Acordo Paraguai-Brasil sobre Itaipu deve
ser com líderes, Congresso arruinaria negociação
No acordo vigente,
Assunção só pode comercializar excedente de energia com o Brasil, o que, na
visão do especialista entrevistado pela Sputnik, não ajuda o país a se
desenvolver. Ao mesmo tempo, é importante que a discussão fique na presidência
e não se encaminhe para o Congresso, destacou o analista.
Na segunda-feira (15),
o presidente do Paraguai, Santiago Peña, chegou a Brasília para se reunir com
presidente Luiz Inácio Lula da Silva a fim de buscar um acordo em torno da
tarifa cobrada pela energia da usina hidrelétrica Itaipu Binacional.
Apesar de os dois
líderes terem boas relações e estarem abertos para encontrar uma solução, mesmo
após quatro horas de reunião, não foi possível chegar a um acordo, conforme
noticiado.
O analista Mario Paz
Castaing destaca que as negociações "são fundamentais para o
desenvolvimento econômico do Paraguai" e valorizou a predisposição dos
líderes para resolverem a questão visto que os dois têm falado sobre o assunto
"com uma regularidade que não é normal", ressaltou Castaing.
"Peña começou a
se reunir com Lula antes de assumir a presidência e nos quatro meses de mandato
já tiveram duas ou três reuniões", destacou Castaing, em entrevista à
Sputnik.
Mas a divergência
entre Assunção e Brasília se dá no valor pago pelo governo do Paraguai pelo
kilowatt. Fixado atualmente em US$ 16,71 (R$ 83,33) por kilowatt-mês, o governo
paraguaio defende um aumento de 24%, que passaria para US$ 20,75 (R$ 103,48).
Já o Brasil defende a redução ou manutenção do valor atual.
"Para o Paraguai,
seria importante um acordo que lhe desse disponibilidade gratuita e não o
obrigasse a transferir energia não utilizada exclusivamente para o
Brasil", analisou Castaing.
De fato, o atual
acordo estabelece que se o país vizinho não utilizar sua parcela da energia
elétrica gerada pela barragem, deverá cedê-la ao Brasil. A cláusula não permite
que Assunção comercialize esse excedente com outros países ou o utilize em
projetos futuros.
O analista considerou
que seria importante que o governo paraguaio pudesse comercializar esse
excedente no mercado brasileiro, e não o transferir da forma que está prevista
no acordo.
Castaing destacou que
o Brasil é "o mercado mais fácil que o Paraguai pode ter" para essa
energia, mas defendeu a necessidade de a venda ser feita a "um preço que
possa ser competitivo no mercado brasileiro, em que concorrem empresas privadas
e públicas […] certamente em melhores condições comparativas do que aquelas que
Itaipu pode oferecer".
Para o entrevistado,
se não conseguirmos vender essa energia a preços convenientes, é importante que
o Paraguai possa "utilizar essa energia para fortalecer o sistema elétrico
nacional a fim de que os investimentos venham de forma definitiva e gerem
fontes de desenvolvimento permanente".
"É importante que
Assunção possa usar sua energia para gerar desenvolvimento. Itaipu sempre foi
importante para o país, embora alguns digam que deveriam ter sido obtidos
maiores benefícios. Há um antes e um depois de Itaipu na história do Paraguai."
Castaing também
afirmou que a barragem é "muito mais importante para o Paraguai do que
para o Brasil", visto que o gigante sul-americano tem muito mais barragens
deste tipo. Por isso, destacou a importância de Peña chegar a um acordo com
Lula que não precise passar pelo Congresso brasileiro, onde a falta de maior
apoio de parlamentares aliados ao governo "poderia arruinar qualquer
iniciativa nesse sentido".
Por fim, o especialista
sublinhou que Itaipu também pode ajudar o Mercosul a caminhar em direção a
"um modelo de integração energética" que garanta energia para a
região e, assim, favoreça a concretização de projetos de desenvolvimento.
Apesar de ainda não
terem chegado a uma conclusão sobre as tarifas, segundo Peña, a conversa entre
os dois países foi "sincera, aberta e com uma visão construtiva".
Uma nova rodada de
discussões está prevista para acontecer e, de acordo com Presidência da
República do Brasil, desta vez o encontro será em Assunção.
Ø
Rússia quer parceria com Brasil para
desenvolvimento sustentável no Ártico
A região do Ártico
deixou de ser um "deserto gelado" para se transformar em uma zona
"quente" da disputa geopolítica entre grandes potências. Saiba como o
Brasil e o BRICS querem contribuir para aliviar as tensões e desenvolver a economia
da região.
Neste início de ano, a
Noruega aprovou leis para se tornar o primeiro país do mundo a aprovar a
mineração comercial do seu fundo marinho. A decisão, criticada por
ambientalistas, poderá ter consequências graves para a vida marinha da região
do Ártico.
Aprovada com 80 votos
a favor e 20 contra no parlamento norueguês, a nova regulamentação permitirá a
exploração de minerais como cobalto, cobre e zinco, em alta demanda no mercado
mundial.
A exploração mineral
norueguesa demonstra a entrada da região do Ártico na agenda internacional. Com
o aumento da presença militar dos EUA e a retomada do desenvolvimento russo na
região, o "deserto de gelo" se torna cada vez mais uma região "quente"
econômica e politicamente.
Nesta quinta-feira
(18), especialistas do Clube de Discussão Valdai se reuniram em Moscou para
debater a conclusão da presidência russa do Conselho do Ártico, principal
organização internacional da região.
"Os últimos anos
mostraram que a Rússia deve cooperar com parceiros internacionais a partir da
posição de principal potência ártica do mundo", disse a decana da
Faculdade de Economia Mundial e Política Internacional da Escola Superior de
Economia, Anastasia Likhacheva. "Antes tínhamos uma posição mais contida,
insistindo na paridade entre todos os atores da região e na consolidação de
interesses comuns."
No entanto, a posição
geográfica e experiência russa no Ártico garante ao país o protagonismo natural
na região e a possibilidade de liderar projetos como o da Rota Marítima do
Norte, também conhecida como "Rota da Seda Polar".
"A Rússia e a
plataforma continental russa contêm a maior parte dos recursos naturais do
Ártico, temos a maioria da população da região e a maior parte da sua linha
costeira", notou Likhacheva. "Por outro lado, a Rússia ártica é
região na qual as mudanças climáticas estão acontecendo de forma mais
acelerada, e por isso funcionará como um laboratório para o resto do
mundo."
A Rússia também detém
a maior frota de navios quebra-gelo da região, com 41 unidades, incluindo sete
movidas a propulsão nuclear. Já os EUA possuem somente duas unidades, ambas
operadas pela sua Guarda Costeira.
"Quando lemos nos
jornais que algum país está desenvolvendo sua frota de quebra-gelos, (...)
ficamos com a impressão de que há alguma concorrência nessa área. Mas esse não
é o caso: o planejamento estratégico da Rússia em relação à sua região ártica é
mais profundo e não se compara aos demais países da região", disse
Likhacheva.
Apesar da sua
importância, o Conselho do Ártico – integrado por Rússia, EUA, Canadá,
Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia – não trata de assuntos
geopolíticos e militares, se restringindo a uma agenda positiva centrada em
temas como pesquisa, mudanças climáticas e diálogo entre populações nativas.
"Mas o fato é que
o Ártico se tornou uma zona de forte concorrência internacional", alertou
Likhacheva. "Especialistas do mundo inteiro concordam que os 30 anos de
olhar pacífico para o Ártico acabaram."
·
Brasil no Ártico?
Durante a presidência
russa do Conselho do Ártico, nos turbulentos anos de 2022 e 2023, Moscou
apostou na relação com parceiros extrarregionais, principalmente China e Índia
– membros observadores do conselho.
No entanto, o Brasil
também tem interesse em participar dos debates sobre o desenvolvimento no
Ártico. Durante visita à cidade russa de Murmansk, o embaixador do Brasil em
Moscou, Rodrigo Baena Soares, reafirmou a pretensão brasileira de integrar o
Conselho do Ártico, reportou o The Arctic.
"O Brasil tem
interesse em fazer parte do Conselho do Ártico, tornando-se um país
observador", disse o embaixador Baena Soares. "Temos um interesse
especial no Ártico e em todas as oportunidades que aí existem."
Além dos ganhos
diplomáticos, o Brasil exporta equipamentos para a extração de petróleo e gás
em águas profundas para empresas em operação na região, atividade que deve
crescer nas próximas décadas.
A decana da Faculdade
de Economia Mundial e Política Internacional da Escola Superior de Economia,
que participou ativamente das atividades da presidência russa do Conselho do
Ártico, disse que a Rússia vê com bons olhos a pretensão brasileira.
"Nós trabalhamos
nisso durante a presidência russa do Conselho, inclusive promovemos eventos com
colegas brasileiros", disse Likhacheva à Sputnik Brasil. "Alguns
russos ficam impressionados com o interesse brasileiro na região, mas se
esquecem da experiência brasileira na Antártica."
A especialista aposta
na construção de uma "agenda polar" conjunta, que garanta a troca de
experiências e recursos para o desenvolvimento econômico sustentável das duas
regiões mais frias do planeta.
"A Rússia tem
interesse em trabalhar com o Brasil e todos os parceiros internacionais que
acreditam na importância de um desenvolvimento sustentável dessas regiões, e
não em transformá-las em um grande museu de gelo", concluiu Likhacheva.
BRICS para quebrar o
gelo
Após a possível
entrada da Suécia na OTAN, sete dos oito países do Conselho do Ártico farão
parte desta aliança militar hostil à Rússia. Nesse sentido, a participação de
países do BRICS no fórum poderia reduzir as tensões e construir pontes entre o
bloco ocidental e Moscou, acredita o professor da Universidade do Sudeste da
Noruega Glenn Diesen.
"O BRICS pode ser
uma instituição que facilite o diálogo entre as partes e alivie as tensões com
o Ocidente, conforme o mundo se tona multipolar", disse Diesen durante o
encontro do Clube Valdai. "Isso também traria vantagem ao BRICS, que aumentaria
o seu papel no mundo."
Enquanto a Rússia e o
Ocidente "estiverem envolvidos nessa guerra por procuração em que estão
agora", será necessário engajar outras instituições internacionais no
Ártico, acredita Diesen.
"Conforme os EUA
aumentam sua presença militar na região e a diplomacia é colocada de lado, a
Rússia buscará novos parceiros no Ártico [...] e uma solução euroasiática para
a região", notou o especialista norueguês.
Por outro lado, os
países ocidentais podem apresentar resistência ao engajamento de países do
BRICS nos assuntos do Ártico.
"Quanto mais
países integrarem a agenda do Ártico, menor a influência dos países do
Ocidente", disse Diesen à Sputnik Brasil. "Por outro lado, a
diversificação aumenta os incentivos para que os recursos econômicos da região
não sejam usados como armas, mas sim como meios de cooperação pacífica."
A China e a Índia
foram admitidas como países observadores do Conselho do Ártico em 2013, junto
com demais países asiáticos como Cingapura, Japão e Coreia do Sul.
O Brasil estuda a
ascensão ao grupo desde a década de 2010. Em agosto de 2022, a Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar recomendou oficialmente à Presidência
da República que redobrasse o acompanhamento das atividades do Conselho do
Ártico.
Ø
Bolívia assina contrato com empresa chinesa
para extração de lítio em Salar de Uyuni
A estatal pública
boliviana Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) anunciou que fechou mais um
contrato de extração de lítio com o consórcio chinês CBC. A mina funcionará no
Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo.
Firmado entre o país e
o consórcio, que tem entre seus participantes a gigante chinesa CATL,
especializada na fabricação de baterias de lítio para veículos elétricos e
sistemas de armazenamento de energia, o contrato prevê a exploração de 2.500
toneladas de carbonato de lítio por um ano.
O investimento chinês
será feito em duas etapas, na primeira será construída uma planta piloto de
extração direta de lítio na província de Potosí, sudoeste boliviano, onde está
o deserto, no valor de US$ 90 milhões (R$ 444,20 milhões).
Na segunda etapa
"serão realizados estudos complementares caso os testes funcionem para
serem capaz de escalar até um estágio industrial", disse a presidente da
YLB, Karla Calderón.
"São passos que
estamos dando com um objetivo muito claro, porque não vamos desistir da
industrialização do nosso lítio até produzirmos baterias. Todas as empresas que
queiram vir para o nosso país têm que vir com o objetivo de se industrializarem",
disse o presidente da Bolívia, Luis Arce.
É estimado que o Salar
de Uyuni possua entre 50% a 70% das reservas de lítio de todo o mundo. O
elemento é de extrema importância nas tecnologias energéticas que vem se
apresentando como alternativas aos combustíveis fósseis.
Em dezembro do ano
passado, a YLB já havia firmado um acordo ainda maior com a estatal russa
Uranium One Group, subsidiária da Rosatom, Nele estão previstas a exploração de
15 mil toneladas e um investimento de US$ 450 milhões (R$ 2,22 bilhões)
Fonte: Sputnik Brasil
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