sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Enquanto seu poder geopolítico cai, fundamentalismo religioso cresce nos EUA, avaliam especialistas

O governador do estado norte-americano da Louisiana, Jeff Landry, homologou uma lei na qual todos os estabelecimentos de educação pública, escolas ou faculdades, devem dispor os dez mandamentos cristãos. Para especialistas, essa medida representa um aumento no fundamentalismo religioso nos EUA, o que pode influenciar sua política externa.

Apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, o episódio do Mundioka desta quinta-feira (1º) aborda a questão religiosa nos Estados Unidos. Como o Cristianismo, principal religião do país, afeta desde as políticas locais às decisões nacionais da Casa Branca? O país está ficando cada vez mais fundamentalista? Será que isso está levando os EUA ao caminho certo?

De acordo com Marcelo Suano, professor de relações internacionais do Ibmec, ao contrário do que muitos podem imaginar a partir das imagens de metrópoles como Nova York e Los Angeles, a religião possui um papel fundamental na vida do estadunidense que vive afastado dos grandes centros urbanos — em especial, a religião cristã, na qual os protestantes são maioria, com os católicos em segundo.

"Os Estados Unidos são, na realidade, aquela sociedade do interior, que é mais voltada para a comunidade […], que tem o hábito de discutir os seus problemas da sociedade na igreja."

Essa junção do local de adoração religiosa com o de discussões políticas locais, aponta Suano, reflete até mesmo na hora das eleições.

O chamado Bible Belt (Cinturão da Bíblia, em tradução livre) é um termo usado pelos acadêmicos e pesquisadores norte-americanos para se referir a uma região que compreende cerca de 20 estados norte-americanos e onde a vida cultural e a vida religiosa são bastante interligadas.

Ademais, em sua maioria, esses estados costumam eleger políticos conservadores, seja para eleições locais, seja para a eleição presidencial.

"Normalmente eles tendem a eleger governadores ou presidentes da República dentro do ideário republicano, que é um ideário mais voltado para as questões especiais dos interesses estratégicos dos Estados Unidos e comungam desses valores cristãos."

Segundo Suano, a escolha por um candidato considerado mais conservador, um republicano, e um mais progressista, um democrata, não tem influência somente nas questões internas dos EUA, mas também em sua política externa.

O republicano, diz Suano, "é mais individualista. Ele negocia os interesses de forma pontual e bilateralmente". Essa é a razão pela qual normalmente, "quando os republicanos estão no poder, eles podem fazer guerra, mas fazem guerras pontuais com países que estão incomodando".

"Diferentemente dos democratas, que quando fazem guerra, envolvem o mundo inteiro."

<><> EUA estão indo para o buraco?

Buscar maior religiosidade não é o mesmo do que fundamentalismo religioso, aponta Suano. No entanto, ao impor a publicação dos dez mandamentos, a medida do governador da Louisiana pode ser vista como tal pelas cortes norte-americanas.

O problema não é necessariamente o conteúdo dos dez mandamentos, mas as consequências que a publicação pode ter, como a preferência por uma religião em específico. "Isso poderia ser um processo de doutrinação canalizando para uma religião específica."

A ser julgada pelos tribunais dos EUA, essa lei poderá ser considerada algo próximo do fundamentalismo religioso por violar o Estado Democrático de Direito, algo que os EUA se veem como "fundadores".

Ao Mundioka, Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), detalhou que apesar de toda essa pompa de superioridade moral, em termos reais, o país está vendo uma decadência tanto em termos domésticos quando internacionais.

Internamente, diz Menezes, os Estados Unidos passam por uma série de crises, desde a epidemia de opioides, em especial o fentanil, que cria imagens "aterrorizantes", aos problemas de infraestrutura e saúde pública.

O último estudo feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura estadunidense avaliou a infraestrutura pública com um D+. Ou seja, "nem passou de ano" diz Menezes.

O especialista lembrou de uma ocasião na qual o presidente dos EUA, Joe Biden, foi a uma cidade inaugurar uma obra de infraestrutura criada a partir de um programa governamental de US$ 1,2 trilhão (R$ 6,78 trilhões). Logo, antes de chegar no município, no entanto, outra ponte desabou. "Uma ponte pequena, não era muito grande, mas caiu."

No entanto, os maiores sinais de decadência norte-americana podem ser observados pela queda de sua hegemonia ao redor do mundo pelo menos desde os anos 1980. "Os Estados Unidos têm uma interrogação muito grande sobre a sua hegemonia", afirmou.

Em termos de comércio exterior e de produção científica, a China se aproxima cada vez mais dos EUA, aponta Menezes. "Na área econômica, eu diria que ela [a vantagem dos EUA] já não é tão grande assim, e na área tecnológica ainda tem uma boa vantagem, mas que também vem sendo alcançada, em especial pela China."

Um dos principais articuladores dessa perda de poder dos EUA é justamente o BRICS, grupo geopolítico que os norte-americanos veem com grande preocupação, segundo o pesquisador do INCT-INEU.

"Os Estados Unidos […] não admitem que outras potências estejam emergindo. Então procuram, a todo custo e usando todos os meios, exatamente bloquear a possibilidade, até mesmo de efetivação de um mundo de fato multipolar."

Uma das formas que os norte-americanos tentam fazer isso é por meio das sanções econômicas, que funcionaram em muitos palcos diferentes, como Irã, Cuba e Iraque. Mas agora que são aplicadas contra a Rússia, "elas não surtiram o efeito que os Estados Unidos e seus aliados pretendiam".

"Hoje, o comércio da Rússia, em grande parte, se dá com a China, e se dá nas moedas locais, no yuan, no renminbi e no rublo", destacou Menezes.

¨      Incidentes islamofóbicos sobem quase 70% nos EUA em meio a conflito entre Israel e Hamas

Nos primeiros seis meses deste ano, quase cinco mil queixas foram apresentadas ao Conselho de Relações Islâmico-Americanas, conforme relatado pelo jornal The Times.

De acordo com o jornal, foram 4.951 as denúncias de discriminação contra muçulmanos e palestinos no primeiro semestre, em comparação com 2.937 registradas no mesmo período de 2023.

O aumento dos episódios de discriminação e assédio ocorre em meio a uma onda global de islamofobia e antissemitismo, intensificada desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, que já causou milhares de mortes. Numerosos países e organismos internacionais classificaram a atuação do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como "genocídio".

O relatório revela ainda que houve um aumento significativo de queixas no âmbito educacional por islamofobia em maio, durante os protestos nas universidades dos EUA contra as ações do governo de Israel.

Conforme Corey Saylor, diretor de pesquisa e defesa do conselho, o "clima geral de preconceito levou universidades e empregadores a punirem trabalhadores por expressarem pontos de vista pró-palestinos".

As denúncias registradas também incluíram crimes de ódio e discriminação em processos de imigração, asilo e emprego.

O conselho ainda recebeu 8.061 queixas durante todo o ano de 2023, sendo quase metade —3.578— nos últimos três meses de 2023, após o início da guerra no Oriente Médio.

Ao mesmo tempo, a Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização que protege os direitos humanos das pessoas judias ao redor do mundo, informou que os incidentes antissemitas nos EUA aumentaram 140% em 2023 na comparação com o ano anterior.

"Os 8.873 atos de agressão, assédio ou vandalismo foram o maior número desde que a ADL começou a registrar dados em 1979, incluindo um pico de 5.204 incidentes após 7 de outubro", finalizou a nota.

¨      Guerra por procuração do Ocidente na Ucrânia pode levar a 'consequências desastrosas', diz mídia

Guerra por procuração do Ocidente na Ucrânia pode levar a 'consequências desastrosas', diz mídia

Os países ocidentais têm de parar sua guerra por procuração, que pode levar a resultados potencialmente catastróficos, escreveu na quinta-feira (1º) um ex-assistente especial de Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA (1981-1989).

"A Rússia tem cada vez mais motivos para tratar os países da OTAN como beligerantes formais, o que pode ter consequências desastrosas", comentou Doug Bandow em um artigo para a revista norte-americana The American Conservative.

Bandow sublinhou que, se os aliados de Kiev não quiserem iniciar uma guerra mundial, eles terão que buscar uma negociação de paz para o conflito. Em sua opinião, para atingir tal objetivo, o Ocidente precisa retomar o diálogo com a Rússia e discutir uma nova estrutura de segurança que respeite os interesses de Moscou.

Moscou tem sublinhado repetidamente que não representa uma ameaça para nenhum dos países da OTAN, mas não ignorará ações potencialmente perigosas para seus interesses. Ao mesmo tempo, ela diz que continua aberta ao diálogo, mas em pé de igualdade, e que o Ocidente deve abandonar seu curso de militarização da Europa.

<><> Rússia está disposta a cooperar com resolução da crise na Ucrânia, considerando seus interesses

A Rússia está pronta para cooperar com todos aqueles que buscam facilitar a solução da crise na Ucrânia, levando em consideração os interesses russos e as realidades atuais, disse a representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, à Sputnik.

Comentando a recente visita do secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, à Ucrânia, ela disse que suas declarações em geral estão alinhadas com os esforços de mediação do Vaticano.

"Considerando a importância da figura do secretário de Estado na hierarquia da Igreja Católica Romana, certamente levamos suas declarações muito a sério, considerando-as a posição oficial da Santa Sé", disse Zakharova.

"Até hoje, não recebemos nenhuma solicitação oficial sobre a visita de Parolin à Rússia. O diálogo com o Vaticano continua. Nosso país está pronto para cooperar com todos aqueles que buscam facilitar uma solução pacífica da crise ucraniana, levando em conta os interesses conhecidos da Rússia e as realidades atuais", disse ela.

Anteriormente, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia está aberta a uma resolução diplomática, mas o mesmo aparentemente não se aplica à Ucrânia.

"A Rússia está aberta a todas as iniciativas, e a Rússia está aberta a um caminho diplomático para um acordo, mas vemos que, infelizmente, não há tal reciprocidade por parte da Ucrânia no momento", disse Peskov.

<><> Preocupado, Zelensky diz que eleição presidencial dos EUA representa desafio e risco para a Ucrânia

Vladimir Zelensky disse que os resultados da próxima eleição presidencial nos EUA representam um desafio e riscos para a Ucrânia.

"A situação atual nos Estados Unidos é um desafio. Há riscos que não podem ser previstos. Se Donald Trump vencer, não sabemos qual será o nosso diálogo. Costumava ser bastante razoável, mas não sabemos o que acontecerá depois da eleição", disse Zelensky nesta quarta-feira (31) ao jornal Le Monde.

Apesar da dúvida e eminente preocupação em relação a uma eventual vitória de Trump, Zelensky mostrou que acredita que a maioria no Congresso dos EUA continuará a apoiar a Ucrânia.

A eleição presidencial dos Estados Unidos será realizada no dia 5 de novembro. No início de julho, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou sua retirada da corrida presidencial e indicou a atual vice-presidente, Kamala Harris, para ser a representante do Partido Democrata.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump garantiu sua indicação pelo Partido Republicano no início deste mês e escolheu o senador de Ohio J. D. Vance como companheiro de chapa. A escolha por Vance foi descrita como um "desastre" para a Ucrânia por autoridades da União Europeia (UE). Vance tem sido incisivo em sua oposição ao fornecer ajuda adicional a Kiev.

Em maio, Trump afirmou que acabaria com o conflito na Ucrânia em 24 horas e teria reiterado sua intenção de acabar com o conflito em um telefonema com Zelensky. No início deste mês, o diretor de comunicação da campanha de Trump, Steven Cheung, confirmou que negociar o fim do conflito na Ucrânia será "uma das principais prioridades no segundo mandato [de Trump] e será negociar rapidamente um fim" para o conflito entre Rússia e Ucrânia.

 

¨      BRICS pode vir a ter sistema de pagamento internacional já em outubro, segundo autoridade russa

A presidente do Conselho da Federação da Rússia (câmara alta do parlamento), Valentina Matvienko, disse esperar que na cúpula do BRICS na cidade de Kazan, em outubro deste ano, seja tomada a decisão de criação de um sistema de pagamento independente para os países do grupo.

Ela acrescentou que o sistema de pagamento SWIFT e o dólar perderam muita da sua credibilidade. Segundo a autoridade, a apropriação por países ocidentais das reservas russas em moeda estrangeiras e da renda por elas gerada desacreditaram os princípios da economia mundial.

"Espero que em outubro, na cúpula dos chefes de Estado em Kazan, é certo que isso vai ser discutido, talvez até seja aprovado ou, de qualquer forma, discutido e seja tomada uma decisão quando e em que formato, em que prazo deve ser finalizado ", disse ela acrescentando que este processo "já não é teórico, está ativamente em andamento, é prático".

A chefe do Conselho da Federação acredita também que uma situação em que é possível pegar as reservas cambiais ou a renda dessas reservas de um país estrangeiro e apropriar-se delas desacredita os fundamentos da economia mundial e os sistemas monetário e financeiro mundiais.

O uso das reservas cambiais da Rússia pelos países ocidentais levou a um aumento no processo de acordos mútuos em moedas nacionais dentro do BRICS, o que levou a um declínio na parcela do dólar.

"Começaram as discussões sobre a plataforma BRICS Bridge, que seria independente e garantiria as trocas comerciais em uma plataforma conjunta segura", disse Matvienko.

Além disso, ela abordou a questão da segurança global lembrando que a Rússia está sempre pronta para o diálogo nessa questão, mas em termos iguais e levando em conta seus interesses.

"Estamos sempre prontos para o diálogo, estamos sempre prontos para negociações sobre a segurança global, sobre outras questões críticas de interesse para o mundo inteiro. Mas em igualdade de condições, levando em conta nossos interesses nacionais, e não negociações sob comando."

Ela enfatizou que a Rússia está pronta para participar apenas de um diálogo igualitário que contribua para a segurança unida e indivisível de cada Estado e para a estabilidade do mundo como um todo.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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