Especialistas mostram que tolerar o estresse por muito tempo pode
desencadear doenças
O estresse é uma resposta do organismo a situações
incômodas ou dolorosas. Fatores como tratar alguém que não amamos com carinho,
negar a morte de um ente querido, contar coisas dolorosas com indiferença ou
“nos bloquear” diante do estresse são mecanismos psicológicos quase naturais
para evitar o sofrimento diante de alguma situação.
Isso porque os mecanismos de defesa possuem uma
vantagem, e ao mesmo tempo uma desvantagem: embora nos defendam de algo que não
podemos tolerar, caso se prolonguem ao longo do tempo podem afetar a nossa
versão da realidade.
De acordo com a psicanalista e doutora Dr.
Alejandra Gómez, “os mecanismos de defesa se beneficiam, em primeiro lugar
porque ajudam a tolerar o que é angustiante . Não são boas nem más, mas a longo
prazo podem causar uma doença”.
“Há certos indícios de que seu parceiro está te
traindo. Você nega, você nega, você nega. A certa altura, ele diz que quer se
separar. Você nega e se propõe a fazer uma viagem. Você nega novamente. Em
algum momento, quando você voltou para casa, seu parceiro foi embora. Nesse
caso, pode aparecer um colapso, um ataque de pânico grave, uma depressão, uma
situação traumática porque as evidências foram negadas. Ou seja, tudo o que se
tenta evitar por esses mecanismos tende a voltar”, disse ela.
Com base em Freud, a doutora descreveu dois outros
mecanismos, que todos os autores pós-freudianos assumiram: a rejeição e a
negação. “No primeiro mecanismo de defesa há uma rejeição de uma realidade
insuportável. O sujeito 'quebra' um fragmento da realidade e o 'preenche' com
seu próprio texto que é a produção delirante, o delírio da loucura. Freud diz
que o paciente 'delira para não morrer' ”, explica.
Os mecanismos de defesa são processos inconscientes
que a mente aciona sem avisar, quando uma situação toma conta do nosso
psicológico. Entre os mais importantes estão a negação, sublimação, formação de
reação, identificação, isolamento, projeção e regressão. Entenda cada uma delas
a seguir:
# 1 - Negação
É quando é negada a existência de um desejo. Uma
forma de proteger emocionalmente quem passa por elas, servindo para ignorar
realidades muito intensas.
# 2 - Identificação
Já a identificação faz o sujeito assumir como
próprias as características alheias através de vínculos afetivos. Isso serve
tanto para pessoas como coisas. Este comportamento afeta a forma como uma
pessoa fala, as roupas que veste, o que come, entre outras.
# 3 - Projeção
Tudo o que é rejeitado de si mesmo é depositado em
outra pessoa ou os desejos que não se quer reconhecer como próprios são
atribuídos ao outro. É uma reação que aparece em discussões, quando são feitas
acusações ou se censuram outras questões que, na verdade, são nossas.
# 4 - Regressão
A negação em assumir responsabilidades e obrigações
pode levar a agir de forma infantil. Diante de fortes pressões, podem ocorrer
atitudes que não coincidem com o atual estágio de desenvolvimento da pessoa e
se assemelha a de uma criança, uma vez que encontra segurança, tranquilidade e
foge de compromissos.
# 5 - Isolamento
Este é um procedimento ou pensamento que busca
romper seus vínculos afetivos com as experiências vividas. Isso ocorre quando
um episódio traumático foi vivido e é contado com absoluta indiferença.
# 6 - Repressão
Um desejo é anulado a tal ponto que a pessoa age
como se ele não existisse através de um esforço contínuo e permanente. Aparece
como uma defesa contra memórias tempestuosas.
# 7 - Formação reativa
A formação reativa é agir em sentido contrário ao
que se deseja para evitar que os verdadeiros desejos venham à tona. Muitas
vezes se esconde atrás de uma conduta exemplar, uma personalidade agressiva ou
inaceitável. Quando uma emoção é considerada ameaçadora para si mesmo, ela
surge como uma defesa.
# 8 - Racionalização
São buscadas explicações racionais, coerentes e
socialmente aceitas para uma atitude ou sentimento a fim de ocultar razões
afetivas. É utilizado quando se quer justificar um comportamento ou quando os
reais motivos causam medo, ansiedade e angústia.
# 9 - Sublimação
É quando para um novo fim não sexual, o desejo
sexual é deslocado, geralmente tendo a ver com arte, prática religiosa ou
pesquisa intelectual. Uma mudança de direção é gerada nas emoções que são
percebidas como imprudentes, em direção a canais mais aceitáveis.
# 10 - Deslocamento
O deslocamento ocorre assim que uma emoção ou
sentimento (quase sempre raiva) é redirecionado para uma pessoa ou um objeto
que não pode ser defendido. Quando não podemos expressar os nossos sentimentos,
ele é ativado para expressar nossos sentimentos ou nos relacionar com os
outros. Por exemplo, tendo um problema no trabalho e não confrontando o chefe,
quando chegar em casa vai descarregar em cima de alguém.
Estresse
e vontade de comer comida trash: o que a ciência diz
Um comportamento muito comum é sentir vontade de
comer quando se está bastante estressado. Para saciar essa vontade, entram, na
maioria das vezes, as chamadas comidas calóricas, como doces, chocolates,
salgadinhos, hambúrgueres, batatas fritas, entre outras.
O fato de comer estar intimamente ligado ao estado
emocional e à busca por conforto é amplamente aceito, porém vale lembrar que
essa pode não ser a única explicação para a ligação entre o estresse e a
vontade de ingerir comidas trash.
Cientistas da divisão de Neurociências do Instituto
de Pesquisa Médica Garvan, na Austrália, descobriram um novo mecanismo cerebral
que impede a sensação de satisfação completa quando se está sob estresse e
seguindo uma dieta muito calórica.
De acordo com o professor Herbert Herzog, autor
sênior do estudo e cientista do Instituto Garvan, as descobertas “revelam que o
estresse pode anular uma resposta natural do cérebro responsável por diminuir o
prazer obtido ao comer, o que significa que o cérebro é continuamente
recompensado para comer”.
• A
pesquisa
Os pesquisadores investigaram como o cérebro de
camundongos respondia ao estresse crônico quando submetidos a diferentes
dietas. Eles descobriram que, ao alimentar animais estressados com alimentos
calóricos, ocorriam alterações na habenula lateral, uma região do cérebro.
A região inibe a resposta de recompensa do cérebro
aos estímulos, protegendo o indivíduo contra a ingestão excessiva de alimentos.
Logo, assim que é ativada, a comida não induz mais tanto prazer e justifica por
que a pessoa perde a vontade de continuar comendo.
O também autor do estudo e pesquisador do Instituto
Garvan, Kenny Chi Kin Ip, esclarece que “no entanto, quando os camundongos
estavam sob estresse crônico, essa parte do cérebro permanecia inativa,
permitindo que os sinais de recompensa continuassem ativos e estimulassem a alimentação
por prazer, sem responder aos sinais reguladores de saciedade”.
Visto que não se sentiam mais saciados, os animais
continuavam a comer mais e mais. Produzida naturalmente pelo cérebro em
resposta ao estresse, a molécula NPY estava no centro desse mecanismo.
Os cientistas impediram o caminho que faz a NPY
interferir nas células da habenula lateral, e assim, os camundongos estressados
com uma dieta gordurosa passaram a consumir uma menor quantidade de alimentos.
Isso explica que a combinação do estresse com
alimentos de teor calórico gera o silenciamento da habenula lateral e a
consequente saciedade sem fim. Por isso, os pesquisadores ressaltam a
importância das comidas saudáveis no processo, nos momentos de situações
adversas.
"Essa pesquisa reforça o quanto o estresse
pode comprometer o metabolismo energético saudável. É um lembrete para evitar
um estilo de vida estressante e, especialmente, se você está lidando com
estresse a longo prazo, tente manter uma dieta saudável e guardar os alimentos
não saudáveis”
Herzog reafirma a importância do estudo para se
atentar ao estilo de vida não saudável. "Essa pesquisa reforça o quanto o
estresse pode comprometer o metabolismo energético saudável. É um lembrete para
evitar um estilo de vida estressante e, especialmente, se você está lidando com
estresse a longo prazo, tente manter uma dieta saudável e guardar os alimentos
não saudáveis”, diz.
Fonte: Fórum
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