segunda-feira, 16 de maio de 2011

AGRONEGÓCIO: Que benefícios traz?



Que futuro nos espera com o avanço do agronegócio, principalmente aquele focado na monocultura, como a produção de cana para o Programa do Etanol, eucalipto, soja, pecuária, etc. e quais influências negativas estas atividades trará para o campo, para os trabalhadores rurais e para o meio ambiente, por exemplo? Quais perspectivas este modelo que hoje os nossos empresários querem impor a qualquer custo trará principalmente para a agricultura familiar? Por acaso você já teve esta preocupação?
Pelo que vemos hoje, pode-se concluir que as perspectivas não são das melhores, pois o que se tem observado é a super exploração do trabalhador, a implantação gradativa do trabalho escravo, o desrespeito a legislação trabalhista, a degradação e a poluição ambiental ocasionados pela perda da biodiversidade e pelas queimadas, a contaminação dos trabalhadores pelo uso indiscriminado totalmente inadequado de agrotóxicos, enfim, os empresários do agronegócio têm dado um exemplo, de como o governo tem sido ineficiente nos cuidados com o seu patrimônio, ou seja, com a natureza e o trabalhador, diante de todas as mazelas que este modelo tem causado.
Se alguém tiver a curiosidade de analisar como é realizada a produção de cana, por exemplo, verá que a mesma ainda segue padrões da época do Brasil colônia, com grandes extensões de terras com um único produto – a cana, utilizando-se do trabalho escravo ou análogo, pois as condições são desumanas, cuja produção final tem como objetivo básico o comércio exterior.
A lógica do modelo implantado é produzir commodities e não alimentos ou até mesmo energia, como prova, assiste-se diariamente a reclamação de quem precisa deste combustível para abastecer os seus veículos. São preços praticados fora da realidade, apesar dos incentivos do Governo Federal.
É claro que temos que reconhecer que a utilização do etanol como combustível é mais limpo que os derivados do petróleo, porém, deve ser observado que o problema não está na queima do etanol pelo veículo, mas sim a sua produção que não tem nada de limpa e muito menos de bio–combustível, haja vista que, o modelo produtivo utilizado não tem como modelo a vida, que é o significado de “bio” e, atendendo a sugestão do pesquisador Marcelo Durão, deveria ser chamado “de agro-combustiveis, pois vem de produtos agrícolas”.
Entre os impactos negativos que o agronegócio vem trazendo para o campo em nosso País, que são muitos e variados, principalmente, por ser um modelo que vem a cada dia e a passos largos ganhando cada vez mais força e espaço, e como no passado, vem competindo diretamente com a agricultura familiar na produção de alimentos. Hoje se vê cada vez mais culturas como eucalipto, cana, soja, pecuária ocupando espaços cada vez maiores, empurrando o produtor familiar para o que podemos considerar “periferia rural ou produtiva”, cujos espaços ocupados por este tipo de atividade, vem em detrimento da diminuição de culturas da nossa cesta básica como arroz, feijão, milho, mandioca, entre outros.
O agronegócio tem sido um modelo que não respeita o meio ambiente e tão pouco a diversidade, apenas se preocupa com a expansão dos espaços e da fronteira agrícola, o que tem proporcionando o aumento da violência no campo, em todas as regiões brasileiras.
Não culpem o MST pela a violência do campo, eles apenas são mais uma vítima, dos impactos negativos trazidos pelo agronegócio.
É um modelo tão irracional, que chegou ao extremo de proporcionar ao Brasil o “titulo” de país que mais utiliza agrotóxico no mundo, ao ponto de hoje termos o consumo em média de 6 quilos de agrotóxicos por habitantes ao ano, além, como comprovado por recente pesquisas realizadas, de já estarmos contaminando o leite materno. Isto tudo tem ocorrido nas barbas do governo e este nada faz e não reage.
Portanto está na hora de começarmos a repensar que modelo de agricultura quer e precisamos, inclusive e se não seria possível a produção de “agrocombustíveis” nos assentamentos e ou na agricultura familiar, dentro de uma lógica em que se possa conviver harmonicamente a sua produção e a produção de alimentos. Nunca a sua substituição pela nefasta monocultura. Que a produção para o agrocombustível seja mais uma estratégia que venha proporcionar o aumento da renda das famílias camponesas, jamais a sua substituição.
Portanto, a ilusão do dinheiro fácil funciona como o canto da sereia e com isto contamina as pessoas. Os exemplos de municípios que optaram por este tipo atividade econômicas historicamente têm sido iniciativas que tem levado progressivamente a região ao empobrecimento em detrimento da riqueza de uma minoria.
Regiões que optaram por substituir a policultura pela monocultura do agronegócio, o que se observa neste oceano de um único produto, seja cana, cacau, soja, etc, são duas realidades bem distintas, ou seja, um grupo de três ou quatro famílias com padrão acima da média nacional e centenas de famílias e milhares de trabalhadores vivendo à beira da miséria, sendo explorados como trabalhadores, muitos dependendo do bolsa família para sobreviverem.
Esta é a realidade que o agronegócio e da introdução da monocultura traz para a sociedade. É a exploração do homem, como se assiste em diversos estados, fazendas sendo descobertas por fazer uso do trabalho escravo; é a exploração de uma imensa massa de trabalhadores sazonalmente, sem respeitar os direitos trabalhistas, levando-os à miséria, quando não a morte pelo uso irracional de agrotóxico, e ao esgotamento físico, emocional e psicológico.
Assim, fica uma pergunta no ar: por que o Governo Federal insiste no incentivo a este modelo que tanto prejuízo tem trazido para a produção familiar, para os trabalhadores do campo e ao meio ambiente? Que futuro quer para este nosso País, quando todos sabem os resultados nefastos que este modelo traz, ao ponto de nos países considerados desenvolvidos este tipo de atividade está completamente abolida?
Será que reservaram para nós, em desenvolvimento este modelo como forma de continuarmos em eterno desenvolvimento? Porque não seguimos os bons exemplos e aplicamos em nosso País?
Introduzir a monocultura é querer dar aos nossos descendentes um futuro mais negro do que hoje já temos.
Portanto, o modelo implantado pelo agronegócio deve ser reavaliado pelo Governo, no que se refere aos incentivos, diante dos malefícios causados a todos em benefício de uma minoria. É necessário que o Governo reavalie os custos – benefícios que esta atividade tem trazido, os quais são mais custos, infinitamente maiores, que os benefícios, pois este além de mínimo só beneficia uma minoria, em detrimento dos mais necessitados.
Você pode até se iludir com o boom econômico ocasionado pela introdução agronegócio monocultor em determinada região. Porém, este boom será passageiro a médio e longo prazo, e logo se assistirá a leva de desempregados e miseráveis batendo em sua porta. Vejam o que está ocorrendo na região cacaueira do Sul da Bahia? Na primeira crise, a região faliu.

3 comentários:

Antônio Carlos disse...

Como o governo na realidade somos nós representados por que nó elegemos para fazer as leis, estamos muito longe de mudar este quadro. Não esquecer que a grande maioria cai no "Canto da Sereia" como você mesmo disse: o lucro fácil e imediato é quem guia os cidadãos na chamada Sociedade de Consumo!!!

Palavradesa disse...

Definitivamente essa semana nós não estamos batendo no mesmo ritmo. :-) O Professor Roozewelt é um pensador por excelência, tem CORAGEM para escrever e nos faz humildemente um convite para lermos seus artigos e comentar. Eu, atualmente, tenho inveja do Prof. Roozewelt porque não estou conseguindo escrever bulhufas. Ainda bem que essa semana consegui digitar alguma coisa aqui com você. Graças a nossa adorável deusa Atena. Já amanhã, não sei. Todo dia mudamos de cabeça de nem nos percebemos isso. Paciência. Roma não foi feita em um dia. De qualquer maneira, o estimado Prof. Roozewelt merece nossas mais sinceras palavras e reconhecimentos pela sua bravura, iniciativa e perseverança enquanto vivo. Que Deus o mantenha sempre assim!

"INGLOURIOUS BASTERDS"

Sandro disse...

Excelente texto Roozewelt. Creio que vale ressaltar que a média de 5.2 kg de agrotoxico por pessoa é a exposição ou seja..dividi-se o valor de agrotoxico utilizado pelo numero de habitantes.
Outra coisa interessante Prof Roozewelt citar é que além do leite materno, no mesmo local fez-se amostra de agua de poço, chuva, rio, lagos, ar e urina e sangue de trabalhadores. Praticamente todos tiveram contaminação.
Abração e parabéns novamente pelo belo texto