhecimento cerebral
De acordo com o Manual
MSD, conjunto de referências médicas elaboradas pela farmacêutica Merck &
Co., durante a maior parte da vida adulta, o funcionamento do cérebro é
relativamente estável. No entanto, após uma determinada idade — que varia de
uma pessoa para outra –, o funcionamento do cérebro diminuiu e algumas áreas
podem, até mesmo, diminuir de tamanho.
A diminuição da função
cerebral resultante do envelhecimento pode levar a alterações em substâncias
químicas do cérebro (neurotransmissores) e nas células nervosas, alterando os
níveis de substâncias tóxicas que se acumulam no cérebro, alterando o fluxo de
sangue para a região. Com isso, algumas funções podem ser afetadas, como a
memória a curto prazo, a capacidade de aprender coisas novas, habilidades
verbais e uso das palavras, e o desempenho intelectual.
Estudos anteriores já
haviam associado a má qualidade do sono na meia-idade ao processo de
envelhecimento do cérebro. Um trabalho publicado na revista Neurology no início
deste ano mostrou que pessoas que têm mais interrupções do sono na faixa dos 30
e 40 anos têm duas vezes mais chances de ter problemas de memória e pensamento
uma década depois.
Em média, descobriu-se
que os participantes do estudo dormiam cerca de seis horas por noite e cerca de
um quinto do seu tempo de sono era interrompido. No geral, as pessoas que
experimentam mais fragmentação do sono, ou que passam uma maior parte das horas
de sono em movimento, têm maior probabilidade de receber pontuações cognitivas
baixas em todos os testes, mais de uma década depois.
O sono insuficiente
pode ser um dos fatores externos que afetam a cognição, conforme aponta Diogo
Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em matéria publicada
anteriormente na CNN. Além do sono, o tabagismo, o abuso de álcool, o
sedentarismo, a alimentação inadequada e o estresse também são fatores de risco
para declínio cognitivo no envelhecimento.
Fonte: CNN Brasil
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