Além de super-ricos, governo precisa taxar empresas de médicos e
advogados, defende Arminio Fraga
Enquanto parte da elite brasileira recebeu mal a
intenção do governo de ampliar impostos sobre os super ricos, o economista
Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, considera que as medidas
propostas até
o momento não são "nenhum absurdo" e
não vão provocar uma fuga de capitais do país.
Em entrevista à BBC News Brasil, Fraga diz que é
uma "vergonha" que ricos paguem menos impostos que pobres no Brasil –
algo que reflete uma estrutura tributária muito pesada sobre o consumo e leve
sobre rendas elevadas.
O governo enviou em agosto ao Congresso propostas
para taxar fundos exclusivos e investimentos fora do país – medidas que
afetarão, em especial, milionários.
Fundador da Gávea Investimentos, gestora que
administra bilhões de reais, ele diz que as mudanças são corretas, já que esses
fundos e recursos no exterior hoje são menos taxados que outros tipos de
aplicação.
"Apenas o que está se fazendo é corrigir as
alíquotas hiper baixas, que é bem diferente da introdução de alíquotas mais
altas, sobretudo se está em consideração uma comparação internacional",
afirmou.
Para Fraga, porém, há outras medidas necessárias
para corrigir a desigualdade do sistema tributário, como a revisão de regimes
especiais que permitem que empresas com faturamento elevado paguem poucos
impostos, recurso usado por profissionais liberais de alta renda para serem
menos taxados.
Aumentar os impostos sobre esse grupo não aparece
ainda na agenda do governo e enfrenta resistência no Congresso.
Em 2021, a Câmara aprovou a volta da taxação de
dividendos distribuídos por empresas a seus acionistas, mas isentou empresas do
Simples Nacional e do lucro presumido com faturamento anual de até R$ 4,8
milhões. Depois, a proposta empacou no Senado.
"Esse aspecto (dos regimes especiais de
tributação) afeta sobretudo aos profissionais liberais que têm sabido se
representar bem nessa questão. Estamos falando de advogados, médicos, todos
sempre muito influentes", critica.
"Acredito que em algum momento vai haver um
fator, eu diria, ético, que vai constranger esse ímpeto lobista e esse assunto
vai ser retificado. Seria natural que fosse num governo do PT", defende
ainda.
Na entrevista, falou também sobre seus
investimentos em reflorestamento com a empresa re.green. O setor aguarda o
Congresso aprovar a regulamentação do mercado de crédito de carbono – para
Fraga, é essencial que isso ocorra sem protecionismos.
"O que é fundamental é que esse mercado se
comunique com o mercado internacional, porque hoje empresa aqui no Brasil vende
seus créditos a uns US$ 20 a tonelada, e, na Europa, eles pagam US$ 100. Se
não, vamos estar subsidiando empresas para poluir", ressalta.
Confira a seguir os principais trechos da
entrevista.
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Pesquisas do Datafolha
mostram que o otimismo da população com a economia vem caindo ao longo do ano,
enquanto pesquisa recente da Quaest revela queda da aprovação ao ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, entre agentes do mercado financeiro. Como está a sua
avaliação?
Arminio Fraga - É
muito difícil avaliar pequenos ciclos. Houve uma grande mudança a partir das
eleições, o Brasil estava seguindo um caminho complicado em algumas áreas,
sobretudo no contexto internacional, meio ambiente, a qualidade da nossa
democracia, essas áreas estavam na berlinda e o Brasil sofreu. Eu penso que a
partir das eleições houve uma certa distensão, as coisas se acalmaram, a
despeito do 8 de janeiro, e começaram a andar.
No lado da economia, houve uma piora logo após as
eleições, quando o presidente eleito não se comprometeu muito com a
estabilidade macroeconômica, sobretudo com a questão fiscal. De lá pra cá, as
coisas melhoraram e o arcabouço fiscal demonstra isso até, embora, na minha
opinião, ele ainda seja insuficiente.
De fato, a área fiscal é um enorme desafio. De uns
tempos pra cá, começou a ficar claro que não seria fácil sequer cumprir com as
metas (para melhorar as contas públicas) que foram anunciadas, então isso
talvez explique um miniciclo de (piora do) humor.
Além disso, uma
excelente notícia foi o avançar da reforma tributária, eu me refiro aqui a reforma da criação do IVA, que será um grande
avanço quando aprovado.
De resto, os sinais que emanam do PT são um pouco
confusos. O que se vê ainda são posições divergentes dentro do partido,
referências complicadas no âmbito da Previdência.
Falou-se das regras trabalhistas sem muita
sutileza, (houve tentativa de) mexer no arcabouço jurídico do saneamento, que é
uma grande vergonha nacional e precisa de capital privado. O uso das estatais,
outra vez, referências a Petrobras, Eletrobras, e por aí vai.
Então, não é uma estratégia de desenvolvimento
arrumada. Muitos elementos que sugerem que lições importantes do passado foram
esquecidas, tanto boas quanto más.
·
A pesquisa Quaest mostra uma
desconfiança do mercado com a capacidade do governo de cumprir a promessa de
zerar o rombo nas contas públicas. Além disso, a piora da avaliação pode ser
uma reação à proposta de taxar os mais ricos, ou não seria uma conclusão
adequada?
Armínio Fraga - Não
muito. Primeiro, a ideia de zerar o déficit não é precisa, porque nós estamos
falando de zerar o déficit primário (que não considera receitas e despesas
financeiras do governo).
O déficit (nominal) vai continuar a correr solto
por um bom tempo, e isso significa que o cenário mais provável é de crescimento
da relação dívida/PIB. E, dado o tamanho da nossa dívida, o prêmio de risco que
o Brasil comanda, essa ao meu ver é uma estratégia arriscada, ela não tem margem
de segurança.
Quanto à tributação dos mais ricos, eu escrevi a
respeito, na coluna
publicada recentemente na Folha (de S.Paulo),
justamente pra dizer que o que está se propondo não é passar para um regime
fiscal ultra-progressivo — e talvez sim, nesse caso, assustasse a investidores,
sobretudo tendo em vista os riscos, em geral, que o Brasil ainda apresenta —,
mas sim eliminar o que eu considero como sendo subsídios (tributários).
Eu me referi a duas frentes (no artigo). A primeira
tem a ver com a taxação da renda do capital e a segunda com a taxação da renda
do trabalho.
No caso da renda do capital, existem mecanismos no
Brasil que permitem um diferimento em aberto dos ganhos (adiamento sem limite
do imposto) e, além disso, uma alíquota de imposto marginal baixa, bem menor
que a alíquota do Imposto de Renda, que tem alíquota máxima de 27,5%.
Dentro do capítulo ainda do capital, também chamou
atenção o tratamento de investimentos no exterior, e a proposta do governo
iguala (a tributação de) rendimentos tanto dentro do Brasil quanto fora. Não me
parece nenhum exagero, nenhum absurdo.
No que diz respeito à renda do trabalho, a coisa é
também complicada e merece ser revista. Eu refiro-me aos regimes especiais do
Imposto de Renda que permitem com que as pessoas façam as suas empresas
pessoais e paguem um imposto de renda muito baixo também, o que não faz o menor
sentido.
Então, essas regras também precisam ser revistas e,
em ambos os casos (na tributação da renda de investimentos e do trabalho), o
Brasil não é um país de alíquotas marginais altas.
Apenas o que está se fazendo é corrigir as
alíquotas hiper baixas, que é bem diferente da introdução de alíquotas mais
altas, sobretudo se está em consideração uma comparação internacional.
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No caso da renda do
trabalho, o senhor se refere a regimes especiais como o Simples Nacional e do
lucro presumido. Se por um lado vemos o governo buscando taxar os super-ricos,
esse outro tema não parece ainda estar na agenda.
Armínio Fraga - Não
está.
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Parece haver uma resistência
a mexer nesses regimes especiais, tanto no governo, como no Congresso. Por que
isso acontece?
Armínio Fraga - Esse
aspecto afeta sobretudo aos profissionais liberais que têm sabido se
representar bem nessa questão. Estamos falando de advogados, médicos, todos
sempre muito influentes. Mas, enfim, eu acredito que em algum momento vai haver
um fator, eu diria, ético, que vai constranger esse ímpeto lobista e esse assunto
vai ser retificado.
É muito absurdo isso, em algum momento vai ter que
acabar. Seria natural que fosse num governo do PT. No passado o PT, por alguma
razão que eu desconheço, hesitou em apresentar essa proposta com peso. Me dizem
que, por achar que ia ser difícil aprovar, resolveram não fazer.
Mas acho que teriam que ter feito. Hoje seria mais
fácil se essa briga tivesse sido comprada lá atrás, mesmo que pra perder, para
as pessoas começarem a pensar um pouco mais sobre o assunto e pra isso ficar
mais arejado pro grande público.
·
Críticos à proposta de taxar
os mais ricos dizem que haverá fuga de capitais. Por que não vê esse risco?
Armínio Fraga - É claro que algum impacto pode ter, mas acredito que isso não seria um
grande problema. O que define quais são esses prêmios que se paga pra reter a
poupança aqui tem mais a ver com outros grandes temas da nação.
Grandes incertezas macroeconômicas, às vezes
políticas, incertezas quanto às regras do jogo. Então, essa situação (fatores
que afetam decisões de investimentos) tem que fazer parte de um Brasil mais
próspero, mais previsível, mais justo.
Se essas coisas caminharem juntas, eu não vejo
razão alguma para temer fuga de capital. Mas, mesmo que não mude nada (nos
outros fatores que afetam os investimentos), sair de um baita subsídio para um
imposto razoável, até razoável pra baixo, para padrões internacionais, não
deveria também levar a uma fuga.
·
Há um senso comum no Brasil
de que os impostos são muito altos. Na verdade, os impostos são baixos para
alguns segmentos?
Armínio Fraga - Eu
diria que os 1% mais ricos pagam menos do que os 20% mais pobres. Por quê?
Porque os pobres praticamente não poupam e o consumo, a despeito (da
desoneração) de cestas básicas e tudo o mais, o consumo é taxado. E, aí quando
se faz a conta, a carga tributária tem essa situação invertida aqui no Brasil,
que é outra vergonha, vamos usar a palavra certa.
·
Onde mais o governo poderia
mexer para tornar a carga tributária mais equilibrada?
Armínio Fraga - Eu
acho que essas são as principais: fazer
uma faxina nos subsídios e descontos indevidos. Isso traria uma
carga maior no imposto de renda e menor no imposto sobre consumo. Muito poderia
ser feito também do lado do gasto. Em geral, quando o gasto é bem alocado,
tende a ser mais eficaz, ele cria menos distorções na economia.
Isso parece papo de economista, mas não é. É
importante. É uma área que não é muito bem entendida, mas dá pra traduzir para
um português mais direto: um sistema de saúde que se pretende universal,
gratuito, não pode funcionar com menos que 4% do PIB, não dá.
Se você olhar pra onde vai o gasto, o Brasil
precisa passar por um enorme redirecionamento. Os subsídios, que nós
discutimos, são uma parte grande, são aí uns 4% do PIB, pelo menos a metade
deveria desaparecer. Depois, quando se somam dois grandes blocos que são a
Previdência e a folha de pagamentos, sobretudo dos governos estaduais e
municipais, no Brasil isso chega a quase 80% do gasto. Isso é um número
totalmente fora da curva global, é um ponto que chama atenção.
Então, nesses dois blocos, num período, vamos
supor, de dez anos, deveria ser possível passar isso de 80%, pra 70%, talvez
60%, que é onde a maioria dos países está. E isso traria espaço para se
redirecionar os gastos de uma maneira socialmente mais justa.
·
O senhor falou sobre o gasto
alto com Previdência e pessoal, citando sobretudo Estados e municípios. No
entanto, sabemos que os maiores salários estão no funcionalismo federal e no
Judiciário, enquanto muitas categorias estaduais e municipais têm salário
baixos. Como cortar esse gasto?
Armínio Fraga – É um ponto muito importante. Eu penso que essa reforma do RH do Estado
tem que lidar com questões federativas bem complicadas, mas também com cada um
dos três Poderes. Em geral, a gente pensa só nos executivos federal, estaduais
e municipais, mas é preciso também, claro, olhar o Judiciário e o Legislativo
nos três níveis.
E existe muito absurdo. Tudo isso precisa passar
por um pente fino afiado nos próximos anos. O objetivo maior não é demitir
gente, acho que as regras são claras. A Constituição permite se, quando for
regulamentado, que alguns absurdos sejam coibidos. Inclusive, em algumas áreas
importantes do governo, eu acho que as lideranças são muito mal pagas, isso
dificulta a retenção dessas pessoas, e isso é um problema. A estrutura é muito
horizontal.
Então, tem muito a se fazer nessa área e isso
permitiria um redirecionamento do gasto também olhando algo que é bom tanto pro
ponto de vista de justiça social, quanto do crescimento.
À medida que se trabalhe na igualdade de
oportunidades aqui com boa saúde, boa educação e boa infraestrutura,
frequentemente públicas, nós vamos ter, no fundo, dois coelhos com uma só
cajadada, porque isso é pró-igualdade e pró-crescimento.
·
Qual sua opinião sobre a
volta da taxação de dividendos? O senhor foi contra no passado e mudou de
opinião?
Armínio Fraga - Assim, primeiro é importante notar que o capital do Brasil é taxado,
porque as empresas pagam, se não puderem apelar pros regimes especiais, pagam
na margem 34%, que é um número, eu diria, bastante relevante. Esse modelo, por
si só, me parecia razoável, desde que a taxação da renda do capital não fosse
tão cheia de furos. Então, pra mim, era um bom sistema (taxar apenas as
empresas, e não os dividendos). É simples.
Se nós olharmos pra um contexto global, aí o que se
tem é uma tendência à redução do imposto corporativo (o que incide sobre o
ganho das empresas) por razões de concorrência, uma corrida pra baixo das
alíquotas, os países ficam oferecendo vantagens, e aí isso exigiria sim que a
tributação dos dividendos (voltasse)...
Assim, em última instância, um desenho que jogue
para a declaração do Imposto de Renda Pessoa Física todas essas rendas
resolveria bem. Aí seria totalmente possível desenhar algo integrado, e eu
creio que isso vá acontecer em algum momento, mas não é certo que ocorra e nem
como.
·
A Câmara chegou a aprovar no
governo Bolsonaro a taxação de dividendos isentando as empresas do Simples
Nacional e de parte das empresas do regime do lucro presumido. Depois empacou
no Senado. Na sua avaliação, não faz sentido taxar dividendo e isentar esse
grupo?
Armínio Fraga - A história do Simples nasceu lá atrás de uma característica comum da
América Latina que é uma enorme informalidade dos negócios, que é um tremendo
redutor de produtividade na economia. Então a ideia foi criar um sistema
simples pra trazer essas empresas para a formalidade, mas agora já chegou a
hora de dar mais um passo.
E, no meio dessa confusão, surgiram esses regimes
especiais com limites muito altos (de faturamento isento), e isso virou uma
brecha que agora tem que ser tapada.
·
Ex-secretários da Receita,
como Everardo Maciel e Jorge Rachid, são contra a taxação de dividendos porque
haveria muita sonegação. Dizem que foi adotado esse modelo de só taxar as
empresas porque seria mais simples de fiscalizar. Faz sentido?
Armínio Fraga - Eu considero ousado discordar dos dois, que são dois super
especialistas, mas eu creio que nesse caso eu discordo. Os sistemas hoje são
mais arrumados, mais simplificados, é tudo eletrônico, isso vai casar também
com o IVA, quando surgir (o imposto único após a reforma tributária). Dá pra
fazer.
·
O Banco Central acaba de
cortar novamente os juros e indicou que deve haver novo corte na próxima
reunião. Vê espaço para uma Selic menor?
Armínio Fraga - O
Banco Central agiu rápido nessa crise recente e ao meu ver ele está calibrando
bem as coisas. Incomoda muito, a mim também, a todo mundo no Brasil, que as
taxas sejam tão altas, mas aí eu acho que o Banco Central precisa de ajuda
fiscal, e institucional também (para reduzir a Selic).
Ter um ambiente um pouco mais calmo, com menos
incertezas, aí os prêmios de risco vão encolher e nós vamos ter um juros mais
normal. É uma meta louvável (querer reduzir a Selic), mas ela precisa ser
construída, ela não pode simplesmente ser decretada por uma pernada do Banco
Central.
·
O senhor é sócio da
re.green, empresa fundada em 2021 para atuar com reflorestamento florestal e
venda de crédito de carbono. Esse é um investimento movido por uma consciência
ambiental, algo mais filantrópico, ou é algo que realmente pode dar retorno
financeiro?
Armínio Fraga – De
filantrópico, eu fundei dois institutos que estão indo de vento em popa. A
re.green não fui eu que fundei, mas eu cheguei cedo e fiz parte da primeira
capitalização maior (da empresa).
É uma empresa. A ideia que ela tenha resultados
trabalhando como manda o figurino, dentro da lei, da ética, no espírito até, eu
diria, dos nossos tempos. Mas ela é uma empresa. E é importante que seja assim,
porque ela vai buscar as melhores formas de se restaurar florestas com
biodiversidade e isso pode ser útil mesmo em circunstâncias em que isso não
possa ser feito com lucro, mas isso traz a força do mercado da inovação.
Para esse espaço, nós temos colegas que são super
especialistas, sobretudo na área geral de clima e na área também de
restauração. Pessoas da PUC, da Esalq (Escola Superior de Agricultura da USP).
E essa empresa, portanto, além de ter lucro,
espera-se a que vá ser uma geradora de externalidades positivas, na medida em
que ela consiga inovar. A nossa meta é super ambiciosa, (reflorestar) um milhão
de hectares. Ela já está funcionando e já estamos comprando terras. Eu estou
adorando fazer parte dessa empresa.
·
O Congresso está discutindo
a regulamentação do mercado de crédito de carbono, e o governo fará em breve a
primeira venda internacional de títulos de verdes. É possível pessoas comuns
investirem nesse mercado, ou apenas grandes investidores?
Armínio Fraga - Normalmente,
em um primeiro momento, é mais difícil ter acesso ao varejo, mas já tem gente
preparando produtos e falando em vender crédito de carbono, que não é o que nós
(da re.green) fazemos.
Então, acho que vai obedecer uma sequência que é
bem conhecida em outros setores. Começa com empresas que não são listadas na
bolsa, às vezes são pequenas, são empresas que acadêmicos fundam. E, aí com o
tempo elas vão evoluindo e massificando. No início, falta tudo: padrões de
certificação, padrões dos contratos, no caso de carbono, mas que não seria a
única oportunidade (nesse mercado). Se a nossa empresa der certo, estamos
trabalhando para isso, é possível que ela em algum momento abra o capital.
No primeiro momento, tudo é muito complexo, muito
arriscado. Fica difícil ver uma ponta de varejo assim muito rápido. O (crédito
de) carbono talvez, mas vai ser uma mercadoria como outra qualquer. Vai ser um
investimento altamente especulativo.
·
Não entendi. A re.green não
atua na venda de crédito de carbono?
Armínio Fraga - Não,
é que mercado de crédito de carbono no Brasil ainda é muito novo, ele ainda é
um mercado informal. Então, são negociações bilaterais entre a re.green, que
vende créditos para financiar a restauração, e as empresas, que compram para
compensar as suas emissões tipicamente.
·
O Congresso está justamente
discutindo uma regulamentação, com apoio do governo. Qual sua avaliação sobre o
que está sendo proposto?
Armínio Fraga - Já vem em discussão há algum tempo. Não evoluiu na Câmara de Deputados
e está agora no Senado. Os detalhes estão sendo definidos, espero eu, nos
próximos meses. O que é fundamental é que esse mercado se comunique com o
mercado internacional, porque hoje empresa aqui no Brasil vende seus créditos a
uns US$ 20 a tonelada, e, na Europa, eles pagam US$ 100.
Claro que vai ter muita empresa que é compradora
aqui dentro e vai querer criar um protecionismo qualquer para elas comprarem
mais barato, mas isso não seria bom. Em geral, esses protecionismos custaram
muito caro ao longo da nossa história. O Brasil ficou para trás.
·
Sem a regulamentação, sua
empresa não consegue vender a US$ 100 dólares para o exterior?
Armínio Fraga - Não,
não é a mesma coisa. Porque no momento, um carbono comprado aqui, por mais séria
e bem estruturada que seja a nossa empresa, ou outras, elas não fazendo parte
do ambiente regulado europeu isso não conta. Então, tem essa segregação e é do
nosso interesse encerrar isso. Se não, nós vamos estar subsidiando empresas
aqui dentro. Elas vão ser subsidiadas para poluir.
·
Outro problema do setor é a
regularização fundiária precária no país. Isso tem afetado a re.green?
Armínio Fraga - Sim, é um problema muito sério e limita bastante o escopo das nossas
compras (de terras para reflorestar).
·
O que precisa ser feito?
Algum avanço regulatório, mais repressão à grilagem?
Armínio Fraga - É um pouco de tudo. Isso já vinha acontecendo, mas eu diria que nós
estamos longe de ter essa questão resolvida. Tem terras do governo, tem
invasores para tudo que é lado, tem vizinhanças mais ou menos, assim,
simpáticas. É um quadro bem complexo. Aqui dentro, nós conhecemos bem o Brasil,
temos uma vantagem (em relação a empresas estrangeiras) de procurar evitar
entrar em situações, vamos dizer, não interessante, mas com o tempo a
expectativa é de que isso melhore. Não é fácil, mas o Brasil tem uma história
de evoluir nessa área.
Fonte: BBC News Brasil
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