O chefão
do tráfico de drogas e armas que desencadeou uma caçada global
Detalhes
de uma grande operação policial que abrangeu as cidades de Nottingham e
Manchester, no Reino Unido, e se estendeu à Espanha e a Dubai agora podem ser
revelados após quase sete anos.
A
operação teve como foco Craig Moran, uma figura importante no crime organizado
durante o período em que Nottingham foi rotulada como a "capital do crime
armado do Reino Unido" no início dos anos 2000 por jornais
sensacionalistas nacionais.
Após
sua libertação da prisão, um aumento nos crimes envolvendo armas de fogo na
cidade a partir de 2017 foi associado a drogas provenientes de Manchester,
através de Moran, mas um conflito entre gangues o forçou a fugir para Marbella,
na Espanha, onde foi atacado por rivais.
Depois
de se mudar novamente, desta vez para Dubai, Moran foi preso e extraditado em
2020, sendo condenado como parte da operação que resultou em vários
julgamentos, cujos procedimentos terminaram neste mês.
Moran,
agora com 42 anos, começou como parte de uma gangue baseada no conjunto
habitacional de Bestwood, em Nottingham, que era informalmente liderada por
Colin Gunn, um criminoso notório cuja atuação deixou a cidade com uma reputação
terrível, segundo um ex-chefe de polícia local.
O
grupo de Gunn estava por trás de muitos dos crimes que, em 2003, levaram os
jornais a descrever Nottingham como "cidade dos assassinatos" e
"capital do crime armado do Reino Unido".
Um
dos crimes mais chocantes foi o assassinato da joalheira Marian Bates, morta a
tiros durante um assalto mal sucedido.
Moran
foi condenado a 13 anos de prisão por planejar o assalto armado ao Time Centre
em Arnold, no condado de Nottinghamshire. Ele foi libertado em abril de 2017.
Seis
meses depois, a polícia de Nottinghamshire deu início à Operação Encíclica,
após uma escopeta ter sido descoberta durante uma batida em uma casa na
Leybourne Drive, em Bestwood.
Isso
acabou se tornando uma prova decisiva, pois a arma tinha sido usada em
Manchester e continha o DNA de Callum Sims, primo de Moran.
Um
mês depois, os policiais recuperaram dois revólveres dentro de um carro
abandonado no Morrell Bank, em Bestwood, perto da casa de Sims.
A
operação policial intensificou-se entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018,
quando tiros foram disparados em quatro locais diferentes ao redor de Bestwood,
com um homem sendo baleado na perna dentro de um pub local.
Em
abril de 2018, a polícia executou um mandado em Wendling Gardens, em Bestwood,
residência de Lee Hudson, sobrinho de Moran.
Os
policiais encontraram 58 plantas de cannabis, maconha embalada e equipamentos
de cultivo.
Também
havia £13 mil (cerca de R$ 91 mil) em dinheiro, uma máquina de contar dinheiro,
dois celulares criptografados e 131 munições.
O
subchefe da Polícia de Nottinghamshire, Rob Griffin, afirmou que os ataques com
armas de fogo provocaram uma resposta policial "robusta".
"Foi
a primeira vez em muito tempo que vimos criminalidade com armas de fogo no
conjunto habitacional de Bestwood", disse ele.
"Nós
observamos um aumento nos disparos de armas de fogo na mesma época."
Griffin
disse que Moran foi identificado como uma "ameaça significativa"
porque estava organizando a entrega de armas e quantidades significativas de
drogas em Nottingham.
"Ele
é realmente um gangster", disse.
"Naquela
época, ele era o líder da gangue de Bestwood.
"Muito
rapidamente começamos a conectar a recuperação de armas de fogo em Nottingham a
um grupo de crime organizado em Manchester."
• 'Estereótipo de gangster'
Moran
foi encontrado liderando a operação em Nottingham, enquanto Jodie Danson, 43
anos, gerenciava a operação em Salford, em Manchester.
Griffin
disse que Moran afirmava trabalhar como instrutor de fitness e pensava que
estava acima da lei.
"Ele
não tinha meios legítimos de renda, mas dirigia um Range Rover Sport de £ 80
mil (cerca de R$ 432 mil), que lhe custava mais de £1,2 mil (R$ 6,5 mil) por
mês para alugar, e tinha um gosto por roupas de grife e hotéis caros",
acrescentou.
"Ele
fazia pagamentos exclusivamente em dinheiro. Viveu um estilo de vida
estereotipado de gangster."
Moran
já suspeitava que a polícia estava grampeando seu Range Rover quando houve um
avanço na Operação Encyclic em julho de 2018.
A
Unidade de Operações Especiais de East Midlands (EMSOU, na sigla em inglês)
interceptou um carro dirigido por Sims, transportando seis quilos de heroína e
cocaína para Nottingham vindo de Manchester.
Detetives
interceptaram conversas telefônicas, que mostraram que os fornecedores de
drogas culpavam Moran pela apreensão e esperavam que ele os reembolsasse.
Moran
então fugiu antes que vários outros membros de grupos criminosos de Bestwood e
Salford fossem presos.
Foi
lançada uma caçada internacional após Moran fugir do Reino Unido atravessando
em um ferryboat de Dover para Calais, escondido na parte de trás de um
caminhão.
Ele
passou a levar um "estilo de vida extravagante" em Marbella, mas
ainda era alvo de represálias e foi gravemente ferido em um ataque descrito por
Griffin como "brutal".
Ele
levou tiros nos joelhos e foi cortado no rosto e na boca.
Um
mandado de prisão europeu foi emitido para sua captura, mas depois de ser
atacado em Marbella, Moran fugiu para Dubai.
"Ele
estava gastando muito dinheiro, vivendo em hotéis de luxo", disse Griffin.
"Eventualmente, uma equipe de forças especiais [em Dubai] o prendeu e em
seguida foi extraditado."
O
mandado de extradição mencionava Gunn como um "associado próximo" de
Moran.
Gunn
foi condenado à prisão perpétua em 2006 por conspiração para assassinar o casal
John e Joan Stirland em um ataque de vingança pelas ações do filho da senhora
Stirland, Michael O'Brien.
Documentos
também mostraram que após sua libertação da prisão, Moran morou em uma casa em
Nottingham que era de propriedade de Gunn, levando a especulações de alguns
policiais de que o chefe do crime ainda dava ordens de dentro da prisão.
No
entanto, Griffin rejeitou as alegações de que Gunn ainda tinha influência em
Nottingham, classificou isso de "fábula".
"Na
minha opinião, não acredito que isso estava acontecendo", disse ele.
"Craig
Moran, eu acredito, agia sozinho e viu uma lacuna no que ele considerava um
mercado lucrativo. Suspeito que ele viu um vácuo naquela área, percebeu uma
oportunidade no mercado e a aproveitou."
• 'Encerrado'
Após
uma série de julgamentos, o último dos quais terminou em 18 de junho, detalhes
da Operação Encyclic agora podem ser contados.
Griffin
diz que o crime organizado tem um impacto devastador e deixa cicatrizes nas
comunidades.
"Ele
mina os bairros e explora os vulneráveis, sem mencionar o impacto coercitivo
que tem na economia", disse ele.
"Esta
investigação comprovaa nossa persistência em garantir que aqueles que causam o
maior dano às nossas comunidades e tentam ganhar dinheiro através do crime
sejam tratados de forma rigorosa e suas operações encerradas.
"Usaremos
todas as ferramentas investigativas necessárias para garantir que vamos
eliminar seus supostos impérios de drogas."
Foram
10 réus por crimes diversos, incluindo conspiração para transferir armas
proibidas, fornecimento de drogas de classe A, posse ilegal de armas e drogas,
além de participação em atividades criminosas de grupos organizados. Eles ainda
aguardam o pronunciamento de sentença.
Fonte:
Por Jeremy Ball & Greig Watson, da BBC News, Nottingham
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