quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Sara Góes: Bolsonaro - o gato molhado que se achava leão

Você já deu banho em gato? Sim, é uma maldade, é desnecessário. Gatos são criaturas perfeitas e autolimpantes, mas, ocasionalmente, acidentes acontecem e se faz necessária essa tortura. Gatos são criaturas orgulhosas e autossuficiente. Quando sentem a primeira gota de água, reagem como se o universo o estivesse traindo. O humano, por sua vez, enfrenta uma verdadeira batalha. Segurar o gato parece impossível; de repente, ele desenvolve uma força sobrenatural e habilidades de contorcionismo que te fazem duvidar que gatos têm esqueleto. A cada tentativa de ensaboá-lo, o gato dispara miados dramáticos, se contorce e tenta escapar. Ao final, o pobre humano está com arranhões por todo o corpo, roupas encharcadas, o banheiro parece ter passado por um dilúvio e gato anota se nome em uma lista de vingança. Ambos saem dessa batalha abalados e ligeiramente traumatizados.

Sei que é mais fácil imaginar Bolsonaro como aquilo que o gato enterra, mas faça um esforço: Imagine Bolsonaro como um gato enfurecido ao ver uma gota d’água, insistindo que ainda domina o território político mesmo quando a realidade tenta lhe esfregar a verdade na cara. Ele se vê como o grande "felino" de Brasília, um leão de juba farta, quando na verdade o que temos é um gato trêmulo no banheiro, em pleno delírio felino, recusando-se a aceitar que o banho – ou o fim de sua era política – é inevitável.

Segundo Igor Gadelha, do portal Metrópoles, Bolsonaro tem feito apelos diretos em uma tentativa desesperada de reafirmar sua influência, O ex-presidente inelegível pediu a senadores aliados que deem prioridade à reeleição em 2026, em vez de se aventurarem em disputas estaduais para o governo. Convenhamos, é um sacrifício que só se propõe com boas garantias — algo que definitivamente não é o ponto forte de Bolsonaro, conhecido por largar aliados à própria sorte, com exceção dos próprios filhos. Esse tipo de comportamento é frequentemente, e injustamente, atribuído aos gatos, mas, na verdade, a deslealdade é uma marca muito mais humana, especialmente entre figuras da extrema direita, enquanto os felinos, ao contrário, são criaturas de muita dignidade. Bolsonaro precisa assegurar uma bancada robusta no Senado, com a esperança de atingir os 54 votos necessários para aprovar um possível impeachment de Alexandre de Moraes. Essa estratégia audaciosa, que exige o sacrifício de aliados que já sentiram na pele a deslealdade do ex-presidente, foi confirmada por seu filho, Flávio Bolsonaro. No início de outubro, Flávio declarou ao portal Metrópoles acreditar que, em 2027, a direita terá o controle boa parte dos senadores, número suficiente para pôr fim ao que ele descreve como as “maluquices” de Moraes. Pois tá.

Nas mesmas 72 horas em que Dona Fátima de Tubarão, símbolo da intentona de 8 de Janeiro, e Ives Gandra, o respaldo jurídico daquela marmota, ganham destaque por suas punições, Bolsonaro tenta, tenta e tenta. A cada nova tentativa de “limpá-lo” com os fatos, ele responde com mais acrobacias: “Eu sou o Messias, quem decide é o povo!”, brada com a mesma fúria de um gato molhado. A realidade se aproxima com a ducha gelada das leis, das urnas e das condenações, mas ele continua se debatendo, miando promessas de candidatura enquanto corre em círculos, alheio ao próprio fim.

Enquanto o “banho” se desenrola, os apoiadores tentam convencê-lo a aceitar o fato, mas ele só responde com “fake news!” e, em um último ato de desespero, declara: “2026 será meu!” – um miado final para convencer a todos (ou a ele mesmo) de que ainda tem a dignidade intacta. Quando finalmente se retira, ele se olha no espelho e vê um leão.

 

•        Evangélicos começam a abandonar Bolsonaro. Mas para onde vão?

“Meu rumo também era assim, não ter para onde ir...” os versos de uma música bem conhecida no mundo gospel dos anos 90, do cantor Sergio Lopes, parecem definir bem o atual momento de muitos líderes evangélicos que, embarcados na canoa furada de Jair Bolsonaro, começam a abandonar o barco. E o desembarque, grande, já começou. O ex-presidente e agora inelegível vê o seu séquito diminuir a cada curva de rio.

A campanha eleitoral do Rio de Janeiro foi uma demonstração forte do que viria em seguida: nomes até então inseparáveis e aguerridos migraram sem pena para o lado de Eduardo Paes (PSD), que despontava com uma reeleição certa (o que se comprovou nas urnas, logo no 1º turno). Líderes como o pastor Cláudio Duarte, organizador da Marcha para Jesus, e o bispo Abner Ferreira, líder da Assembleia de Deus Madureira, apoiaram Paes, o que resultou em ataques por parte de apoiadores de Bolsonaro. O deputado Otoni de Paula (MDB), também ligado à Assembleia de Deus Madureira, criticou a pressão política dentro das igrejas, afirmando: “A igreja deve representar o Senhor, não um lado político”.

Otoni talvez seja o maior expoente dessa debandada do bolsonarismo. Muitos apoiadores de Bolsonaro expressaram desapontamento e indignação nas redes sociais, acusando o pastor de traição e falta de lealdade. As críticas destacam a decepção dos seguidores que viam nele um aliado fiel ao ex-presidente, interpretando sua decisão como uma ruptura significativa com a base política conservadora que ele anteriormente defendia. Em resposta, o deputado do MDB tem buscado justificar sua mudança de posicionamento, argumentando que suas ações são guiadas por princípios e convicções pessoais, e não por alianças políticas.

Descontentes com a postura do bolsonarismo, uma parte considerável das igrejas começou a moderar seu discurso para recuperar uma posição neutra. A Igreja Universal, por exemplo, que em 2022 era conhecida por seu discurso contrário à esquerda, recentemente adotou uma postura mais neutra, afirmando que a igreja não deve apoiar nem a esquerda nem a direita. Esse reposicionamento busca preservar a autonomia das igrejas e evitar que questões políticas dividam suas congregações.

Além disso, há um crescente entendimento dentro das igrejas evangélicas de que a fé e a política devem ser mantidas separadas para preservar a integridade espiritual e a missão religiosa. Diversos pastores e líderes religiosos têm ressaltado que a igreja deve ser um lugar de acolhimento para todos, independentemente de suas orientações políticas. Talvez um dos motivos seja o grande êxodo de evangélicos de suas igrejas, o que faz com que a população de “desigrejados” cresça exponencialmente a cada novo censo.

Mas, olhando friamente toda essa movimentação, a pergunta que surge é: para onde irão esses evangélicos, já que o discurso contra a “esquerda” ainda é muito forte nesse meio? A tendência é ficarem onde sempre se sentiram bem à vontade, no centrão, flutuando conforme a força política mais poderosa no momento. Assim não se desgastam tanto como sofreram pelo apoio ferrenho ao bolsonarismo durante os últimos 4 anos. Isso custou uma debandada de fiéis, o que impacta no poderio financeiro e até mesmo no poderio político local. A prova disso é o fracasso das grandes denominações mais próximas do bolsonarismo nas últimas eleições.

No cenário eleitoral carioca, um dos representantes da Igreja Universal, o pastor Deangeles Percy (PSD), atribuiu seu desempenho nas eleições a uma radicalização política local. Percy, que integra o PSD, partido do atual prefeito Eduardo Paes, avalia que o tom agressivo da campanha dificultou sua candidatura. Essa abordagem reflete sua tentativa de manter o foco na campanha e evitar conflitos desnecessários em um ambiente já marcado por intensa polarização.

Quem vai ficando cada vez mais isolado nessa história, além do próprio Bolsonaro, é o empresário da fé Sila Malafaia. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

 

•        Consciência democrática exige prisão de Bolsonaro. Por Paulo Moreira Leite

Para entender a necessidade de punir Bolsonaro em função da tentativa de golpe contra a eleição de Lula, é preciso começar pelo começo.

A apuração realizada pela Polícia Federal foi um trabalho sério e isento, sem suposições indevidas nem teses pré-concebidas. Com supervisão do Supremo Tribunal Federal, as investigações chegaram a um ponto final sem espalhafato nem espetáculos à plateia. Mostram fatos — somente.

Ali se comprova, por A + B + C + ... Z, o envolvimento do principal assessor presidencial, tenente-coronel Mauro Cid, em operações clandestinas que tinham Bolsonaro como beneficiário.

Também se aponta para o andar de cima do Planalto na época, onde se encontrava o general Mauro Cid, pai, que se mobilizava nos Estados Unidos em movimentos de apoio ao antigo colega de Academia Militar. O envolvimento de outros generais e oficiais graduados ficou demonstrado a partir de documentos de próprio punho, em atas de reunião, assinadas e registradas.

Para completar, não faltam provas entre cartolas do empresariado de extrema-direita, que, em tom de carnaval ideológico, prometiam animar a trama antidemocrática com todo seu pre$tígio e patrioti$mo.

Donos de restaurantes, shoppings e construtoras do Rio de Janeiro foram flagrados em conversas inesquecíveis. "Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo", diz um deles, em conversa gravada.

Assim o país soube da sinistra operação que, apoiada pelo próprio Bolsonaro, articulou uma tentativa de golpe para impedir a eleição e depois a posse de um presidente eleito pelo voto popular.

Não custa lembrar que o cenário sul-americano contribuía para os ataques à democracia, produzindo um mapa geopolítico do continente que mostra uma típica Paz de Cemitério, conceito da Ciência Política empregado por Antonio Gramsci para descrever povos silenciados pela força e pelo medo.

Empregando a voz grossa, o discurso lúcido e a mobilização popular para derrotar as asperezas de uma conjuntura política acidentada, Lula manteve a consciência do país de pé e, assim, chegou ao Planalto pela terceira vez.

Enquanto outros países mergulhavam em cenários de incerteza e riscos à democracia, sua vitória impediu que, no país com o maior PIB e maior influência na região, a democracia fosse mutilada.

Hoje, quando a terceira vitória de Lula caminha para o segundo aniversário, é importante lembrar um fato com clareza.

O crime de golpe de Estado está previsto no artigo 366 do Código Penal, que assim o define: "Tentar, o funcionário público, civil ou militar, depor o governo constituído ou impedir o funcionamento das instituições constitucionais. Pena — reclusão, 4 a 12 anos".

Ao deixar explícito que as tentativas de golpe já constituem, em si, um crime com pena de reclusão de 4 a 12 anos, o artigo 366 mostra uma firmeza que não admite jeitinhos nem concessões indevidas. Basta olhar a paisagem para compreender que é preciso agir e cumprir a lei.

Alguma dúvida?

•        Otoni de Paula diz que Bolsonaro se negou a retirar golpistas da porta dos quartéis

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) afirmou em vídeo que, logo após as eleições presidenciais de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez um apelo ao seu então aliado, Jair Bolsonaro (PL): que ele pedisse a seus apoiadores que se retirassem da porta dos quartéis, mas ele se negou.

“Eu disse: ‘Presidente, então diga para os patriotas saírem da porta desses quartéis. Por que, senão, o senhor vai sair o pequeno dessa história’. Ele não quis fazer”, contou.

<><> Disse o mesmo em entrevista na época

Assim que terminaram as eleições de 2022 e pouco antes da tentativa de golpe do 8 de janeiro, Otoni de Paula deu uma entrevista ao site de extrema direita Jornal da Cidade Online. Na ocasião, ele afirmou aos acampados na porta dos quartéis que Bolsonaro não iria agir e que eles seriam presos se não saíssem de lá.

“Eu vou ser chamado de traidor por aqueles que acham que o presidente Bolsonaro vai agir, e eu, olhando na sua câmera, digo: não vai. E digo: não se iludam. E digo mais: saiam das portas dos quartéis, vocês serão presos e não haverá ninguém que os defenda”, disse então.

 

¨      "Vai acabar não dando em nada", diz Heleno sobre 'inquérito do golpe

O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro (PL), tem se mostrado cético em relação às investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. “Isso vai acabar não dando em nada”, tem dito o militar em conversas com pessoas próximas, de acordo com a coluna da jornalista Monica Gugliano, do jornal O Estado de S. Paulo. 

Ainda conforme a reportagem, desde que deixou o GSI, Heleno tem mantido um perfil baixo, limitando suas saídas ao necessário, como visitas a advogados e ao supermercado. Ele acredita que, quanto mais silencioso permanecer, maiores serão suas chances de escapar ileso da sindicância que envolve suas articulações com a ala mais radical do Exército, que resistia à vitória eleitoral do presidente Lula (PT). O general, que antes se destacava por sua disposição em compartilhar informações, agora tornou-se reservado, evitando jornalistas e até mudando seu número de telefone.

Heleno tem aliados nas Forças Armadas que trabalham para evitar que ele enfrente o constrangimento de ser acusado pela tentativa de golpe. O lobby em sua defesa se estende por tribunais e pelo Congresso, em um esforço que revela a complexidade das relações dentro da caserna e a urgência em proteger sua imagem.

Diferentemente de outros generais, Heleno sempre foi visto como um ídolo militar, reconhecido por sua postura firme e raramente em confronto com autoridades, mesmo as mais altas, como a Presidência da República. No entanto, sua trajetória não é isenta de controvérsias. Desde o início do governo Bolsonaro, ele esteve envolvido nas discussões e articulações que buscavam deslegitimar a eleição de Lula.

Heleno, que se tornou próximo das práticas autoritárias do governo Bolsonaro, não hesitou em ameaçar uma invasão ao Supremo Tribunal Federal (STF), demonstrando sua disposição para medidas drásticas em nome do que chamava de “combate ao comunismo”. Essa postura resultou em encontros frequentes com figuras-chave do governo, incluindo o então candidato a vice-presidente Walter Braga Netto e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, além do comandante da Marinha, Almir Garnier Santos.

Ainda de acordo com a reportagem, com as investigações se aproximando de uma conclusão, o clima entre os ex-comandantes das Forças Armadas é de crescente apreensão. A esperança de uma anistia parece se distanciar, e a discussão agora se concentra no Congresso, onde se avaliará a possibilidade de um perdão. Jair Bolsonaro, que busca uma chance de reverter a inelegibilidade e voltar a disputar a Presidência da República em 2026, tem sido um dos mais ativos nesse debate.

A maior responsabilidade recai sobre o comandante do Exército, general Tomás Paiva, que, por lei, deve acatar qualquer decisão judicial. Entretanto, sua missão de acalmar os ânimos nos quartéis e distanciar a política da caserna não será fácil. O ministro da Defesa, José Múcio, já manifestou o desejo de que o caso seja tratado individualmente, em vez de coletivamente, uma posição que se alinha com os esforços de Tomás para que o Exército retorne às suas atividades normais e constitucionais.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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