Legião Internacional: mercenários estrangeiros se dizem desencantados
com o conflito na Ucrânia
Enquanto outro mercenário estrangeiro morre na
Ucrânia, a Sputnik analisa o infeliz destino dos "soldados da
fortuna" que lutam ao lado de Kiev.
O mercenário estoniano Tanel Kriggul, que tinha o
indicativo de chamada Stinger (Ferrão), teria sido morto na semana passada por
um ataque de drone na região de Donetsk. Ele se tornou o segundo estoniano a
morrer longe de casa lutando pela causa de Kiev.
Entre 24 e 29 de setembro, os militares russos
conduziram nove ataques com armas de precisão de longo alcance e drones contra
depósitos de munições ucranianos, locais de treinamento, instalações militares
e um centro de controle da Legião Estrangeira, também conhecida como
Internacional, uma unidade mercenária estrangeira criada a pedido do presidente
ucraniano Vladimir Zelensky em 27 de fevereiro de 2022.
"A Ucrânia está aproveitando todas as
oportunidades para fortalecer suas Forças Armadas, incluindo os
mercenários", disse Leonid Reshetnikov, um tenente-general aposentado do
Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (SVR, na sigla em russo), à
Sputnik.
"Essas forças têm sido usadas ativamente desde
o início da operação. Portanto, alguns dos grupos de mercenários mais bem
coordenados são formados em unidades separadas, para que não lutem como parte
de algumas unidades puramente ucranianas, mas tenham as suas próprias unidades
de coordenação de combate, usando sua experiência anterior", continuou
ele.
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Quantos mercenários estrangeiros lutam na Legião
Internacional?
A Legião Estrangeira da Ucrânia, também conhecida
como Legião Internacional e Legião Internacional de Defesa Territorial da
Ucrânia, afirma reunir cerca de 20.000 indivíduos estrangeiros com experiência
e conhecimento militar.
No início de março de 2022, Zelensky alegou que
16.000 mercenários estrangeiros contratados iriam se juntar aos militares
ucranianos no campo de batalha. O governo de Kiev também abriu um website para
combatentes estrangeiros que esperam "ajudar a Ucrânia". O Ministério
da Defesa russo informou na altura que a inteligência militar dos EUA tinha
iniciado uma campanha massiva para recrutar empreiteiros militares privados
(PMC, na sigla em inglês) para Kiev.
No entanto, um ano depois, um grande jornal dos EUA
publicou os resultados da sua investigação sobre o "movimento
voluntário" estrangeiro na Ucrânia, revelando que a Legião Internacional
da Ucrânia tem de fato apenas 1.500 membros, muito longe dos números
inicialmente anunciados. O que se descobriu também é que muitos estrangeiros
carecem de experiência e conhecimentos militares.
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Quanto ganham os mercenários?
De acordo com a mídia alemã, os recrutas da Legião
Internacional da Ucrânia recebem cerca de € 500 (R$ 2.659,79) por mês; aqueles
que lutam na linha de frente supostamente recebem um salário de € 3.000 (R$
15.960,35) por mês.
"Uma vez que a Ucrânia é financiada pelo
Ocidente coletivo, principalmente pelos Estados Unidos da América e outros
países europeus, não é um problema particular financiar a legião. Bilhões de
dólares são alocados para apoio militar à Ucrânia. Portanto, a Legião
Internacional também recebe tudo isso. Ou seja, vem do fundo geral que Kiev
recebe do Ocidente", explicou Reshetnikov.
Ainda assim, houve relatos de que mercenários
estrangeiros tiveram de comprar armas e equipamentos a preços elevados, uma vez
que Kiev não lhes forneceu essas necessidades.
"Dê-nos algumas armas, por favor",
escreveu James Vasquez, 47, um veterano militar dos EUA, no X (anteriormente
Twitter) em abril de 2022. "Não ganharemos com 'armas lixo'. Precisamos de
M16, M4, ACOGs [um tipo de mira telescópica], pontos vermelhos, munições e
dardos", afirmou. Segundo ele, se não for possível enviar armas boas, a
aliança militar "pode muito bem enviar os sacos de corpos".
Ex-mercenários da legião também reclamaram da
corrupção nas fileiras militares ucranianas e de problemas com o pagamento de
salários. A imprensa dos EUA citou problemas com a angariação de fundos para
armar "voluntários" e combatentes ucranianos, desperdício de dinheiro
e carregamentos misteriosamente desaparecidos.
Um número significativo de soldados estrangeiros
veio para a Ucrânia para ganhar mais dinheiro, mas há também um componente
ideológico, segundo Reshetnikov.
"Via de regra, [eles são] aqueles que
compartilham certas opiniões nazistas, nacional-socialistas ou, como dizemos,
fascistas, visões extremamente radicais", disse o veterano da inteligência
russa. "Se você perguntar e olhar, analisar as opiniões dos mercenários,
além do componente material, muitos têm opiniões próximas a eles — as opiniões
dos nacionalistas ucranianos. Muitos deles são russófobos, bem, criados no
espírito de sua propaganda americana, estoniana ou qualquer outra."
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Por que a Legião Estrangeira se mostrou ineficaz?
Ainda não houve relatos de que a Legião
Internacional da Ucrânia nem outras unidades mercenárias que lutam pelo governo
de Kiev, alguma vez, tenham alcançado quaisquer resultados substanciais no
campo de batalha. Em vez disso, a história do movimento mercenário estrangeiro
na Ucrânia tem estado atolada em controvérsias, escândalos e aparentes crimes.
Segundo um jornal dos EUA, um dos problemas era que
nenhum dos "voluntários" estrangeiros tinha sido devidamente
examinado. A mídia citou um oficial da legião dizendo que demorou cerca de dez
minutos para verificar os antecedentes de cada indivíduo. Como resultado,
pessoas com "passado problemático" e registros militares fabricados
inundaram as fileiras da legião.
Uma das posições de liderança na legião foi ocupada
por um cidadão polonês anteriormente condenado na Ucrânia por violações de
armas. Segundo a mídia, ele roubou munições, assediou mulheres e ameaçou
soldados. Outro, Ben Lackey, ex-combatente da legião, disse a seus companheiros
que era fuzileiro naval, apenas para mais tarde dizer que havia mentido. Craig
Lang, que de fato tinha experiência militar, juntou-se à Legião da Ucrânia
enquanto era acusado de duplo homicídio na Florida. Antes disso, Lang lutou ao
lado de extremistas proibidos na Rússia do Setor de Direita, no leste da
Ucrânia.
O Counter Extremism Project, um think tank baseado
em Washington, DC, concluiu em março que a legião e os grupos de combatentes
estrangeiros relacionados na Ucrânia "continuam a apresentar indivíduos
amplamente vistos como inadequados para desempenhar as suas funções".
Enquanto isso, Jordan Chadwick, um britânico de 31
anos que teria servido na Legião Estrangeira, teria sido encontrado morto no
território controlado pela Ucrânia, com as mãos amarradas nas costas.
Acredita-se que ele tenha sido morto por um colega combatente, na mesma linha
do mercenário britânico Daniel Burke, cujo corpo foi encontrado a 44
quilômetros da linha de frente.
Mesmo veteranos militares experientes dos EUA
revelaram-se incapazes de resolver as coisas. Segundo a imprensa, Malcolm
Nance, ex-veterano da Marinha, foi à Ucrânia em 2022 e tentou trazer ordem e
disciplina à legião. Infelizmente, ele ficou logo atolado "no caos" e
na "luta pelo poder" interna que engolfava a estrutura, admitiu o
jornal americano.
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Por que os mercenários deixam as fileiras da legião?
Apesar de estarem entusiasmados com o derramamento
de sangue russo no início do conflito na Ucrânia, muitos soldados estrangeiros
rapidamente fugiram do país, alegando falta de disciplina, problemas
logísticos, escassez de munições, moral baixo e combates altamente intensivos.
John McIntyre, um ex-soldado de primeira classe do
Exército dos EUA que teria sido expulso da Legião Estrangeira da Ucrânia por
"mau comportamento", disse à imprensa russa em fevereiro sobre seu
desencanto com a causa ucraniana e a forte influência nazista nas Forças
Armadas ucranianas. "Quando cheguei, fiquei realmente surpreso. Todo mundo
tinha tatuagens e simbolismo nazista", disse o combatente norte-americano.
McIntyre disse que as forças ucranianas cometeram
crimes de guerra, acrescentando que os combatentes ucranianos e estrangeiros
que levantaram a bandeira vermelha sobre os abusos foram tratados pior do que
os espiões. Alguns foram "baleados na nuca", segundo ele.
O veterano da Bundeswehr (Forças Armadas da
Alemanha), Jonas Kratzenberg, partilhou uma experiência semelhante com a
imprensa alemã em maio, descrevendo crimes de guerra cometidos pelos militares
ucranianos. Ele também citou "corrupção", falta de profissionalismo e
organização nas unidades ucranianas. Segundo ele, a liderança militar ucraniana
tratou mal a Legião Estrangeira.
"Muitos de nós éramos mal pagos ou nem sequer
pagos. Foi difícil para nós nos defendermos porque não sabíamos falar russo ou
ucraniano. No entanto, a minha unidade não foi exterminada. Após as primeiras
perdas, fomos principalmente enviados para áreas que eram menos perigosas. Mas
também vi imagens de um comandante que via os voluntários apenas como bucha de
canhão", disse Kratzenberg.
David Bramlette, um experiente ranger do Exército
dos EUA, descreveu os combates altamente intensivos na zona de conflito
ucraniana ao falar à imprensa dos EUA em julho: "O pior dia no Afeganistão
e no Iraque é um grande dia na Ucrânia."
Bramlette lamentou o fato de as unidades militares
que lutam ao lado de Kiev não estarem no controle da situação. Segundo ele, as
comunicações não são confiáveis, não há apoio aéreo nem apoio de artilharia,
enquanto a assistência em matéria de inteligência, vigilância e reconhecimento
é limitada.
Ao todo, desde o início da operação militar
especial, chegaram quase 12 mil mercenários de 84 países, segundo o Ministério
da Defesa russo. Destes, cerca de 5 mil foram mortos na zona de conflito e
outros fugiram da Ucrânia. Atualmente, existem cerca de 2.000 mercenários
estrangeiros que ainda lutam por Kiev.
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Outro lado da moeda
Além de todos os tipos de mercenários contratados e
bandidos estrangeiros, há soldados profissionais da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) que lutam na Ucrânia, segundo Reshetnikov.
"Alguns deles são profissionais disfarçados de
mercenários, que foram enviados [para a Ucrânia] como se estivessem 'de férias'
ou 'de licença'", destacou o veterano do SVR. "Bem, aparentemente, a
liderança militar ucraniana acredita que destacamentos individuais de
mercenários estão prontos para o combate o suficiente para constituir algum
tipo de força, então eles formam unidades separadas deles. Acho que também
existem outras unidades lá, menores, consistindo inteiramente de mercenários.
Mas, repito, o termo 'mercenário' é bastante condicional. Muitos deles são
enviados como militares profissionais sob o disfarce de mercenários, a pedido
do lado ucraniano", afirmou.
São basicamente indivíduos com experiência militar
e até com formação militar, segundo Reshetnikov.
Ainda assim, a contraofensiva em curso revelou-se
letal tanto para os militares ucranianos como para os mercenários estrangeiros.
Embora Zelensky tenha afirmado que as forças ucranianas vão continuar as suas
operações "ofensivas" durante o inverno (no Hemisfério Norte), o
consenso entre os observadores militares ocidentais é que o governo de Kiev vai
poder lutar apenas por mais um mês. Depois disso, as condições climáticas, os
estoques esgotados e a falta de mão de obra provavelmente reduzirão o "avanço"
ucraniano a nada.
Ø Kiev 'arrisca ficar sem apoio': Ucrânia recebe notícias ruins de 2
aliados da OTAN, revela revista
Dois aliados da Ucrânia na OTAN, os EUA e a
Eslováquia, podem reduzir a ajuda a Kiev, escreve a revista americana Newsweek.
"A Ucrânia recebeu notícias ruins dos Estados
Unidos e da Eslováquia, que ameaçam cortar a ajuda humanitária e militar que
Kiev recebe enquanto a guerra continua", indica o artigo.
A mídia observa que a OTAN se tornou o aliado mais
importante da Ucrânia após o início da operação militar especial. A aliança
forneceu dezenas de bilhões de dólares em assistência, no entanto, os
acontecimentos no último final de semana ameaçam Kiev com novos problemas
relativamente aos gastos com a defesa.
Em primeiro lugar, trata-se da assinatura pelo
presidente dos EUA Joe Biden de uma lei aprovada pelo Congresso sobre o
financiamento temporário do governo que não prevê atribuição de fundos para as
necessidades da Ucrânia.
"O presidente Joe Biden solicitou US$ 300
milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) para armas adicionais para a Ucrânia e para o
treinamento de seus soldados. Mas esses fundos não foram incluídos na lei, uma
vez que a ajuda para este país do Leste Europeu se tornou um ponto de discórdia
para os conservadores da Câmara dos Representantes, que argumentam que, em vez
disso, o dinheiro deve ser gasto no país", refere a matéria da revista.
Outro sinal perturbador para a Ucrânia foi a
vitória no domingo (1º), nas eleições na Eslováquia, do partido Smer, cujo
líder Robert Fico prometeu parar de prestar assistência militar à Ucrânia, se
limitando ao apoio humanitário, acrescenta a Newsweek.
A Rússia enviou uma nota aos países da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre o fornecimento de armas à Ucrânia. O
ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, observou que qualquer
carga que contenha armas para a Ucrânia se tornará um alvo legítimo para a
Rússia.
Ø Soldados ucranianos desenvolvem infecções resistentes a quase todos os
antibióticos, alerta jornal
Soldados feridos das Forças Armadas da Ucrânia
contraíram infecções que não podem ser tratadas com antibióticos, informa o
jornal britânico Financial Times.
"No início deste ano, em um hospital militar
dos EUA na Alemanha, os médicos, após terem examinado um soldado ucraniano
ferido, fizeram uma descoberta alarmante. A sua infecção era resistente a
praticamente todos os antibióticos disponíveis", aponta o artigo.
Os jornalistas observaram que desde o início do
conflito na Ucrânia tais casos se tornaram mais frequentes não só no próprio
país, mas também em outras partes da Europa, onde os ucranianos feridos foram
levados para tratamento.
O jornal indica que uma pessoa pode ter contraído a
infecção tanto em hospitais ucranianos como em locais de permanência de refugiados
ucranianos em outros países.
No início de maio, o tenente-general Igor Kirillov,
chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica das Forças Armadas
da Rússia, declarou em uma reunião sobre atividades biológico-militares dos EUA
que os documentos aos quais o Ministério da Defesa da Rússia teve acesso
confirmam a participação do Instituto das Forças Terrestres dos EUA no estudo
da resistência microbiana aos antibióticos. Segundo Kirillov, em quatro
hospitais militares ucranianos localizados em diferentes partes do país estavam
sendo estudados 813 microrganismos obtidos de 162 pacientes.
Fonte: Sputnik Brasil
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