sexta-feira, 10 de março de 2023


 Real Digital: o que é a nova tecnologia do Banco Central brasileiro?

O que vai mudar a partir do lançamento do Real Digital, a moeda 100% virtual do governo brasileiro? Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas financeiros explicam quais serão os benefícios da nova moeda e por que ela não é uma criptomoeda qualquer.

Desde o lançamento em 2008 do Bitcoin, a criptomoeda mais conhecida do mundo, economistas no mundo inteiro apontaram para um fato inevitável: o futuro seria marcado pelo surgimento de novas de formas de dinheiro digital.

Deste modo, para evitar os riscos de moedas que são emitidas por agentes do mercado financeiro e não pelos bancos centrais, como o próprio Bitcoin, os países precisariam se adaptar para a nova realidade.

O setor bancário brasileiro está prestes a dar esse passo. O Brasil lançará em 2023 o Real Digital, uma moeda virtual que ficará sob controle do Banco Central (BC) brasileiro. Países como China, Suíça e Uruguai já estão aderindo à implementação, enquanto o Brasil estuda o seu modelo visando o lançamento em um futuro próximo.

Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, as jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto conversaram com Marilyn Hahn, especialista em finanças e economia, e Bernardo Srur, diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).

        O que é Real Digital?

As moedas digitais de bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês) estão sendo desenvolvidas em cerca de 90 países, com a promessa de reinventar a política monetária internacional. Em razão da precocidade do fenômeno, as consequências do advento das moedas digitais ainda são objeto de estudo.

No entanto, como garantiu Marilyn Hahn, é possível assegurar de antemão algumas características sobre o dinheiro digital brasileiro que moldará o futuro econômico do país. Ela frisou, por exemplo, que o Real Digital não será como uma criptomoeda qualquer. O Banco Central do Brasil já frisou reiteradas vezes que o Real Digital não será mais uma criptomoeda. As características da tecnologia ainda não estão definidas, e deverão ser melhor esclarecidas ainda no primeiro semestre, no lançamento do projeto piloto para testes com a privacidade e segurança da rede.

"É, na prática, uma extensão da nossa moeda em papel", disse ela, explicando que "quando o BC emite papel moeda, existem várias formas de emissão, como o papel e o PIX, que é digital".

"O Real Digital tem como objetivo criar uma nova estrutura bancária a partir de blockchain. Isso facilita romper uma série de barreiras ao oferecer maior padronização do sistema, mais alcance, e maior rastreabilidade do dinheiro, que são os pontos mais importantes para o BC e para o consumidor", disse ela.

        Bitcoin é 'completamente diferente'

Existe uma confusão quando o assunto é Real Digital e criptomoedas. Muitas vezes, a opinião pública tende a colocar tudo no mesmo cesto, como se fossem a mesma coisa.

Existem semelhanças, como a existência de uma rede onde esse ativo trafegará pela emissão de tokens (representações digitais) e o uso dos chamados "contratos inteligentes" (smart contracts), programas que executam transações de forma automática assim que determinadas condições são atendidas.

Entretanto, como afirmou Bernardo Sur, "criptomoedas como Bitcoin, por exemplo, são completamente diferentes" do projeto envolvendo o Real Digital brasileiro. Ele explicou que a primeira grande diferença "é forma de valorização e o seu lastro".

"O Bitcoin valoriza pela sua segurança da sua rede, e o seu valor é dado pelo mercado por meio de compra e venda. O Real Digital será emitido pelo Estado, existe um ente que controla sua emissão e propagação", comentou.

Ele ainda apontou que o "bitcoin é descentralizado. Portanto, sem controle de órgão monetário. Ao passo que o Real Digital terá o BC como agente, que controlará esse ativo".

        O que o Brasil tem a ganhar com a tecnologia?

Ambos os analistas consultados pela Sputnik Brasil apontaram que existem muitos benefícios quando o assunto é o desenvolvimento de novas formas para uso do dinheiro digital.

Um deles é a redução do custo de criação e manutenção de contratos financeiros por meio de padronização e interoperabilidade. Outro é a chamada composição de serviços financeiros, ou composibilidade.

A composibilidade é um conceito. Os serviços financeiros são regidos por programas de computador que verificam transações, liquidam valores, e realizam operações pré-determinadas, como transferências imediatas após a assinatura de um contrato.

O Real Digital, embora não seja uma criptomoeda, deverá ser compatível com funções avançadas como essas.

Para Marilyn Hahn, "a ideia do BC é fomentar novas ideias de negócio para alcançar novos contratos e novos tipos de negociações. Existem múltiplas possibilidades para o uso do Real Digital, mas, em um primeiro momento, ele será utilizado para fazer políticas monetárias".

Ela explicou que o Real Digital estará "integralmente conectado on-line para transações digitais". Isso significa, na prática, "facilidade maior, e menos custos, entre transferências entre bancos".

"O PIX é um grande benefício, e a gente ainda está apredendo bastante com ele. O Real Digital vem mais ou menos nessa linha, para dar maior transparência, reduzir custos do sistema, prevenir lavagem de dinheiro e corrupção", afirmou.

        Inevitáveis crimes cibernéticos

Embora o combate aos crimes cibernéticos seja uma prioridade no projeto do BC do Brasil, a entidade ainda não confirmou se usará tecnologia blockchain para proteger o Real Digital dos criminosos cibernéticos.

Embora o conceito das CBDCs tenha vindo do mundo das criptomoedas, os projetos em andamento no mundo, no geral, utilizam uma tecnologia de proteção chamada Distributed Ledger Technology (DLT).

DLT e Blockchain têm em comum o conceito de um livro de registro de transações, um banco de dados. Toda blockchain é DLT, mas nem toda DLT é blockchain. Elas diferem, sobretudo, na questão do acesso aos dados em uma determinada rede. Para a tecnologia blockchain, o acesso é público.

Marilyn Hahn avalia que independente da tecnologia, ela deve dar resiliência cibernética ao projeto, embora seja improvável determinar os curso que tomarão as fraudes e golpes cibernéticos, "cada vez mais engenhosos". O que importa, por outro lado, "é que o dinheiro está lastreado".

A especialista espera que, neste primeiro momento do projeto, o BC possa trabalhar na elaboração de "políticas monetárias que estejam de maior acordo com as demandas da população e da economia brasileira", pois isso "permitirá a entrada de novos agentes no mercado".

 

       Mídia: 'Corrida' de bolsonaristas para Banco do BRICS pode dificultar chefia de Dilma na instituição

 

Diplomatas e funcionários, alinhados ao bolsonarismo, procuram novos postos após serem colocados de lado com a chegada do novo governo. Uma das organizações visadas pelo grupo é o banco do bloco, no qual eles poderão ter possibilidade de serem nomeados antes de Dilma assumir.

Em fevereiro foi anunciado que a ex-presidente Dilma Rousseff será a nova chefe do Banco do BRICS. Dilma assumirá o lugar de Marcos Troyjo e ficará na chefia até 2025.

Troyjo ficaria mais tempo no cargo, no caso por mais dois anos, justamente a data oferecida à ex-presidente. Entretanto, segundo a coluna de Jamil Chade no UOL, após Troyjo ter chamado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "presidiário", e ter dado declarações contestando o fato de que o Brasil estaria se transformando em um pária internacional, o brasileiro viu seu cargo ser ameaçado.

Lula e sua equipe de política externa insistiram que não haveria caça às bruxas contra diplomatas que tivessem servido ao governo de Jair Bolsonaro, mas isso não significaria que os cargos mais estratégicos da rede de embaixadas do Brasil no exterior seriam deixados nas mãos de pessoas escolhidas pelo ex-presidente, relata o jornalista.

Sendo assim, diplomatas e servidores públicos que foram colocados na "geladeira" pelo governo vigente estão se mobilizando para tentar vagas em outros postos, e alguns deles, como funcionários do Banco do BRICS.

De acordo com a coluna, dentro do Palácio do Planalto, a preocupação é de que esses funcionários, se conseguirem as vagas antes de Dilma assumir seu posto em Xangai, poderão representar um risco para a ex-presidente. A avaliação é de que, em tal cargo, a ex-presidente precisará contar com diplomatas leais a ela.

A mídia ainda relata que, sabendo da mudança, há uma suspeita de que aconteça uma corrida entre os bolsonaristas para assegurar que possam em parte manter a influência no fluxo de investimentos ao Brasil.

A percepção no Palácio do Planalto é de que a ampla carteira poderia ser alvo da cobiça de aliados de bolsonaristas, na esperança de conseguir recursos para projetos que apoiem regiões, municípios ou estados governados por herdeiros do governo anterior, escreve o jornalista.

Hoje, o Banco do BRICS já aprovou cerca de US$ 31 bilhões (R$ 159 bilhões) em investimentos nos países emergentes. Até o começo do governo Bolsonaro, o volume de recursos ao Brasil era modesto e não passava da marca dos US$ 600 milhões (R$ 3 bilhões), a carteira de investimentos em projetos brasileiros aumentou de forma substancial e atualmente chega a US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões).

Contudo, o Novo Banco de Desenvolvimento – como também é conhecido o banco do BRICS – tem uma identidade mais geopolítica, e tem como meta mobilizar recursos para investir em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países e mercados emergentes.

 

       'Barreiras arbitrárias, sem rigor científico', diz chanceler argentino sobre acordo UE–Mercosul

 

Apesar de enxergar um desejo de colaboração por parte dos europeus em relação ao acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Santiago Cafiero, tece críticas ao acordo selado em 2019 pelos dois blocos econômicos.

Em entrevista cedida ao jornal O Globo nesta terça-feira (14), ele afirma que, quando o acordo terminou de ser negociado, em meados de dezembro de 2019, "a UE começou a incorporar [ao acordo] diretivas do que chama de Pacto Verde Europeu".

Devido a isso, segundo ele, muitos tópicos estabelecidos na negociação ficaram "obsoletos".

"Vamos esperar e estudar. Mas não é o Mercosul, a bola está do lado dos europeus faz tempo. Vemos barreiras que são arbitrárias, sem rigor científico, baseadas em lobbies e não em dados. Temos um grande compromisso com todas as políticas de combate às mudanças climáticas, mas pedimos que não se tomem medidas de forma geral, deve ser entendido como produzimos em nossos países. As decisões devem ser tomadas em base à ciência", declarou.

Sobre a promessa do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de o acordo ser selado por definitivo ainda neste ano, Cafiero afirmou que tanto ele quanto o presidente argentino, Alberto Fernández, disseram ao chanceler alemão, Olaf Scholz, que o "capítulo sobre compras governamentais também deve ser revisado".

"O Mercosul disse em dezembro que estava preocupado com as normas europeias vinculadas ao acordo", acrescentou. O chanceler argentino enfatizou que as posições do Mercosul "são coordenadas com os demais sócios do bloco. O que a Argentina propõe é avançar com o acordo, mas queremos revisá-lo porque vários capítulos desse acordo foram modificados pela UE, e não pelo Mercosul".

        'Lua de mel' entre Argentina e Brasil

Questionado sobre as atuais relações entusiasmadas entre Brasil e Argentina, o ministro diz que a relação pessoal entre Lula e Fernández é um grande impulso para a proximidade entre os dois países da América do Sul.

"Essa sintonia política e afetiva permite uma velocidade diferente na relação. É muito importante que a primeira viagem oficial de Lula tenha sido a Buenos Aires, menos de um mês após assumir. Temos uma agenda de trabalho, com muita coordenação e cooperação. O que os presidentes assinaram é um plano de voo para a relação bilateral, para um período de 10 a 15 anos."

Sobre os pontos principais dessa relação sob o ponto de vista argentino, ele disse que "o projeto de ampliação do gasoduto de Vaca Muerta, para chegar ao Sul do Brasil permitiria ao Brasil ampliar suas exportações para a Argentina, e ao nosso país terminar uma obra importante. Se exportássemos mais gás ao Brasil, conseguiríamos equilibrar nossa balança comercial bilateral".

 

Fonte: Sputnik Brasil

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