As exigências de líder de gangue do Haiti
para permitir a formação de novo governo
Um dos líderes de
gangues mais poderosos do Haiti afirmou que consideraria abandonar as
armas se os as facções criminosas fossem convidadas a participar das
negociações para estabelecer um novo governo.
Grupos liderados
por Jimmy Chérizier, também
conhecido como Barbecue, controlam a maior parte da capital Porto Príncipe.
Segundo ele, a violência que tomou conta do Haiti nas últimas semanas poderá aumentar nos próximos dias.
No entanto, Chérizier
disse à rede de TV Sky News: “Estamos prontos para soluções”.
O Haiti, uma nação
caribenha empobrecida com mais de 11 milhões de pessoas, está sem
primeiro-ministro desde 12 de março.
O último a ocupar o
cargo, Ariel Henry, se demitiu depois de ter sido impedido por gangues armadas de
regressar do Quénia, onde tinha assinado um acordo para
“importar” uma força de segurança internacional em uma tentativa de restaurar a
lei e a ordem.
As gangues
capitalizaram o vazio de poder e passaram a controlar partes do país, que se
tornou efetivamente ilegal em alguns locais.
Foi criado um Conselho
Presidencial de Transição para elaborar um plano para devolver o Haiti ao
regime democrático, apoiado por outras nações caribenhas e pelos Estados
Unidos.
Chérizier – a figura
mais proeminente numa aliança de gangues conhecida como Viv Ansanm (Viva
Juntos), que controla cerca de 80% de Porto Príncipe – acredita que o seu grupo
deveria ter um lugar à mesa do governo.
Ele disse à Sky News:
“Se a comunidade internacional apresentar um plano detalhado onde possamos
sentar juntos e conversar, mas não nos impor o que devemos decidir, acho que
podemos baixar as armas”.
Ele disse que “não
estava orgulhoso” da espiral de violência no Haiti e alertou que a crise
poderia continuar se grupos como o seu – que criticam “políticos corruptos” –
não fizerem parte de um futuro governo.
Ele também disse que
qualquer agrupamento militar do Quênia convocado para reforçar a segurança no
Haiti será considerado “agressor” e “invasor”.
A situação no Haiti
foi descrita como “gravíssima” pela Organização das Nações Unidas (ONU) em um
relatório divulgado no início desta semana.
O documento diz 1.500
pessoas foram mortas e 800 ficaram feridas na onda de violência nos primeiros
três meses de 2024.
O relatório detalhou
as “práticas angustiantes” das gangues, que são acusadas de usar violência
extrema e abuso sexual como forma de punição e controle.
Grupos de ajuda
humanitária relataram dificuldades em levar alimentos e água para a capital,
alertando que milhões de pessoas não conseguem encontrar comida, estando
algumas à beira da fome.
·
Haiti: saiba o básico
- O país do Caribe faz fronteira com a República Dominicana e
tem uma população estimada em 11,5 milhões de pessoas;
- O país tem uma área de 27.800 km2, que é ligeiramente menor
que a Bélgica e aproximadamente do mesmo tamanho que o estado americano de
Maryland;
- A crônica instabilidade crônica, as ditaduras e os
desastres naturais nas últimas décadas fizeram do Haiti o país mais pobre
das Américas;
- Um terremoto em 2010 matou mais de 200 mil pessoas e causou
grandes danos à infraestrutura e à economia;
- Uma força de manutenção da paz da ONU, com o Brasil como
líder,foi criada em 2004 para ajudar a estabilizar o país e só se retirou
em 2017;
- Em julho de 2021, o então presidente Jovenel Moïse foi
assassinado por homens armados não identificados em Porto Príncipe. Em
meio a um impasse político, o país continua a ser assolado por distúrbios
e violência de gangues
Ø
Eleição de Bassirou Diomaye Faye pode levar
a 'nova independência' do Senegal em relação à França?
Em entrevista ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que o presidente eleito
traz esperanças de um Senegal não subalterno à França e ao neocolonialismo.
No último dia 24,
Bassirou Diomaye Faye foi eleito presidente do Senegal, após derrotar o
candidato governista Amadou Ba, encerrando um conturbado processo eleitoral
marcado pela dissolução do governo e o adiamento do pleito, determinado pelo
atual presidente, Macky Sall, cujo mandato encerra em 2 de abril.
Em entrevista ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas traçam um perfil do
presidente eleito e analisam os motivos que levaram Macky Sall a tentar se
aferroar ao poder.
Para Mamadou All
Diallo, mestre em ciência política e doutor em estudos estratégicos
internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a
eleição de Diomaye Faye "significa a consolidação da democracia
senegalesa" e um basta no sistema que vem se perpetuando no poder no país
desde 1960.
"Acho que tem um
significado muito grande, tanto do ponto de vista histórico quanto do ponto de
vista político. Politicamente, o último governo sempre tentou impedir que
houvesse qualquer possibilidade de oposição e fez de tudo [para isso], mas o povo
ficou em pé, ficou acordado, ficou acompanhando e lutou, e deu no que
deu."
Diallo ressalta que,
durante o período de campanha, a população andava pelas ruas carregando
vassouras, em um ato que simbolizava que pretendiam varrer do país todo o
sistema corrupto e "deixar a casa bem limpa". Ele acrescenta que a
gestão de Sall tentou impedir a candidatura de Diallo, determinando sua prisão
por conta de uma postagem nas redes sociais na qual criticava o sistema
judiciário senegalês.
"Aqui [no
Brasil], a gente tem um negócio chamado audiência de custódia; no Senegal nem
tem isso, você é preso, você vai direto para a cadeia. Enfim, acho que o
Senegal nunca passou por um período tão difícil desde a independência, onde
todos os candidatos da oposição experimentaram o que seria uma prisão, todos
eles", explica o cientista político.
De acordo com o
especialista, Faye só conseguiu sair da prisão a tempo de continuar com sua
candidatura porque o golpe de Estado que Sall tentava implementar desde 2019
ficou insustentável. Dessa forma, ele decidiu apostar em deixar um sucessor,
consolidado na candidatura de Amadou Ba.
"Acho que a
última gota que ele [Macky Sall] fez, o último erro que ele fez, foi tentar
postergar as eleições, porque aí, a partir da postergação das eleições, mesmo
as pessoas que estavam com ele, mesmo os magistrados, a sociedade inteira
percebeu que havia realmente um perigo para a democracia senegalesa."
·
Papel da juventude senegalesa
Questionado sobre como
a participação dos jovens nas eleições influenciou o resultado do pleito,
Diallo afirma que o comparecimento dos jovens às urnas foi preponderante, assim
como a participação das mulheres.
"No Senegal, o
voto não é obrigatório. Então quem acompanhava os vários locais de votação diz
que as filas de mulheres, a quantidade de mulheres era impressionante",
explica Diallo.
Ele argumenta que a
participação feminina é uma reação à repressão do governo Sall aos jovens.
"Quem fica com os
problemas são as mulheres, são os filhos delas, são os maridos delas, são os
parentes delas [que são presos]. Então são elas que ficam encarregadas da
família. São elas que ficam tristes, que ficam chorando. [...] Então a votação
das mulheres e dos jovens com certeza foi fundamental. Mas eu acho que essa
eleição teve uma participação gigantesca. A taxa de participação acho que foi
bem expressiva."
·
Quem é Bassirou Diomaye Faye?
Diallo afirma que o
presidente eleito Bassirou Diomaye Faye é um jovem humilde, intelectual e
trabalhador que entrou para a política há pouco tempo.
"Ele não é alguém
político, que se politizou há muito tempo, mas um jovem, de 44 anos,
pan-africanista, [...] militante pela transparência, pela justiça, porque os
vídeos dele mais antigos, que mostram um pouco do ponto de vista político dele,
mostram a defesa que ele faz a populações que eram vítimas do sistema. Porque
pegavam as terras das pessoas do interior, vendiam ou privatizavam, sem o aval
das sociedades locais. E ele [Faye] pega essa causa, porque ele é da área de
direito", explica Diallo.
"Então eu acho
que é uma pessoa muito humilde, uma pessoa pé no chão, eu acredito até que
nessa eleição não é o Diomaye Faye que importa, é o projeto, o programa [de
governo], a ideia que se vendeu à população. É isso que importa, muito menos a
pessoa de Diomaye Faye", acrescenta.
·
O que esperar do governo Diomaye Faye?
Rafaela Serpa,
professora de relações internacionais, geopolítica e defesa da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutoranda em ciência política na mesma
instituição e pesquisadora assistente do Centro Brasileiro de Estudos Africanos
(Cebrafrica), destaca dois pontos das eleições presidenciais no Senegal.
Primeiro, ela aponta
que o pleito "mostrou a força da cultura política democrática dentro do país".
"Eu acho que essa
politização da sociedade conseguiu barrar esse autoritarismo que estava
crescendo e conseguiram, através do voto, eleger o seu candidato", explica
a especialista.
Em segundo lugar, ela
aponta que as eleições refletem a esperança que está relacionada à busca por
novas estratégias para o Estado.
"Uma nova postura
do Senegal internamente, mas ligada às questões sociais do povo e não
necessariamente a uma ideia de dependência ou, como ele mesmo fala,
subalterização do país a questões internacionais. Então, acho que são esses
dois sentimentos importantes que representam essa eleição. A manutenção da
democracia exatamente pela população, pelo povo, mas também essa população
buscando uma alternativa diferente para como eles pensam o seu país dentro da
política interna como [também] externa."
Questionada se a
eleição de Diomaye Faye sinaliza que o Senegal se livrou de vez da França, sua
antiga metrópole, Rafaela se mostra cética. Ela sublinha que a questão da
França "é algo muito presente, de certa forma incrustada na própria elite
senegalesa".
"O Senegal sempre
foi uma colônia muito importante para a França. O Senegal podia inclusive
eleger representantes para a Assembleia Francesa, mesmo quando ainda era
colônia. Então o Senegal sempre foi, de certa forma, uma vitrine e um exemplo
dessa nova estrutura de relação que a França criou depois da colonização, que a
gente chama de neocolonialismo", explica Serpa.
"Isso está
relacionado a dependências econômicas, está relacionado à própria questão do
franco ser oficializado como moeda, que é uma outra coisa que é até pauta
atual, mas, enfim, há todas essas questões. Mas principalmente porque essa
elite que está no poder dentro do Senegal, ela teve esses vínculos com a França
desde esse período. Ela sempre esteve ligada [à França], tanto relacionado a
estudar na França, ou sempre estiveram presentes, por exemplo, conselheiros
desses políticos que são ex-políticos franceses, no caso do Sall, foi foi
assim. Max Sall tinha um conselheiro que era um francês, um ex-político
francês", complementa.
Ela afirma que acabar
com a dependência da França é um projeto ambicioso, mas resslta que se colocar
contra um Senagal subalterno à França é justamente a principal agenda de
Diomaye Faye e seus aliados.
"Eles falam de
buscar uma nova independência de fato do Senegal. Mas, agora, até que ponto
eles vão ter força para implantar todas essas ideias que eles defenderam na
campanha a gente não sabe. Porque, como eu falei, é muito consolidada essa
relação [com a França]."
A especialista
acrescenta que outra questão a ser abordada na gestão de Diomaye Faye é a dos
contratos firmados com a França para exploração de petróleo e gás natural, que
ela afirma serem muito desiguais quanto à divisão dos lucros.
"Ele [Diomaye
Faye] defende uma mudança nos contratos relacionados a petróleo e gás natural,
que são contratos que são muito desiguais e que muitos são ainda também
oriundos dessa questão neocolonial", conclui a especialista.
Ø
Somália aprova emendas constitucionais que
ampliam os poderes presidenciais
O Parlamento Federal
da Somália aprovou neste sábado (30) emendas na Constituição do país, que na
prática ampliam significativamente os poderes do presidente, relatou o portal
somali Garowe.
"As emendas
concedem ao presidente o direito de nomear e destituir o primeiro-ministro,
centralizando mais poder na administração presidencial", afirma o
comunicado.
Além disso, as emendas
incluem um texto para a realização de eleições presidenciais diretas, mas ainda
não foi determinado o seu calendário.
Outra emenda é a
prorrogação do mandato dos líderes federais de quatro para cinco anos.
A Constituição passa a
permitir apenas três partidos políticos, o que, segundo o meio de comunicação,
gerou críticas e resistência no país.
Fonte: BBC News Mundo/Sputnik
Brasil
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