quarta-feira, 3 de maio de 2023

Participação brasileira na economia mundial é a mais baixa, em mais de 40 anos

A participação mais baixa na economia global, desde o início da série histórica, em 1980. É dessa forma que o Brasil (12ª maior economia)  deverá encerrar 2023, ao responder, apenas, por 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, estimou estudo divulgado, nesta segunda-feira (1º), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI).

Para o organismo multilateral, nos últimos 40 anos – quando respondia por 4% do PIB do planeta – o país ‘vem descendo a ladeira’, ao perder, gradualmente, representatividade internacional e assim deverá continuar nos próximos anos, a despeito dos esforços do governo federal, no sentido de ampliar a presença nacional no exterior, mediante viagens do presidente Lula na China, Estados Unidos e Europa.

Como plano de fundo para tal desempenho adverso no cenário externo, o Fundo aponta o baixo crescimento apresentado pelo país nas últimas décadas, inferior, inclusive, aos seus pares emergentes.

Exemplo disso pode ser dado pelas trajetórias distintas, descritas por países em estágio de desenvolvimento similares, nos anos 80, quando Brasil e Coreia do Sul apresentavam um PIB similar, mas que começaram a se diferenciar, devido ao pesado investimento em educação promovido pela segunda, juntamente com um programa de abertura econômica. O resultado é que, atualmente, o chamado ‘tigre asiático’ exibe uma renda média de US$ 70,2 mil, ao passo que a brasileira não passa de US$ 21,3 mil.

Para chegar aos números sobre o país, o FMI atualiza mensalmente os dados da atividade global, assim como mede a participação dos países na economia mundial, mediante o uso do indicador Paridade do Poder de Compra (PPP, na sigla em inglês), que serve para “deixar mais justa” a comparação entre as diferentes economias.

Segundo o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, “o Brasil tem um problema sério de crescimento. Perdeu a década de 80, cresceu bem devagar nos anos 90, teve sorte na primeira década deste século por causa do crescimento da China e pelos preços de commodities, mas os últimos anos voltaram a ser perdidos”. Para ele, essa é “uma agenda que começa dentro de casa. A economia brasileira não vai abrir por causa de duas, 15 viagens. Se o País investir em educação, fica mais competitivo, essa inserção na economia acontece naturalmente”.

Já o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, acentua que “depois do ciclo do crescimento com industrialização dos anos 30 ao final dos anos 70, o Brasil parou de se desenvolver”, pois tal ciclo “não foi acompanhado por fatores essenciais para uma economia capitalista moderna – um deles é a educação”.

Embora tenha conseguido ampliar os anos de escolaridade da população, mesmo sem garantir boa qualidade, Holland admite que, “infelizmente, para padrões internacionais, a qualidade educacional brasileira é extremamente trágica, desde a primeira infância, passando pelo ensino básico e médio”.

De acordo com a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, a adoção de políticas econômicas equivocadas ‘jogaram por terra’ a oportunidade aberta pela implantação do Plano Real e a estabilização dos preços, potencializada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), além da fixação de metas de inflação; autonomia do Banco Central (BC) e a promoção de privatizações.

A despeito de certo controle sobre o processo inflacionário, tais equívocos, segundo ela, teriam resultado em uma “severa crise fiscal e provocou anos de dura recessão” [como em 2015 e 2016], “seguidos por períodos de baixo crescimento do PIB, agravados pelos impactos provocados pela pandemia de covid-19”.

Em consequência, prossegue a economista, a estagnação econômica, perpetuada por décadas, fez com que o Brasil caísse na chamada armadilha da renda média, em que a melhoria de PIB per capita não garantiu o acesso do país ao seleto grupo de economias desenvolvidas.

“Colocar a economia em ordem está custando dez, 11 anos, mas, mais do que colocar a casa em ordem, o Brasil tem uma longa agenda para virar a página do baixo crescimento. Além de investir em capital humano para qualificar a mão de obra, será preciso avançar no ambiente de negócios, na qualidade de investimento tanto em capital físico como em pesquisa e inovação e abrir a economia brasileira para o mundo”, pontua Alessandra.

Falando sobre as perspectivas tupiniquins, a economista da Tendências condiciona a melhoria do quadro doméstico “ao retrocesso em política fiscal, a retomada do papel do Estado como pilar do desenvolvimento, o avanço da reforma tributária e dos acordos comerciais, para que seja possível aspirar a um crescimento (maior)”, afirma Alessandra, ao concluir que, “agora, é difícil afirmar que o Brasil vai aumentar a sua participação no PIB global, porque os outros países também estão caminhando.”

 

Ø  Por que o Brasil está se tornando economicamente irrelevante? Por José Luis Oreiro

 

A edição do jornal O Estado de São Paulo de 30 de abril de 2023 apresenta uma matéria muito interessante intitulada “Economia brasileira perde relevância e tem a menor participação no PIB global em mais de 40 anos” na qual se apresentam dados que mostram a perda de relevância da economia Brasileira no cenário mundial nos últimos 40 anos. Segundo a matéria, que ser baseia em dados do FMI, a economia brasileira passou de cerca de 4% do PIB mundial em 1980, para cerca de 2,3% do PIB mundial ao final de 2023, uma queda de 42,5% na participação do Brasil na economia mundial num período de 43 anos.

Essa perda de relevância da economia brasileira no mundo no período 1980-2023 decorreu da forte desaceleração do crescimento econômico brasileiro nos últimos 40 anos. Com efeito, como observamos na figura abaixo, que apresenta a média móvel decenal do crescimento do PIB per-capita brasileiro entre 1930 e 2017, no período de 1930 a 1977 a economia brasileira apresentou uma aceleração do crescimento do PIB per-capita, o qual apresentou atingiu o pico de quase 7% a.a na média móvel decenal em 1977, valor suficiente para duplicar o PIB per-capita do Brasil a cada dez anos.

Essa aceleração do crescimento da economia brasileira ocorreu simultaneamente com o aumento da participação da indústria de transformação no PIB, a qual passou de 15% em 1947 para quase 22% em 1975, conforme figura abaixo extraída de Marconi e Rocha (2011). Desde então, a economia brasileira vem presenciando um processo de desindustrialização precoce ou prematura, a qual está claramente relacionada com a perda de dinamismo da economia brasileira nos últimos 40 anos.

No período 1995-2020 a desindustrialização da economia brasileira se acentua, construída a partir de dados do Banco Mundial, com a participação da indústria de transformação no PIB alcançando pouco mais de 10% em 2020.

Esses dados mostram que a estagnação da economia brasileira está associada com a perda de importância da indústria de transformação no PIB, ou seja, com a desindustrialização. Alguns economistas acreditam que a desindustrialização seria um fenômeno universal e que, dessa forma, não seria o fator responsável pela perda de dinamismo da economia brasileira. De fato, existe uma desindustrialização que podemos classificar como “natural” resultante da combinação da diversificação da pauta de consumo com o aumento da participação dos serviços com o aumento da renda per-capita (Lei de Engel) e do crescimento mais acelerado da produtividade do trabalho na indústria relativamente aos demais setores de atividade econômica. Essa combinação de fatores explica porque a partir de um certo patamar de renda per-capita a participação do emprego industrial no emprego total e do valor adicionado na indústria no PIB começam a declinar. Essa desindustrialização natural, contudo, é um fenômeno de economias maduras nas quais a mão-de-obra foi totalmente transferida do setor de subsistência para o setor moderno, de maneira que os diferenciais de produtividade entre os setores de atividade econômica são relativamente pequenos. Nesse caso, a economia atinge um estado de maturidade (Kaldor, 1967) no qual o crescimento do PIB per-capita depende mais do avanço da fronteira tecnológica e do aumento do nível geral de produtividade do que da transformação da estrutura de emprego e produção permitida pela industrialização. Está claro que esse não é o caso do Brasil. A desindustrialização no Brasil tem início, no entanto, sem que a economia brasileira tivesse conseguido ultrapassar o “ponto de Lewis”, ou seja, com um percentual expressivo da força de trabalho alocada em atividades precárias ou de subsistência conforme podemos observar.

Nesse contexto, tentar superar a perda de dinamismo por intermédio de um aumento massivo dos gastos com educação, como defendem alguns economistas, irá apenas atuar no sentido de aumentar a qualificação da mão-de-obra desempregada ou subempregada. Ros (2013), com base numa amostra de 87 países desenvolvidos e em desenvolvimento, mostra que o nível educacional – medido pelo número de anos de estudo da força de trabalho com mais de 25 anos – e a participação do emprego industrial no emprego total possuem uma correlação alta (0,65) de maneira que podemos considerar as duas variáveis como complementares. Isso significa que para que seja possível um aumento do nível educacional da força de trabalho é necessário aumentar a participação do emprego industrial no emprego total, até porque as empresas que demandam uma mão-de-obra mais educada e qualificada são, em sua maioria, empresas do setor industrial ou empresas do setor de serviços que atendem as demandas do setor industrial.

Não é de admirar, portanto, o desinteresse cada vez maior de parte da sociedade brasileira pela formação universitária: um país que, nos últimos 40 anos, se tornou um grande fazendão pariu uma sociedade na qual uma parcela expressiva de cidadãos acha que os gastos do Estado Brasileiro com ensino superior e com ciência e tecnologia não passam de “boquinha” e “mamata” para “vagabundos”, “maconheiros” e “comunistas’.

A grande mídia, nos últimos 40 anos, criou bordões como “o agro é pop”, o “agro é tudo”. Constantemente somos bombardeados por propaganda subliminar que tenta convencer a sociedade brasileira que o agronegócio é uma máquina de prosperidade e de que a economia brasileira precisa desse setor para (sic) se desenvolver. Na verdade, contudo, a desaceleração do crescimento da economia brasileira coincidiu com a perda de importância das exportações de manufaturados nas exportações totais, ou seja, com a reprimarização da pauta de exportações.

O agronegócio está bem longe de ser uma máquina de desenvolvimento como quer fazer parecer a grande mídia. Conforme dados apresentados na Tabela abaixo extraída do blog Valor Adicionado, a agropecuária é o setor que apresentou em 2020 a menor remuneração mensal do trabalho entre todos os setores de atividade econômica, menor inclusive do que a construção civil, cerca de 47% da remuneração paga na indústria de transformação e apenas 53% da remuneração média do trabalho no Brasil. Definitivamente o “agro não é pop”.

Em suma, para que o Brasil possa retomar o desenvolvimento econômico e voltar a ser um país economicamente relevante no mundo é necessário que a economia brasileira passe por um processo de reindustrialização. A evidência empírica recente parece apontar também para a existência de uma relação positiva entre industrialização e democracia, de tal maneira que a preservação do Estado Democrático de Direito no Brasil só estará garantida pela volta da indústria como motor de desenvolvimento da economia brasileira. Fora da indústria não há salvação nem esperança para o Brasil.

 

Fonte: Capitalist.com/jlcoreiro

 

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