Imprensa europeia
repercute operação da PF contra Bolsonaro
Jornais
lembram postura "negacionista" de ex-presidente na pandemia. "Se
Bolsonaro estiver mentindo [sobre comprovante de imunização], poderá ter
problemas sérios com a Justiça", escreve jornal alemão..
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Die Tageszeitung (taz), Alemanha
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Suspeito de viajar aos EUA com comprovantes falsos de vacinação, Bolsonaro
sempre alegou não ser imunizado
Contendo
as lágrimas, ex-presidente disse que não teve que apresentar documentação ao
viajar aos EUA; se estiver mentindo, poderá ter problemas sérios com a Justiça,
escreve o taz.
A
Polícia Federal esteve na manhã desta quarta-feira (3/5) em um bairro nobre de
Brasília, onde revistou a casa de um cidadão especial da capital federal: Jair
Bolsonaro. Entre os itens apreendidos pelos agentes está o celular do
ex-presidente e extremista de direita. Ao longo do dia, um juiz também ordenou
a apreensão provisória do passaporte dele.
Bolsonaro
e alguns de seus parentes são suspeitos de terem usado passaportes vacinais
fraudulentos para viajar aos Estados Unidos (EUA). As investigações miram uma
suposta organização criminosa que teria inserido dados falsos no sistema do
Ministério da Saúde. Além da casa de Bolsonaro, agentes da PF revistaram outros
imóveis e prenderam aliados do extremista de direita, entre eles o tenente
coronel Mauro Cid Barbosa, braço direito de Bolsonaro durante seu governo.
(...)
Bolsonaro teria viajado três vezes aos EUA no período investigado.
O
ex-presidente minimizou publicamente os perigos da covid-19, referindo-se
diversas vezes ao vírus que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil como
"gripezinha°. Bolsonaro é suspeito ainda de ter, por razões políticas,
sabotado a compra de vacinas. (...)
Em
entrevista à emissora de direita Jovem Pan, Bolsonaro afirmou, enquanto
continha as lágrimas, que não teve que apresentar comprovante de vacinação ao
viajar aos EUA. Caso esteja mentindo, poderá ter problemas sérios com a
Justiça.
(...)
Bolsonaro se vê confrontado por uma série de investigações por supostos crimes.
E, desde que deixou a Presidência da República, já não goza mais de imunidade
diante da Justiça. No final de abril, precisou depôr à PF, que o vê como
possível "mentor intelectual” dos eventos de 8 de janeiro. Naquela data,
apoiadores do ex-presidente invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília,
deixando um rastro de destruição por onde passaram. Durante seu governo,
Bolsonaro espalhou mentiras sobre o sistema eleitoral e incitou seus apoiadores
a aderirem a protestos antidemocráticos.
Bolsonaro
voltou recentemente ao país depois de uma longa estadia nos EUA. A
extrema-direita queria usar a alta popularidade dele para antagonizar com o
governo Lula. Uma eventual condenação poderia prejudicar essas aspirações.
Vários especialistas já contam com a perda dos direitos políticos de Bolsonaro,
o que o deixaria inelegível.
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The Guardian, Reino Unido - Bolsonaro tem mansão revistada e assessor preso;
oposição reage com euforia
Ex-presidente
deveria ter sido interrogado, mas, segundo relatos, recusou-se e entregou senha
do celular a contragosto, escreve o The Guardian
(...)
O ex-presidente deveria ter sido interrogado, mas, segundo relatos, recusou-se.
Seu celular foi apreendido em sua residência em Brasília e ele, após resistir,
foi obrigado a entregar a senha do aparelho.
(...)
Bolsonaro foi reprovado internacionalmente por seu manejo imprudente e
anti-científico da pandemia, que já causou mais de 700 mil mortes no Brasil.
(...)
Na semana passada, Lula, que assumiu o cargo em janeiro, disse que Bolsonaro
deveria ser julgado pelo "genocídio” da pandemia.
Adversários
de Bolsonaro reagiram com euforia à operação.
"O
Brasil era governado por um grupo de gângsters estilo Hollywood", tuitou o
congressista de esquerda Guilherme Boulos.
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El País, Espanha - Negacionismo de ex-presidente atrasou compra e importação de
imunizantes
Dados
de vacinação de Bolsonaro estavam sob sigilo de cem anos, escreve o El País
Ao
longo da pandemia, Bolsonaro sempre colocou em dúvida a segurança e eficácia
das vacinas, chegando a espalhar boatos como estudos que as ligavam a um
aumento de casos de HIV. Esse negacionismo (...) gerou grave atraso nas
negociações para compra e importação de imunizantes (...). Bolsonaro sempre disse
que não ia se vacinar, mas sempre houve dúvidas sobre o que ele fez na
realidade. Em janeiro de 2021, o governo impôs um sigilo de cem anos sobre sua
carteira de vacinação.
(...)
Segundo a polícia, a manipulação dos documentos de vacinação servia ao objetivo
de "manter coeso o elemento identitário em relação às suas diretrizes
ideológicas e sustentar o discurso dirigido aos ataques à vacinação contra a
covid-19”. O nome que a polícia deu à operação também está relacionado à
incoerência do discurso de Bolsonaro: Venire contra factum proprium (ir contra
seus próprios atos).
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O Público, Portugal - Investigação soma-se a outros casos: joias sauditas, 8 de
janeiro, morte de indígenas
Diferentemente
de outros líderes mundiais, Bolsonaro não foi imunizado em público, escreve
jornal português
(...)
Os crimes investigados pela PF no âmbito destas acções incluem infracção de
medidas sanitárias, associação criminosa, introdução de dados falsos e
corrupção de menores.
(...)
Apesar de vários pedidos, o ex-Presidente nunca revelou publicamente o seu
boletim de vacinas nem foi visto a receber a vacina contra a covid-19, ao
contrário de grande parte dos políticos brasileiros.
Em
Fevereiro, a Controladoria-Geral da União, uma entidade de controlo e
supervisão das agências públicas, confirmou a existência de um registo de
vacinação que comprovava a administração do imunizante a Bolsonaro.
(...)
Segundo o documento, Bolsonaro teria sido vacinado em maio de 2021, poucas
semanas antes de viajar para os EUA, que na altura exigia a apresentação de
certificado de vacinação, para participar numa cimeira.
(...)
A investigação ao alegado falseamento dos registos de vacinas conhecida esta
quarta-feira soma-se a vários outros casos judiciais que envolvem o
ex-Presidente, como o das jóias sauditas, as acusações de genocídio contra
povos indígenas e a possível participação como instigador dos actos violentos
em Brasília a 8 de janeiro. (...)
Moraes determinou apreensão de passaporte
de Bolsonaro
A
operação que atingiu na manhã desta quarta-feira (03/05) o ex-presidente Jair
Bolsonaro por suposta falsificação de comprovantes de vacinação resultou, além
da apreensão de seu celular, em uma determinação para a apreensão de seu
passaporte e armas.
A
ordem foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), que determinou que fossem apreendidas "armas, munições,
computadores, passaporte, tablets, celulares e outros dispositivos
eletrônicos" dos alvos da operação, incluindo o ex-presidente.
Moraes
retirou o sigilo da sua decisão na tarde desta quarta-feira. Não foi confirmado
se o passaporte de Bolsonaro foi de fato apreendido durante as buscas
realizadas pela Polícia Federal (PF) em sua residência em Brasília.
A
operação, batizada de Venire, investiga a inserção de dados fraudulentos de
vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, que teriam
sido usados para garantir a entrada nos EUA de Bolsonaro e membros do círculo
familiar e pessoal do ex-presidente, burlando a exigência de imunização.
Ao
todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, que miram militares e
políticos do Rio de Janeiro, e seis pessoas foram presas.
A
nova operação se soma a uma série de investigações em curso que envolvem o
ex-presidente. Ao todo, Bolsonaro é alvo de oito inquéritos, que abordam
suspeitas de participação no caso das milícias digitais, os ataques golpistas
de 8 de janeiro, a tentativa de entrar ilegalmente no país com joias sauditas
avaliadas em milhões de reais, ações para desestimular medidas de prevenção na
pandemia, suspeita de interferência na PF, ataques ao sistema eleitoral,
apologia ao estupro e vazamento de um inquérito sigiloso.
Após
a operação, Bolsonaro negou qualquer fraude e disse que não tomou a vacina
contra a covid-19, assim como sua filha, Laura Bolsonaro. "Não tomei a
vacina. Nunca me foi pedido cartão de vacina [para entrar nos EUA]. Não existe
adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso.
Havia gente que me pressionava para tomar, natural. Mas não tomava, porque li a
bula da Pfizer", disse o ex-presidente.
• Fraude em comprovantes de vacinação
O
esquema investigado pela PF aponta que dados falsos de vacinação teriam sido
inseridos em dois sistemas do Ministério da Saúde – o Programa Nacional de
Imunizações e a Rede Nacional de Dados em Saúde – entre novembro e dezembro de
2022, com o objetivo de gerar comprovantes fraudulentos de vacinação.
Teriam
sido forjados comprovantes de vacinação dos seguintes personagens:
• Ex-presidente Jair Bolsonaro
• Laura Bolsonaro, filha de 12 anos de
Jair e Michele Bolsonaro
• Tenente-coronel Mauro Cid Barbosa
• A mulher e a filha do coronel Cid
Segundo
a Polícia Federal, os sistemas adulterados do Ministério da Saúde chegaram a
indicar que duas doses de vacinas da Pfizer contra Covid teriam sido aplicadas
em Jair Bolsonaro. Após a operação, o ex-presidente negou que ele e a filha
tenham se imunizado.
Os
suspeitos de participarem do esquema são investigados, segundo a PF, pelos
crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa,
inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
De
acordo com a PF, Bolsonaro tinha ciência da inserção fraudulenta de dados nos
sistemas do Ministério da Saúde.
"Jair
Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara [os dois últimos
assessores do ex-presidente] tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos
dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente
momento", diz a PF.
• O objetivo da fraude
Segundo
a investigação, o esquema fraudulento tinha como objetivo garantir que Jair
Bolsonaro e membros do círculo, incluindo sua filha, Laura, e vários assessores
e os familiares destes pudessem entrar nos EUA. Bolsonaro se notabilizou
durante a pandemia por declarar publicamente que não tomaria a vacina e por
espalhar desinformação sobre os imunizantes.
Pelas
regras que entraram em vigor nos EUA desde 2021, a entrada a partir do exterior
de viajantes não cidadãos e não residentes no país só é permitida com a apresentação
de comprovante de vacinação. Recentemente, o governo americano informou que
deve acabar com a exigência a partir de 11 de maio de 2023.
"Com
isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e
utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos
poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de
doença contagiosa, no caso, a pandemia de Covid", diz a Polícia Federal.
Ainda
segundo a PF, o grupo teria como
objetivo "manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas
ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação
contra a covid-19", no que parece uma referência às ações do ex-presidente
durante a pandemia, caracterizadas por sabotagem a medidas de prevenção,
oposição à vacinação e campanhas de desinformação sobre a doença.
Bolsonaro
abandonou o governo em 30 de dezembro e seguiu para o estado americano da
Flórida junto com Michele e uma série de assessores, evitando a posse do seu
sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele retornou ao Brasil em março.
Embaixada dos EUA recebe pedido para
suspender vistos de Bolsonaro e Michelle; PF analisa pendrive
Pedido
enviado por deputada à embaixada também abarca solicitação para suspensão de
visto de Mauro Cid e outros aliados do ex-presidente. Além do celular, Polícia
Federal apreendeu pendrive na casa de Bolsonaro, o qual está sendo analisado
pela corporação.
Após
a operação da PF realizada ontem (3), um ofício foi enviado à embaixadora dos
EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, pedindo que a diplomacia norte-americana abra
uma investigação contra o ex-presidente, Jair Bolsonaro, sua esposa, Michelle
Bolsonaro, e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente preso na
quarta-feira (3).
O
ofício, encaminhado por meio da Câmara dos Deputados pela parlamentar Erika
Hilton (PSOL), também pede à embaixadora que avalie suspender vistos que
permitam a entrada do trio no país, relata a coluna de Lauro Jardim em O Globo.
Ontem
(3), a Polícia Federal deflagrou a Operação Venire, na qual está sendo
investigado um suposto esquema de fraude em cartões de vacina contra COVID-19,
pelo qual dados falsos teriam sido inseridos nos cartões do ex-presidente, sua
filha Laura de 12 anos e aliados para viajarem aos Estados Unidos. O
ex-mandatário nega que tenha fraudado qualquer dado.
No
documento, Hilton afirma que é preocupante "a possibilidade das possíveis
irregularidades cometidas por Bolsonaro configurarem ilícito também nos Estados
Unidos", uma vez que, segundo a deputada, quem ingressa no país se submete
ao risco de ser punido caso cometa fraude nos documentos apresentados para a
entrada.
A
solicitação da deputada a Elizabeth Bagley também se estende ao deputado Gutemberg
Reis, do MDB no Rio; aos auxiliares bolsonaristas Max Guilherme de Moura e
Sérgio Cordeiro, entre outros alvos da operação policial, relata a mídia.
Apesar
de não estar mais ocupando a chefia do Palácio do Planalto, tanto Bolsonaro
quanto Michelle possuem passaportes diplomáticos concedidos a ex-presidentes e
dependentes diretos.
• Pendrive
No
âmbito da ação, a PF cumpriu 16 mandados de busca e apreensão, e outros seis
mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro. Um dos mandados
de busca e apreensão aconteceu na residência do ex-presidente.
No
local, foi informado ontem (3) que a PF apreendeu o celular de Bolsonaro, no
entanto hoje (4), a mídia afirma que um pendrive foi apreendido na casa do
ex-mandatário e diversos outros nas buscas feitas nos 16 endereços.
Fonte:
Deutsche Welle/Sputnik Brasil
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