quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Investigado na Colômbia, Petro paga o preço por enfrentar oligarquia local e o imperialismo dos EUA?

O presidente colombiano, Gustavo Petro, está sendo investigado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) por suposto abuso econômico nas eleições de 2022. O mandatário rebate as acusações e as classifica como "tentativa de golpe". Primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia, Petro estaria pagando o preço por enfrentar os EUA?

No dia 8 de outubro, o CNE aprovou, com 7 votos a favor e 2 contra, uma investigação contra o presidente Petro por ultrapassar os limites de gastos durante a campanha presidencial que culminou com sua vitória sobre Iván Duque. A acusação denuncia a omissão de alguns empréstimos e depósitos nas contas que os candidatos devem apresentar ao final das eleições.

Petro vem rebatendo as acusações. Em uma publicação nas redes sociais, o presidente colombiano ponderou que o CNE não tem a competência para exigir que ele deixe seu cargo — uma investigação desse âmbito caberia ao legislativo colombiano, não a um órgão administrativo como o Conselho Nacional Eleitoral.

Além disso, ele afirmou que a medida trata-se de uma "estratégia explicitamente proposta por Néstor Humberto Martínez (ex-procurador-geral da Colômbia) e por Germán Vargas Lleras (ex-vice-presidente do país)". "Estamos diante de um golpe de Estado baseado em provas falsas", enfatizou o presidente.

Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas analisam a situação enfrentada por Gustavo Petro, o primeiro presidente com tendências progressistas em um país historicamente dominado por forças políticas da direita e sob forte influência dos Estados Unidos.

<><> Inclinação à esquerda desafia país historicamente presidido pela direita?

Desde o final do século XIX a Colômbia consolidou uma dualidade de partidos, com disputas protagonizadas pelo partido Liberal e pelo Conservador.

Após a Guerra dos Mil Dias, uma disputa interna vencida pelos conservadores, o país sul-americano assistiu uma hegemonia que perduraria até 1930. Na sequência, os liberais liderariam a Colômbia por cerca de 16 anos, até outra disputa sangrenta colocar os dois partidos frente a frente na briga pelo poder, que teve o assassinato do líder do Partido Liberal, Jorge Gaitán, em 1948, como episódio marcante do período, conta Eduardo Gomes, doutor em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em história da Colômbia.

"Esse contexto todo, de alguma forma, demonstrava o que a Colômbia era enquanto país, que utilizava-se da violência para combater a violência, e que muitas das vezes não se viu dentro das perspectivas do que hoje a gente chama de Estado Democrático de Direito, possibilidade para o governo um pouco mais progressista, ou que pudesse olhar para as classes populares, para as causas mais sensíveis da sociedade", explica o analista.

A sobreposição dessas forças no poder por meio da violência teve como consequência, por exemplo, o surgimento de movimentos de oposição calcados na violência e na ilegalidade, como o caso das guerrilhas nos anos 60, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do próprio Partido Comunista colombiano.

Petro, por sua vez, quando considerado o primeiro presidente de esquerda do país, está longe de ser um "revolucionário ou o socialista que vai estar no poder para estabelecer um movimento dessa natureza na Colômbia. É uma esquerda moderada aos moldes do [presidente Luiz Inácio] Lula aqui no Brasil, do [ex-presidente José] Mujica, no Uruguai, que de alguma maneira tenta trazer pautas progressistas para um país que nunca teve abertura para isso", afirma Gomes.

<><> O governo Petro

Segundo o especialista, Petro vem enfrentando o imperialismo norte-americano de forma ampliada: o governante propõe o debate sobre a criação de leis trabalhistas em um país onde o trabalhador não conta com garantias como as Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil e que vai na contramão das propostas que querem privatizar a educação pública na Colômbia.

"O Petro veio com uma proposta progressista de enfrentar tudo isso e de não bater continência para os Estados Unidos. No contexto da diplomacia e da política externa, tem sido um presidente muito duro, por exemplo, ao se colocar contra a política sionista atual no conflito Israel-Palestina", avalia.

Essa postura do presidente crítica a questões caras aos EUA e à própria influência norte-americana na América do Sul tem incomodado, conforme Gomes.

"As elites do país se incomodaram com o contexto de governo que a Colômbia está passando hoje, essa consequência toda está gerando essa tentativa de tirar o Petro do poder, por isso que ele coloca como golpe", afirma.

Para Andrés Londoño, professor de relações internacionais da Universidade La Salle e da Escola Superior de Administração Pública (ESAP), a pressão sofrida por Petro internamente é muito grande, afinal, conforme o especialista, o mandatário enfrenta um CNE politizado, com conselheiros da oposição, e uma mídia que está contra o governo.

<><> Qual será o destino do presidente colombiano?

Como o CNE não é um órgão com funções jurídicas, portanto não possui competência para julgar o presidente colombiano, Londoño acredita ser muito difícil que a atual investigação avance.

"O mais provável que aconteça agora é que seja a Corte Constitucional, o órgão que esclarece esses processos perante o que está na Constituição, que esclareça como é que deve ser feito esse processo e também coloque limites ao Conselho Nacional Eleitoral. Porque ele pode pesquisar campanhas, como eu falei antes, mas não suspender nem destituir o presidente", explica sobre um possível cenário.

Ainda de acordo com o analista, dentro de suas competências, o órgão tinha um prazo de 20 dias após as eleições presidenciais para apurar possíveis irregularidades. Agora o fazem, tempos depois, justificando que receberam uma denúncia anônima.

Em caso de uma hipotética destituição, Gomes pondera que a tendência é que Petro conte com o apoio dos principais grupos progressistas na América do Sul e Latina.

"Uma possível retirada dele [Petro] do poder não seria diferente, como foi aqui no caso da Dilma, de usar o termo golpe, sim, de entenderem que essa retirada atinge um problema muito maior que não faz referência somente ao governo colombiano", afirma.

Segundo o pesquisador, trata-se de um processo mais amplo, "que vem desde a década anterior, de pensar o que são os Estados Democráticos de Direito na América Latina como um todo e como essa influência externa num contexto que é pós-Guerra Fria mas que de alguma maneira ajuda ainda a entender esse resquício aqui na nossa região, no nosso continente, como essa política externa notadamente do imperialismo estadunidense e europeu acaba ainda influenciando as tomadas de decisões internas nas nossas nações latino-americanas", resume.

 

¨      BRICS oferece a Cuba chance de driblar 60 anos de embargo dos EUA via banco do grupo

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a adesão de Cuba ao BRICS fortalece o país no mundo multipolar que está se redesenhando e cria oportunidades de comercializar de uma maneira mais justa.

O governo de Cuba solicitou formalmente no início de outubro a adesão ao BRICS, grupo que passou por uma expansão recente e que, além de Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul, passou a incluir Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Arábia Saudita. O convite para a parceria associada foi feito durante a Cúpula do BRICS que ocorreu entre os dias 22 e 24 de outubro, em Kazan, na Rússia. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas explicam o que Cuba pode acrescentar ao BRICS e que oportunidades a adesão ao grupo traz para o país, que há 60 anos sofre com o embargo imposto pelos EUA que afeta sua soberania econômica.

Guilherme Barbosa Pedreschi, advogado, procurador federal e autor do livro "Na estrada com Fidel: o outdoor na Revolução Cubana", avalia que o principal objetivo de Havana é obter melhores condições de contornar as sanções de Washington, conseguindo "efetivamente fazer trocas mais justas". "Entrar no sistema financeiro de uma maneira mais eficiente e comercializar de uma maneira mais justa. Então essa me parece que é a grande esperança, a grande boia de salvação que se sinaliza para Cuba ter acesso a crédito do Novo Banco de Desenvolvimento e assim se fortalecer nesse mundo multipolar que está se redesenhando", explica o especialista.

Pedreschi acrescenta que a entrada de Cuba no grupo é especialmente benéfica para a América Latina, que ele afirma se encontrar sob uma influência "ruim" e "maléfica" dos EUA. Segundo ele, Cuba se tornará um player mais relevante nas economias da região à medida que elas se tornarão mais intercambiáveis. "Esse ganho diplomático que Cuba vai ter, esse aumento no peso de Cuba na comunidade internacional, tende a florescer nos demais países aqui […]. Eu vejo com muito bons olhos que uma nova roupagem realmente vai se desenhando na América Latina."

Em contraponto, a adesão ao BRICS pode gerar renda em Cuba através do turismo, que é um dos principais motores da economia do país e, segundo o especialista, é afetado desde a presidência de Donald Trump (2017–2021) nos EUA. "Cuba já é bastante aberta e muito fácil de conseguir visto de qualquer lugar do mundo […]. Mas com os parceiros do BRICS, tende a ser melhor ainda você fomentar agências de viagem especializadas dentro desses países do BRICS. Então você tem pacotes especiais, você tem uma gama de possibilidades de aumentar o turismo", afirma.

Questionado sobre como a população de Cuba vem conseguindo resistir a seis décadas de embargo que estrangulam a economia do país, Pedreschi afirma ser por meio de "consciência política, principalmente". "O povo cubano é muito consciente; ele sofre duramente, é castigado, mas eles têm cultura política para entender, de um modo geral, que estão sendo sufocados. É um país que não tem soberania econômica, ele é isolado, qualquer empresa do mundo que negociar com Cuba vai sofrer um processo nos EUA. Então, ainda que o povo esteja cansado de tantos anos de sofrimento econômico — não é fácil viver assim, obviamente —, eles têm consciência de quem é o inimigo, quem está fazendo isso com eles."

Nesse contexto, ele afirma que o povo cubano "não tem outra opção senão resistir", pois a outra seria "entregar o país para os EUA", que atuariam para fazer dele "um outro Porto Rico". "Então o povo resiste porque tem que resistir e dribla como vem driblando desde 1960, quando começaram as sanções. […] E agora, mais uma vez, com o BRICS é mais uma chance da nação e do povo resistir", afirma.

José Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que a eventual entrada de Cuba indica que o BRICS está sendo reformulado como um grupo econômico. "Eu não considero um bloco de integração regional porque muitos países não têm um link geográfico. […] Eu não considero um bloco de integração regional, como é o Mercosul, como é o NAFTA, e como é a União Europeia […]. É um bloco de representação econômica, mas cada vez mais eu tenho visto o BRICS como uma intenção de países do Oriente, principalmente Rússia e China, de criar um contraponto ao bloco ocidental, principalmente aquele bloco ocidental que é formado na perspectiva militar pela OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]."

Na avaliação de Niemeyer, a adesão de Cuba ao BRICS tem um caráter mais político-ideológico, por ser um país que "sempre desafiou Washington", e as duas principais potências do grupo, Rússia e China, veem nele um novo centro "para se contrapor ao mundo ocidental".

Já sobre a possibilidade de o Brasil sofrer algum tipo de sanção por ter apoiado a adesão de Cuba ao BRICS, Niemeyer enfatiza que o Itamaraty e os governos que se sucedem no Brasil terão de saber ficar bem nesse meio-termo, dentro da política internacional, nos dois blocos que se desenham no mundo. "O Brasil está nesse meio-termo dessa disputa que eu tenho visualizado entre o Ocidente e o Oriente. Não é uma nova Guerra Fria, […] mas você vê hoje decididamente dois blocos de países, países como EUA e União Europeia e países como China e Rússia, e o Brasil tem que saber se equilibrar no meio disso." Ele lembra que o Brasil é uma potência verde, um grande produtor de alimentos e energia, que tem "um papel muito relevante neste mundo de conflito". Por isso é importante para o Brasil ficar entre esses dois polos, preservando os interesses que cultiva com os EUA e também com a China. "Se você me perguntar, do ponto de vista estratégico militar, 'O Brasil está mais próximo dos EUA do que da China?', está mais próximo dos EUA. Mas, do ponto de vista comercial, a China é tão importante quanto os EUA hoje para a balança comercial brasileira", afirma o especialista.

¨      Continuidade ou endurecimento: quais as perspectivas para Cuba diante das eleições nos EUA?

Cuba acompanha de perto as eleições nos Estados Unidos, pois o comportamento de quem ocupar a presidência estadunidense durante os próximos quatro anos e as características da sua política externa terão um impacto considerável na ilha. Mesmo que ocorram pequenas variações nos métodos, os efeitos serão imediatos.

Ernesto Domínguez, doutor em ciências históricas e professor do Centro de Estudos Hemisféricos e dos Estados Unidos da Universidade de Havana, comentou em entrevista à Sputnik que as eleições norte-americanas também terão impacto na dinâmica internacional e na configuração do sistema regional e das relações globais.

Para o acadêmico, o regresso do candidato republicano Donald Trump ao Salão Oval significaria a permanência ou o reforço da estratégia de pressão máxima na ilha. Em primeiro lugar, elaborou o especialista, retomariam uma política externa que classificam como bem-sucedida e, em segundo lugar, continua a percepção sobre o valor do voto cubano-americano no estado da Flórida. Nesse contexto, a coerção sobre a maior das Antilhas é vista "como um mecanismo ou instrumento que favorece a mobilização desse setor em favor de qualquer proposta ou plataforma, embora esta tenha mais nuances e diversidade. Dados recentes indicam o apoio da maioria dos cubano-americanos", cidadãos ligados ao Partido Republicano e ao seu candidato. Sobre Kamala Harris, atual vice-presidente e candidata do Partido Democrata, Domínguez advertiu que "ela não expressou uma posição contundente sobre a ilha em um sentido ou outro. Seria de esperar que, se ela assumir a presidência, a política em relação a Cuba será um pouco mais na linha de algumas flexibilidades parciais em certas questões".

<><> Haverá 'relação construtiva'

A combinação de cenários internos e externos, bem como o seu impacto no comportamento de uma ou outra administração, determinará, em primeira instância, que "o espectro de variações é relativamente baixo". Pelo exposto, podemos esperar "um aumento da pressão máxima ou do suporte com ligeiras modificações nessa estratégia", explicou o especialista. "Até o momento não vejo um cenário provável de retorno às políticas adotadas por Barack Obama nem uma ação militar no outro extremo. Muito menos podemos esperar o reconhecimento da legitimidade do governo cubano e a eliminação de todos os tipos de medidas contrárias", destacou.

Sobre esse assunto em particular, Domínguez destacou que as diferentes administrações seguem o eixo e o objetivo da política de Estado: a recuperação do controle sobre a ilha. Portanto, as mudanças residem nos métodos utilizados para atingir esse propósito.

Por sua vez, Guillermo Suárez Borges, mestre em ciências sociais e pesquisador do Centro Internacional de Pesquisa de Políticas (CIPI, na sigla em espanhol), considerou à Sputnik que nenhum dos dois chegará à Casa Branca "com a intenção de ter uma relação construtiva com Cuba para ajudar a ilha a superar as situações atuais, nem com uma mentalidade de solidariedade com o nosso país".

<><> Quatro anos de continuidade política

Para Domínguez, embora na campanha eleitoral de 2020 o próprio Joe Biden tenha proposto a reversão de algumas das medidas impostas por seu antecessor Donald Trump (2017–2021), especificamente o endurecimento das sanções, ele também se comprometeu a promover os direitos humanos e a democracia na perspectiva estadunidense. A partir de 2021, a situação da economia nacional, as mudanças de liderança e as manifestações de descontentamento, especialmente a ocorrida em 11 de julho daquele ano, determinaram "uma avaliação da possibilidade de sobrevivência do governo cubano que indicava a proximidade de colapso, algo assumido em outros momentos" pela Casa Branca.

O resultado é que, na opinião do acadêmico, Biden não eliminou nenhuma das sanções implementadas por Trump. Apenas foram feitas algumas modificações relacionadas ao envio de remessas e à abertura gradual do consulado para pedidos de visto. "Os fundamentos da política de pressão máxima foram mantidos até agora. Mais do que uma mudança, representa uma continuidade, com algumas nuances. A atual administração retirou Cuba da lista de países que não colaboram ativamente na luta contra o terrorismo, mantendo ao mesmo tempo isso nas nações que patrocinam o terrorismo, o que é incoerente", afirmou.

 

¨      Presença de militares dos EUA na cúpula da APEC no Peru é 'recado' para China, diz especialista

A presença de militares norte-americanos como garantidores da segurança durante um evento de importância mundial sediado pelo Peru é uma "demonstração de força" dos Estados Unidos para a China, afirmam especialistas consultados pela Sputnik Brasil. A pedido da presidente do Peru, Dina Boluarte, o Congresso unicameral peruano aprovou a entrada de 600 militares dos EUA para reforçar a segurança do país durante a 36ª Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que acontece entre os dias 10 e 16 de novembro. As tropas estadunidenses chegaram ao país nesta segunda-feira (4) e terão permissão para ficar até o dia 24. Além dos 600 soldados, estão previstos quatro helicópteros Black Hawk MH-60, quatro aviões AWACS e dois B-747-200B (VC-25).

Com um dos contingentes mais numerosos a pisar no Peru, até mesmo quando comparado aos enviados para exercícios militares, é provável que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viaje para a cúpula. A presença do líder norte-americano, no entanto, não é justificativa para a presença de tamanho contingente estadunidense no país. O pedido de Boluarte vem em meio a um agravamento da crise interna no Peru. A própria presidente viu sua taxa de desaprovação subir para 92% nos últimos meses. Inicialmente vice-presidente de Pedro Castillo, Boluarte assumiu após uma grave crise institucional atingir o país em 2022. Desde então, a líder peruana vem enfrentando protestos populares relacionados a escândalos de corrupção, crime organizado e violência policial.

A partir desse ponto de vista, Boluarte pode estar receosa de novas manifestações durante a cúpula da APEC. Convocações do tipo já foram feitas pela oposição. Mas a verdade é que a segurança desses eventos "já levam em conta que pode haver algum incidente em função de protestos domésticos", diz à Sputnik Brasil o cientista político, jornalista e professor de relações internacionais Bruno Rocha Lima.

Para Lima, o pedido de socorro das autoridades em Lima reflete muito mais a "lógica do império na América Latina". "Há um esforço permanente do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa dos EUA em ampliar sua presença dentro do Estado profundo dos países latino-americanos. E no Peru não é diferente." Nesse contexto, o professor lembra que nos últimos anos a China se tornou uma grande parceira dos países da América Latina. No Peru, China e EUA figuram na primeira e segunda posições, respectivamente, entre os parceiros comerciais do país andino. A terceira posição é ocupada pelo Brasil.

Mais importante do que o fluxo comercial, há os investimentos em infraestrutura feitos por Pequim através da Iniciativa Cinturão e Rota. A cerca de 80 quilômetros de Lima, a estatal chinesa Cosco está prestes a inaugurar o porto de Chancay, que pode redesenhar o tráfego das exportações em todo o continente. Desse modo, o convite engendrado pelos norte-americanos para que seus militares façam a segurança da APEC é "um recado, uma demonstração de força" dos EUA para a China e até mesmo para a Rússia, duas grandes potências que integram o fórum. É como se os estadunidenses dissessem que os fluxos comerciais podem ser direcionados à Ásia, "mas a hegemonia financeira, cultural e militar é de Washigton, e não tem conversa", destaca o pesquisador. "É uma demonstração de que os Estados Unidos têm incidência direta na política doméstica e nos arranjos intergovernmentais dos países, de que na América Latina eles que mandam."

<><> Maduro descreve autorização para entrada de tropas dos EUA no Peru como 'uma vergonha'

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, qualificou nesta segunda-feira (4) como "uma vergonha" a decisão do Congresso do Peru que autoriza a entrada de tropas dos Estados Unidos no território peruano. A medida acontece em meio à cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês) no país. "Simplesmente é uma vergonha. Quando se cumprem 200 anos do sacrifício e da vitória de Junín e Ayacucho, quando Simón Bolívar e Antonio José de Sucre derramaram seu sangue pela liberdade do Peru, essa presidente Dina Boluarte, de forma indigna, depois de ter feito um golpe de Estado, entrega o território peruano para as tropas dos Estados Unidos", exclamou o mandatário durante a transmissão de seu programa semanal.

A proposta da presidente Boluarte para que militares norte-americanos fiquem no país até o dia 24 de novembro foi aprovada por 63 congressistas, enquanto 23 a rejeitaram e sete se abstiveram. "Uma vergonha sem nome e que eles vão pagar, vão pagar caro no dia em que houver eleições nesse país. Sim, uma vergonha sem nome e que, infelizmente, se repete de forma não tão desejável na região da América Latina", reiterou Maduro.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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