Quem foram
os donos do sítio de Ricardo Nunes em Marsilac?
O
prefeito Ricardo Nunes é dono de um sítio de 4,2 hectares no Parque
Internacional, um loteamento irregular em Engenheiro Marsilac, extremo sul de
São Paulo, dentro da Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos. Como tem
mostrado a série Endereços. Dos treze lotes,
apenas quatro estão em seu nome no 11º Cartório de Imóveis de São Paulo. Duas
pessoas que ainda aparecem como donas do sítio pertenceram ao grupo político de
Nunes, que acumula cargos na Câmara e contratos na prefeitura.
O
Sítio Vista Verde é tema do primeiro de doze episódios sobre poder político e
território na capital paulista. Ao longo das próximas semanas, a série em vídeo
mostrará como os amigos e aliados do prefeito se articulam espacialmente. Cada
episódio é acompanhado de reportagens com mais detalhes em nosso site, como
esta: “Sítio de Ricardo Nunes no extremo sul de SP fica em loteamento
irregular“.
Um
desses terrenos, o lote nº 6, aparece registrado no cartório em nome de
Benjamim Ribeiro da Silva, falecido no ano passado, e Alfonso Boglio Serrano.
Ambos muito próximos de Ricardo Nunes. Os dois fundaram juntos a Escolinha
Pica-Pau Amarelo, que deu origem ao Colégio Albert Einstein. Os dois
fizeram campanha para Nunes em
2016. Seus parentes acumulam cargos na Câmara, inclusive no gabinete de Nunes,
e na prefeitura. Uma empresa de Benjamim aluga imóveis para creches conveniadas
— que contratam os serviços de uma empresa do prefeito, a Nikkey Controle de
Pragas.
BENJAMIN
RIBEIRO FOI UMA DAS FIGURAS MAIS PRÓXIMAS DE RICARDO NUNES
A
matrícula do lote 6 do Parque Internacional — um dos treze lotes que compõem o
Sítio Vista Verde — mostra que o terreno foi compromissado a Benjamin Ribeiro e
Alfonso Serrano entre os anos 70 e 80, tendo a venda oficializada em cartório
em 1988. Durante a reportagem do De Olho nos Ruralistas em Marsilac, todos os
vizinhos citaram o nome de Benjamin como uma das pessoas que ocupavam antes o
imóvel. Ele foi subprefeito de Santo Amaro e era bastante conhecido na zona
sul.
Foi
em 1971 que Benjamin Ribeiro fundou o Colégio Albert Einstein, em Interlagos. A
escola é hoje uma das principais instituições de ensino privado da zona sul,
atendendo do berçário ao ensino médio com ensino bilíngue, em inglês. O
Einstein integra a Rede Anglo de Ensino e possui parceria com o Google.
O
papel à frente do colégio levou Benjamin a uma posição de destaque entre o
empresariado da região: ele presidiu o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino
no Estado de São Paulo (Sieesp) e se tornou membro da Associação Empresarial da
Região Sul (Aesul), que já foi presidida por Ricardo Nunes.
Ele
tentou se eleger vereador duas vezes, nos anos 2000, mas não conseguiu. Acabou
sendo representado pelo amigo, eleito pela primeira vez em 2012 para mandato na
Câmara Municipal. Os dois são irmãos de maçonaria. Até sua morte, em agosto de
2022, Benjamin foi membro da loja maçônica Fé, Equilíbrio e Luz.
Foram
os maçons que fundaram a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos
(Sobei), uma organização que tem inúmeros contratos com a Prefeitura de São
Paulo, em esquema que ficou conhecido na imprensa como “máfia das creches”, e
possui papel central no que chamaremos de República de Interlagos.
Uma
das empresas de Benjamin, a construtora Femarjan, aluga imóveis na zona sul
para creches conveniadas e escolas administradas pela Secretaria Municipal de
Educação. Ele chegou a dizer, em entrevista à Folha, que seu negócio era esse:
“Eu tenho vários imóveis, não só alugados para a Sobei, inclusive para escolas
particulares. Meu negócio é fazer imóvel para alugar para escola”.
PARENTES
DE ALFONSO SERRANO SE ESPALHAM POR CÂMARA E PREFEITURA
A
relação entre Alfonso Boglio Serrano e Benjamin Ribeiro é antiga. Os dois
fundaram juntos uma escola de bairro chamada Pica-Pau Amarelo, que deu origem
ao Colégio Albert Einstein. Serrano é ligado ao ex-vereador e ex-deputado
Antonio Goulart, pai do vereador Rodrigo Goulart, que diz nas redes sociais
realizar “patrulhas” em bairros de São Paulo. Uma dessas incursões ocorreu
justamente na Praça Alfonso Boglio Marti, que homenageia o pai do empresário.
A
família Goulart também faz parte da República de Interlagos e será importante
para entendermos como esse grupo político multiplica seu poder — e se
territorializa em São Paulo. Alfonso Serrano doou R$ 9.500,00 para a campanha
de Antonio Goulart em 2008. Ele era funcionário do gabinete do vereador, depois
eleito deputado federal. (Benjamin Ribeiro e o próprio Nunes fizeram doações
menores para Goulart nessa mesma campanha.)
Uma
neta de Alfonso, Ana Paula Hessel, foi assessora de Ricardo Nunes na Câmara Municipal. Hoje é
ligada ao vereador Marcelo Messias, que era chefe de gabinete de Nunes. A
esposa atual de Alfonso, Maria Aparecida Pedrozo de Moraes, é funcionária da
Secretaria das Subprefeituras, cedida para a Câmara. Seu irmão Antonio e
Adriana Pedrozo de Moraes são funcionários de Rodrigo Goulart.
Apesar
das relações políticas, as finanças de Alfonso não andavam tão bem. A matrícula
do lote 6 do Sítio Vista Verde mostra que, em 11 de junho de 2010, sua parte do
terreno foi indisponibilizada em decorrência de um processo na 7ª Vara de
Execuções Fiscais da Fazenda.
¨
Crime ambiental em
Carneiros(PE): perguntas ainda sem respostas
Mais
de dois meses depois, o crime ambiental na Praia dos Carneiros, um dos
principais cartões-postais de Pernambuco, no litoral sul, ainda está sem
algumas respostas. O condomínio de luxo Eco Resort foi autuado pela Agência
Estadual de Meio Ambiente (CPRH) em R$ 50 mil, no início de abril, por
lançamento irregular de efluentes ao mar com presença de coliformes fecais dez
vezes acima do permitido.
Inicialmente,
nos comunicados à imprensa, o órgão disse que se tratava de esgoto. Após o
resultado de análises laboratoriais, mudou a informação: não era esgoto, era
esterco. Esse e outros tipos de substratos seriam utilizados para manutenção
dos jardins do empreendimento.
A
CPRH, no entanto, ainda não sabe dizer se houve irregularidades na execução da
obra do Eco Resort em relação ao projeto aprovado e licenciado pela própria
agência. Os projetos, disse o órgão, ainda estão sendo analisados.
A
multa foi aplicada pela CPRH. No entanto, o Eco Resort entrou com uma defesa
administrativa e por isso o valor não foi pago. A análise processual também não
foi concluída ainda. A agência afirmou que só depois irá se manifestar sobre o
assunto. Alguns dias depois do vazamento do esterco, o órgão deu 15 dias para
que o condomínio se explicasse e o que faria para que o problema não se
repetisse. Mas os prazos foram sendo estendidos e o caso até agora não foi
fechado.
¨
Fórum propõe caminhos
para um modelo de desenvolvimento que preserve a vida na Pan-Amazônia e no
mundo
Após
três dias de diálogo internacional sobre os problemas da Amazônia e a
construção de propostas de ação, encerrou-se no sábado, 15 de junho, o XI Fórum
Social Pan-Amazônico (FOSPA) no Coliseu Nacif Velarde, em Rurrenabaque. Os
quase 1.200 participantes reuniram-se para a leitura e aprovação em
plenário das conclusões do fórum e da cerimônia de encerramento.
O “Mandato do XI Fórum Social Pan-Amazônico”, como foi denominado o documento, é uma síntese das conclusões
aprovadas nas assembleias de cada Eixo Temático. Os Eixos estabelecidos para
esta edição do fórum foram: 1) Povos Indígenas e Populações Amazônicas, 2)
Mãe Terra, 3) Extrativismos e alternativas, 4) Resistência das
Mulheres. Cada Eixo abrigou de dois a cinco grupos de trabalho que
respondiam a temas mais específicos, como autonomia e justiça indígena,
direitos dos defensores, crise climática, água, transição energética, expansão
da fronteira agrícola, territórios e participação das mulheres.
A
Amazônia boliviana acolheu com satisfação a chegada de delegações de nove
países da região, se reunindo para refletir e analisar a complexa realidade
amazônica. A partir do evento, e de todo o processo que o antecedeu, espera-se
construir uma proposta orientada para um novo modelo de desenvolvimento que
preserve a vida.
Os
municípios de Rurrenabaque (Beni) e San Buenaventura (La Paz) receberam
participantes da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana
Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, entre os dias 12 e 15 de junho.
Pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), estavam presentes representantes
regionais do Acre, Rondônia, Roraima e
Araguaia-Tocantins, participando dos diversos eixos temáticos, com o
objetivo de discutir, se capacitar e definir estratégias coletivas.
Em
diferentes línguas, vestidos com roupas ancestralmente preservadas, com rostos
multicoloridos e com expressões emocionadas para o encontro, os delegados e
delegadas do FOSPA apontam que as conclusões desse processo devem se tornar
mandatos aos governantes de cada país, para avançar em direção a políticas
públicas para proteger a bacia e a floresta com maior biodiversidade do
planeta.
O
encontro reúne análises, opiniões, esperanças, protestos e propostas de povos
indígenas e comunidades ancestrais, organizações da sociedade civil, redes e
alianças do bloco sul-americano. A programação também contou com atividades
como visitas in loco às comunidades indígenas bolivianas da
região, além da marcha na ponte sobre o rio Beni, que liga os municípios de
Rurrenabaque e San Buenaventura.
·
Para um modelo alternativo
Para
Wilma Mendoza, presidente da Confederação Nacional das Mulheres Indígenas
da Bolívia (CENAMIB), o FOSPA deveria permitir que as mulheres
demonstrassem ações eficazes. “Mas não sozinhas, e sim com todos vocês. Estamos
aqui para defender a vida, estamos plantando sementes de esperança, mas é com
luta. A natureza chora e grita, sem natureza não teremos uma vida longa, está
nas nossas mãos reagir agora”, disse.
Entendendo
que a Amazônia é a prioridade para a vida, representantes do Equador,
incluindo Leónidas Iza, exigiram que os governos dos países amazônicos
trabalhassem com os povos indígenas e protegessem seus territórios.
O Equador decidiu,
por referendo popular, deixar os seus recursos de hidrocarbonetos no subsolo na
área do parque Yasuní, um ecossistema biodiverso. Sua abordagem é promover a
“yasunização” do território amazônico. A partir dessa visão, propuseram
proteger não apenas a bacia amazônica, mas também as geleiras das terras altas
e outras regiões do território continental.
“A
água e o vento não têm fronteiras”, afirmaram representantes do Peru,
destacando que tudo está interligado. Na linha de ação, foi destacada a
necessidade de não deixar os governos tomarem sozinhos as decisões que implicam
a preservação de todas as formas de vida.
Entre
as ameaças à Amazônia, os participantes da FOSPA destacaram a incursão da
mineração, a subjugação de terras e desapropriação de territórios, a penetração
do tráfico de drogas, a violência contra os defensores da natureza; mas também
destacaram experiências alternativas.
Gonzalo
Oliver, presidente da Central dos Povos Indígenas de La Paz (CPILAP), pediu que
as deliberações sejam orientadas para ações de defesa da Amazônia. “Sabemos que
tem ameaças fortes. As conclusões e recomendações devem constituir um mandato
aos governantes relativamente às políticas territoriais para a proteção do
nosso povo, para a proteção das áreas protegidas.”
·
Mapeamento de Conflitos e Violência na
Pan-Amazônia
Na
sexta-feira (14), representantes de cinco países (Brasil, Bolívia, Colômbia,
Peru e Guiana Francesa), dentre agentes da CPT que atuam na Amazônia
brasileira, apresentaram a “Iniciativa para mapear conflitos e violência
na Pan-Amazônia”, ou “Iniciativa de mapeo de conflictos y
violencia en la Panamazonía.”
O
material aborda e analisa os conflitos e a violência que afetam a região
Pan-Amazônica, destacando principalmente os assassinatos em conflitos
socioterritoriais nos cinco países entre os anos de 2020 e 2024 (30 de maio).
Os números são alarmantes e mostram um cenário de 309 pessoas assassinadas na
região, sendo 29 mulheres.
No
total de mortes, o maior número é na Colômbia (178), seguido do Brasil (100),
Peru (25), Bolívia (4), Equador (1) e Guiana Francesa (1). Comunidades
indígenas, camponesas e tradicionais são as mais afetadas pela violência e
pelos projetos de mineração, petróleo, transporte, energia, agronegócio e
desmatamentos, dentre outras violações.
“O
FOSPA para nós é um local de articulação, integração das lutas, fortalecimento
institucional, espaço de incidência política na defesa do bioma e das
populações amazônidas. O FOSPA também é um espaço de alimentar nossos sonhos e
esperanças”, afirma Darlene Braga, que integra a coordenação da CPT Regional
Acre.
Fonte:
De Olho nos Ruralistas/Marco Zero Conteúdo/CPT
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