sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Quais os possíveis desdobramentos após morte do líder do Hamas

O Irã prometeu vingar pela morte de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, que foi morto em um ataque aéreo noturno em Teerã, segundo a imprensa iraniana.

O Hamas e seu principal financiador, o Irã, acusam Israel de ser responsável pelo ataque.

A morte de Haniyeh, ocorrida poucas horas após um ataque israelense contra um comandante do grupo Hezbollah no Líbano, aumenta as preocupações de um possível conflito mais amplo no Oriente Médio e pode atrasar os esforços para um cessar-fogo em Gaza, em cujas negociações Haniyeh tinha um papel importante.

Em um pronunciamento televisivo nesta quarta-feira (31/7), o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu não citou a morte de Haniyeh, mas afirmou que Isreal deu "golpes esmagadores" no Hamas.

"Há ameaças vindas de todas as direções. Estamos preparados para qualquer cenário e permaneceremos unidos e determinados contra qualquer ameaça", afirmou Netanyahu

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"Israel cobrará um alto preço por qualquer agressão de qualquer arena", afirmou o primeiro-ministro.

O Irã declarou três dias de luto pela morte de Haniyeh. O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que Israel "se arrependerá" da morte "covarde" de Haniyeh e disse que o Irã defenderá "sua integridade territorial e dignidade".

Pezeshkian descreveu Haniyeh como um "líder corajoso", em uma declaração divulgada pela agência de notícias AFP.

Haniyeh estava em Teerã para a cerimônia de posse de Pezeshkian, apesar de viver no Catar sob proteção intensa.

O líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, afirmou que vingar a morte de Haniyeh é um "dever de Teerã" e que Israel, ao não assumir a responsabilidade pelo ataque, criou condições para uma "punição severa".

·        Potencial escalada do conflito

Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC, alerta que este é um momento "extremamente perigoso" para o Oriente Médio.

Ele lembra que, na última vez que o Irã prometeu vingança, disparou centenas de mísseis e drones contra Israel, que respondeu com um ataque de mísseis próximo às instalações nucleares iranianas.

"Foi necessário um frenético esforço diplomático para dissuadir Israel de retaliar com mais intensidade", diz Gardner.

Kasra Naji, correspondente especial da BBC Persa, expressa preocupação com a resposta do Irã, que pode envolver ataques de grande escala contra Israel ou uma intensificação dos ataques das milícias regionais, como o Hezbollah.

"É difícil prever se isso levará a uma guerra total na região, mas é claro que ninguém deseja esse desfecho no momento", observa Naji.

Mas Gardner também lembra que nem todos os ataques semelhantes a esse levaram a uma escalada no passado.

Ele cita o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani ordenado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump em 2020, que provocou fortes apelos por vingança, mas resultou em uma resposta relativamente contida.

Gardner também cita o ataque aéreo ordenado pelo então presidente americano Ronald Reagan contra a Líbia em 1986, que gerou temores de uma grande crise, mas acabou não resultando em uma escalada significativa.

·        Impacto nos esforços de paz

A morte de Haniyeh pode complicar ainda mais as negociações de paz entre Israel e o Hamas.

"Este último ataque em Teerã pode dificultar a obtenção de um trégua, já que o Hamas agora estará mais focado em encontrar um sucessor para Haniyeh, em um processo que pode ser complicado e prolongado", diz Rushdi Abualouf, correspondente da BBC em Gaza.

Ele lembra que, em dezembro, o Hamas suspendeu brevemente as negociações de cessar-fogo com Israel após o assassinato do vice de Haniyeh na capital libanesa, Beirute.

Paul Adams, correspondente diplomático da BBC, acrescenta que é "extremamente difícil" prever que haverá algum progresso nas negociações após a morte de Haniyeh.

"Ismail Haniyeh pode não ter sido responsável pelos eventos diários em Gaza — esse é o domínio do comandante militar Yahya Sinwar — mas, como líder do Hamas no exílio, ele era um interlocutor crítico nas negociações intermediadas pelo Catar, pelos EUA e pelo Egito", assinala.

Declarações de países árabes reforçam essas preocupações.

O Catar, que tem mediado as negociações de cessar-fogo, indicou que a morte de Haniyeh pode prejudicar essas conversações.

"O assassinato político e o contínuo ataque a civis em Gaza enquanto as conversas continuam nos levam a perguntar: como pode a mediação ter sucesso quando uma das partes assassina o negociador do outro lado?", afirmou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani.

"A paz precisa de parceiros sérios e de uma postura global contra o desrespeito pela vida humana."

O Egito afirmou que o ataque demonstra falta de vontade política de Israel para a desescalada, e o Iraque chamou o ataque de uma "grave violação" que pode desestabilizar a região.

A Turquia acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de não ter "nenhuma intenção de alcançar a paz".

·        Funeral de Haniyeh

A cerimônia fúnebre oficial de Ismail Haniyeh será realizada em Teerã nesta quinta-feira (1/8), e depois seu corpo será trasladado para Doha, no Catar, onde ele viveu nos últimos anos.

O funeral final está marcado para 2 de agosto, em Lusail, no Catar.

Haniyeh, de 62 anos, é o líder mais sênior morto desde os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro, que resultaram em 1.200 mortes.

Israel respondeu com uma operação militar na Faixa de Gaza, que matou pelo menos 39.400 pessoas, segundo o ministério da saúde do Hamas.

¨      Líder supremo do Irã ordena ataque direto a Israel, diz jornal

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ordenou um ataque direto a Israel nesta quarta-feira (31), segundo o jornal americano "The New York Times".

O ataque seria uma retaliação após um bombardeio israelense em Teerã ter matado o chefe do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, durante a madrugada desta quarta. O Hamas, com o qual Israel está em guerra na Faixa de Gaza desde outubro de 2023, é aliado do Irã.

Israel não assumiu a autoria do assassinato de Haniyeh. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse apenas que seu país deu "golpes esmagadores" em aliados do Irã, mas não mencionou o chefe do Hamas. 

Netanyahu disse ainda em seu pronunciamento na TV nacional israelense que vai cobrar um preço alto por qualquer agressão contra Israel. Um conflito aberto entre Israel e Irã pode ser a maior guerra no Oriente Médio desde a 2ª Guerra Mundial, segundo especialistas.

Mesmo sem que o governo israelense tenha assumido autoria pela morte, Khamenei prometeu "punição severa" para Israel. O novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, criticou a ação dentro do país. Ele afirmou que o Irã "defenderá sua integridade territorial" e disse que "Israel se arrependerá pelo assassinato covarde".

Khamenei deu a ordem para o ataque direto a Israel durante uma reunião de emergência do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã na manhã desta quarta, logo após o país anunciar a morte de Haniyeh, segundo três autoridades iranianas não identificadas ouvidas pelo "New York Times", incluindo dois membros da Guarda Revolucionária iraniana.

Fontes também disseram ao jornal americano que o líder supremo iraniano instruiu membros da Guarda Revolucionária e do Exército para preparar planos de ataque e de defesa do país, caso uma guerra total contra Israel comece ou caso os EUA realizem ataques no Irã.

Israel e Irã estão em uma escalada de tensões nos últimos meses. Os israelenses travam batalhas com grupos armados aliados do país, como Hamas, Hezbollah e a Guarda Revolucionária iraniana. Em abril, os iranianos dispararam mais de 300 mísseis e drones em direção ao território israelense em retaliação ao assassinato por Israel de um comandante da Guarda na embaixada iraniana na Síria.

O comandante da Força Aérea de Israel, major-general Tomer Bar, disse que dezenas de aeronaves, tripuladas e não tripuladas, estão "prontas e preparadas em questão de minutos para qualquer cenário, em qualquer frente". "Agiremos contra qualquer um que planeje causar danos aos cidadãos do Estado de Israel. Não há lugar que seja longe demais para nós atingirmos”, afirmou Bar.

<><> Assassinato de chefe do Hamas

Haniyeh, o principal nome do braço político do grupo terrorista, foi assassinado na madrugada desta quarta-feira durante uma visita a Teerã, no Irã, para a posse do novo presidente iraniano, segundo o próprio Hamas confirmou em um comunicado.

O porta-voz do governo israelense disse que "nós não faremos comentários sobre a morte de Haniyeh", mas afirmou também estar em alerta máximo para possíveis retaliações por parte do Irã. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, declarou que "Israel não quer guerra, mas estamos preparados para todas as possibilidades".

O governo do Irã realizará um funeral do chefe do Hamas na quinta-feira (1º). No dia seguinte, o corpo de Haniyeh será enterrado em Doha, no Catar, onde ele vivia.

Sobre a ameaça do governo iraniano, o ministro disse que Israel está preparo e que vai cobrar um "preço alto" por qualquer ataque.

<><> Greve em territórios palestinos e reação de aliados

A Guarda Revolucionária iraniana -- braço de elite das Forças Armadas que responde ao líder supremo -- também declarou que "o Irã e a frente de resistência responderão a esse crime". O braço armado do Hamas -- que planejou e executou o ataque a Israel em 7 de outubro de 2023, iniciando a guerra em Gaza -- também disse que vingará o assassinato.

Os governos dos territórios palestinos -- a Faixa de Gaza e a Cisjordânia -- anunciaram uma greve geral, e o governo iraniano declarou luto de três dias por conta da morte de Haniyeh (leia mais abaixo).

Segundo o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, informou nesta manhã, ainda não havia manifestações nas ruas na Cisjordânia, mas o clima é de apreensão.

"Acompanhamos a evolução da situação. Por enquanto, (há) greve geral, sem manifestações de rua. Checkpoints de algumas cidades como Hebron estão fechados", disse Candeas. "A comunidade brasileira está apreensiva, e teme-se o risco de escalada".

Egito e Turquia também acusaram Israel pelo assassinato. O governo egípcio disse, em comunicado, que o episódio "indica a falta de vontade política de Israel para frear os conflitos regionais". A nota aponta também que o caso complica as negociações por um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que o Egito participa como negociador ao lado do Catar e dos Estados Unidos.

"Este assassinato é uma perversividade que visa interromper a causa palestina, a nobre resistência de Gaza e a luta legítima de nossos irmãos palestinos. No entanto, assim como até hoje, a barbárie sionista não atingirá seus objetivos", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Lojas amanhecem fechadas na Cisjordânia por conta de greve geral em protesto contra a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em 31 de julho de 2024. — Foto: Mohammed Torokman/ Reuters

<><> Morte de Haniyeh

Na madrugada desta quarta, o Hamas e a Guarda Revolucionária do Irã afirmaram que o principal líder do Hamas, Ismail Haniehy, e um de seus guarda-costas foram assassinados.

"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do escritório político da Resistência Islâmica do Hamas, foi atingida em Teerã, e como resultado deste incidente, ele e um de seus guarda-costas foram martirizados," disse um comunicado da Guarda Revolucionária.

Segundo a TV estatal iraniana, ele foi morto às 2h de quarta, horário de Teerã (20h de terça em Brasília), enquanto estava numa residência de veteranos de guerra no norte da capital iraniana.

Os comunicados não dão detalhes sobre como o líder do Hamas foi morto e ninguém assumiu imediatamente a responsabilidade pelo assassinato.

Israel não comentou sobre o caso, porém, havia prometido matar Haniyeh e outros líderes do Hamas após o ataque do grupo em 7 de outubro, que matou 1.200 pessoas e viu cerca de 250 serem feitas reféns.

Em comunicado, o Hamas afirma que Haniyeh foi morto num "ataque aéreo traiçoeiro à sua residência em Teerã". Ele estava no Irã para participar da cerimônia de posse do presidente Masoud Pezeshkian.

"É um ato covarde que não ficará impune", disse a TV Al-Aqsa, controlada pelo Hamas, citando Moussa Abu Marzouk, alto funcionário do grupo.

Segundo canal de TV Al Mayadin, sediado em Beirute, capital do Líbano, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, disse que "é dever do Irã vingar o sangue de Haniyeh porque ele foi martirizado em nosso solo".

¨      Analista iraniano alerta: resposta à morte de Haniya será mais dura que ataque anterior a Israel

A retaliação do Irã a Tel Aviv pela morte do líder do Hamas, Ismail Haniya, em Teerã "será mais severa, mais dolorosa para o regime israelense do que o que Tel Aviv experimentou depois que atacou o consulado iraniano em Damasco", disse o analista Seyed Mohammad Marandi, à Sputnik.

O líder do Hamas, Ismail Haniya, foi morto em um ataque israelense em Teerã. O Hamas e o Irã culparam Israel e os EUA, prometendo retaliação ao ataque.

Marandi acredita que "qualquer escalada simplesmente tornará as coisas piores para o regime em Tel Aviv", prevendo que o Irã e outros membros do Eixo da Resistência darão uma "grande resposta" às ações recentes de Israel. Marandi elabora que "o regime israelense perdeu a guerra".

"Ele perdeu em Gaza depois de dez meses, falhou em tomar este pequeno pedaço de terra. Ele falhou em sua guerra com o Hezbollah depois de quase dez meses de conflito. O regime israelense não conseguiu desalojar o Hezbollah da fronteira e pagou um preço alto", diz ele.

Para o analista político e professor da Universidade de Teerã, Seyed Mohammad Marandi, se os EUA interviessem, eles "perderiam" e enfrentariam consequências severas, incluindo serem expulsos do Iraque e verem suas bases na região do golfo Pérsico destruídas.

Ao mesmo tempo, Marandi argumenta que apenas os norte-americanos e os europeus são capazes de impedir a guerra total na região.

"Eles são os que estão apoiando este Holocausto. Eles são os que estão permitindo que o regime em Tel Aviv continue estuprando prisioneiros e assassinando crianças. Esta é uma guerra que eles endossam. Eles estão fornecendo o financiamento, a munição, as armas, a cobertura política. Sem o apoio total do Ocidente, Tel Aviv não seria capaz de continuar essa guerra por duas semanas. Então, todos nós sabemos que a coleira está em Washington, então cabe aos norte-americanos tomar uma decisão", ele diz.

Na quarta-feira (31), o movimento palestino Hamas confirmou a morte de Haniya como resultado de um ataque israelense em sua residência na capital iraniana após sua participação na cerimônia de posse do novo presidente do Irã.

"A morte do herói Ismail Haniya após sua participação na posse do presidente iraniano [Masoud Pezeshkian] não afetará as decisões da liderança [Hamas] e suas estruturas. Israel pagará o preço por esse crime e por todos os crimes contra nosso povo", disse o representante do Hamas na Argélia, Youssef Hamdan, à Sputnik na quarta-feira.

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores do Irã declarou que Teerã tem o direito inalienável de responder apropriadamente ao assassinato do chefe do politburo do Hamas.

No dia 13 de abril, o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã lançou mais de 300 drones e mísseis contra Israel em seu primeiro ataque direto em território israelense, disseram as Forças de Defesa de Israel (FDI). O ataque ocorreu em resposta ao ataque aéreo de Israel ao consulado iraniano na capital síria no início de abril. O porta-voz das FDI, Daniel Hagari, disse que Israel interceptou 99% dos alvos aéreos disparados pelo Irã, incluindo todos os drones.

 

Fonte: BBC News Mundo/g1/Sputnik Brasil

 

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