sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Por que o envelhecimento do cérebro varia de pessoa para pessoa?

Pesquisadores estão descobrindo insights mais profundos sobre como o cérebro humano envelhece e quais fatores podem estar ligados a um envelhecimento cognitivo mais saudável, incluindo exercícios físicos, evitar o tabaco, falar uma segunda língua ou até mesmo tocar um instrumento musical.

Alguns aspectos das habilidades cognitivas na idade avançada podem estar relacionados aos resultados dos testes por volta dos 11 anos de idade, de acordo com um artigo de revisão publicado nesta quinta-feira (7) na revista Genomic Psychiatry da Genomic Press New York.

O artigo, baseado em dados dos estudos do Lothian Birth Cohorts na Escócia, sugere que cerca de metade das variabilidades na cognição das pessoas em idades mais avançadas — por que algumas pessoas podem ter declínio cognitivo maior do que outras? — podem já estar presentes em suas infâncias.

No entanto, alguns fatores de estilo de vida adulto ainda parecem estar ligados a um melhor desempenho cognitivo e a um envelhecimento mais lento do cérebro.

“Descobrimos que coisas como manter-se fisicamente e mentalmente ativo e engajado, ter poucos fatores de risco ‘vasculares’ (como pressão alta, colesterol, tabagismo, IMC), falar uma segunda língua, tocar instrumentos musicais e ter um cérebro mais jovem e muitos outros mostram associações detectáveis, mas pequenas”, disse Simon Cox, autor do novo artigo e diretor dos estudos do Lothian Birth Cohort da Universidade de Edimburgo.

“Chegamos à ideia de que ‘Marginal Gains, Not Magic Bullet’ [do inglês, ganhos marginais, sem bala de prata] é uma boa maneira de pensar em uma receita para um melhor envelhecimento cognitivo: em vez de descobrir que uma única coisa tem um risco enorme, vemos muitos e muitos (muitas vezes parcialmente sobrepostos) fatores que provavelmente contribuem um pouco para seu risco de envelhecimento cognitivo”, disse Cox.

Ele acrescentou que esses aspectos de estilo de vida — quando considerados todos juntos — podem somar cerca de 20% das diferenças observadas nos declínios cognitivos entre as idades de 70 a 82 anos.

Os estudos do Lothian Birth Cohorts envolvem dados de dois estudos de idosos: um grupo de adultos escoceses nascidos em 1921 e outro grupo nascido em 1936. Todos fizeram um teste cognitivo validado aos 11 anos e foram então testados em seus 70, 80 e 90 anos para funções cognitivas e condicionamento físico, entre outros fatores.

“Foi uma visão geral narrativa realmente prática sobre os ‘pormenores’ do porquê esse tipo de pesquisa é tão difícil e várias melhores práticas para reter o máximo de valor possível quando você inicia um estudo de longo prazo como este”, disse Isaacson, diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, que não participou do artigo.

Existe um corpo robusto de pesquisa sobre diferenças-chave no estilo de vida que podem contribuir para diferenças em um cérebro envelhecido. Por exemplo, o sono ruim é um fator de risco chave para o declínio cognitivo, e problemas de saúde mental, como a depressão, são fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento da demência.

Fazer exercícios regulares, como caminhar ou andar de bicicleta apenas três vezes por semana, pode melhorar as habilidades de pensamento, de acordo com um estudo de 2018. Adicionar uma dieta saudável ao coração à sua rotina também pode ajudar a retardar o envelhecimento cerebral e reduzir o risco de demência. E um estudo de 2020 sugere que a meditação diária pode retardar o envelhecimento cerebral.

Os especialistas desenvolveram uma ferramenta chamada Brain Care Score e um estudo publicado no ano passado mostrou que ela pode ajudar a avaliar o risco de uma pessoa desenvolver demência ou ter um derrame à medida que envelhece.

A pontuação de 21 pontos refere-se ao desempenho de uma pessoa em 12 fatores relacionados à saúde, relacionados a componentes físicos, de estilo de vida e socioemocionais da saúde, segundo o estudo, publicado na revista Frontiers in Neurology. Os pesquisadores descobriram que os participantes com uma pontuação mais alta tinham um risco menor de demência ou derrame mais tarde na vida.

Esses 12 fatores são:

•        pressão arterial;

•        açúcar no sangue;

•        colesterol;

•        índice de massa corporal;

•        nutrição;

•        consumo de álcool;

•        tabagismo;

•        atividades aeróbicas;

•        sono;

•        estresse;

•        relacionamentos sociais;

•        encontrar significado ou propósito na vida.

Para qualquer pessoa que deseja melhorar a saúde de seu cérebro envelhecido, “ver seu médico pelo menos uma vez por ano ou duas vezes por ano” para conversar sobre sua saúde física geral, saúde vascular e doenças crônicas é importante, disse Isaacson.

“Essas coisas podem não causar exatamente Alzheimer, mas podem acelerar o envelhecimento cognitivo e acelerar o declínio cognitivo. Então, consulte seu médico de família e verifique sua pressão arterial — todos precisam conhecer seus números. Qual é a sua pressão arterial? Qual é o seu açúcar no sangue em jejum? Quais são seus números de colesterol?”, disse ele.

“Outra coisa importante é acompanhar a saúde dos ossos. Acho que muitas pessoas não sabem que a saúde óssea, a força muscular e a força de preensão são coisas absolutamente imprescindíveis e predizem os resultados da saúde cerebral ao longo do tempo.”

 

¨      Dormir mal aos 40 anos está ligado ao envelhecimento do cérebro, diz estudo

Pessoas na meia-idade (faixa etária entre 40 e 60 anos) que têm um sono ruim podem apresentar sinais de envelhecimento cerebral, de acordo com um estudo publicado no último dia 23, na revista médica Neurology, da Academia Americana de Neurologia.

O estudo não prova que a má qualidade do sono pode acelerar o envelhecimento do cérebro, mas mostra uma associação entre sono ruim, incluindo dificuldade para dormir ou despertares frequentes, e sinais de envelhecimento cerebral.

“Problemas de sono foram associados em pesquisas anteriores a habilidades de pensamento e memória ruins mais tarde na vida, colocando as pessoas em maior risco de demência”, diz o autor do estudo Clémence Cavaillès, da University of California San Francisco, nos Estados Unidos, em comunicado à imprensa. “Nosso estudo, que usou exames cerebrais para determinar a idade cerebral dos participantes, sugere que o sono ruim está associado a quase três anos de envelhecimento cerebral adicional já na meia-idade.”

Para chegar às conclusões, o estudo incluiu 589 pessoas que tinham idade média de 40 anos no início da pesquisa. Os participantes preencheram questionários de sono tanto no início do estudo e após cinco anos. Além disso, eles foram submetidos a exames cerebrais 15 anos após o início do trabalho.

A partir das respostas dos participantes, os pesquisadores enumeraram a quantidade de características associadas ao sono ruim, como:

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•        curta duração do sono;

•        má qualidade do sono;

•        dificuldade para dormir;

•        dificuldade para permanecer dormindo;

•        despertar cedo pela manhã;

•        sonolência diurna.

Em seguida, eles dividiram os participantes em três grupos. O primeiro, chamado “grupo baixo”, não tinha mais do que uma característica de sono ruim. O segundo, chamado “grupo médio”, apresentava de duas a três características. Por fim, o “grupo alto” apresentava mais de três características.

No início do estudo, cerca de 70% estavam no grupo baixo, 22% estavam no meio e 8% estavam no grupo alto.

Por fim, os pesquisadores analisaram os exames cerebrais de participantes e usaram aprendizado de máquina (um tipo de inteligência artificial) para determinar a idade cerebral de cada um deles.

Após ajustar fatores como idade, sexo, pressão alta e diabetes, os pesquisadores descobriram que as pessoas no “grupo médio” tinham uma idade cerebral média 1,6 anos maior do que aquelas no “grupo baixo”, enquanto aquelas no “grupo alto” tinham uma idade cerebral média 2,6 anos maior.

“Nossas descobertas destacam a importância de abordar os problemas de sono mais cedo na vida para preservar a saúde do cérebro, incluindo manter um cronograma de sono consistente, praticar exercícios, evitar cafeína e álcool antes de ir para a cama e usar técnicas de relaxamento”, afirma a autora do estudo Kristine Yaffe, da University of California San Francisco e membro da American Academy of Neurology, no comunicado.

“Pesquisas futuras devem se concentrar em encontrar novas maneiras de melhorar a qualidade do sono e investigar o impacto de longo prazo do sono na saúde do cérebro em pessoas mais jovens”, acrescenta.

Apesar dos achados, os pesquisadores apontam para uma limitação do estudo: os participantes relataram seus próprios problemas de sono, sendo possível que esse relato não tenha sido feito com precisão. Por isso, mais estudos são necessários para validar as descobertas.

<><> Sono e envelhecimento cerebral

De acordo com o Manual MSD, conjunto de referências médicas elaboradas pela farmacêutica Merck & Co., durante a maior parte da vida adulta, o funcionamento do cérebro é relativamente estável. No entanto, após uma determinada idade — que varia de uma pessoa para outra –, o funcionamento do cérebro diminuiu e algumas áreas podem, até mesmo, diminuir de tamanho.

A diminuição da função cerebral resultante do envelhecimento pode levar a alterações em substâncias químicas do cérebro (neurotransmissores) e nas células nervosas, alterando os níveis de substâncias tóxicas que se acumulam no cérebro, alterando o fluxo de sangue para a região. Com isso, algumas funções podem ser afetadas, como a memória a curto prazo, a capacidade de aprender coisas novas, habilidades verbais e uso das palavras, e o desempenho intelectual.

Estudos anteriores já haviam associado a má qualidade do sono na meia-idade ao processo de envelhecimento do cérebro. Um trabalho publicado na revista Neurology no início deste ano mostrou que pessoas que têm mais interrupções do sono na faixa dos 30 e 40 anos têm duas vezes mais chances de ter problemas de memória e pensamento uma década depois.

Em média, descobriu-se que os participantes do estudo dormiam cerca de seis horas por noite e cerca de um quinto do seu tempo de sono era interrompido. No geral, as pessoas que experimentam mais fragmentação do sono, ou que passam uma maior parte das horas de sono em movimento, têm maior probabilidade de receber pontuações cognitivas baixas em todos os testes, mais de uma década depois.

O sono insuficiente pode ser um dos fatores externos que afetam a cognição, conforme aponta Diogo Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em matéria publicada anteriormente na CNN. Além do sono, o tabagismo, o abuso de álcool, o sedentarismo, a alimentação inadequada e o estresse também são fatores de risco para declínio cognitivo no envelhecimento.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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