Estudo aponta presença de chumbo e cádmio
em chocolate amargo
Chocolate amargo e
produtos de cacau similares estão contaminados com chumbo e cádmio, dois metais
neurotóxicos que estão ligados ao câncer, doenças crônicas ou problemas
reprodutivos e de desenvolvimento, especialmente em crianças, de acordo com um
novo estudo, realizado com produtos comercializados nos Estados Unidos.
Como elementos
naturais da crosta terrestre, chumbo, cádmio e outros metais pesados estão
presentes no solo onde as culturas são cultivadas e, portanto, não podem ser
evitados. No entanto, alguns campos agrícolas e regiões contêm níveis mais
tóxicos do que outros, em parte devido ao uso excessivo de fertilizantes
contendo metais e à poluição industrial contínua.
Contudo, apesar de
serem cultivadas em terras com menos pesticidas e outros contaminantes, as
versões orgânicas do chocolate amargo apresentaram alguns dos níveis mais
altos, segundo o estudo publicado na quarta-feira (31) na revista Frontiers in
Nutrition.
O chocolate amargo é
conhecido por ser rico em nutrientes vegetais chamados flavonoides,
antioxidantes e minerais benéficos e tem sido associado à melhoria da saúde
cardiovascular, desempenho cognitivo e redução da inflamação crônica.
A equipe de pesquisa
examinou apenas produtos de chocolate amargo puro, pois eles contêm a maior
quantidade de cacau. Doces ou chocolates para culinária com outros ingredientes
foram eliminados. O estudo não divulgou os nomes ou fabricantes dos produtos testados.
“Os níveis médios de
chumbo e cádmio em produtos contendo cacau no novo estudo estão na média ou
acima dos valores médios que a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA
encontra para chumbo e cádmio nos alimentos mais contaminados que eles testam”,
diz Jane Houlihan, diretora nacional de ciência e saúde da Healthy Babies
Bright Futures, uma coalizão de defensores comprometidos em reduzir a exposição
de bebês a produtos químicos neurotóxicos.
Batata-doce para
bebês, biscoitos para dentição de bebês, biscoitos recheados, vinho branco e
molho ranch lideram a lista da FDA dos alimentos mais contaminados com chumbo,
enquanto sementes de girassol, espinafre, batata-frita, alface e batatas chips
contêm os níveis mais altos de cádmio, diz Houlihan.
“Se os riscos típicos
à saúde de comer chocolate estiverem abaixo dos limites oficiais de segurança
do governo federal, é porque as pessoas normalmente consomem quantidades
relativamente pequenas”, afirma Houlihan, que não esteve envolvida no estudo.
“Esperamos riscos
aumentados para crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas que comem
chocolate regularmente, especialmente chocolate amargo.”
A National
Confectioners Association, que representa a indústria do chocolate, diz à CNN
por e-mail que “chocolates e cacau são seguros para consumir e podem ser
desfrutados como guloseimas, como têm sido por séculos. A segurança alimentar e
a qualidade dos produtos permanecem nossas maiores prioridades, e continuamos
dedicados à transparência e responsabilidade social.”
• Chumbo e cádmio encontrados, mas sem
arsênico
O novo estudo analisou
72 produtos de cacau quanto aos níveis de chumbo, cádmio e arsênico. Em
comparação com estudos anteriores, que analisaram metais pesados no chocolate
durante um momento específico, o estudo mais recente testou os produtos ao
longo de um período de oito anos, em 2014, 2016, 2018 e 2020.
Os testes foram
realizados pelo Consumer Labs, uma organização sem fins lucrativos que fornece
testes independentes em produtos de saúde e nutrição. Eles enviaram amostras
para vários laboratórios para maximizar a precisão.
Dos 72 produtos de
chocolate testados ao longo do estudo, 43% excederam o nível máximo permitido
de chumbo estabelecido pela Proposição 65 da Califórnia, enquanto 35% excederam
o nível máximo permitido de cádmio pela Proposição 65, descobriram os pesquisadores.
O estudo não encontrou níveis significativos de arsênico.
Os limites da
Proposição 65 são mais baixos do que os estabelecidos pelo governo federal. O
nível máximo permitido de chumbo em doces para crianças é de 0,1 partes por
milhão, de acordo com a FDA. A Proposição 65 da Califórnia estabelece um padrão
de segurança de 0,05 partes por milhão para o chocolate, cerca de metade desse
valor.
“A Proposição 65
estabelece um nível protetor que permite aos consumidores fazer uma escolha
racional e dizer: ‘Ok, quanto eu quero consumir?'”, afirma Danielle Fugere,
presidente e consultora jurídica principal da As You Sow, uma organização sem
fins lucrativos especializada em defesa de acionistas, que não esteve envolvida
no novo estudo.
“Existem muitas fontes
de chumbo, por exemplo: há chumbo na água, há chumbo em vegetais e frutas, há
chumbo em nosso solo, poeira e ar”, diz Fugere. “Eu me sinto bem ao comer um
pedaço de chocolate que também pode conter chumbo? Cada pessoa pode tomar sua
própria decisão.”
Adultos saudáveis que
limitam a ingestão a pequenas quantidades não devem ter medo de comer
chocolate, diz a autora principal do estudo, Leigh Frame, diretora executiva do
Office of Integrative Medicine and Health na George Washington University, em
Washington, DC.
“Uma porção típica de
chocolate amargo é de 1 onça (cerca de 28 gramas), então consumir 1 onça a cada
dia ou algo assim representa um risco relativamente pequeno no grande esquema
das coisas”, afirma Frame. “Mas é algo de que precisamos estar cientes caso
também estejamos expostos a outras fontes de chumbo, como tinta à base de
chumbo em uma casa antiga.”
• Devo evitar comer chocolate?
Esse risco de
exposição a metais pesados aumenta, no entanto, se a pessoa estiver em
condições médicas comprometidas, grávida ou for uma criança pequena, afirma
Tewodros Godebo, professor assistente de geoquímica ambiental na Tulane
University School of Public Health and Tropical Medicine, em Nova Orleans.
Ele foi o autor de um
estudo de julho que analisou 155 amostras de chocolate e encontrou níveis mais
altos de cádmio, mas pouco chumbo, em chocolates amargos.
Ao longo do tempo,
consumir baixos níveis de cádmio pode danificar os rins. A Agência de Proteção
Ambiental dos EUA considera o metal um provável carcinógeno humano.
“Existem indivíduos
sensíveis, comprometidos medicalmente, como pessoas com doenças renais, que
podem não ser capazes de excretar eficientemente os metais do corpo. E, claro,
uma mulher grávida protegendo o bebê no útero também estaria em maior risco”, diz
Godebo, que não esteve envolvido no novo estudo.
Crianças podem
absorver cerca de 50% do chumbo ingerido após uma refeição e até 100% com o
estômago vazio, dizem os especialistas. Não há nível seguro de chumbo,
especialmente para crianças, de acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS).
“Em particular, o
chumbo pode afetar o desenvolvimento cerebral das crianças, resultando em
redução do quociente de inteligência (QI), mudanças comportamentais como
diminuição da capacidade de atenção e aumento do comportamento antissocial, e
redução do desempenho educacional”, afirma a OMS em seu site.
No entanto, para
adultos saudáveis, a análise de risco de Godebo encontrou pouco com o que se
preocupar ao escolher se entregar a 1 onça de chocolate amargo de vez em
quando.
“Claro, queremos uma
exposição próxima de zero, mas isso é impossível”, diz ele. “Tudo o que comemos
provavelmente contém algum nível desses contaminantes. Mas é um risco
relativo.”
Fonte: CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário