Como deverá ser o segundo mandato e Donald
Trump?
Donald Trump é o vencedor
das eleições presidenciais dos
EUA se tornando o 47º presidente do país.
A vitória de Trump foi
confirmada assim que os Estado de Wisconsin e Alasca divulgaram o resultado
final da apuração dando ao republicano 13 cadeiras adicionais garantindo 279
assentos e maioria no Colégio Eleitoral.
Se antecipando à
divulgação do resultado final, Donald Trump fez, na manhã de quarta-feira
(06/11), discurso de agradecimento aos eleitores se declarando vencedor.
Falando em um centro
de convenções na Flórida, Trump disse que era uma honra extraordinária receber
do povo americano o poderoso mandato que lhe tornava o 47º presidente dos
Estados Unidos, depois de já ter sido o 45º.
A vitória de Trump
ficou mais evidente após confirmação do resultado favorável ao republicano
nos Estados-chave da Pensilvânia e Geórgia, considerados indefinidos nas
últimas pesquisas de opinião antes do pleito.
A candidata democrata,
Kamala Harris, conseguiu apenas 223 cadeiras até o momento de publicação desta
reportagem.
Ainda permaneciam 4
Estados por confirmar, com um total de 37 cadeiras no Colégio Eleitoral.
Destes, Trump lidera com boa margem em 3 deles o que garantiriam ao republicano
outros 32 assentos no Colégio Eleitoral.
Mas o que se pode
esperar de um segundo mandato de Trump na Presidência?
Seu primeiro mandato,
entre 2017 e 2020, pode ser um bom indicador de como vai ser o segundo — que
começa em 20 de janeiro de 2025.
Trump deve
"continuar de onde parou" em 2020, no final de seu primeiro mandato
presidencial.
Um projeto inacabado é
o fechamento da fronteira sul dos EUA e a construção de um muro — uma política
que marcou seu primeiro mandato.
Na época, ele não
conseguiu obter a aprovação do Congresso para o financiamento necessário para
construir o muro conforme previsto.
Agora, os republicanos
conquistaram o Senado e podem também garantir maioria na Câmara dos
Representantes (até o momento da publicação desta matéria os republicanos
lideravam a apuração para a Câmara com 200 dos 218 assentos necessários para
obter maioria), dando a Trump uma confortável liderança para aprovação de seus
projetos como a construção do muro, uma das promessas de campanha.
·
Deportações em massa
Também é provável que
Trump conte com apoio do Congresso para o seu plano de fazer uma deportação em
massa de imigrantes que não tenham visto para morar nos EUA.
De acordo com
estimativas do Pew Research Center, havia cerca de 11 milhões de imigrantes não
autorizados nos EUA em 2022, embora Trump tenha afirmado ao longo da campanha
que o número seria muito maior.
Especialistas
alertaram que qualquer deportação em massa seria custosa e difícil de
implementar, e poderia ter efeitos negativos em certas áreas da economia nas
quais o trabalho de imigrantes tem um papel fundamental.
·
Menos impostos para
ricos e empresas
Quando Trump aceitou a
nomeação do Partido Republicano como candidato presidencial, em julho, ele
prometeu "acabar com a devastadora crise inflacionária imediatamente,
reduzir as taxas de juros e diminuir o custo da energia".
Ele quer prorrogar os
cortes de impostos que promulgou em 2017, que devem expirar em 2025.
Essa foi a maior
reforma tributária em décadas, que Trump alegava que tinha o objetivo de
simplificar o código tributário e promover o crescimento e o investimento.
No entanto, os maiores
cortes beneficiaram empresas e ricos, algo que os democratas queriam reverter.
Também se espera que
Trump reduza ainda mais os impostos sobre lucros das empresas, para 15%, e
elimine impostos sobre gorjetas e pagamentos de previdência social para
aposentados.
·
Mais impostos para
produtos estrangeiros
Trump também quer
expandir os trabalhos de perfuração para exploração de petróleo, pois acredita
que isso reduziria os custos de energia, embora analistas estejam céticos.
Ele também disse que
planeja criar impostos de 10% a 20% sobre a maioria dos produtos estrangeiros,
com as importações da China sofrendo o impacto de 60%.
Muitos economistas
alertaram, no entanto, que tais medidas acabarão sendo pagas pelos consumidores
americanos na forma de preços mais altos.
Em seu primeiro
mandato, Trump iniciou uma guerra comercial com Pequim, acusando a China de
práticas comerciais desleais e roubo de propriedade intelectual.
·
Relação com o
Congresso
No entanto, a
composição do Congresso dos EUA, sem dúvida, vai determinar se Trump será capaz
de realizar as políticas que prometeu da maneira que deseja. Se as últimas
apurações confirmarem as tendências observadas, pode ser que os republicanos
assumam o controle das duas casas, dando a Trump um confortável mandato em
relação à aprovação de projetos da Presidência.
Vale lembrar que no
início do primeiro mandato de Trump como presidente, entre os anos de
2017-2019, os republicanos também tinham o controle do Senado e da Câmara.
Mas naquela época,
como um "novato" em Washington, Trump era visto como desconhecedor do
funcionamento do Congresso e isso prejudicou sua capacidade de aproveitar a
vantagem republicana de estar na Casa Branca e ter maioria no Congresso para obter
grandes vitórias políticas, disseram analistas políticos na época.
Se confirmada a
maioria republicana em ambas as casas do Congresso nessas eleições de 2024, o
governo Trump provavelmente buscará uma legislação que inclua apoio para, entre
outras coisas, segurança de fronteira, conclusão do muro e cortes de impostos.
·
Proibição do aborto
A revogação do direito
ao aborto nos Estados Unidos é uma das maiores conquistas políticas da agenda
republicana executada por Donald Trump durante o seu primeiro governo, mas
durante a campanha de 2024 tornou-se uma espécie de campo minado eleitoral para
ele.
Durante seu primeiro
mandato, Trump indicou três juízes da Suprema Corte que foram essenciais para
anular o direito constitucional ao aborto, a decisão de 1973 conhecida como Roe
v. Wade.
Esta nova maioria
conservadora revogou em 2022 o direito ao aborto no nível federal (em vigor
desde 1973), que era precisamente um dos objetivos que o político republicano
tinha proposto com estas nomeações.
Esta mudança teve
consequências. Atualmente, existem 14 Estados em que há proibição total ou
quase total do aborto e há outros três Estados em que só é permitido antes da
sexta semana de gravidez, altura em que é comum que as mulheres nem tenham
descoberto que estão grávidas.
Devido a estas
proibições, houve casos de mulheres que morreram porque os médicos não lhes
prestaram os cuidados de saúde necessários, por medo de serem processados
criminalmente.
Estas medidas levaram
a reveses políticos para os republicanos, que perderam várias eleições locais
desde 2022, mesmo em Estados tradicionalmente conservadores, onde a maioria dos
eleitores considerou que as restrições impostas ao aborto foram longe demais.
Isto obrigou Trump a
buscar uma espécie de equilíbrio durante a campanha.
Durante o debate
televisivo de setembro com Kamala Harris, ele disse que não assinaria uma
proibição federal ao aborto, pois "não há razão para assinar a proibição
porque conseguimos o que todos queriam", de acordo com suas palavras.
Ele criticou a
legislação da Flórida que proíbe aborto após a sexta semana de gravidez, mas
também disse que se opõe a uma iniciativa eleitoral para restabelecer o direito
ao aborto naquele Estado.
Embora possa parecer
que seu posicionamento como presidente seja uma incógnita devido a essa
moderação de campanha, a postura de apontar nomes conservadores para cargos no
Judiciário e em órgãos públicos deve continuar a todo vapor — como mostra o
chamado Projeto 2025.
·
Mais poder para o
presidente: Projeto 2025
Batizado de Projeto
2025 e elaborado pela fundação conservadora Heritage Foundation, o projeto é um
plano com mais de 900 páginas que prevê uma série de mudanças na estrutura de
governo americana que podem afetar o país para muito além dos quatro anos de
mandato de Trump.
O plano prevê a
demissão de milhares de servidores públicos de carreira, o aumento de cargos de
confiança — ou seja, cargos ocupados por indicação política —, a expansão dos
poderes do presidente, o desmantelamento do Departamento de Educação
(equivalente a ministério) e de outras agências do governo federal, além de
cortes de impostos.
A Heritage Foundation
divulgou seu plano em abril do ano passado.
O Projeto 2025 propõe
colocar toda a burocracia federal — incluindo agências independentes, como o
Departamento de Justiça — diretamente sob controle do presidente.
Essa ideia polêmica é
conhecida como "teoria do Executivo unitário" e seus defensores dizem
que isso agilizaria o processo de tomada de decisões.
O plano também propõe
a eliminação da estabilidade no trabalho para milhares de servidores do
governo, que poderiam ser substituídos por indicados políticos.
O documento classifica
o FBI como uma "organização inflada, arrogante e cada vez mais fora da
lei" — e pede uma reforma drástica nesta e em outras agências federais.
Críticos do projeto
afirmam que ele vai politizar áreas que deveriam ser técnicas e ampliar demais
o poder do presidente, ameaçando o equilíbrio entre os três poderes e a própria
democracia.
·
'Isolacionismo e
unilateralismo'
Em política externa, o
segundo mandato de Trump provavelmente se assemelhará ao primeiro — afastando
os EUA de conflitos em outras partes do mundo.
Ele disse que acabará
com a guerra na Ucrânia "dentro de 24 horas" por meio de um acordo
negociado com a Rússia, um movimento que os democratas dizem que fortaleceria o
presidente russo, Vladimir Putin.
Trump se posicionou
como um firme apoiador de Israel, mas disse pouco sobre como acabaria com a
guerra em Gaza.
"Vejo a
Presidência de Trump marcada pelo isolacionismo e unilateralismo que oferece
pouco além de um aprofundamento da instabilidade global", diz Martin
Griffiths, um mediador de conflitos e ex-Subsecretário-Geral da ONU para
Assuntos Humanitários e Coordenador de Resposta a Emergências
Jamie Shea, ex-oficial
da Otan e agora professor de estratégia e segurança na Universidade de Exeter,
acha que o estilo do primeiro mandato do presidente Trump foi disruptivo,
"mas em termos de substância, houve muita continuidade".
"Ele não se
retirou da Otan, não retirou as tropas dos EUA da Europa e foi o primeiro
presidente dos EUA a dar armas letais à Ucrânia."
Donald Trump é o
segundo presidente na história do país a cumprir dois mandatos não
consecutivos.
O anterior foi Grover
Cleveland, que esteve no cargo entre 1885 e 1889, não conseguiu ser reeleito e
quatro anos depois obteve um novo mandato, que exerceu entre 1893 e 1897.
¨ Haddad diz que promessas de campanha de Trump causam
"apreensão" e que o mundo "amanheceu mais tenso" nesta
quarta
A vitória de Donald
Trump nas eleições americanas reacendeu preocupações no cenário internacional,
especialmente para o Brasil e outros países exportadores. Em entrevista nesta
quarta-feira (6), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), destacou a “apreensão”
provocada pelas promessas de campanha do republicano. Segundo Haddad, o impacto
pode ser sentido não apenas no Brasil, mas em mercados emergentes e países
desenvolvidos ao redor do globo. “O dia amanheceu, no mundo, mais tenso em
função do que foi dito na campanha”, observou o ministro. Haddad, no entanto,
ressaltou a importância de aguardar o início do novo governo e manter o foco na
“casa” brasileira, reforçando a necessidade de preparar o país para possíveis
turbulências externas.
“As coisas às vezes
não se traduzem da maneira como foram anunciadas”, ponderou Haddad, lembrando
que o discurso do candidato pode se diferenciar das ações de um presidente em
exercício. Ele observou que o tom de Trump parece mais moderado após a vitória,
o que pode indicar ajustes nas políticas propostas. Para o ministro, o Brasil
deve seguir atento, porém fortalecido, para mitigar eventuais impactos. “Temos
que cuidar da nossa casa, das finanças, da economia para ser o menos afetado
possível, qualquer que seja o cenário externo”, completou.
A apreensão mencionada
por Haddad se justifica. Analistas ouvidos pela Folha de S. Paulo alertam que, caso Trump mantenha suas propostas de
campanha, o protecionismo americano pode ameaçar setores importantes da
economia brasileira, como o agronegócio e a indústria de biocombustíveis.
Dentre as promessas do republicano, destaca-se a elevação de tarifas para
importações, com taxas entre 10% e 20% para produtos gerais, e até 60% para
importações chinesas. Essa escalada tarifária seria especialmente preocupante
para o Brasil, que encerrou 2023 com um déficit comercial com os Estados
Unidos: US$ 36,9 bilhões em exportações frente a US$ 38 bilhões em importações.
Especialistas apontam
ainda que setores como aço, alumínio e cobre já enfrentam dificuldades devido a
medidas antidumping nos Estados Unidos. Para Welber Barral, ex-secretário de
Comércio Exterior, novos aumentos tarifários podem prejudicar outras áreas estratégicas,
como a produção de autopeças e equipamentos fabricados no Brasil por
multinacionais americanas. A desaceleração da economia chinesa, outro possível
efeito do protecionismo americano, também preocupa. Como a China é um dos
principais importadores de commodities brasileiras, a redução no comércio
sino-americano pode trazer consequências indiretas ao Brasil.
Marcos Lélis,
especialista da Unisinos, alerta ainda que, caso produtos asiáticos busquem
novos mercados diante das barreiras americanas, a América Latina, onde o Brasil
possui importante presença, poderia ser impactada pela competição com produtos
asiáticos. Em um cenário de recessão global, o Brasil estaria vulnerável a
esses efeitos indiretos.
Haddad reforçou que o
Brasil já vinha se preparando para um contexto externo desafiador, adotando uma
postura de cautela ao longo de 2023. “Dizia que era preciso ter muita cautela
interna em virtude do que estava acontecendo no mundo”, afirmou, destacando a
importância do apoio do Congresso para o sucesso de medidas de fortalecimento
econômico.
Para o ministro, mesmo
com a possibilidade de uma postura mais amena do novo governo americano, os
próximos meses exigirão que o Brasil esteja atento e preparado. Ele acredita
que algumas das propostas mais “exacerbadas” de Trump possam ser mediadas pela
sociedade e pelo próprio sistema de governo americano, que pode moderar as
intenções iniciais do presidente eleito. “A vida depois trata de corrigir
algumas propostas mais exacerbadas, trata de moderar”, concluiu Haddad,
enfatizando que o foco principal deve ser a solidez econômica do Brasil,
independentemente dos rumos externos.
Fonte: BBC News Mundo/Brasil
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