José Luiz Fiori: Povos escolhidos
Do ponto de vista
estritamente lógico, é impossível de imaginar um Deus que seja único e
absoluto, e que ao mesmo tempo faça escolhas de qualquer tipo que seja. Mas
esta ideia da monopolização unilateral da “vontade divina”, por alguns povos,
parece ser muito antiga e persistente, sobretudo entre os que professam
religiões monoteístas.
O exemplo mais
conhecido talvez seja o do povo hebreu, como aparece descrito num dos cinco
livros de Moises, o Êxodo: “Então Javé chamou a Moisés e lhe disse: agora, se
ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma
propriedade peculiar entre todos os povos, porque a terra é minha. Vós sereis
para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo, 19).
Mas esta mesma
convicção pode ser encontrada no Zoroastrismo, e na relação preferencial de
Ahura Mazda com o povo persa e com o Império Aquemênida, da Ciro, Dario e seus
descendentes; na relação de Alá, com os sucessivos impérios islâmicos, desde o
século VII d.C; ou na relação do Deus cristão com os povos europeus e seu
projeto de expansão e conversão do mundo, a partir do século XVI.
E esta mesma ideia
está por trás da certeza norte-americana a respeito do seu “destino manifesto”
a liderar a humanidade. Uma visão construída pelos seus “founding fathers”, e
que permanece viva até hoje, como se pode ler na epígrafe do presidente Harry Truman;
ou na ideia do presidente John Kennedy, de que “os EUA deviam seguir em frente
para liderar a terra… sabedores de que aqui na Terra a obra de Deus deve, em
verdade, ser obra nossa”; ou ainda, na certeza do presidente G. W. Bush, de que
“a nação americana foi escolhida por Deus e comissionada pela história para ser
um modelo para o mundo”.
Esta monopolização da
“verdade divina” pode ser absurda do ponto de vista lógico, mas de fato se
transformou numa “ideia-força” que cumpriu um papel decisivo através de toda a
história humana, tanto dos “povos escolhidos’, como dos “povos não escolhidos”
por Deus.
Sem esta imagem de si
mesmo, talvez o povo hebreu não tivesse conseguido resistir ao assédio dos
assírios, dos romanos e de tantos outros povos mais poderosos, superando seu
sentimento milenar de inferioridade e de cerco; os persas não tivessem
conquistado seu gigantesco império de oito milhões de quilômetros quadrados, na
África, Europa e Ásia, o Islã não tivesse se expandido de forma tão continua e
vitoriosa, a partir do século VII; e os europeus não tivessem conseguido impor
sua dominação colonial ao redor do mundo, a partir do século XVI.
Sempre movidos pela
mesma certeza ética que levou George Kennan a afirmar, olhando para a
destruição alemã, depois da Segunda Guerra Mundial, “que ele se tranquilizava
com o fato de que os EUA tivessem sido os escolhidos pelo Todo-Poderoso para
ser os agentes daquela destruição”.
Nesta história,
entretanto, é fundamental distinguir o papel decisivo das religiões na
construção das civilizações humanas, da sua monopolização e instrumentalização
pelos poderes territoriais e pelos grupos humanos que se autoproclamam
superiores e com o direito exclusivo a impor os seus valores aos demais que
forem sendo submetidos, convertidos ou exterminadas pelo avanço e pela
“tranquilidade ética” dos “povos escolhidos”.
Esta visão unilateral
e monopolista da “escolha divina” sempre esteve – e segue estando – por trás de
todos os fundamentalismos religiosos responsáveis pela demonização, pela
desqualificação, pela humilhação, e pela exclusão de todos os que pensam diferente.
Uma radicalização que parece se repetir através da história, em todos os
grandes momentos de ruptura e ”perda de horizonte” por parte da humanidade,
como está acontecendo de novo, neste início do século XXI.
Depois do fim da
Guerra Fria, e em particular nesta terceira década do século XXI, os EUA estão
vivendo um momento sem precedente de fragmentação do seu establishment, do seu
sistema político e da sua sociedade mobilizada por um fundamentalismo religioso
cada vez mais agressivo e excludente. E o mesmo está acontecendo na Europa,
onde o esvaziamento ideológico do projeto de unificação abriu portas para um
aumento contínuo da intolerância dentro do seu próprio território e dentro de
toda sua antiga zona de dominação colonial, em particular no Grande Oriente
Médio.
Um panorama regional
que se agrava ainda mais com o distanciamento recente entre EUA e Israel, dois
povos que se consideram “escolhidos” e que compartilham a mesma genealogia
divina. Mas esta fragmentação e esta radicalização não se restringem mais a estes
pontos estratégicos da geopolítica mundial, e tem avançado mesmo em sociedades
que pareciam imunes a este tipo de fundamentalismo e que agora aparecem
divididas pela intolerância e pela proposta explicita de negação do diálogo e
da convivência, e de exclusão – muitas vezes – da própria pessoa física dos
adversários.
Como é o caso mais
recente da sociedade brasileira, que até hoje se considerava “cordial”, e
apenas “abençoada por Deus”. Frente a esta situação que tende a se agravar em
todo mundo só cabe resistir à intolerância com a tolerância, à irracionalidade
com a razão, ao fanatismo com a tranquilidade dos que sabem que não existem os
“escolhidos” nem existem pessoas superiores aos demais. Junto com a defesa
intransigente, no plano internacional, de que chegou a hora de enterrar de uma
vez por todas, na relação entre as nações, a fantasia arrogante e absurda dos
“povos escolhidos” por Deus.
Ø
Forças de segurança turcas detêm suspeitos
de preparar ataque terrorista do Estado Islâmico
Dois suspeitos de
orquestrar um ataque terrorista em nome do grupo terrorista "Estado
Islâmico" (EI, proibido na Federação Russa), foram presos na Turquia, de
acordo com o jornal Hürriyet.
A reportagem afirma
que as forças de segurança localizaram os suspeitos em um apartamento no
distrito de Pendik. Durante a busca, foram encontrados uniformes, colete e boné
de policial, walkie-talkie, coldre de arma e faca, além de materiais
eletrônicos com "instruções".
"As equipes
realizaram uma batida na casa onde se escondiam 'Abu İsmail', identificado como
o principal responsável pelo estágio avançado do plano de ataque, com o
codinome Tacikistan Fazıljon A. (37 anos) e sua ajudante, de origem quirguiz,
Zulfııa S. (41 anos)", diz o texto jornalístico.
Ainda segundo a
matéria, eles foram interrogados na Diretoria de Combate ao Terrorismo de
Istambul e levados ao tribunal. Fazıljon teve prisão decretada e a mulher,
Zulfııa, foi deportada do país.
Na semana passada, o
ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, relatou a detenção de quase duzentos
suspeitos de envolvimento no grupo terrorista Estado Islâmico. O ministro
informou anteriormente que de 1 de junho de 2023 a 25 de março foram detidos mais
de 2,9 mil suspeitos de colaborar com o ISIS, dos quais quase 700 foram
detidos.
O jornal Hurriyet,
citando fontes, informou ainda que Ancara investigou dados sobre os terroristas
que atacaram o Crocus City Hall, perto de Moscou, que visitaram a Turquia. Os
dados foram repassados para as autoridades russas competentes, segundo a o jornal
turco.
Ø
Alemanha não está preparada para ameaças à
segurança cibernética, diz alta funcionária do país
O Escritório Federal
de Segurança da Informação alemão afirmou a necessidade de maior coordenação
entre diferentes autoridades alemãs para responder a ataques contra a
infraestrutura crítica nacional.
A Alemanha não está
pronta para combater as ameaças à segurança cibernética no momento, disse no
domingo (31) a chefe do Escritório Federal de Segurança da Informação (BSI, na
sigla em alemão) do país europeu.
Para evitar ataques
cibernéticos em infraestruturas críticas, as autoridades precisam "agir
desde o primeiro segundo" e ter uma visão geral da situação, falou Claudia
Plattner em uma entrevista ao jornal alemão Der Tagesspiegel.
"Se necessário,
devem ser criadas equipes de crise e as capacidades do governo federal e das
autoridades estaduais federais devem ser combinadas. Não estamos prontos para
tudo isso hoje. Essa coordenação ainda não foi elaborada", disse a chefe do
BSI.
As autoridades
competentes não devem ser forçadas a ligar umas para as outras muitas vezes
para descobrir o que aconteceu e em qual estado federal, criticou ela.
Em 1º de março,
Margarita Simonyan, editora-chefe do grupo midiático Rossiya Segodnya, que
engloba a Sputnik, divulgou a transcrição de uma conversa entre quatro oficiais
militares alemães que discutiam um possível ataque à Ponte da Crimeia russa com
mísseis de longo alcance Taurus.
A conversa, que
ocorreu em 19 de fevereiro, envolveu o brigadeiro-general Frank Grafe, chefe de
operações e exercícios do Comando da Força Aérea; Ingo Gerhartz, inspetor da
Força Aérea da Alemanha; e os oficiais Fenske e Frohstedte, do centro de
operações aéreas do Comando Espacial.
Olaf Scholz, chanceler
da Alemanha, prometeu uma investigação completa e imediata sobre a conversa
vazada.
Ø
Chefe da Rheinmetall insta Europa a
construir campeões da defesa: EUA 'não vão vir em nosso auxílio'
Para o líder da
Rheinmetall, os Estados da União Europeia (UE) precisam estimular a
consolidação de uma indústria militar pujante para rivalizar com grupos dos
EUA.
De acordo com o
Financial Times (FT), o chefe do maior empreiteiro militar da Alemanha, Armin
Papperger, instou os países europeus a abandonarem suas preferências nacionais
para construírem conglomerados de defesa mais especializados para competir com
os rivais dos EUA.
Em recente entrevista
ao FT, Armin Papperger disse que "não faz muito sentido se, digamos,
escolhermos a segunda ou terceira melhor tecnologia porque uma nação a
quer" por razões nacionalistas, uma discussão intensa em nível
governamental.
Os líderes da UE têm
se esforçado para reforçar a cooperação no domínio da defesa que foi frustrada
pela fragmentação da indústria. Para além disso, as empresas do setor competem
entre si, e as reservas orçamentárias são controladas individualmente já que
interessa aos governos manter o controle das cadeias de abastecimento
estratégicas, das fábricas, dos empregos e da vantagem tecnológica.
Segundo a apuração, a
cooperação transfronteiriça bem-sucedida MBDA — maior fabricante de mísseis da
Europa — da BAE Systems do Reino Unido e do grupo aeronáutico europeu Airbus é
um excelente exemplo para os Estados europeus. Cada um deles tem uma participação
de 37,5%, sendo o restante detido pela Leonardo da Itália.
A pressa da Europa em
ganhar velocidade na corrida armamentista estimulada pela Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em sua guerra por procuração na Ucrânia
contra a Rússia, tem estimulado o mercado e rentabilizado o setor para empresas
como a Rheinmetall, que também fabrica veículos de combate de infantaria,
drones de combate e a arma de cano liso instalada no tanque Leopard 2.
Desde o início da
operação militar especial, a empresa espera ter uma carteira de encomendas de
membros da OTAN e dos seus aliados no valor de € 60 bilhões (cerca de R$ 324,3
bilhões) até o final de 2024.
No ano passado, a
Rheinmetall concluiu a aquisição da sua rival espanhola Expal, por € 1,2 bilhão
(aproximadamente R$ 6,5 bilhões), o que consolidou a sua posição de liderança
na cadeia de fornecimento de munições. No dia 18 de março, concordou com a aquisição
da Reeq, um fabricante holandês de veículos terrestres não tripulados
utilizados em combate, por um montante não revelado.
A Alemanha tem estado
otimista em relação ao reaquecimento de sua indústria de defesa e encabeçado
uma iniciativa para reproduzir o sistema de defesa aérea de Israel, a Cúpula de
Ferro. Embora empreiteiros de defesa alemães tenham reclamado da falta de pedidos
concretos de Berlim, Papperger disse que a Rheinmetall conseguiu aumentar a
capacidade da empresa rapidamente graças a investimentos em novas linhas de
produção.
"Sempre pensei
que a vida é perigosa e que o mundo é perigoso", disse Papperger, que está
na Rheinmetall desde 1990. "É por isso que investimos cedo",
acrescentou, apontando para investimentos na Hungria, Austrália e Reino Unido,
lembrando que se Donald Trump se tornar presidente dos EUA, "a pressão
será maior" sobre a Alemanha, uma vez que "os EUA se concentram mais
na área da Ásia-Pacífico do que na Europa".
Nas últimas décadas,
os líderes europeus tinham como certo que os EUA viriam em socorro do
continente em caso de ameaça militar, mas "isso já não acontecerá",
concluiu Papperger.
Fonte: A Terra é
Redonda
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