segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Oitivas de envolvidos nos atos de 8 de janeiro aceleram investigações

Investigadores da Polícia Federal apontam que as apurações sobre a tentativa de golpe de Estado deram um passo decisivo na última semana. Na quinta-feira passada, de maneira simultânea, foram ouvidos o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto. O ex-presidente Jair Bolsonaro decidiu ficar em silêncio, o que, de acordo com autoridades ligadas às diligências, complica ainda mais a situação do capitão reformado do Exército. Nos próximos meses, a corporação se concentra em alinhar os pontos para fechar o organograma do esquema.

Na avaliação de investigadores ouvidos pelo Correio, já há provas suficientes para confirmar a existência de uma organização criminosa criada para atacar as instituições. O foco seria manter o ex-presidente no poder mesmo após ele perder as eleições. Argumentos de que o sistema eletrônico de votação foi fraudado e de que autoridades da Justiça Eleitoral agiram para beneficiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seriam usados para embasar uma série de decretos ilegais que tentariam invalidar as eleições.

A falta de articulação, o receio com reações internacionais e dúvidas sobre o embarque das Forças Armadas em um golpe, fizeram com que a tentativa de tomada de poder não ocorresse em dezembro de 2022. No entanto, culminaram nos atentados de 8 de janeiro, que, de acordo com a investigação — em andamento na PF e no Supremo Tribunal Federal (STF) —, contaram com núcleo político, financiadores e executores. Os ataques representaram o maior risco democrático da República dos últimos 40 anos — desde o fim do regime militar.

As investigações começaram horas após os atentados. Um ano depois, os executores e financiadores estão sendo julgados e condenados pelo Supremo. No entanto, falta fechar o modus operandi e a participação de agentes políticos, que atuaram como figuras centrais para tentar cooptar militares e incitar atentados perpetuados por meio de apoiadores mais radicais. Junto ao núcleo político, estão militares de alta patente, que estavam dentro e fora do governo, e atuavam para operacionalizar a tentativa de derrubada da democracia.

•        Oitivas

Dias antes da coleta dos depoimentos, Anderson Torres e Valdemar Costa Neto, em conversa com seus advogados, decidiram falar. Enquanto Jair Bolsonaro manteve o silêncio. Nas declarações de Torres e de Costa Neto, especialmente do ex-ministro, estão informações que confirmam linhas de investigação que já estavam sendo seguidas e implicam Bolsonaro diretamente. O receio do ex-ministro é de que, caso ele não colabore, seja afetado por eventuais declarações por parte de integrantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e seja responsabilizado.

Surgiram rumores de que Torres poderia fechar um acordo de delação sobre o caso. Contudo, a reportagem apurou que essa alternativa está descartada neste momento pela defesa. A ideia é afirmar que o ex-ministro não tinha conhecimento dos riscos do 8 de janeiro e fez tudo o que estava ao seu alcance, naquele momento, com as informações que tinha, para permitir articulação das forças de segurança para proteger a capital.

No entanto, a decisão é de não proteger Jair Bolsonaro e deixar claro qual foi a participação do ex-presidente. A avaliação dos demais investigados é que existe um ponto de não retorno nas investigações, em que se reconhece que a situação jurídica do ex-presidente está ainda mais complicada, principalmente após a apreensão de um decreto de golpe, na área onde Bolsonaro despachava na sede do PL, em Brasília.

Assim que concluir o inquérito, a Polícia Federal enviará as informações ao Supremo. Também é necessário posicionamento da Procuradoria-Geral da República (PGR). As diligências correm com o objetivo de "amarrar" todos os pontos da trama golpista, juntando provas, depoimentos, oitivas com testemunhas, acusados e coleta de dados que esclarecem os envolvimentos dos integrantes das organizações criminosas. As penas dos participantes dos atos golpistas aplicadas pelo Supremo, até agora, são consideradas rigorosas, muitas chegando a 17 anos de prisão.

No caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, existe o agravante de que ele seria o principal beneficiado, caso o golpe desse certo. Dessa forma, ele permaneceria no poder. Os investigadores avaliam que ainda não se pode dizer que ele orquestrou todo o esquema ou chefiava as estratégias. No entanto, já evidenciam que ele seria beneficiário direto e manteve contato intenso com os demais, mesmo quando estava fora do Brasil.

 

       Motorista que invadiu área do Alvorada estava bêbado e errou caminho para casa

 

O motorista suspeito de invadir a área de sergurança do Palácio do Alvorada estava bêbado e errou o caminho para casa, segundo informaram fontes da Polícia Federal ao Correio. O homem mora em um dos condomínios do Setor de Hotéis e Turismo Norte, às margens do Lago Paranoá, e foi preso em casa por agentes da corporação.

O incidente ocorreu na manhã deste sábado (24/2) e a PF foi acionada e abiur inquérito para investigar o que foi tratado inicialmente como uma tentativa de invasão, já que o condutor não atendeu às ordens de parada, nem mesmo após ter os pneus do carro atingidas pela equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e do Exército que faziam a segurança do perímetro.

As diligências iniciaram logo após um carro, modelo Ford Focus, acelerar e invadir as proximidades do Palácio. O motorista, de acordo com informações obtidas pelo Correio, começou a empreender velocidade na altura do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, e conseguiu romper a barreira de segurança que impede a aproximação de pessoas não-autorizadas.

O veículo avançou até a guarita do Alvorada e foi atingido por disparos feitos pelos seguranças que estavam no local. Mesmo com os pneus perfurados, o motorista conseguiu sair do local e fugir. Imagens do veículo mostram um dos pneus completamente destruído.

•        Janja e Lula estavam no Alvorada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja Lula, estavam no Palácio da Alvorada quando houve a tentativa de invasão da residência oficial da Presidência da República. Depois do tumulto, a movimentação voltou ao normal no Palácio.

>>>> Confira a íntegra da nota da Polícia Federal sobre a prisão:

A Polícia Federal identificou neste sábado, 24/2, um homem suspeito da tentativa de invasão ao Palácio da Alvorada.

O indivíduo foi localizado em um condomínio nas proximidades do Alvorada. Neste momento ele está prestando esclarecimentos na Superintendência de Polícia Federal no Distrito Federal.

O veículo que teria sido usado na tentativa de invasão foi apreendido. A PF realiza perícias no automóvel e no local da ocorrência. As investigações seguem em curso.

 

       ‘Pinóquio do século’: ministro de Lula ironiza data de julgamento que pode cassar Moro

 

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, ironizou a data do julgamento que pode cassar e tornar inelegível por oito anos o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Operação Lava Jato. Após a nomeação do advogado José Rodrigo Sade para a vaga remanescente no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o órgão marcou a primeira sessão do julgamento de Moro para o dia 1.º de abril.

A data é conhecida no Brasil como o “Dia da Mentira” e Teixeira se referiu ao senador como “Pinóquio do século” no X (ex-Twitter). “Com tantas mentiras que contou na Lava Jato, Sergio Moro acabou sendo homenageado com o julgamento para sua cassação no dia 1º de abril!”, completou o ministro em sua publicação.

Moro é alvo de duas ações protocoladas pelo PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, e pela federação de partidos composta por PT, PV e PCdoB. A cassação e o decreto de inelegibilidade de Moro foram pedidos pelo Ministério Público sob argumentação de que houve abuso de poder econômico durante a campanha eleitoral de 2022. O senador nega as irregularidades.

O ex-juiz é acusado de ter causado um desequilíbrio eleitoral nas eleições para senador, quando foi eleito com 1,9 milhões de votos (33,5% dos votos válidos). Os requerentes argumentam que essa irregularidade teria acontecido desde o lançamento da sua pré-candidatura à Presidência da República, no final de 2021, que foi descartada posteriormente.

O Ministério Público considerou investimentos feitos pelo Podemos, partido que filiou Moro quando ele entrou na vida política e se lançou pré-candidato à Presidência da República. Em maio de 2022, o ex-juiz se filiou ao União Brasil após ver a diminuição das suas chances de vitória na corrida presidencial e candidatou-se oficialmente ao Senado. Os gastos na pré-campanha alcançaram a marca de R$ 2 milhões.

O parecer do MPE, de 79 páginas, é assinado pelos procuradores eleitorais Marcelo Godoy e Eloísa Helena Machado. Eles sustentam que os gastos na pré-campanha de Moro excederam o limite razoável. O parecer lista despesas com viagens, coletivas de imprensa, assessoria de comunicação, serviços de advocacia e locação de veículos, entre outros. O documento afirma também que o uso “excessivo” de recursos comprometeu a “lisura” e a “legitimidade” da eleição.

A Procuradoria Regional do Paraná se manifestou a favor da cassação, “a fim de que se reconheça a prática de abuso do poder econômico”.

Entre os trâmites das acusações, Moro foi ouvido pelo TRE no dia 7 de dezembro. Na ocasião, negou irregularidades nos gastos de campanha, se recusou a responder às perguntas formuladas pelas partes e deu explicações apenas aos questionamentos do juiz do caso. O MPE não fez perguntas.

A tramitação do caso, no entanto, foi paralisada porque no dia 23 de janeiro o mandato do juiz titular Thiago Paiva acabou, deixando aberta uma cadeira no TRE. De acordo com o Código Eleitoral, casos que envolvem a cassação de parlamentares só podem ser apreciados com o quórum de juízes completo. Com a oficialização de Sade, o julgamento pode ser retomado.

 

Fonte: Correio Braziliense/FolhaPress

 

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