sábado, 27 de janeiro de 2024

Por que apesar de ter 3ª maior reserva de Terras Raras, Brasil importa quase 100% do que utiliza?

O Brasil é lar da terceira maior reserva de um grupo de metais essenciais para o desenvolvimento de novas tecnologias e indústrias: as Terras Raras. À Sputnik Brasil, no entanto, especialistas explicam os desafios técnicos e econômicos que fazem com que o país seja um importador desses minérios.

Descobertos há cerca de 230 anos nos países nórdicos, os Elementos de Terras Raras (ETR) são um grupo de 17 elementos químicos, 15 da família dos lantanídeos (cujos números atômicos vão do 57 ao 71), e outros dois, o escândio e ítrio.

Seus usos, afirma André Luís Pimenta de Faria, coordenador do Instituto SENAI de Inovação em Processamento Mineral, estão ligados diretamente às tecnologias de transição energética, como na construção de motores elétricos e na produção de energia eólica.

Essas, no entanto, não são as únicas aplicações das ETR, como na indústria petrolífera, médica, nuclear e Defesa, o que faz desses elementos extremamente estratégicos para uma nação.

·        Por que as Terras Raras são raras?

Na verdade, as Terras Raras não são nem terras e nem raras. "Terra" se refere a uma designação utilizada antigamente para se referir ao que veio se chamar de óxidos. Hoje em dia, o termo "terra" se refere apenas aos elementos alcalinos terrosos, dos quais nenhum ETR faz parte.

Por sua vez, esses elementos tampouco são raros, sendo mais presentes na crosta terrestre do que outros metais mais conhecidos, como o cobalto, níquel e chumbo. Os ETR menos abundantes, túlio (0,5 ppm) e lutécio (0,8 ppm), ainda sim são mais comuns do que a prata (0,07 ppm) e o bismuto (0,008 ppm).

Para Maria José Mesquita, professora do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apontar essa abundância na crosta "não reflete nenhuma prova de exploração econômica". Isso porque o termo ainda pode se referir aos traços incomuns de suas características físico-químicas e ao fato de que possuem uma exploração econômica ainda bastante restrita.

·        Onde estão as Terras Raras?

No mundo, apenas alguns países possuem reservas consideráveis de Terras Raras. A China não só conta com as maiores – com 55 milhões de toneladas –, como também é o maior produtor e consumidor desses metais. Já o Brasil e a Rússia ocupam a terceira posição em termos de reservas, com 21 milhões de toneladas cada. Em segundo lugar está o Vietnã, com reservas não muito maiores que as nossas, 22 milhões de toneladas.

Os Estados Unidos, por sua vez, possuem também boas reservas – cerca de 13 milhões de toneladas–, mas com uma produção significativamente maior que a brasileira.

No Brasil, os depósitos de terras raras se encontram em diversos estados, como em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Amazonas, no entanto, os maiores "projetos de extração de ETR em fase de viabilização" se encontram em MG e GO, afirma Mesquita.

·        Por que a produção no Brasil é tão pequena?

Apesar de amplas reservas, muitas das terras raras brasileiras estão em áreas de difícil prospecto. Historicamente, a exploração dos ETR se deram em jazidas de monazitas. No passado, o Brasil já foi um grande produtor e exportador de terras raras. Em primeiro lugar, na época imperial, apenas exportando o óxido para o exterior e, em seguida, em meados do século XX, quando obteve também a capacidade de processar os elementos.

O país, no entanto, retrocedeu na questão perdendo até mesmo conhecimento técnico de como processar esses elementos, com muita da tecnologia sendo vendida aos chineses.

Hoje, as dificuldades inerentes de se trabalhar com esses elementos não conseguem ser superadas pela falta de políticas de Estado, que foram "desmanteladas desde o governo Collor e, nos governos Temer e Bolsonaro, destruídas de novo", diz a pesquisadora da Unicamp.

Por exemplo, devido às suas propriedades físico-químicas semelhantes, na natureza os ETR são encontrados associados uns aos outros em diferentes misturas, dificultando o trabalho de processar e vender apenas um elemento.

Isso faz com que eles tenham de passar por etapas de beneficiamentos (concentração) e separação, as quais o Brasil apesar de ter conhecimento técnico, não possui capacidade industrial para realizar em larga escala, o que ao mesmo tempo que baratearia o processo, demandaria investimentos.

A conquista da autossuficiência

Segundo Faria, seria difícil competir com a China no cenário internacional dos ETR. Não só o país tem maiores reservas, como também possui domínio de toda cadeia produtiva, "começando pela extração, passando pela separação, produção de ímãs e por fim a produção de carros elétricos", apontou Mesquita.

Hoje o Brasil já conta com algumas instituições capazes de trabalhar com esses minérios, desde laboratórios universitários aos Centro de Tecnologia Mineral, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e Serviço Geológico Brasileiro.

Destacadamente, há o LabFabITR, o primeiro laboratório-fábrica de ímãs de Terras Raras do hemisfério Sul.

"O laboratório de ímãs terras raras está exatamente entre a extração e a aplicação final. Ou seja, faz a transformação da matéria-prima, em um produto aplicável."

Esses artigos, explica Faria, têm amplas utilizações na indústria, desde motores, ressonâncias magnéticas, aceleradores de partículas a ímãs de encaixe e desencaixe de tampas e sustentação de facas de cozinha.

Contudo, aponta o pesquisador do SENAI, as matérias-primas de ETR para a produção desses produtos acabam sendo importadas. "O Brasil importa praticamente 100%, se não 100% do que a gente usa, principalmente se pensar em produção final", afirmou. "Só a redução da importação já geraria um impacto positivo bastante grande na nossa economia, principalmente também se o Brasil formar uma referência aí na exportação."

"A principal conquista é conseguirmos comprovar que é possível produzir ímã com material nacional, com material brasileiro e, em um futuro próximo, demonstrarmos que é possível ser independente ou que é possível atender, no mínimo, o mercado nacional."

 

Ø  China pretende investir U$ 3,5 bilhões em mineração nos estados de Minas Gerais e Bahia

 

Projetos estão em fase de licenciamento e confirmam um novo olhar do país asiático para parcerias comerciais, ao buscar transição para uma economia de baixo carbono.

Brasil e China têm renovado e aprofundado seus laços, algo que ficou bastante visível através de dados comerciais divulgados nas últimas semanas, quando foi apontado que Pequim teve participação recorde na exportação do agronegócio brasileiro em 2023.

Não só na exportação de grãos, o comércio entre os dois países deve acelerar agora também no setor da mineração, uma vez que só nas regiões norte de Minas Gerais e sul da Bahia são esperados aportes de pelo menos US$ 3,5 bilhões (R$ 17,4 bilhões) de empresas chinesas.

De 2007 a 2022, os chineses investiram US$ 4,4 bilhões (R$ 21,8 bilhões) no setor de mineração, montante que, segundo Gustavo Biscassi, diretor do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), representou 6,2% do total de aportes da China nesse período, mesmo percentual recebido pela indústria manufatureira.

Já é de conhecimento o interesse no lítio brasileiro, no entanto, outro metal vem despontando no entusiasmo de empresas chinesas – o nióbio, relata a mídia.

A chinesa BYD investirá R$ 3 bilhões na instalação de três fábricas na Bahia, que incluirá ainda uma unidade de processamento de fosfato de lítio e de ferro para o mercado internacional. Além do minério de ferro, principal ingrediente do aço, do qual a China é o maior produtor global, o níquel e o cobre também têm hoje amplo mercado chinês.

"São dois metais essenciais para diversas tecnologias que dão suporte à transição para uma economia de baixo carbono. As baterias de alto desempenho têm teor crescente de níquel, e as indústrias de turbinas eólicas e painéis solares, essenciais para a descarbonização da produção de energia elétrica, requerem quantidades significativas de cobre", afirmou Biscassi ao jornal.

A movimentação aponta para uma nova forma de negociação chinesa, mostrando que Pequim, nos últimos anos, concentrou os seus investimentos na América Latina e no Caribe em setores mais estratégicos e deixou de lado os dispendiosos projetos de infraestruturas com os quais havia se comprometido no passado, conforme análise publicada nesta terça-feira (23).

De acordo com o relatório, o investimento chinês em setores estratégicos na América Latina pode ser um problema para os Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, não só as tratativas chinesas com o Brasil incomodam, as russas também. No ano passado, o setor de petróleo russo forneceu ao Brasil um carregamento recorde do combustível, tornando-se o terceiro maior exportador para o país sul-americano.

O aprofundamento das relações comerciais entre as nações marca uma nova etapa para os países do Sul Global em sua busca por soberania e autonomia.

·        Enorme reserva ultraprofunda de gás de xisto é descoberta na China

A empresa de petróleo China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec) anunciou nesta semana a descoberta de uma nova reserva de gás de xisto na bacia de Sichuan, uma região no sudoeste da China conhecida pelas abundantes reservas desse hidrocarboneto.

O campo, chamado de Hexingchang, está localizado entre as cidades de Deyang e Mianyang. Ainda de acordo com a gigante estatal, o governo chinês certificou recentemente 133 bilhões de metros cúbicos de reservas geológicas comprovadas de gás natural em sua operação na bacia de Sichuan. Esse é o primeiro campo considerado ultraprofundo dessa magnitude descoberto no país.

A nova reserva, certificada pelo Ministério de Recursos Naturais, representa o surgimento de mais um campo considerável de gás de formação compacta, enquanto a empresa de petróleo e gás intensifica a perfuração em reservatórios profundos e de difícil extração, conforme comunicado.

Ao todo, foram perfurados 21 novos poços de exploração no campo, a uma profundidade entre 4,5 quilômetros e 5,5 quilômetros.

Cada um desses poços tem proporcionado uma média de 155 mil metros cúbicos de produção diária, destacou a empresa.

O gás de xisto é um gás natural encontrado no interior de um tipo poroso de rocha sedimentar denominado xisto argiloso, com formação compacta.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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