Remédios
para diabetes na gravidez não trazem riscos ao bebê, sugere novo estudo
Alguns
estudos levantaram preocupações sobre uma possível ligação entre o medicamento
amplamente utilizado para diabetes tipo 2, a metformina, e um risco
aumentado de conceber um bebê com defeitos congênitos. No entanto, novas
pesquisas sugerem agora que o uso da medicação entre homens que planejam
conceber ou mulheres no início da gravidez não parece estar associado a um
risco aumentado de defeitos congênitos graves em seus filhos.
Os
dois estudos, publicados na segunda-feira (17) no Annals of Internal Medicine,
contradizem um estudo de 2022 que relacionou o uso de metformina por homens nos
três meses anteriores à concepção de um bebê a um aumento de 40% no risco de
defeitos congênitos em seus descendentes.
Os
resultados proporcionam “tranquilidade” para os pais, segundo Ran Rotem, autor
do novo estudo sobre o uso paterno de metformina e pesquisador da Harvard T.H.
Chan School of Public Health.
“Convencionalmente
e tradicionalmente, o foco tem sido a mãe quando se trata de gravidez e da
saúde fetal e do recém-nascido. O que estamos descobrindo cada vez mais é que o
pai também é importante”, afirma.
Ele
acrescentou que o aumento do risco de defeitos congênitos observado em
pesquisas anteriores pode estar associado à própria doença do diabetes ou a
comorbidades relacionadas, e não tanto à medicação em si.
“Quando
pensamos em um medicamento, também precisamos considerar as condições
subjacentes nas quais o medicamento é normalmente prescrito”, afirma Rotem.
“Sabemos que o próprio diabetes é complicado quando se trata tanto de
fertilidade quanto de possíveis complicações na gravidez e em recém-nascidos.”
A
metformina é um medicamento de primeira linha no tratamento do diabetes tipo 2 e
tem sido amplamente utilizada para ajudar a controlar os níveis de açúcar no
sangue desde a década de 1960.
O
medicamento é atualmente o mais comumente prescrito para diabetes tipo 2, e,
antes de tomar metformina, recomenda-se que as pessoas informem ao médico se
planejam engravidar, estão grávidas ou amamentando.
·
“A saúde do pai parece
ser importante”
Para
o estudo sobre o uso paterno de metformina, pesquisadores da Harvard T.H. Chan School of Public Health e
do Kahn-Sagol-Maccabi Research and Innovation Center do Maccabi Healthcare
Services, em Israel, analisaram dados de registros de nascimento e registros
médicos de quase 400 mil bebês nascidos em Israel entre 1999 e 2020.
Eles
compararam esses dados com informações sobre os pais dos bebês, como suas
idades, resultados de exames laboratoriais e registros de medicamentos,
incluindo dados sobre prescrições de metformina.
Embora
os pesquisadores não tenham analisado especificamente por quanto tempo os
homens estavam tomando a medicação, “tivemos muitas pessoas que estavam tomando
a medicação por um longo tempo, e os resultados foram bastante consistentes
para esses indivíduos também”, diz Rotem.
Os
pesquisadores descobriram que a prevalência de grandes defeitos congênitos foi
de 4,7% em crianças de pais não expostos a medicamentos para diabetes nos meses
anteriores à concepção, em comparação com 6,2% em crianças de pais expostos à
metformina antes da concepção.
Quando
os pesquisadores ajustaram os dados para fatores como outras condições de saúde
subjacentes dos pais e se a mãe também tinha diabetes ou comorbidades
relacionadas, não encontraram aumento do risco de grandes defeitos congênitos
em crianças expostas à metformina paterna.
Os
homens que usaram medicamentos para diabetes durante
o período de desenvolvimento do esperma, antes da concepção, tendiam a ser mais
velhos, tinham uma maior prevalência de condições de saúde subjacentes e eram
mais propensos a ter problemas de fertilidade e um histórico
de tabagismo em comparação com os pais que não foram expostos a medicamentos
para diabetes.
“Descobrimos
que o uso paterno de metformina no período de desenvolvimento do esperma não
está associado a um risco excessivo de malformações em recém-nascidos,
proporcionando segurança para que os pais que planejam iniciar uma família
possam continuar usando o medicamento para controlar o diabetes”, disse Rotem.
“De maneira mais ampla, nosso estudo também sugere que manter um bom perfil de
saúde cardiometabólica é importante para ambos os parceiros.”
Uma
maior prevalência de condições de saúde subjacentes, bem como problemas de
fertilidade, também foi observada entre as mães de crianças cujos pais usaram
metformina, em comparação com as mães de crianças cujos pais não foram expostos
a medicamentos para diabetes.
“Se
o pai está usando medicamentos para diabetes, é muito mais provável que a mãe
também esteja usando medicamentos para diabetes ou tenha outras comorbidades
metabólicas”, afirma Rotem.
“Sabemos
que o diabetes em si não é bom quando está presente na mãe, e estamos
encontrando evidências de que também é complicado para os pais”, diz. “Se você
pode controlar o diabetes apenas mudando seu estilo de vida – fazendo mais
exercícios, cuidando da dieta – isso é provavelmente bom e útil de qualquer
maneira. Mas se você precisa ser medicado, parece que a metformina é uma
escolha segura para ambos.”
Os
dados também mostraram que o risco de defeito congênito era maior quando o pai
usava metformina junto com outros medicamentos, descrito como politerapia. O
uso paterno de metformina sozinho, conhecido como monoterapia, não parecia
aumentar o risco de defeitos congênitos.
“Quando
examinamos regimes de tratamento específicos, riscos modestamente elevados
ainda foram observados, especificamente entre os filhos de pais que usaram
metformina em conjunto com algum outro medicamento para diabete”, explica
Rotem.
“Mas
também observamos que pais que tomavam vários medicamentos tinham um diabetes
mais mal controlado”, diz. “Isso novamente indica que o risco modestamente
elevado observado para politerapias de diabetes provavelmente não foi causado
pelos próprios medicamentos, mas sim pelo pior perfil de saúde cardiometabólica
dos pais.”
·
“Controle inadequado
do açúcar no sangue é um fator de risco”
O
outro estudo publicado na segunda-feira (17) no Annals
of Internal Medicine teve achados semelhantes para as mães. Mulheres
que continuaram usando metformina e adicionaram insulina como tratamento no
primeiro trimestre da gravidez mostraram pouco ou nenhum aumento no risco de
dar à luz um bebê com grandes defeitos congênitos em comparação com mulheres
que interromperam a metformina e mudaram para insulina, segundo o estudo.
Os
pesquisadores, também da Harvard T.H. Chan School of Public Health, estudaram
dados de mais de 12.000 mulheres com diabetes tipo 2 e suas gestações. Os dados
vieram do banco de dados da administração de saúde do Medicaid dos EUA, de 2000
a 2018.
A
análise mostrou que o risco estimado de dar à luz um bebê com defeitos
congênitos foi de cerca de 6% quando a mãe recebeu insulina mais metformina, em
comparação com 8% quando a mãe recebeu apenas insulina.
“Não
ficamos surpresos com nossos achados. Embora a metformina possa atravessar a
placenta, potencialmente afetando o feto, a metformina pode ajudar no controle
do açúcar no sangue, o que pode reduzir o risco de defeitos congênitos”,
explica Yu-Han Chiu, autor principal do estudo e pesquisador da Harvard T.H.
Chan School of Public Health e da Penn State College of Medicine, em e-mail.
“O
controle inadequado do açúcar no sangue é um fator de risco para defeitos
congênitos. A insulina em combinação com metformina pode resultar em um melhor
controle do açúcar no sangue do que usar apenas insulina. Isso pode explicar
por que observamos um risco ligeiramente menor de nascimento com malformações
congênitas ao comparar com o uso de insulina sozinha”, afirma Chiu.
“Para
mulheres com diabetes tipo 2 que estão tomando metformina e planejam conceber,
nosso estudo sugere que continuar com a metformina não apresenta ou apresenta
pouco aumento no risco de defeitos congênitos em comparação com a mudança para
insulina.”
·
Um “quadro complexo”
Os
dois novos estudos são “bem feitos”, afirma Meleen Chuang, diretora médica de
saúde da mulher nos Centros de Saúde Familiar da NYU Langone, em e-mail.
“Eu
não mudaria a forma como a metformina é prescrita para pais que estão tentando
conceber”, diz Chuang, que não esteve envolvida nos novos estudos e serve como
chefe de serviço de ginecologia e obstetrícia da NYU Langone Brooklyn.
“Eu
incentivaria a perda de peso, dieta e exercícios como parte dos cuidados
pré-concepção para ambos os pais”, acrescenta. “Reduzir os fatores de risco
modificáveis, como diminuir o peso, parar de fumar, usar álcool e substâncias,
são algumas maneiras de melhorar a saúde e a fertilidade.”
Os
possíveis riscos que podem vir com o uso paterno e materno de metformina
permanecem um “quadro complexo”, mas os novos estudos ajudam a tornar esse
quadro evolutivo mais claro, escreveu Sarah Martins da Silva, da Universidade
de Dundee, no Reino Unido, em um editorial publicado
juntamente com os dois estudos na segunda-feira.
“Claramente,
os riscos e benefícios individuais devem ser cuidadosamente considerados e os
resultados devem ser interpretados com cautela, uma vez que os estudos carecem
de informações sobre o controle glicêmico”, escreveu ela.
“No
entanto, essas análises recentes sugerem que a metformina é uma opção de
tratamento segura e eficaz para [diabetes tipo 2] para homens e mulheres que
tentam conceber, bem como para o manejo da hiperglicemia em mulheres grávidas
no primeiro trimestre”, acrescentou, “e pode ser hora de reconsiderar as
diretrizes atuais de cuidados pré-natais que defendem a mudança para a terapia
com insulina.”
Fonte:
CNN Brasil
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