Hoje o cerco é contra a Venezuela, amanhã será
contra outros governos, diz ministro de Maduro
O ministro das Comunas
e Movimentos Sociais da Venezuela, Ángel Prado, agradeceu o posicionamento do
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à eleição
presidencial venezuelana realizada no último domingo (28) e fez um alerta para
os movimentos progressistas da região.
Em entrevista
exclusiva ao Brasil de Fato nesta quinta-feira (01), Prado denunciou
a tática utilizada pelo candidato de direita derrotado no pleito, Edmundo
González, que não reconheceu os resultados divulgados pelo Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) venezuelano, acusou o presidente reeleito, Nicolás Maduro, de
cometer fraude eleitoral e convocou atos contra o governo.
"Agradecemos o
presidente Lula, outros líderes da região, Cuba revolucionária, México,
Nicarágua, Honduras e outros países que defendem a verdade da Venezuela. Este é
um momento importante, oportuno e histórico para que nossos governos
progressistas atendam definitivamente às demandas do povo. Hoje o cerco é
contra a Venezuela, amanhã será contra esses governos e contra esses processos
que custaram tantas vidas, tanto sangue, tanto sacrifício e tantos anos de
luta", disse.
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) esperou dois dias para se pronunciar sobre
o resultado das eleições da Venezuela. A
vitória de Nicolás Maduro para um terceiro mandato foi anunciada no domingo
(28) e na terça-feira (30) o chefe do Executivo brasileiro disse que via o
processo eleitoral com normalidade e pediu para que os envolvidos esperassem a
divulgação das atas eleitorais antes de fazer acusações.
"Se tem um
problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e
situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça
correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse ele
à Globonews.
A divulgação das atas eleitorais se tornou o
principal tema envolvendo as eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 80% das atas e que isso
garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia.
Ao Brasil de
Fato, o ministro venezuelano afirma que a narrativa adotada pelos opositores é
uma tática política que envolve as atas e o procesos eleitoral.
"Eles estão
procurando uma matriz de opinião internacional, dizem que têm as atas e não se
atreverão a mostrar as atas de todo o país, simplesmente porque não devem
tê-las. É o órgão eleitoral que deve tê-las e as tornarão públicas no momento
certo", afirmou Prado.
Na tarde de
quarta-feira (31), o presidente Nicolás Maduro foi ao Tribunal Supremo de
Justiça (TSJ) apresentar um recurso de amparo pedindo que a Suprema Corte do
país investigue os ataques sofridos pelo sistema eleitoral venezuelano. Segundo
o CNE, atrasos na divulgação dos resultados ocorreram porque o órgão foi vítima
de um "ataque hacker" na noite da eleição.
Além disso, Maduro
afirmou que seu partido, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), irá
divulgar 100% das atas eleitorais que possui.
“Como candidato
vencedor das eleições e chefe de Estado, dou a cara, me submeto à Justiça. E já
disse que, como líder revolucionário da Venezuela e filho do comandante Chávez,
o Grande Polo Patriotico e o Partido Socialista Unido de Venezuela estão prontos
para apresentar 100% das atas que estão nas nossas mãos e espero que a Sala
Eleitoral faça o mesmo com cada candidato”, afirmou.
Eleição, suposta
fraude e violência: como chegamos até aqui?
A votação no último
domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades
eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã
da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com 80% das urnas
apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos
votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e
principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram
irreversíveis.
No palácio de
Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no
qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais.
"Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de
julho", disse. Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu
os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder
opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos
públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.
Sem apresentar provas,
os opositores alegaram uma "fraude eleitoral" e disseram ter atas de
votação que supostamente comprovariam a divergência nos números. Após a postura
de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram
registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital
venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios
públicos.
O governo denunciou as
ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento
como uma "tentativa de golpe de Estado". Na noite da
segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a
denunciar a existência de "fraude eleitoral" e, desta vez, deram
números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6
milhões de votos.
Eles ainda alegaram
estar em posse de mais de 70% das atas eleitorais que comprovariam este
resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site.
Até às 15h (horário de
Brasília) do dia 1 de agosto, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a
totalização dos resultados. Os números são aguardados por países como Brasil,
Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.
¨ Maduro pede que Justiça da Venezuela investigue ataque
cibernético e ‘resolva’ questão das atas eleitorais
O presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quarta-feira (31) que a Justiça venezuelana “resolva” a questão das
atas eleitorais. O sistema eleitoral do país ainda não
divulgou o resultado segmentado das mesas eleitorais da Venezuela por um
suposto ataque cibernético contra o sistema do Conselho Nacional Eleitoral
(CNE). Maduro também disse que esse “ataque hacker” precisa ser investigado.
O CNE tem um período
de 30 dias para publicar o resultado completo das eleições no Diário Oficial.
As atas, no entanto, não são publicadas. O órgão anunciou no domingo (28) a
vitória do presidente Nicolás Maduro por 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo
González Urrutia com 80% das urnas apuradas. O resultado foi indicado como
irreversível pela Corte Eleitoral.
“A Lei estabelece um
período, o CNE estava sob ataque como todos puderam ver. A esta hora que
estamos falando, está sob ataque cibernético o sistema, estão nesse momento os
técnicos [trabalhando]. O Tribunal Supremo de Justiça que resolva tudo. Há um
Tribunal Supremo de Justiça e esse tribunal tem a santa palavra de um processo
sob ataque nunca antes visto. A verdade prevalecerá”, disse.
Maduro participou de
uma entrevista coletiva no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). O presidente
afirmou que “a Constituição é a garantia da paz” e que a Corte é responsável
por resolver qualquer questão eleitoral. Ele disse também que vai desmobilizar
as ações violentas de grupos da oposição.
Os atos começaram na
segunda-feira (29), no dia seguinte às eleições. As manifestações
assumiram um caráter, seguindo a conduta das guarimbas em 2013 e
2017. Manifestantes da extrema direita têm
apedrejado prédios públicos e incendiado sedes de partidos de esquerda.
Durante a entrevista,
Maduro também afirmou que há uma “campanha mundial para justificar o Golpe de
Estado e a violência criminosa”. Ele lembrou das últimas guarimbas e citou o
ex-deputado Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente em 2019, um ano depois
da primeira reeleição de Nicolás Maduro.
“A campanha mundial é
para justificar o Golpe de Estado, a violência criminosa, para justificar que
se imponha um 'Guaidó parte 2'. Não te parece conhecido esse filme?”, disse.
De acordo com ele, da
mesma forma que a “fraude” envolvendo Guaidó foi comprovada, a Justiça também
demonstrará o caráter criminoso de Edmundo González Urrutia. No domingo, a
ex-deputada ultraliberal María Corina Machado contestou o resultado do pleito e
disse, sem apresentar provas, que o candidato da Plataforma Unitária recebeu
6.275.182 de votos contra 2.759.256 de Maduro. Ela afirmou ainda que não vai
reconhecer a contagem oficial do CNE.
Maduro, por sua vez,
disse que os responsáveis por contestar o pleito e incentivar as pessoas a irem
às ruas têm que estar presos. “Essas pessoas têm que estar atrás das grades,
não pode haver um novo Leopoldo Lopez, um novo Guaidó. Não é paz para o chavismo,
mas para toda a população. O que deve passar com Urrutía e Machado eu te diria,
como chefe de Estado, que haja Justiça, que eles deveriam em vez de
esconder-se, apresentar-se à procuradoria e dar a cara”, disse.
A entrevista de Maduro
foi dada logo depois de ele apresentar um recurso de amparo no Tribunal Supremo
de Justiça (TSJ). A medida é uma ferramenta para pedir à Justiça o cumprimento
da Constituição em determinada situação. Ou seja, é um instrumento para questionar
ações ou omissões de qualquer um dos Poderes. Neste caso, o pedido é para que a
Sala Eleitoral da Corte investigue os ataques “o mais rápido possível”.
A divulgação das atas
eleitorais é o principal tema envolvido nas eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 70% das atas e
que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. Antes mesmo da divulgação dos resultados, a ex-deputada
ultraliberal María Corina Machado já havia dito que "González Urrutia teve
70% dos votos e Nicolás Maduro 30%”.
Outros governos têm
afirmado que não é possível ter qualquer segurança sobre as denúncias da
oposição sem que as atas sejam divulgadas. O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) afirmou que a questão será completamente
resolvida depois que forem divulgadas as atas.
"Se tem um
problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e
situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça
correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse
Lula à Globonews.
Ainda nesta quarta,
Maduro disse que o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) vai divulgar
100% das atas eleitorais recolhidas pelos seus fiscais em breve e pediu calma
para esperar a auditoria dos resultados. Ele se colocou à disposição para prestar
depoimento à Justiça venezuelana e, se preciso, ser investigado sobre o
procedimento eleitoral.
Cada partido pode ter
um fiscal em cada uma das cerca de 30 mil mesas eleitorais para conferir as
atas de votação daquela mesa. Ele fica com uma cópia da ata eleitoral e pode
levar ao partido. Essa tem sido uma das acusações da oposição, afirmando que tem
suas atas eleitorais, que divulgou em um site próprio.
¨ Recuperação econômica da Venezuela é invejável, diz Juliane
Furno
O conjunto de saídas encontradas pelo governo de Nicolás
Maduro para superar os imensos obstáculos
gerados pelas sanções econômicas impostas unilateralmente pelos EUA contra a
Venezuela "é invejável". A declaração foi feita pela economista
Juliane Furno nesta quinta-feira (1) ao Brasil de Fato.
"O plano de recuperação da Venezuela é invejável", disse ela sobre a nação sul-americana,
que viu um aumento em seu PIB de mais de 5% em 2023.
"A Venezuela saiu
de uma inflação mensal de 97% em junho de 2018 para 1% em junho deste ano. É o
segundo país que mais cresceu na América Latina ano passado, o que mais deve crescer neste ano. E estamos falando de um país que convive com 930
sanções."
A economista, que é
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esteve recentemente
de férias na Venezuela e diz ter ficado impressionada com a
"normalidade" que presenciou nas ruas de Caracas.
"A imprensa
noticiou o desabastecimento, mas não a recuperação. Fiquei chocada que lá tinha
de tudo, gente brincando na praça, tomando sorvete. Uma cidade [Caracas]
absolutamente normal", disse.
Surpreendentemente, um
dos motivos para o crescimento econômico foi uma consequência das próprias
sanções, segundo Furno. O que era designado para asfixiar a Venezuela, obrigou
o governo a buscar soluções mais sustentáveis e diversificadas
"As sanções são
péssimas, mas levaram o governo Maduro a fazer o que Chávez não fez:
diversificar sua economia, que era totalmente dependente da venda de
petróleo. Hoje eles produzem 90% dos alimentos que consomem, um país que
não produzia nem um quilo de arroz", completa.
Fonte: Brasil de Fato
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