Por que apesar de ter 3ª maior reserva de
Terras Raras, Brasil importa quase 100% do que utiliza?
O Brasil é lar da
terceira maior reserva de um grupo de metais essenciais para o desenvolvimento
de novas tecnologias e indústrias: as Terras Raras. À Sputnik Brasil, no
entanto, especialistas explicam os desafios técnicos e econômicos que fazem com
que o país seja um importador desses minérios.
Descobertos há cerca
de 230 anos nos países nórdicos, os Elementos de Terras Raras (ETR) são um
grupo de 17 elementos químicos, 15 da família dos lantanídeos (cujos números
atômicos vão do 57 ao 71), e outros dois, o escândio e ítrio.
Seus usos, afirma
André Luís Pimenta de Faria, coordenador do Instituto SENAI de Inovação em
Processamento Mineral, estão ligados diretamente às tecnologias de transição
energética, como na construção de motores elétricos e na produção de energia
eólica.
Essas, no entanto, não
são as únicas aplicações das ETR, como na indústria petrolífera, médica,
nuclear e Defesa, o que faz desses elementos extremamente estratégicos para uma
nação.
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Por que as Terras Raras são raras?
Na verdade, as Terras
Raras não são nem terras e nem raras. "Terra" se refere a uma
designação utilizada antigamente para se referir ao que veio se chamar de
óxidos. Hoje em dia, o termo "terra" se refere apenas aos elementos
alcalinos terrosos, dos quais nenhum ETR faz parte.
Por sua vez, esses
elementos tampouco são raros, sendo mais presentes na crosta terrestre do que
outros metais mais conhecidos, como o cobalto, níquel e chumbo. Os ETR menos
abundantes, túlio (0,5 ppm) e lutécio (0,8 ppm), ainda sim são mais comuns do
que a prata (0,07 ppm) e o bismuto (0,008 ppm).
Para Maria José
Mesquita, professora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), apontar essa abundância na crosta "não reflete nenhuma
prova de exploração econômica". Isso porque o termo ainda pode se referir
aos traços incomuns de suas características físico-químicas e ao fato de que
possuem uma exploração econômica ainda bastante restrita.
·
Onde estão as Terras Raras?
No mundo, apenas
alguns países possuem reservas consideráveis de Terras Raras. A China não só
conta com as maiores – com 55 milhões de toneladas –, como também é o maior
produtor e consumidor desses metais. Já o Brasil e a Rússia ocupam a terceira
posição em termos de reservas, com 21 milhões de toneladas cada. Em segundo
lugar está o Vietnã, com reservas não muito maiores que as nossas, 22 milhões
de toneladas.
Os Estados Unidos, por
sua vez, possuem também boas reservas – cerca de 13 milhões de toneladas–, mas
com uma produção significativamente maior que a brasileira.
No Brasil, os
depósitos de terras raras se encontram em diversos estados, como em Minas
Gerais, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas, no entanto, os
maiores "projetos de extração de ETR em fase de viabilização" se
encontram em MG e GO, afirma Mesquita.
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Por que a produção no Brasil é tão pequena?
Apesar de amplas
reservas, muitas das terras raras brasileiras estão em áreas de difícil
prospecto. Historicamente, a exploração dos ETR se deram em jazidas de
monazitas. No passado, o Brasil já foi um grande produtor e exportador de
terras raras. Em primeiro lugar, na época imperial, apenas exportando o óxido
para o exterior e, em seguida, em meados do século XX, quando obteve também a
capacidade de processar os elementos.
O país, no entanto,
retrocedeu na questão perdendo até mesmo conhecimento técnico de como processar
esses elementos, com muita da tecnologia sendo vendida aos chineses.
Hoje, as dificuldades
inerentes de se trabalhar com esses elementos não conseguem ser superadas pela
falta de políticas de Estado, que foram "desmanteladas desde o governo
Collor e, nos governos Temer e Bolsonaro, destruídas de novo", diz a pesquisadora
da Unicamp.
Por exemplo, devido às
suas propriedades físico-químicas semelhantes, na natureza os ETR são
encontrados associados uns aos outros em diferentes misturas, dificultando o
trabalho de processar e vender apenas um elemento.
Isso faz com que eles
tenham de passar por etapas de beneficiamentos (concentração) e separação, as
quais o Brasil apesar de ter conhecimento técnico, não possui capacidade
industrial para realizar em larga escala, o que ao mesmo tempo que baratearia o
processo, demandaria investimentos.
A conquista da
autossuficiência
Segundo Faria, seria
difícil competir com a China no cenário internacional dos ETR. Não só o país
tem maiores reservas, como também possui domínio de toda cadeia produtiva,
"começando pela extração, passando pela separação, produção de ímãs e por
fim a produção de carros elétricos", apontou Mesquita.
Hoje o Brasil já conta
com algumas instituições capazes de trabalhar com esses minérios, desde
laboratórios universitários aos Centro de Tecnologia Mineral, Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares e Serviço Geológico Brasileiro.
Destacadamente, há o
LabFabITR, o primeiro laboratório-fábrica de ímãs de Terras Raras do hemisfério
Sul.
"O laboratório de
ímãs terras raras está exatamente entre a extração e a aplicação final. Ou
seja, faz a transformação da matéria-prima, em um produto aplicável."
Esses artigos, explica
Faria, têm amplas utilizações na indústria, desde motores, ressonâncias
magnéticas, aceleradores de partículas a ímãs de encaixe e desencaixe de tampas
e sustentação de facas de cozinha.
Contudo, aponta o
pesquisador do SENAI, as matérias-primas de ETR para a produção desses produtos
acabam sendo importadas. "O Brasil importa praticamente 100%, se não 100%
do que a gente usa, principalmente se pensar em produção final", afirmou.
"Só a redução da importação já geraria um impacto positivo bastante grande
na nossa economia, principalmente também se o Brasil formar uma referência aí
na exportação."
"A principal
conquista é conseguirmos comprovar que é possível produzir ímã com material
nacional, com material brasileiro e, em um futuro próximo, demonstrarmos que é
possível ser independente ou que é possível atender, no mínimo, o mercado
nacional."
Ø
China pretende investir U$ 3,5 bilhões em
mineração nos estados de Minas Gerais e Bahia
Projetos estão em fase
de licenciamento e confirmam um novo olhar do país asiático para parcerias
comerciais, ao buscar transição para uma economia de baixo carbono.
Brasil e China têm
renovado e aprofundado seus laços, algo que ficou bastante visível através de
dados comerciais divulgados nas últimas semanas, quando foi apontado que Pequim
teve participação recorde na exportação do agronegócio brasileiro em 2023.
Não só na exportação
de grãos, o comércio entre os dois países deve acelerar agora também no setor
da mineração, uma vez que só nas regiões norte de Minas Gerais e sul da Bahia
são esperados aportes de pelo menos US$ 3,5 bilhões (R$ 17,4 bilhões) de
empresas chinesas.
De 2007 a 2022, os
chineses investiram US$ 4,4 bilhões (R$ 21,8 bilhões) no setor de mineração,
montante que, segundo Gustavo Biscassi, diretor do Conselho Empresarial
Brasil-China (CEBC), representou 6,2% do total de aportes da China nesse
período, mesmo percentual recebido pela indústria manufatureira.
Já é de conhecimento o
interesse no lítio brasileiro, no entanto, outro metal vem despontando no
entusiasmo de empresas chinesas – o nióbio, relata a mídia.
A chinesa BYD
investirá R$ 3 bilhões na instalação de três fábricas na Bahia, que incluirá
ainda uma unidade de processamento de fosfato de lítio e de ferro para o
mercado internacional. Além do minério de ferro, principal ingrediente do aço,
do qual a China é o maior produtor global, o níquel e o cobre também têm hoje
amplo mercado chinês.
"São dois metais
essenciais para diversas tecnologias que dão suporte à transição para uma
economia de baixo carbono. As baterias de alto desempenho têm teor crescente de
níquel, e as indústrias de turbinas eólicas e painéis solares, essenciais para
a descarbonização da produção de energia elétrica, requerem quantidades
significativas de cobre", afirmou Biscassi ao jornal.
A movimentação aponta
para uma nova forma de negociação chinesa, mostrando que Pequim, nos últimos
anos, concentrou os seus investimentos na América Latina e no Caribe em setores
mais estratégicos e deixou de lado os dispendiosos projetos de infraestruturas
com os quais havia se comprometido no passado, conforme análise publicada nesta
terça-feira (23).
De acordo com o
relatório, o investimento chinês em setores estratégicos na América Latina pode
ser um problema para os Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, não só
as tratativas chinesas com o Brasil incomodam, as russas também. No ano
passado, o setor de petróleo russo forneceu ao Brasil um carregamento recorde
do combustível, tornando-se o terceiro maior exportador para o país
sul-americano.
O aprofundamento das
relações comerciais entre as nações marca uma nova etapa para os países do Sul
Global em sua busca por soberania e autonomia.
·
Enorme reserva ultraprofunda de gás de
xisto é descoberta na China
A empresa de petróleo
China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec) anunciou nesta semana a
descoberta de uma nova reserva de gás de xisto na bacia de Sichuan, uma região
no sudoeste da China conhecida pelas abundantes reservas desse hidrocarboneto.
O campo, chamado de
Hexingchang, está localizado entre as cidades de Deyang e Mianyang. Ainda de
acordo com a gigante estatal, o governo chinês certificou recentemente 133
bilhões de metros cúbicos de reservas geológicas comprovadas de gás natural em
sua operação na bacia de Sichuan. Esse é o primeiro campo considerado
ultraprofundo dessa magnitude descoberto no país.
A nova reserva,
certificada pelo Ministério de Recursos Naturais, representa o surgimento de
mais um campo considerável de gás de formação compacta, enquanto a empresa de
petróleo e gás intensifica a perfuração em reservatórios profundos e de difícil
extração, conforme comunicado.
Ao todo, foram
perfurados 21 novos poços de exploração no campo, a uma profundidade entre 4,5
quilômetros e 5,5 quilômetros.
Cada um desses poços
tem proporcionado uma média de 155 mil metros cúbicos de produção diária,
destacou a empresa.
O gás de xisto é um
gás natural encontrado no interior de um tipo poroso de rocha sedimentar
denominado xisto argiloso, com formação compacta.
Fonte: Sputnik Brasil
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