sábado, 26 de agosto de 2023

Os mecanismos da guerra híbrida: como o Ocidente influencia movimentos antigoverno pelo mundo?

O conflito na Ucrânia suscitou extensos debates sobre guerras híbridas, presentes sobretudo na mídia e nas redes sociais, cujo intuito visa influenciar opiniões ao redor do mundo. Longe de ser um fenômeno novo, esse tipo de tática tem sido largamente usado pelo Ocidente ao longo dos últimos anos para desestabilizar governos e países inteiros.

Quando entende ser conveniente, o Ocidente é capaz de suscitar movimentos sociais antigoverno em países insubmissos aos seus ditames, por meio de seu controle dos maiores veículos de comunicação e mídia, além do financiamento de organizações não governamentais.

Como de praxe, as populações destes países, sem entender o grau de manipulação no qual foram implicadas, começam a sair às ruas de forma a demandar mudanças de regime, sem mesmo prever a instabilidade política que se avizinha. Todo esse processo é guiado por uma forte campanha midiática no sentido de incentivar uma determinada compreensão da realidade doméstica, em favor dos interesses das principais potências ocidentais.

Por meio sobretudo de novas tecnologias digitais, como as representadas pelas redes sociais, formam-se então redes integradas de opositores políticos extremados, que passam a receber orientação de instrutores externos, servindo assim de instrumentos úteis para o jogo geopolítico de seus patrões. Fato é que tais tecnologias se mostraram verdadeiramente capazes de instigar processos políticos revolucionários em várias regiões do globo, desde o Norte da África até o Leste Europeu.

Inicialmente, crises econômicas e sociais são o estopim para uma ação coordenada entre essas redes, a mídia ocidental e organizações não governamentais que, por meio de sua operação sincronizada, induzem a população a adotar slogans estranhos às suas realidades locais e, no limite, contribuindo para a derrubada de governos legítimos.

Ao passo que tais manifestações amadurecem e ganham corpo, elas se convertem em ataques disruptivos de grandes proporções às autoridades estabelecidas, resultando em crises políticas duradouras, mesmo após a "desejada" mudança de regime.

Antes e durante tais crises, a chamada "guerra informacional" se instaura, demonizando os líderes do país e suas políticas, sem que eles tenham a chance de alcançar um compromisso com as forças de oposição. Foi esse, por exemplo, o cenário predominante no Norte da África e Oriente Médio durante a Primavera Árabe de 2011 e, de modo ainda mais evidente, nas crises políticas da Ucrânia de 2004 e, anos depois, em 2014, que sedimentou a derrocada daquele país para o caos.

A deterioração das condições políticas nestas regiões, por sua vez, serviu de alerta a autoridades, tanto na Rússia como na China, sobre os perigos de uma possível ampliação dessa atuação insidiosa em seus próprios territórios, dado que ambos os países são criticados pelo Ocidente por não seguirem determinados parâmetros – pseudo-universais – de democracia e de respeito aos direitos humanos.

Ora, constatada a impossibilidade de uma intervenção militar direta para mudança de governo na Rússia ou mesmo na China, uma vez que tal situação poderia levar à terceira guerra mundial, os Estados Unidos e seus parceiros ocidentais optaram por uma alternativa menos arriscada. Essa alternativa baseou-se justamente na crescente influência de seus meios de comunicação e no sequestro das mentes de populações estrangeiras, sobretudo de jovens, para suscitar sentimentos antigoverno em Estados insubmissos.

Afinal, foi justamente na esteira dos protestos oriundos da Primeira Árabe que começaram a se observar movimentações de igual natureza dentro da própria Rússia em dezembro de 2011, que visavam contestar os processos eleitorais no país. Tal tentativa foi acompanhada de perto pelo governo russo, que logo entendeu o que estava acontecendo, a saber, de que tais movimentações nada mais eram do que uma manifestação da interferência externa nos assuntos domésticos do Estado.

Deste modo, ao refletirem sobre os resultados inglórios da Primavera Árabe (vide Síria, Egito e Líbia), assim como da instabilidade econômica e social causada após as "revoluções coloridas" no espaço pós-soviético, a Rússia empreendeu sérios esforços para proteger sua soberania e evitar que semelhante caos se instalasse em seu próprio território. Diante de tal percepção, as elites russas, e em certa medida também as elites chinesas, solidificaram estratégicas para evitar que suas populações fossem alvo da influência de atores externos, sobretudo dos países ocidentais.

Não à toa, russos e chineses começaram a demonstrar uma maior coordenação para defesa de seus governos e de seus sistemas políticos, além de impedirem a ação intervencionista do Ocidente em outras partes do globo, como no caso da Síria. Não por acaso, quando discussões iniciais a respeito da criação de uma zona de exclusão aérea na Síria foram levantadas ainda em 2013, Moscou deixou bem claro que usaria seu poder de veto para brecar tais iniciativas. O que dizer então das insinuações da mídia ocidental de que o governo sírio teria usado armas químicas contra sua própria população em meados de 2013?

Conforme demonstrado pela Rússia, muitas das filmagens de crianças sendo atendidas após supostos ataques químicos nada mais eram do que encenações teatrais no intuito de causar comoção em audiências internacionais, justificando assim uma intervenção direta no país árabe. Em 2014, por sua vez, quando adveio o famigerado Euromaidan em Kiev, já estava bem claro para qualquer observador mais atento que o papel de potências externas através justamente da mídia e de ONGs locais foi preponderante para o acirramento dos protestos, que, no final das contas, culminou num ilegítimo golpe de Estado e na desestabilização da Ucrânia nos anos seguintes.

Em suma, organizações não governamentais financiadas pelo exterior, promessas de apoio logístico a manifestações públicas antigoverno, campanhas de mídia que visam demonizar autoridades locais e processos de sedução – sobretudo da população jovem – em torno de slogans vazios são as principais armas da guerra híbrida utilizada pelo Ocidente para atingir seus objetivos geopolíticos. A lição que fica então é: aos Estados que tomarem nota disso, maiores serão as chances de evitar cair no abismo.

 

Ø  Deputado venezuelano: BRICS está se fortalecendo, enquanto EUA e Europa enfrentam crise estrutural

 

A adesão da Argentina, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã ao grupo BRICS demonstra o fortalecimento deste bloco, em contraste com a crise estrutural enfrentada pelos EUA e a Europa, disse à Sputnik o deputado venezuelano Jacobo Torres.

"Este fortalecimento do BRICS é um momento-chave na construção de uma nova vida normal no mundo, no contexto da crise estrutural que o capitalismo mundial, liderado pelos EUA e seus aliados europeus, está vivendo hoje. [O BRICS] é uma alternativa viável para os povos do mundo", disse Torres, membro do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV).

De acordo com o interlocutor da agência, a inclusão da Argentina na associação reforçará a integração da América Latina e dos países da região afetados pelas sanções.

"Isso nos ajudará, em particular, a países como a Nicarágua, Cuba e Venezuela, que estão sujeitos a um bloqueio brutal há vários anos, será um elemento importante inclusive para quebrar o bloqueio […] Isso garantirá, como disse [o presidente do Brasil] Lula da Silva, que a integração latino-americana possa ficar fortalecida", acrescentou Torres.

Outra importante consequência da expansão do BRICS, segundo Torres, é a oportunidade de pôr fim à hegemonia do dólar: "Isso nos permitirá sair da má influência que o dólar tem tido nos últimos anos e substituí-lo por uma moeda mais estável, para que todos tenhamos estabilidade econômica em nossos países".

A potencial criação de uma moeda comum do BRICS, de acordo com o deputado venezuelano, garantirá a igualdade econômica e uma nova etapa de relações econômicas internacionais harmoniosas.

Nesta quinta-feira (24), o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou o ingresso de mais seis países no BRICS: Argentina, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia. Os seis novos Estados-membros foram convidados a fazer parte do bloco a partir de 1º de janeiro de 2024.

·         Brasil propõe à Argentina pagamento de exportações em yuan: 'Aguardamos resposta', diz Haddad

A proposta feita pelo Ministério da Fazenda brasileiro garantiria pagamentos em meio aos problemas econômicos argentinos, segundo Fernando Haddad. Brasil espera resposta sobre plano de US$ 100 milhões a US$ 140 milhões.

O governo propôs um plano à Argentina que usaria o yuan para garantir pagamentos de exportação, a fim de contornar a grave escassez de dinheiro do país vizinho e manter o fluxo comercial, de acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo a Bloomberg.

"Será uma coisa boa para os exportadores brasileiros e será uma ótima notícia se a Argentina concordar. Eles conseguem ter um fluxo de vendas com 100% de garantia", disse Haddad a repórteres ontem (24) na África do Sul, onde participa da Cúpula do BRICS.

A ideia é trabalhar inicialmente entre US$ 100 milhões (R$ 487 milhões) e US$ 140 milhões (R$ 682 milhões) em comércio por meio de uma troca feita pelo Banco do Brasil, que converteria yuans em reais para pagar os exportadores, acrescentou o ministro. Entretanto, o governo quer testar o plano antes de decidir se vai expandi-lo.

"O Brasil ainda aguarda uma resposta do governo do presidente Alberto Fernández", disse Haddad.

Enfrentando a escassez de reservas externas, Buenos Aires tem estocado nos últimos meses linhas de swap chinesas para ajudar a pagar empréstimos ao Fundo Monetário Internacional.

Ainda disse que o uso do yuan garantirá que "não haja risco de inadimplência" em quaisquer pagamentos. A utilização do yuan pelo governo de Fernández também atingiu níveis recordes, à medida que as empresas lutam para encontrar dólares para financiar importações e operações.

A inflação em espiral e uma seca recorde atingiram em cheio a economia argentina este ano, levando-a à beira da recessão.

 

Ø  Analista: avanço do BRICS fará dólar perder hegemonia gradualmente até desaparecer completamente

 

O analista Artyom Deev afirmou à Sputnik que o dólar americano será cada vez menos perceptível no mercado global.

Segundo o analista, os países do BRICS mudaram parcialmente para liquidações mútuas em moedas nacionais em suas negociações, além disso, o bloco pode criar seu próprio sistema de pagamento, o que poderá colocar um fim na hegemonia do dólar em dez ou 15 anos, fazendo com que a moeda desapareça completamente do mercado mundial.

Para Deev, com o comércio em rápido desenvolvimento dentro do bloco, as economias dos países-membros do BRICS impulsionaram o crescimento do bloco.

"Como resultado, a participação do BRICS no PIB mundial ultrapassou os 30%, superando os países do G7 neste indicador. A China já era a economia mais poderosa do BRICS e, nos últimos anos, o seu PIB cresceu por duas vezes. Na Índia e no Brasil o desenvolvimento é ainda mais perceptível e chega a 75%", observou.

Segundo ele, a exportação total dos países participantes é de aproximadamente US$ 260 bilhões (R$ 1,2 trilhão), e a inclusão de países da Ásia, África e América Latina abrirá caminho para alcançar um novo potencial para o comércio interno.

O analista também destacou que a Rússia terá uma vantagem indiscutível, e os novos mercados no norte da África necessitam de fornecimentos estáveis de grãos, isso significará uma redistribuição dos mercados na economia global.

Sendo assim, o analista acredita que o dólar se tornará cada vez menos perceptível.

"Os países do BRICS já mudaram parcialmente para as liquidações mútuas em moedas nacionais em suas negociações. Agora, as opções para criar seu próprio sistema de pagamentos já estão sendo discutidas", ressaltou.

Deev também ressaltou que a criação, formação e o fortalecimento da nova moeda vão levar cerca de sete anos, e consequentemente, dentro de dez ou 15 anos, a hegemonia do dólar como moeda mundial poderá desaparecer completamente.

 

Ø  Lula diz que tentará fazer campanha mundial contra desigualdade

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 6ª feira (25.ago.2023) que quer assumir o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra as desigualdades. O petista está na Angola para reunião bilateral com seu homólogo João Lourenço. Depois do encontro dos presidentes, Lula foi condecorado com a Ordem Dr. António Agostinho Neto e o angolano com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

“Essa ordem aumenta a minha responsabilidade, agora que estou assumindo o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade. A desigualdade existe em tantos lugares que muitas vezes olhamos só para nós, e não vemos que está entre eu e a pessoa com quem estou conversando, porque nós temos a desigualdade de raça, de gênero, de salário, de acesso à educação e à saúde”, afirmou Lula.

António Agostinho Neto foi um médico, escritor e político angolano. Lutou pela independência de seu país, que foi colônia portuguesa até 1975, e se tornou o 1º presidente da Angola.

Em discurso, Lula também endereçou a desigualdade de gênero no Brasil e no mundo. Segundo ele, todos sonham com a participação da mulher na política, mas elas não conseguiram se expressar como maioria nesses espaços devido à desigualdade de tratamento que recebem.

“Às vezes, a gente fica contente porque tem uma mulher presidente de um partido, presidente da Câmara, presidente de sei lá o que. Mas se elas são maioria e se elas nos colocaram no mundo, eu acho que é justo a gente compreender que elas podem sim ser maioria e governar o mundo ao invés de nós”, disse.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Poder 360

 

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