O que torna alguém bilionário:
oportunidade, sorte ou talento?
O que uma mímica
comunista, uma criança com talento para o golfe e um comediante que faz piadas
sobre qualquer coisa têm em comum?
Todos eles se tornaram
membros de um clube global muito seleto.
Miuccia Prada, Tiger
Woods e Jerry Seinfeld estão entre cerca de 2.781 bilionários (em dólares
americanos) no planeta.
Mas a lista de
super-ricos é bem internacional.
Segundo a revista
americana Forbes, que monitora as fortunas dos mais ricos do mundo, os Estados
Unidos têm 813 bilionários, a China (incluindo Hong Kong) aparece em segundo
lugar, com 473, e a Índia em terceiro, com 200. Já o Brasil, 69.
O tamanho dessas
fortunas pode ser difícil de compreender. Um bilhão é um número enorme — para
dar uma ideia de escala, um milhão de segundos são 11 dias, mas um bilhão são
32 anos.
E para alguns, a
própria existência de bilionários é obscena.
Oitenta e uma das
pessoas mais ricas do mundo — ou um ônibus lotado — têm mais riqueza combinada
do que os quatro bilhões de pessoas mais pobres do mundo.
Em um relatório de
2023 sobre desigualdade, a ONG britânica Oxfam concluiu: "Todo bilionário
é um erro de políticas. A própria existência de bilionários em expansão e
lucros recordes, enquanto a maioria das pessoas enfrenta austeridade, pobreza
crescente e uma crise de custo de vida, é evidência de um sistema econômico que
falha em entregar à humanidade."
Essa desigualdade
levou a pedidos em muitos países por impostos sobre a riqueza absoluta em vez
de sobre a renda.
Nos EUA, a senadora do
Partido Democrata Elizabeth Warren propôs um imposto de 2% sobre ativos acima
de US$ 50 milhões (R$ 290 milhões) e 3% sobre ativos acima de US$ 1 bilhão (R$
5,75 bilhões).
Impostos para
Ultramilionários
Mas outros argumentam
que a perspectiva de grande riqueza inspira criação e inovação que melhoram a
vida de milhões de pessoas.
O economista americano
Michael Strain argumenta que precisamos de mais bilionários, não menos, e cita
o ganhador do prêmio Nobel William Nordhaus, que descobriu que cerca de 2% dos
retornos da inovação tecnológica vão para os fundadores e inventores. O restante
vai para a sociedade.
Strain chama os
bilionários de "em grande parte inovadores que se fizeram sozinhos e
mudaram a maneira como vivemos".
Ele cita como exemplo
Bill Gates e Steve Ballmer, que revolucionaram a computação pessoal, o lendário
investidor Warren Buffett, Jeff Bezos, que revolucionou o varejo, e Elon Musk,
que revolucionou a indústria automotiva e o comércio espacial.
"Nenhum deles é
'fracasso de políticas'", conclui. "Em vez de desejar que eles não
existissem, deveríamos ficar felizes que existam."
Muitos bilionários
também doam grandes somas. Gates e Buffett desenvolveram "The Giving
Pledge" — um compromisso de doar mais da metade da riqueza individual ao
longo da vida.
O rapper, magnata dos
negócios e bilionário Jay-Z, embora não tenha se comprometido com a promessa,
argumenta: "Não posso ajudar os pobres se eu for um deles. Então, fiquei
rico e retribuí. Para mim, isso é o ganha-ganha."
Bilionários não
enriquecem no vácuo. O sucesso deles também nos diz algo sobre nós mesmos.
É difícil ficar muito,
muito rico a menos que você esteja fornecendo algo que as pessoas precisam,
querem ou gostam.
Seja o estilo
minimalista da Prada, os filmes Star Wars ou o TikTok, os bilionários que
discutimos no podcast mudaram o mundo em maior ou menor grau — e as histórias
sobre como eles fizeram isso são convincentes.
Por exemplo, os
fundadores do Google tentaram vender uma versão inicial de sua ferramenta de
busca por US$ 1 milhão, mas não houve interessados.
Hoje, o Google vale
US$ 2,3 trilhões e o cofundador Sergey Brin vale pessoalmente US$ 135 bilhões —
aproximadamente o PIB do Marrocos.
Maria Bianchi era uma
comunista de carteirinha na Itália dos anos 1960 que estudava mímica na escola
de teatro antes de mudar seu nome para Miuccia Prada.
A primeira mulher
bilionária que fez fortuna na Índia, Kiran Mazumdar-Shaw, começou fabricando
cerveja antes de sofrer preconceito de gênero e mudar para o mercado de
produtos farmacêuticos, tornando-se a maior produtora de insulina da Ásia.
Os pais de Jerry
Seinfeld eram ambos órfãos e seu pai nunca o abraçou. Talvez uma das razões
pelas quais ele e Larry David tinham uma regra para os personagens de sua
comédia de sucesso Seinfeld: "Sem abraços e sem aprendizado".
O sucesso individual
desses bilionários também costuma contar uma história de tendências históricas,
políticas ou tecnológicas mais amplas.
O empreendedor de
tecnologia Jack Ma, cofundador do grupo Alibaba, foi beneficiário de duas
forças poderosas e simultâneas: o nascimento do varejo online e o crescente
poder econômico e a riqueza em massa da China.
Chuck Feeney, o homem
que inventou as compras duty-free (e doou toda a sua fortuna) surfou na onda do
turismo externo japonês após a Segunda Guerra Mundial.
Há histórias em que a
sorte desempenhou um papel.
O fundador da
Microsoft, Bill Gates, frequentou uma das poucas escolas dos EUA que, no final
dos anos 1960, tinha um computador. Já a cantora e empresária Rihanna foi
descoberta graças a uma audição casual com um produtor musical que estava de
férias em Barbados, sua terra-natal.
E os pais também têm
papel importante.
Toda a família de
Taylor Swift se mudou da Pensilvânia para Nashville para promover a carreira de
adolescente, enquanto a mãe de Michael Jordan sugeriu que ele ouvisse " o
que a Nike tem a dizer" antes de assinar um contrato com a Adidas ou a Converse
— ,abrindo caminho para o acordo de patrocínio esportivo mais lucrativo da
história.
Há alguns
momentos-chave que, olhando para trás, mudaram as vidas e as fortunas desses
bilionários.
Mas quando as portas
se abrem, você tem que passar por elas.
E se há um denominador
comum é a energia, o ímpeto e o comprometimento que essas pessoas trouxeram
para suas respectivas áreas. Além do desejo de seguir em frente, quando muitos
teriam desistido há tempos.
Eu e a jornalista Zing
Tsjeng, que apresenta comigo o podcast Good Bad Billionaire na BBC, sempre
brincamos que se um dia tivermos US$ 10 milhões, não seremos mais vistos no
trabalho — eu estarei pescando e ela, num festival de música.
Acho que pessoas como
nós nunca ficaremos ricos, mas ficamos fascinados, encantados, comovidos,
chocados e aterrorizados por aqueles que conseguiram.
Fonte: Por Simon Jack, editor de negócios da BBC News
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