O futuro Palestino e os Benjamins
Na mesma semana em que
o Tribunal Penal Internacional (sigla ICC, em inglês) começou sua busca pelo
mandado de prisão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do
ministro da defesa Yoav Gallant, três países europeus – Irlanda, Espanha e
Noruega – anunciam que oficializarão o reconhecimento do Estado da Palestina
neste próximo dia 28. O anúncio não vem como surpresa para aqueles que vem
acompanhando de perto as repercussões internacionais em relação ao genocídio
sionista em Gaza, e também não tem um efeito prático grandioso, sendo muito
mais um gesto simbólico de reconhecimento. Mas certamente é um golpe duríssimo
contra o sionismo e seu plano colonial na Palestina Histórica. O Estado
Sionista não tardou em retirar seus embaixadores dos três países, algo que já
deveria ter sido antecipado há muito tempo pelos próprios governos destes
países, expulsando os embaixadores sionistas.
O reconhecimento
oficial de países ocidentais da União Europeia como Irlanda e Espanha, é um
marco simbólico de grande importância. Anteriormente, apenas países do Leste
Europeu, Bálcãs e Escandinávia haviam oficializado o Estado Palestino, o que,
apesar de ser bem-vindo, não colocava o reconhecimento da Palestina no centro
do poder europeu. A economia espanhola vem num otimista crescimento em
comparação aos seus vizinhos europeus, e o histórico esforço do povo irlandês
contra o domínio e a intervenção britânicos os colocam lado a lado do povo
palestino em sua luta contra o colonialismo sionista. Já a Noruega, apesar de
não participar da União Europeia, é uma das grandes potências energéticas do
globo e possui uma das maiores frotas mercantes. Dos anos de 1970 até hoje, o
país retém laços relativamente próximos aos palestinos, e abriga uma missão
diplomática palestina em sua capital. Desde outubro de 2023, a Noruega tem
rejeitado a agressão sionista em Gaza e o primeiro-ministro norueguês já
simbolizou com apoio à Resistência Nacional palestina ao dizer que “os
palestinos têm o direito de se defender”.
Isso ocorre menos de
15 dias após a Assembleia Geral da ONU votar em peso (143 a favor, 9 contra)
pelo reconhecimento e admissão do Estado Palestino na ONU como Nação Membro, e
aproximadamente 1 mês após o Conselho de Segurança falhar neste mesmo reconhecimento,
com o veto criminoso e cúmplice ianque. Outros países, como Malta e Estônia,
também já acenam com processos de reconhecimento do Estado Palestino.
Deve-se ter em mente
que todos estes acontecimentos podem ser diretamente ligados à feroz e justa
resistência do povo palestino, especialmente em Gaza, desde outubro 2023. Antes
de outubro de 2023, sequer se falava em nos círculos ocidentais sobre o reconhecimento
oficial do Estado Palestino, e forçava-se uma conciliação e normalização da
região com o Estado Sionista de Israel, através dos Acordos de Abraão,
liderados pelo ex-presidente ianque, Donald Trump. Com o lançamento e o sucesso
da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, orquestrada e liderada pelo Hamas, seguida por
uma criminosa e genocida ofensiva sionista ao povo palestino em Gaza, que
encontra diariamente uma resistência que se recusa a ceder um só grão de areia
do solo palestino aos invasores e colonizadores, a causa justa e anticolonial
da Palestina voltou ao centro das atenções do mundo inteiro. Assim como durante
as duas grandes Intifadas que inspiraram o mundo dos anos 1980 aos anos 2000, a
resistência anticolonial palestina tem levado a juventude de todo o mundo a se
erguer em seu apoio, em especial no coração do imperialismo ianque, o grande
patrono, padrinho e patrão do colonialismo sionista.
Em relação ao pedido
de mandado de prisão a Benjamin Netanyahu e Yoav Gallant, não podemos deixar de
celebrar esta possibilidade. Os sanguinários líderes da sana genocida sionista
em Gaza serão colocados, caso o mandado seja expedido, na mesma prateleira que
outros líderes megalomaníacos como Vladimir Putin. Os países signatários do
Estatuto de Roma – que dá o poder legal ao Tribunal Penal Internacional – se
verão obrigados a acatar o mandado de prisão a eles. No entanto, ainda que
celebremos, é necessário reforçar que, primeiro, estes dois líderes sionistas
são apenas dois rostos em uma multidão de líderes, políticos e militares
israelenses que não somente verbalizaram suas retóricas genocidas, como
participam ativamente do gabinete de guerra israelense e das tomadas de
decisões em Gaza. Os ministros de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir e de
Finanças, Bezalel Smotrich; o Contra-Almirante e porta-voz das IDF, Daniel
Hagari e o Chefe do Estado-Maior Geral, Herzi Halevi; o presidente de Israel,
Isaac Herzog; o representante da Israel na ONU, Gilad Erdan. Todos estes
indivíduos são culpados dos mesmos crimes, em menores ou maiores proporções,
que Benjamin Netanyahu. Incluindo aquele que agora busca se apresentar como a
grande alternativa a Netanyahu, o ex-ministro da defesa, ex-primeiro-ministro
alternativo e ex-Chefe do Estado-Maior Geral, Benny Gantz.
Gantz vem tentando se
posicionar como uma força moderada em Israel, em oposição ao facínora Netanyahu
e sua corte desvairada de nazisionistas. Ele se juntou ao gabinete de guerra
como um “ministro sem portfolio”, em uma aliança entre o partido fascista Likud
de Netanyahu e seu partido Unidade Nacional, cujo lema é “Israel antes de
todos” – soam sinos nas cabeças tupiniquins. Recentemente, Benny Gantz ameaçou
renunciar ao seu cargo simbólico e deixar a coalizão caso Netanyahu não dê um
fim à guerra em Gaza até 8 de junho. Anteriormente, Gantz já havia pedido por
novas eleições, fomentou protestos antigoverno em 2023, o Secretário de Estado
dos USA preferiu se encontrar com ele para tratar de negociações de
cessar-fogo, e pesquisas indicam que 51% dos israelenses o veem como mais bem
preparado para o cargo de primeiro-ministro de Israel.
Mas Benny Gantz pode
tentar enganar, que sua verdadeira face permanece exposta. Em seu tempo como
Chefe do Estado-Maior Geral, o maior cargo militar em Israel, Gantz comandou as
Operações Pilar de Defesa e Margem Protetora, em 2012 e 2014 respectivamente,
que juntas deixaram quase 2500 palestinos mortos. Em relação à Operação Margem
Protetora, Benjamin (totalmente-não-Netanyahu) Gantz se gabou, orgulhosamente,
de ter mandado “partes de Gaza de volta à Idade da Pedra”. E durante seu
período como Ministro da Defesa, gerenciou as Operações Guardião nas Muralhas e
Amanhecer, em 2021 e 2022 respectivamente, e mais de 90 palestinos foram mortos
por colonos sionistas na Cisjordânia (onde não opera o Hamas). Ainda de acordo
com o monopólio de imprensa israelense, The Times of Israel, Benjamin Neta…
Gantz declarou seis grupos de direitos palestinos como “organizações
terroristas” em 2021, incluindo um grupo que luta por direitos de crianças
palestinas.
A verdadeira face do
sionista Benjamin N… Gantz fica exposta em suas exigências ao atual
primeiro-ministro Benjamin (agora sim) Netanyahu para manter seu apoio à
coalizão. Entre elas, Gantz exige a desmilitarização de Gaza e extinção do
Hamas, a “internacionalização” (isto é, o controle imperialista estrangeiro) de
Gaza e a obrigação do serviço militar para todos os israelenses, incluindo os
atualmente isentos judeus ultra-ortodoxos. Benjamin Gantz não passa de mais um
líder sionista genocida, que mal pode esperar para sujar seus braços até os
ombros de sangue palestino com o título de primeiro-ministro o protegendo.
A carreira política de
Netanyahu está defunta, enterrada, e não se erguerá jamais como o zumbi que já
é. Entre acusações de corrupção e suas ações desesperadas em Gaza, em sua
vendeta pessoal contra o líder do Hamas em Gaza que o humilhou, Yahya Sinwar, Netanyahu
perdeu o apoio completo do povo israelense, e progressivamente perde o apoio
internacional até de seus aliados mais próximos. Mas que fique claro que,
saindo Benjamin Netanyahu, o próximo Benjamin de forma alguma solucionará a
contradição principal do povo palestino contra seus colonizadores. Caso Gantz
assuma, os próximos anos verão a continuação da guerra de baixa intensidade –
tão querida pelo imperialismo ianque – de Israel contra os palestinos, com os
eventuais massacres e bombardeios indiscriminados que acompanhavam a “paz”
anterior ao 7 de outubro.
O mundo anda a largos
passos para o reconhecimento do Estado Palestino. Este é o primeiro passo na
grande e árdua jornada pela extinção da colonização da Palestina Histórica,
através do fim do projeto colonial sionista. As ações heroicas da Resistência Nacional
Palestina, com suas armas produzidas em território nacional e suas táticas
guerrilheiras contra um dos exércitos mais bem armados do mundo recolocaram a
busca pela justiça palestina de volta aos olhos do mundo. Jamais esqueçamos dos
nossos mártires e heróis, até que a Palestina seja livre do rio ao mar.
¨
Reconhecimento da
Palestina por trio europeu expõe 'grande fracasso' na diplomacia de EUA e
Israel
Noruega, Irlanda e
Espanha anunciaram planos para se juntarem ao crescente bloco de países
europeus que reconhecem a condição de Estado da Palestina.
A Sputnik conversou
com especialistas em política do Oriente Médio e no conflito
palestino-israelense sobre o que aconteceria a seguir.
Israel chamou de volta
seus embaixadores na Noruega, Irlanda e Espanha nesta quarta-feira (22) para
"consultas urgentes", convocando enviados em Tel Aviv e ameaçando os
países com "graves consequências", depois que o trio anunciou planos
para reconhecer formalmente a Palestina como Estado — provavelmente com base em
suas fronteiras anteriores a 1967 — a partir da próxima semana.
"Israel não
permanecerá em silêncio diante daqueles que minam a sua soberania e põem em
perigo a sua segurança", disse o ministro das Relações Exteriores
israelense, Israel Katz, em comunicado após o anúncio do reconhecimento.
"A decisão de
hoje envia uma mensagem aos palestinos e ao mundo: o terrorismo compensa",
alegou Katz, acusando os três países de "escolherem recompensar o
Hamas" com a criação de um Estado após a sua incursão surpresa no sul de
Israel, em outubro de 2023.
O presidente da
Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, saudou a medida do trio, dizendo que ela
ajudará a consagrar "o direito do povo palestino à autodeterminação"
e aproximará da realidade uma solução de dois Estados. O Hamas — que não
reconhece o direito de Israel à existência — também saudou o desenvolvimento,
chamando-o de "um passo importante no caminho para estabelecer o nosso
direito à nossa terra" e instando mais países a seguirem o exemplo.
·
'Grande fracasso da diplomacia dos EUA'
"É claro que
reconhecer o Estado palestino é um grande passo — é significativo", disse
à Sputnik Mehmet Rakipoglu, professor assistente da Universidade Mardin
Artuklu, na Turquia.
Rakipoglu acredita que
os três países têm estado politicamente fora da órbita dos EUA e de Israel há
algum tempo, com alguns, como a Irlanda, a partilhar uma simpatia especial
pelos palestinos, com base na sua própria experiência de sofrimento nas mãos do
imperialismo britânico.
"Portanto é claro
que isso é um grande fracasso da diplomacia dos EUA", cravou o observador.
"Esse é um
fracasso normal da diplomacia israelense, não [apenas] nesses países, mas
também a nível internacional", disse à Sputnik Ayman Yousef, professor de
ciência política e relações internacionais na Universidade Árabe-Americana, na
Palestina.
"Terá implicações
muito boas para outros países da União Europeia reconhecerem a Palestina. Vemos
mudanças drásticas nas prioridades da política externa desses países. Esperamos
que países como Bélgica, Malta, Eslovênia e até Grécia e Portugal reconheçam
também a Palestina", ponderou Yousef.
·
Israel não tem ninguém para culpar além de
si
Israel é o único país
culpado pela mudança da opinião mundial contra ele, mesmo entre os seus amigos
tradicionais no Ocidente, sublinhou o observador, apontando para a brutalidade
das operações israelenses em Gaza, que já mataram ou mutilaram mais de 5% da
população da Faixa de Gaza antes da guerra.
"Israel destruiu
quase tudo: hospitais, mesquitas, igrejas e universidades, escolas e todas as
fundações civis de Gaza. Penso que o nível e a magnitude dessa destruição
levaram esses países a mudarem as suas políticas na direção certa. E acho que
muitos países da União Europeia começam a pensar que a estabilidade e a
segurança no Oriente Médio não serão alcançadas […]. Será uma opção remota se
não reconhecerem a Palestina como um país independente e soberano", disse
Yousef.
"Israel está
falhando não só dentro da União Europeia, mas também nas Nações Unidas,
principalmente em convencer outros países. Mesmo nos EUA, há uma enorme
oposição às políticas adotadas pelos israelenses — as manifestações estudantis
em muitas universidades americanas são apenas um exemplo disso", arrematou
o observador à Sputnik.
Fonte: A Nova Democracia/Sputnik
Brasil
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