Laudo de Marçal e PCC de Tarcísio: imprensa
foi cúmplice de crimes eleitorais
Papel da imprensa é
investigar se uma alegação é verdade, não reproduzi-la em benefício de
mentirosos. Logo, falharam feio na eleição de São Paulo.
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Às vésperas do
primeiro e segundo turno, o candidato Pablo Marçal e o governador Tarcísio de
Freitas mentiram de maneira descarada e criminosa com a intenção de prejudicar
a votação do candidato Guilherme Boulos.
Marçal divulgou um
laudo clínico falso que atestava que o psolista teria sido internado por uso
abusivo de cocaína. Tarcísio inventou, sem apresentar um mísero indício, que o
PCC havia orientado seus integrantes a votarem em Boulos.
Foram duas mentiras
grosseiras impulsionadas não por gabinetes do ódio que espalham as mamadeiras
de piroca pelo Whatsapp, mas pela imprensa profissional, que abusou do
jornalismo declaratório ao tratar desses episódios.
Uma breve apuração nas
informações contidas no laudo publicado por Marçal já bastaria para se ter
certeza de que o documento é falso. Foi assinado por um médico que já morreu, o
número de RG de Boulos estava errado e o dono da clínica é um amigo de Marçal
que já foi condenado por falsificar diploma de Medicina.
Mas o que fizeram os
grandes veículos de imprensa? Deram o benefício da dúvida para Marçal e se
fizeram de sonsos em relação à autenticidade do laudo. Há dois dias da votação,
o jornal O Globo fez a seguinte manchete circular nas redes sociais: “Marçal divulga
suposto laudo de uso de cocaína de Boulos, que nega e vai pedir prisão de
ex-coach”.
O documento era
flagrantemente forjado, mas o jornal o preferiu chamá-lo de “suposto”, como se
houvesse alguma dúvida de que ele é falso.
Como diz aquela máxima
clichê dos cursos de jornalismo: “Se
alguém diz que está chovendo, e outra pessoa diz que não está, não é seu
trabalho citar as duas. Seu trabalho é olhar pela janela e descobrir quem está
falando a verdade”.
Foi exatamente o que O
Globo não fez. O jornal abdicou de fazer uma apuração jornalística básica e
colocou todas as informações do texto na boca de Boulos ou na conta do laudo de
Marçal. Vejamos:
“Boulos afirma que o
documento é falso”
“Boulos indicou que o
número de documento dele exposto na imagem está errado. O candidato também
afirmou que o dono da clínica seria apoiador de Marçal”.
“O laudo diria que
Boulos estaria sendo encaminhado para uma emergência com quadro de ‘surto
psicótico grave, delírio persecutório e ideias homicidas'”.
“O receituário seria
assinado pelo médico José Roberto de Souza”.
No fim das contas,
fica parecendo que estamos diante de uma polêmica, de um acontecimento que tem
duas versões diferentes e poucas certezas — o que é absolutamente falso.
O laudo é tão falso
quanto a terra é redonda. Diante de um crime gravíssimo, com potencial para
influenciar o rumo das eleições da maior cidade do país, os grandes veículos
apelaram para o jornalismo declaratório e abusaram do futuro do pretérito como
escudo.
Pulemos para a manhã
do dia da votação no segundo turno. Tarcísio foi votar e deu uma entrevista em
que associa criminosamente Boulos à organização criminosa PCC. Com o prefeito
ao seu lado e o número 15 colado no peito, o governador afirmou que a polícia
teria interceptado mensagens da facção orientando seus integrantes a votarem em
Boulos.
A afirmação foi feita
de maneira categórica pelo bolsonarista, mas não foi apresentado um mísero
indício para sustentá-la. A história faz pouco sentido, já que está fartamente
comprovado que há digitais do PCC na gestão de Nunes.
O chefe de gabinete da
Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras da prefeitura, por exemplo, é
ex-cunhado de Marcola, chefe do PCC. Além disso, o prefeito pagou mais de R$
800 milhões para empresas de ônibus ligadas à facção.
Que motivo teria o PCC
para querer a troca de governo? A informação, portanto, tinha jeito, cara e
cheiro de mais uma fake news bolsonarista. Mas o que fez a Folha de S. Paulo?
Recorreu ao jornalismo declaratório, lavou as mãos e impulsionou nas redes sociais
a circulação da mentira contada pelo governador em pleno dia da votação.
Ou seja, Tarcísio usou
criminosamente o seu poder de governador para atacar o candidato adversário em
pleno dia da votação com uma mentira grosseira. Mais tarde, a Folha passou a
colocar nas manchetes e reportagens que a afirmação do governador havia sido
feita sem apresentar provas.
Mas aí o estrago já
estava feito. A mentira já havia se espalhado pelas redes sociais. Algumas
postagens, como a de cima, continuam no ar até hoje. Esse mesmo padrão se
repetiu em outros veículos.
Trata-se apenas de mau
jornalismo ou, digamos assim, uma “suposta” má fé? Bom, não sejamos ingênuos.
Tarcísio é o político queridinho da grande imprensa e é tratado como um
bolsonarista moderado — como se isso fosse possível. Ricardo Nunes despejou
milhões de dinheiro público na Folha de S. Paulo, conforme revelou o Intercept.
Com o fim da apuração
das urnas, Nunes e Tarcísio foram comemorar a vitória no Clube Banespa. Sabe
quem foi convidado a subir no palco para celebrar? O ex-prefeito de Embu das
Artes, Ney Santos, acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ser integrante
do PCC. O prefeito reeleito recebeu esse “salve” com um abraço caloroso e um
largo sorriso no rosto.
O ex-prefeito de Embu
debutou no mundo crime assaltando um carro forte com uma metralhadora 9mm.
Depois disso, o seu currículo no mundo do crime só cresceu. E aqui não
precisamos recorrer ao jornalismo declaratório nem usar o futuro do pretérito
como escudo, já que Ney Santos já foi condenado e preso.
Com exceção do
Metrópoles, a confraternização entre Nunes, Tarcísio e Ney Santos não foi
reportada por nenhum veículo da grande imprensa. Para a Folha e O Globo, que
alardearam aos quatro cantos a falsa acusação do governador, essa festinha
jamais aconteceu.
O falso laudo e a
falsa acusação da ligação com o PCC não foram os responsáveis pela derrota de
Boulos. Ele perderia de qualquer maneira. Mas é estarrecedor assistir à grande
imprensa legitimando e atuando como correia de transmissão das baixarias eleitorais
promovidas por candidatos da extrema direita.
Nos dois episódios do
qual foi vítima, Boulos teve que se virar nos 30 para desmentir as informações
rapidamente, porque uma imprensa intencionalmente preguiçosa deixou a apuração
para depois. Assim, as mentiras criminosas
de Marçal e Tarcísio tiveram tempo para se espalhar nas redes.
O coach e o governador
devem ser responsabilizados por esses ataques contra a democracia, mas os
veículos de grande imprensa, que atuam como linha auxiliar de crimes
eleitorais, também.
• Imparcialidade no Jornalismo: mito ou
meta? Por Emanuel Lima
Você já se perguntou
quem observa as histórias que contamos? Sr. Ninguém, um personagem da DC
Comics, faz exatamente isso. Ele habita as partes brancas das páginas entre os
quadrinhos, observando os acontecimentos e, por vezes, narrando a história.
Eventualmente, o Sr. Ninguém aparece nos quadrinhos para apontar algo, elucidar
e também interferir… E é aí que mora o perigo.
Pensei muito nesse
personagem quando decidi me tornar jornalista. Gosto de observar, analisar e
explicar os acontecimentos, mas vejo hoje muitos jornalistas colocando suas
posições pessoais e políticas à frente dos fatos.
Uma relação
complicada, uma profissão complicada. Lois Lane sempre puxou a “sardinha” para
o Superman, mesmo o Planeta Diário tendo mais interesse no caos.
Se mesmo os
personagens de desenho têm viés, imagine nós, meros humanos. Há, sim, grandes
jornalistas, de direita e de esquerda, que mostram os fatos e se posicionam. O
perigo está nos que fingem imparcialidade. Subvertem a profissão.
Notícias são notícias,
não análises. E nas análises, acredito na necessidade de posicionamento
explícito. Hoje, a informação está disponível em todo lugar e para qualquer
pessoa. A comunicação é rápida e, por vezes, efêmera.
Um grande jornalista,
que faz seu trabalho, será amado e odiado. Falará a verdade, dará a notícia e
pode, sim, dar sua opinião. Se for dissimulado, será obliterado, esquecido, ou,
se famoso, motivo de chacota.
Ao interferir nas
histórias, o Sr. Ninguém se torna um vilão. Geralmente, com ódio e querendo
mudar algo, torna tudo pior. Ser jornalista e 100% imparcial o tempo todo é
praticamente impossível, mas podemos ao menos ser sinceros.
<><>
História do Jornalismo
O jornalismo tem uma
longa história de evolução, desde os primeiros panfletos e gazetas até os
modernos meios digitais. A imparcialidade sempre foi um desafio, com
jornalistas frequentemente enfrentando pressões políticas e sociais. No
entanto, a busca pela verdade e pela transparência sempre foi o norte da
profissão.
<><>
Desafios atuais
Hoje, enfrentamos o
fenômeno das fake news e a influência das redes sociais na disseminação de
informações. A velocidade com que as notícias se espalham pode ser tanto uma
bênção quanto uma maldição, exigindo dos jornalistas uma responsabilidade ainda
maior na verificação dos fatos e na manutenção da credibilidade.
<><> O
futuro do Jornalismo
O futuro do Jornalismo
está intrinsecamente ligado à tecnologia. A inteligência artificial e outras
inovações tecnológicas têm o potencial de transformar a profissão, oferecendo
novas ferramentas para a coleta e análise de dados. No entanto, a essência do
jornalismo – a busca pela verdade e a comunicação clara e honesta – deve
permanecer inalterada.
No final, a verdade é
a nossa maior aliada. Ser sincero com o público é o que diferencia um grande
jornalista de um mero narrador de histórias.
Fonte: Por João Filho,
em The Intercept
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