Bravata de
deputado dos EUA deixa bolsonaristas em polvorosa
O
deputado republicano Chris Smith, dos Estados Unidos, resolveu intimar o
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após ter tido acesso
a “relatos alarmantes” advindos de parlamentares bolsonaristas que visitaram
seu país recentemente. Ele enviou cartas ao STF, ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal intimando Moraes a “prestar
esclarecimentos em até 10 dias”, em Washington DC.
A
carta de Smith chegou nos gabinetes dos presidentes das casas: Luís Roberto
Barroso (STF), Cármen Lúcia (TSE), Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco
(Senado).
Smith
se apresenta no documento como o presidente do Subcomitê de Direitos Humanos da
Comissão de Relações Exteriores da Casa dos Representantes e afirma estar
ciente a respeito de “graves violações de direitos humanos por parte do governo
brasileiro”.
Entre
as acusações a Moraes, principal alvo dos bolsonaristas na política e debate
público brasileiros, constam violações à liberdade de imprensa, à imunidade
parlamentar e uma irreal “invasão da jurisdição dos EUA”. Os questionamentos
foram apresentados aos deputados americanos em maio. Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
e o blogueiro Allan dos Santos estavam presentes à sessão.
Alexandre
de Moraes, obviamente, ignorou a bravata. Mas nas redes sociais, figuras
ligadas ao lavajatismo e ao bolsonarismo aproveitaram a deixa para ganhar uns
‘likes’. Uma dessas figuras foi o ex-procurador federal e ex-deputado federal
cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR) que no X, antigo Twitter, reproduziu as
informações sobre o caso divulgadas por Lauro Jardim, no jornal O Globo.
A
publicação fez sucesso entre os seguidores. Foram quase 300 mil visualizações
até a noite desta sexta-feira (21), além de milhares de comentários e
interações.
“Estou
recebendo muitos comentários de gente perguntando o que pode acontecer, na
prática, com Alexandre de Moraes depois da intimação do congressista americano
(…) Para a turma do ‘ah, isso não adianta’, do ‘ah, isso não vai dar em nada’,
fiz um vídeo quentinho explicando as consequências do que aconteceu hoje”,
escreveu um empolgado Dallagnol.
Ao
longo do seu vídeo “quentinho”, Dallagnol simplesmente ignora questões básicas
de diplomacia e direito internacional e alega que, mesmo sem haver jurisdição,
os EUA teriam poder para impor sanções ao governo brasileiro e a Alexandre de
Moraes. Entre essas sanções estariam o bloqueio de contas bancárias e a
proibição da realização de viagens.
Dallagnol
recorre a um decreto de 2017 de Donald Trump que prevê que em casos de
corrupção e/ou violações de direitos humanos os departamentos do Tesouro e de
Estado dos EUA possam sancionar autores dessas condutas em países estrangeiros.
Deltan então reconhece que é improvável que tais sanções sejam aplicadas
durante o governo do democrata Joe Biden, mas aposta numa vitória de Trump nas
eleições desse ano.
Acontece
que a realidade é um pouco mais complicada do que o desejo ideológico. Na
prática, não há qualquer jurisdição para um congressista dos EUA intimar um
juiz da Suprema Corte de outro país. Os próprios EUA não possuem qualquer
jurisdição legal em território brasileiro.
O
Estado brasileiro, caso realmente viole direitos humanos, pode ser processado
em tribunais internacionais, como o famoso Tribunal de Haia, na Holanda – o
Tribunal Penal Internacional. Assim como os EUA e qualquer outro Estado
nacional.
Os
EUA, enquanto Estado nacional, não fazem parte de nenhuma instância dessa
natureza e seu papel de “sherife do mundo” é mera retórica ideológica, sem
respaldo em leis e tratados internacionais. Em outras palavras, uma eventual
sanção contra Moraes seria interpretada pela comunidade internacional como um
ato arbitrário e abusivo dos próprios EUA.
• Quem são os sete deputados federais
que podem perder o mandato por decisão do STF
O
Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta sexta-feira (21), no
julgamento que pode cassar o mandato de sete deputados federais. A ação se
refere às "sobras eleitorais",
vagas não preenchidas pelos critérios do sistema proporcional.
O
julgamento acontecia em plenário virtual, mas foi interrompido pelo ministro
André Mendonça, que pediu destaque. Até o momento, seis ministros votaram a
favor: Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Kássio Nunes Marques, Flávio Dino,
Dias Toffoli e Cristiano Zanin. Apenas a ministra Cármen Lúcia votou contra.
Agora,
a votação deve ser concluída de forma presencial. Caso seja aprovada, a decisão
de invalidar a regra das chamadas sobras eleitorais pode ter efeito retroativo
e afetar a composição da Câmara dos Deputados após as eleições de 2022. Com
isso, sete deputados podem ter o mandato cassado.
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São eles:
• Silvia Waiãpi (PL-AP)
• Sonize Barbosa (PL-AP)
• Goreth
(PDT-AP)
• Augusto
Pupiu (MDB-AP)
• Lázaro Botelho (PP- TO)
• Gilvan Máximo (Republicanos-DF)
• Lebrão (União Brasil-RO)
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Os políticos seriam substituídos pelos seguintes parlamentares:
• Aline Gurgel (Republicanos-AP);
• Paulo Lemos (PSOL-AP);
• André Abdon (PP-AP);
• Professora Marcivania (PCdoB-AP);
• Tiago Dimas (Podemos-TO);
• Rodrigo Rollemberg (PSB-DF); e
• Rafael Fera (Podemos-RO)
O
julgamento sobre as "sobras eleitorais" teve início com um recurso
apresentado pelo partido PSB (Partido Socialista Brasileiro) em que questionava
a decisão do Supremo, em fevereiro deste ano, que a votação não teria o efeito
retroativo, ou seja, não atingiria os deputados eleitos em 2022.
• O que são as sobras eleitorais
Diferentemente
da disputa para a presidência, as eleições para o Legislativo (deputados e
senadores) acontecem de forma proporcional. Essa última utiliza a regra do
quociente eleitoral estabelecido pela Justiça e define os eleitos com base no
cálculo entre os votos válidos e a quantidade de cadeiras a que os estados têm
direito.
Esse
quociente eleitoral estabelece o número mínimo de votos que um partido deve ter
para eleger seus candidatos. Quando se atinge essa quantidade, o partido tem
direito a eleger o candidato mais votado. Se atingir duas vezes, elege dois
deputados e assim por diante.
A
questão é que a quantidade de votos é um múltiplo não exato do quociente
eleitoral, ou seja, um número não redondo. Assim, a parcela que resta são as
sobras eleitorais.
O
partido que entrou com recurso no STF sobre esse debate argumenta que uma
alteração na legislação eleitoral em 2021 restringiu o acesso dos partidos às
"sobras eleitorais" e seria inconstitucional.
• Reportagem da Pública sobre Arthur
Lira segue censurada
Nesta
semana, notícias publicadas em anos anteriores sobre o presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira, voltaram a circular. A pedido da defesa de Lira, o STF
determinou que algumas dessas publicações fossem retiradas do ar. Em seguida, o
Ministro Alexandre de Moraes voltou atrás na decisão. No entanto, reportagem da
Agência Pública sobre o mesmo assunto permanece censurada há 9 meses.
Em
setembro de 2023, uma reportagem da Pública que trazia um relato inédito de
Jullyene Lins, ex-esposa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira,
foi censurada a pedido do deputado federal. A 6ª Turma Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) decidiu pela remoção da
reportagem e confirmou a decisão em abril deste ano, quando julgou o agravo de
instrumento interposto pela defesa do presidente da Câmara dos Deputados e
manteve, por decisão unânime, a censura à reportagem.
A
reportagem, feita com base em documentos judiciais e fontes que deram seu
depoimento sobre os fatos, teve propósito informativo e de interesse público,
sem qualquer ofensa a quem quer que seja. Além disso, trazia novas acusações da
ex-esposa do deputado federal, sobre outros fatos graves que teriam ocorrido no
ano de 2006 e que não foram analisados pelo STF, que já havia absolvido Arthur
Lira do crime de lesão corporal a ele imputado.
A
defesa da Pública fez uma reclamação contra a censura ao STF, que foi
indeferida por Alexandre de Moraes. Nossa defesa recorreu e o caso foi a
julgamento da primeira turma do STF no dia 26 de abril. No momento, o
julgamento está suspenso em razão do pedido de vistas da ministra Cármen Lúcia.
Nesta
última semana, após a aprovação da tramitação em regime de urgência do Projeto
de Lei 1904/24, que equipara o aborto legal de gestação acima de 22 semanas ao
crime de homicídio, colocada em pauta por Arthur Lira sem aviso ou discussões
prévias, a opinião pública reagiu nas redes sociais relembrando notícias
divulgadas anteriormente a respeito de Lira.
Passaram
a circular novamente entrevistas antigas de Jullyene Lins. A defesa de Arthur
Lira, então, peticionou na reclamação feita pela defesa da Agência Pública ao
STF para pedir a retirada do ar de diversos links, perfis no X (antigo
Twitter), uma entrevista em vídeo de Jullyene Lins à Folha de S. Paulo em 2021,
um vídeo da Mídia Ninja e notícias dos portais Terra e Brasil de Fato que
repercutiam nossa reportagem.
O
ministro Alexandre de Moraes inicialmente deferiu os pedidos da defesa de
Arthur Lira, determinando a retirada das publicações do ar. Na noite de ontem,
o ministro voltou atrás e liberou a publicação dos conteúdos da Folha de S.
Paulo, Terra e Brasil de Fato. Na decisão, o ministro alega que “as informações
obtidas após a realização dos bloqueios determinados, entretanto, demonstram
que algumas das URLs não podem ser consideradas como pertencentes a ‘um novo
movimento em curso, claramente coordenado e orgânico, e nova replicagem, de
forma circular, desse mesmíssimo conteúdo ofensivo e inverídico’, como
salientado pelo requerente [Lira], pois são veiculações de reportagens
jornalísticas que já se encontravam veiculadas anteriormente, sem emissão de
juízo de valor.”
A
reportagem da Pública, que reiteramos, teve propósito informativo e de
interesse público, foi elaborada “sem emissão de juízo de valor” , assim como
as demais, mas segue sob censura. Com isso, a população fica privada do acesso
a informações importantes sobre um homem público.
A
decisão de manter censurado o nosso jornalismo de interesse público, é uma
afronta à liberdade de imprensa e ao bom jornalismo.
Retirar
do ar uma reportagem da Agência Pública, veículo reconhecido com mais de 75
prêmios nacionais e internacionais, é uma tentativa lamentável de calar a
liberdade de imprensa. Organizações de defesa à liberdade de expressão como
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), Associação de
Jornalismo Digital (Ajor), Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Federação Nacional
dos Jornalistas (FENAJ) manifestaram preocupação com o caso.
Fonte:
Fórum/Agencia Pública
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