sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Casa Branca diz que 'paciência está se esgotando' com a Venezuela

O governo dos Estados Unidos criticou novamente a falta de transparência no processo eleitoral da Venezuela nesta quarta-feira (31), além de cobrar a divulgação dos boletins de urna do Conselho Nacional Eleitoral que declarou a vitória do presidente Nicolás Maduro.

"A nossa paciência e a da comunidade internacional estão se esgotando enquanto aguardamos que as autoridades eleitorais venezuelanas se esclareçam e divulguem os dados detalhados sobre esta eleição", disse o porta-voz do governo dos EUA para assuntos de segurança, John Kirby.

Kirby reforçou que o Centro Carter e observadores independentes divulgaram um relatório afirmando que "a eleição presidencial de 2024 na Venezuela não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática".

O porta-voz dos EUA ainda declarou que tem "sérias preocupações sobre os relatos de vítimas, violência e prisões, incluindo os mandados de prisão que Nicolás Maduro e seus representantes emitiram hoje para líderes da oposição". Ele também condenou a violência política e a repressão.

O Centro Carter e observadores independentes acompanharam a eleição de domingo (29), na qual o Conselho Nacional Eleitoral proclamou Maduro reeleito para um terceiro mandato.

"O Centro Carter não pode verificar ou corroborar os resultados da eleição declarados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), e a falha da autoridade eleitoral em anunciar resultados desagregados por seção eleitoral constitui uma grave violação dos princípios eleitorais", disse o centro, em comunicado, no final da noite de terça-feira (30).

Segundo o órgão, a Venezuela "violou inúmeras disposições de suas próprias leis nacionais":

"A eleição ocorreu em um ambiente de liberdades restritas para atores políticos, organizações da sociedade civil e a mídia. Ao longo do processo eleitoral, o CNE demonstrou um claro viés em favor do titular".

Ao todo, 17 observadores do Centro Carter acompanharam as eleições venezuelanas. O órgão já acompanhou 124 eleições em 43 países.

<><> O Centro Carter também listou os seguintes problemas:

  • registro de eleitores prejudicados por prazos curtos;
  • requisitos excessivos, e alguns arbitrários, para cidadãos no exterior votarem, o que resultou em um número baixo de votantes fora da Venezuela;
  • condições desiguais de competição entre Maduro e Edmundo González, da oposição;
  • tentativas de restrição da campanha da oposição durante a corrida eleitoral;
  • e falta de transparência do CNE no anúncio dos resultados

<><> OEA também não reconheceu

Mais cedo, a Organização dos Estados Americanos (OEA) havia afirmado também não reconhecer o resultado da eleição.

Em relatório elaborado por observadores que acompanharam o pleito, realizado no domingo (28), a OEA diz haver indícios de que o governo Maduro distorceu o resultado.

Um dos principais indícios, segundo o documento, foi a demora na divulgação dos resultados, apesar de o país ter urnas eletrônicas. O texto afirma também ter havido relatos de "ilegalidades, vícios e más práticas".

O relatório concluiu que o Centro Nacional Eleitoral (CNE), a principal autoridade eleitoral da Venezuela, comandada por um aliado do governo venezuelano, proclamou Maduro vencedor sem apresentar os dados para comprovar o resultado e afirmou que os únicos números divulgados em canais oficiais revelam "erros aritméticos".

"Mais de seis horas após o encerramento da votação, o CNE fez um anúncio [...] declarando vencedor o candidato oficial, sem fornecer detalhes das tabelas processadas, sem publicar a ata e fornecendo apenas as porcentagens agregadas de votos que as principais forças políticas teriam recebido", diz o texto.

O relatório da OEA também afirmou que o regime venezuelano aplicou "seu esquema repressivo" para "distorcer completamente o resultado eleitoral".

"Ao longo de todo este processo eleitoral, assistimos à aplicação por parte do regime venezuelano do seu esquema repressivo complementado por ações destinadas a distorcer completamente o resultado eleitoral, colocando esse resultado à disposição das mais aberrantes manipulações".

<><> Divulgação incompleta de resultado

A Venezuela foi às urnas no domingo, e, na madrugada de segunda-feira, o CNE declarou Nicolás Maduro vencedor com 51,2% dos votos. O principal candidato da oposição, Edmundo González, ficou com 44% dos votos, ainda de acordo com a Justiça eleitoral do país.

No entanto, o resultado foi anunciado com 80% dos votos apurados, e as atas de votação – documentos que registram o número de votos e o resultado em cada local de votação – não foram divulgadas pelo CNE.

A oposição venezuelana contestou o resultado e acusou o CNE de fraude. Na noite de segunda, a oposicionista María Corina Machado afirmou ter tido acesso a 73% das atas, que, segundo ela, dão vitória a Edmundo González.

O grupo oposicionista abriu um site com as atas às quais a oposição teve acesso para provar sua versão.

Uma contagem rápida independente à qual o Blog da Sandra Cohen teve acesso nesta terça-feira aponta vitória de González sobre Maduro por 66.2% a 31.2%.

Na segunda-feira (29), nove países da América Latina pediram uma reunião de emergência da OEA para discutir o resultado divulgado pelo CNE. O pedido foi feito por Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Em uma carta conjunta, os países "manifestam profunda preocupação com o desenvolvimento das eleições presidenciais" na Venezuela e exigem uma "revisão completa dos resultados com presença de observadores eleitorais independentes que assegurem o respeito à vontade do povo venezuelano que participou de forma massiva e pacífica".

Nesta terça, Brasil, México e Colômbia devem divulgar uma declaração conjunta cobrando pela divulgação das atas eleitorais por parte do governo.

 

¨      Ala do governo vê crise escalando e quer que Lula se afaste de Maduro, seguindo outros países democráticos

Uma ala do governo Lula está vendo a crise após a divulgação do resultado das eleições na Venezuela escalar e aconselha o presidente a se afastar de Nicolás Maduro, seguindo outros países democráticos. O afastamento sugerido é com o presidente venezuelano e não com as relações comerciais entre os dois países. A política internacional cobra um posicionamento do Brasil sobre as eleições.

Até o momento, Lula disse aguardar as atas das urnas da eleição na Venezuela, mas afirmou que não há nada de grave na eleição. Contudo, nada que acontece no pleito venezuelano pode ser considerado normal e precisa ser apurado.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou Maduro o vencedor das eleições com mais de 50% dos votos. A oposição, que tem o candidato Edmundo Gonzáles, contestou o resultado. Favorita para derrotá-lo nas eleições, a líder da oposição, María Corina Machado foi inabilitada para ocupar cargos públicos por 15 anos em uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça de janeiro deste ano.

Manifestações populares contrárias ao resultado já deixaram nas últimas 48 horas, de acordo com Corina, registraram ao menos 16 assassinatos, 11 desaparecimentos e mais de 177 detenções arbitrárias.

Os aliados de Lula estão preocupados porque quanto mais o Brasil demora para se pronunciar, mais difícil se torna a relação com aliados e com outros países. A imagem do país vai se deteriorando e o Brasil corre o risco de ficar isolado.

Há um ceticismo de uma ala do governo de as atas com os resultados das urnas serem divulgadas e se elas serão verdadeiras.

Aliados do presidente estão preocupados pois estão vendo a crise, com violência e tensão, está aumentando no país. E quanto mais o Brasil demora para se pronunciar, dificulta ainda mais a relação com aliados e com outros países e a sua situação com a Venezuela. A imagem do Brasil vai se deteriorando.

O blog conversou com um político de centro que apoiou a eleição de Lula – que, inclusive, disse que chegou a ser ameaçado por bolsonaristas por conta disso – que disse que não está acreditando que o governo não está condenando a Venezuela, ainda mais de um candidato que defende a democracia.

As alianças do governo Lula com os candidatos de Centro também vão depender de como ele vai dar o desfecho para este caso.

E quando você envia um representante do Brasil como o Celso Amorim para a Venezuela, espera-se que ele volte com uma resposta na bagagem. E qual vai ser essa resposta?

Um assessor de Lula falou  que foi dito a Lula para se afastar dessa questão e se posicionar seguindo outros países.

Lula já disse que ficou com "medo" da frase de Maduro de que poderia acontecer um "banho de sangue na Venezuela" caso ele perdesse as eleições. Maduro mandou Lula "tomar um chá de camomila". Esta frase do presidente brasileiro foi um posicionamento correto.

O governo está em uma sinuca de bico para dar um desfecho para este caso.

 

¨      Brasil vai defender interesses diplomáticos da Argentina após expulsão de diplomatas pela Venezuela

O Ministério de Relações Exteriores brasileiro vai defender os interesses diplomáticos da Argentina após os diplomatas do país serem expulsos pelo governo da Venezuela, informa o G1. A iniciativa atende a um pedido da chanceler argentina, Diana Mondino, feito na última segunda-feira (29) ao ministro brasileiro Mauro Vieira. O governo venezuelano expulsou os profissionais após a Argentina e outros seis países latinos contestarem o resultado das eleições realizadas no último domingo (28).

Além da Argentina, o Peru também deve ter seus interesses diplomáticos defendidos pelo Brasil. Na prática, a medida permite que os países tenham resguardadas a inviolabilidade das instalações e de seus arquivos em território venezuelano. Isso significa que os diplomatas brasileiros poderão atuar dentro das instalações argentinas e ajudarão a encontrar um destino para seis asilados venezuelanos que estão refugiados na embaixada do país.

A posição diplomática do Brasil na Venezuela vêm ganhando elogios de ambos os lados. A líder da oposição no país, Maria Corina Machado, agradeceu a atuação brasileira em assumir os interesses diplomáticos da Argentina. “Agradecemos ao governo do Brasil pela disposição em assumir a representação diplomática e consular da República Argentina na Venezuela, e a proteção de sua sede e residência, bem como a integridade física de nossos colegas asilados na referida residência. Isto poderia contribuir para o avanço de um processo de negociação construtivo e eficaz como o que o Brasil tem apoiado”, publicou.

Já o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, requisitou uma conversa por telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quinta-feira (1º), informou a CNN. Em entrevista à TV Centro América, Lula declarou que reconhecerá o resultado das eleições na Venezuela quando houver certeza de que as atas eleitorais são autênticas.

¨      Milei agradece ao Brasil por assumir custódia da Embaixada da Argentina na Venezuela

 Na quarta-feira (31), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil decidiu defender os interesses diplomáticos de sete países que contestaram o resultado das eleições na Venezuela. Entre eles, está a Argentina. O presidente, Javier Milei, agradeceu o Brasil nesta quinta-feira (1º).

Após a decisão do Brasil de defender os interesses diplomáticos de Buenos Aires em Caracas, a bandeira brasileira foi erguida na residência oficial do embaixador da Argentina na capital venezuelana e Milei agradeceu o governo brasileiro.

O presidente disse que agradecia "imensamente a disposição do Brasil em assumir a custódia da Embaixada da Argentina na Venezuela" e que "os laços de amizade que unem a Argentina ao Brasil são muito fortes e históricos".

"Graças ao Brasil agradeço imensamente a disposição do Brasil em assumir a custódia da Embaixada da Argentina na Venezuela. Agradecemos também a representação momentânea dos interesses da República Argentina e dos seus cidadãos ali. Hoje o pessoal diplomático argentino teve que deixar a Venezuela em retaliação do ditador Maduro pela nossa condenação da fraude que perpetraram no domingo passado. Não tenho dúvidas de que em breve reabriremos a nossa Embaixada numa Venezuela livre e democrática. Os laços de amizade que unem a Argentina ao Brasil são muito fortes e históricos. A Venezuela respeitará, portanto, as disposições da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e da Convenção de Viena sobre Relações Consulares", postou Milei nas redes sociais.

Além de Buenos Aires, Brasília vai defender o corpo de diplomático de seis outros países latinos que contestaram o resultado eleitoral venezuelano, são eles: Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai.

O Peru também deve contar com a ajuda do Brasil para representar seus interesses mais imediatos, como a proteção de prédios e de cidadãos, por exemplo, escreve o G1.

¨      Maria Corina elogia a posição do Itamaraty na OEA

O Brasil se absteve de votar nesta quarta-feira (31) no Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) a resolução rejeitada de exigir da Venezuela transparência nas eleições presidenciais vencidas por Nicolás Maduro. 

A posição brasileira foi elogiada pela líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, em postagem no X, antigo Twitter: "o embaixador do Brasil na OEA, @BenoniBelli, reafirmou o princípio fundamental da soberania popular que deveria ser observado através da verificação dos resultados nas atas e reitera que esperam a publicação por parte do CNE dos dados desagregados por mesa eleitoral".

"Reiteramos nossa disposição para participar em uma negociação séria e urgente, para facilitar um entendimento entre as partes, que facilite uma transição ordenada conforme a vontade expressada em 28 de julho pelos cidadãos venezuelanos. Agradecemos ao governo do Brasil por sua disposição em assumir a representação diplomática e consular da República da Argentina na Venezuela, e a proteção de sua sede e residência, bem como a integridade física de nossos companheiros asilados nesta residência. Isso poderia contribuir para avançar em um processo de negociação construtiva e efetiva, como o que o Brasil tem apoiado", completou.

 

Fonte: g1/Reuters/Brasil 247

 

Nenhum comentário: