João
Filho: Encurralado pela bancada golpista, Lula mudará articulação política
NÃO
É NOVIDADE O FATO de que a direita e a extrema direita dão as cartas no
Congresso. Estamos falando daquele que talvez seja o congresso mais reacionário
de todos os tempos, formado em boa parte por gente que tentou impedir a posse
de Lula, fomentando um golpe de estado.
Não
se trata de uma oposição convencional, comprometida com valores democráticos. O
bolsonarismo é uma corrente essencialmente golpista que, infelizmente, foi
naturalizada dentro do jogo político-partidário. A governabilidade,
portanto, é um problema com o qual o governo Lula sabia que teria que lidar
desde o primeiro dia do mandato.
As
sucessivas derrotas do governo em votações na Câmara e no Senado, nesta última
semana, reforçam a constatação de que o bolsonarismo é a principal força
política no Legislativo.
Graças
à sua força eleitoral, ele atrai com facilidade a turma do centrão. Apesar de
ser conhecido por topar qualquer negócio, independente da ideologia, o centrão
tende a acompanhar o bolsonarismo nas pautas relacionadas aos costumes.
Votar
junto do governo em questões caras ao progressismo é praticamente impossível
para um deputado do centrão, cuja base eleitoral é majoritariamente
conservadora. Em ano de eleições municipais, não há dúvida de que os
sanguessugas do centrão vão fechar com o bolsonarismo em questões como saidinha
de presos e criminalização de fake news.
Soma-se
a isso o trabalho da pujante indústria de mentiras da extrema direita, que cria
um ambiente de pânico moral que já demonstrou ser muito eficiente para
conquistar votos. É um nó que parece impossível de ser desatado.
Já
na área econômica, o governo conseguiu avançar aprovando projetos importantes.
A Reforma Tributária e o arcabouço fiscal, por exemplo, foram aprovados com
apoio maciço do centrão.
Lembremos
que este não é um governo puro de esquerda. Ele foi formado por uma frente
ampla criada para barrar a continuação de um governo de extrema direita
fascistoide. É natural que pautas mais alinhadas ao mercado e do interesse de
setores da direita avancem com mais facilidade enquanto pautas progressistas
são barradas.
Goste-se
ou não, este é um dado da realidade.
Ocorre
que o governo tem concedido importantes nacos do poder para a turma do centrão,
mas está recebendo muito pouco em troca. Sabendo que a esquerda seria
minoritária no Congresso, Lula iniciou o governo distribuindo ministérios para
União Brasil, PSD e MDB.
No
ano passado, uma reforma ministerial abriu ainda mais espaço para o centrão,
acomodando também o PP e o Republicanos em ministérios. Na teoria, essa
composição serviria para dar uma maioria folgada ao governo, mas não é o que
acontece.
Os
parlamentares dos partidos que têm ministérios deram mais votos contrários ao
governo do que a favor na maioria das votações desta semana.
No
início deste ano, Lula reuniu Arthur Lira, ministros e líderes
partidários e presidentes de partidos para tentar aproximá-los do governo.
Depois da reunião, Lula abriu os cofres e autorizou a liberação de R$ 20,5
bilhões em emendas de bancadas, individuais e de comissão.
O
centrão foi o mais beneficiado, tendo os parlamentares de PP, União Brasil, PSD
e MDB recebido os maiores valores. Na teoria, essas emendas deveriam render um
apoio maior do parlamento nas votações de interesse do governo, mas, na
prática, está servindo apenas para fortalecer a turma do centrão para as
eleições municipais.
Além
disso, fortalece também o bolsonarismo, já que boa parte desses partidos
disputará eleições em aliança com ele.
Há
de se perguntar qual é o sentido de dividir o poder com a direita se, em troca,
o que Lula recebe é apenas apoio em votações em pautas alinhadas aos interesses
da… direita. Está claro que algo precisa mudar na articulação política do
governo. Lula sabe disso e pretende montar uma nova estratégia
da articulação política.
Por
enquanto não há sinalização do que mudará exatamente, mas o presidente passará
a se reunir semanalmente com o líder do governo na Câmara, o líder do Senado e
o líder do governo no Congresso, além do ministro da Secretaria de Relações
Institucionais.
Antes,
Lula tratava da articulação política em reuniões semanais apenas com o ministro
Alexandre Padilha, que é um desafeto de Arthur Lira e cujo trabalho tem sido
criticado tanto por parlamentares da base do governo quanto da oposição.
É
simbólico que, na votação que manteve o veto de
Bolsonaro contra a criminalização das fake news, os bolsonaristas tenham
comemorado a vitória acachapante (317 votos a 139) gritando “Lula ladrão, seu
lugar é na prisão”.
A
fraqueza do governo no Congresso é um problema que, no limite, pode resultar em
impeachment de Lula.
Por
mais que essa hoje seja uma possibilidade remota, já que a configuração do
poder está amplamente favorável ao bloco majoritário formado por centrão e
bolsonarismo, é uma carta que sempre estará sobre a mesa de um congresso lotado
de golpistas.
Poder
para isso eles têm. Mas, por enquanto, ainda é mais interessante manter o
governo amarrado, fazê-lo sangrar até o fim do mandato e, assim, preparar o
terreno para a eleição de um candidato como o bolsonarista Tarcísio, que
agradaria a extrema direita, o centrão e contaria com o apoio de boa parte da
imprensa corporativa.
Mas
os ventos da política podem mudar e o ímpeto golpista do bolsonarismo estará
sempre à espreita.
¨
Cármen Lúcia na
presidência do TSE é virada de chave no modus operandi do órgão, apontam
analistas
Em
uma transição significativa, a partir desta segunda-feira (3), o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) passa a ser presidido pela ministra Cármen Lúcia,
substituindo Alexandre de Moraes. Seu mandato terá duração até 2026.
De
volta ao TSE, a chegada da ministra Carmén Lúcia tende a mudar
significativamente o modus operandi do órgão, segundo especialistas ouvidos
pela Sputnik Brasil.
Cármen
Lúcia, que já presidiu o TSE anteriormente, é descrita pelo coordenador do
curso de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
professor da mesma instituição Ernani Carvalho como uma figura mais reservada e
fiel aos preceitos tradicionais da magistratura.
Segundo
o analista, a ministra segue a tendência de evitar os holofotes e as grandes
discussões políticas, "preferindo se manifestar exclusivamente através dos
autos dos processos. Essa postura mais discreta contrasta fortemente com a de
seu antecessor".
A
ascensão de Cármen Lúcia à presidência do TSE é um marco significativo,
destacando a importância da participação feminina nas instâncias de poder.
Contudo, conforme aponta a advogada e ex-desembargadora do Tribunal Regional
Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) Fernanda Caldas Menezes, o espaço político e
jurídico ainda se mostra hostil para as mulheres. Esse cenário reforça a
necessidade de continuar a debater a igualdade de gênero nas esferas de poder.
"Para
além da importância do assento da 'mulher' Cármen Lúcia em instância decisória
tão importante, a ministra, com seu estilo discreto e pouco midiático,
juntamente com o ministro Nunes Marques na vice-presidência da casa,
enfrentarão, além de eleições municipais, assuntos polêmicos, cuja linha
decisória do seu antecessor, ministro Alexandre de Moraes, já foi traçada e, ao
que tudo indica, será seguida pela presidente, apesar de ser esta a primeira
vez em que quadros indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ocupam a maioria
das cadeiras destinadas a ministros do Supremo na Corte Eleitoral",
sublinha Menezes à Sputnik Brasil.
Cármen
Lúcia, conhecida por seu estilo discreto e avesso aos holofotes, terá como
vice-presidente o ministro Nunes Marques. Juntos, de acordo com a
ex-desembargadora eleitoral, eles enfrentarão uma série de desafios
significativos, incluindo a condução das eleições municipais e a gestão de
questões polêmicas deixadas por Alexandre de Moraes.
Segundo
a advogada, que é sócia do escritório Menezes Rabelo Napravnik e Martorelli
Família e Sucessões, a inelegibilidade de Jair Bolsonaro será revisitada pela
nova ministra, além de "a cassação do mandato de Deltan Dallagnol, o
enfrentamento de notícias falsas e o uso da inteligência artificial no
pleito".
Esses
"serão alguns dos desafios a serem conduzidos pela única mulher a ter
assumido esse posto no Brasil".
·
Mandato de Moraes
Alexandre
de Moraes deixa o comando do TSE após um biênio que, segundo Carvalho, foi
percebido como extremamente longo e turbulento por muitos juristas. Durante sua
gestão, Moraes ocupou dois postos-chave: além de presidir o TSE, ele também
comandou a ação penal contra as fake news, que atingiu diretamente os poderes
da República, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Justiça
brasileira.
"Alexandre
de Moraes termina um biênio que provavelmente durou uma eternidade para muitos
juristas que analisavam sua posição frente ao TSE, e ele ocupou dois pontos,
postos-chave. Um foi de juiz da ação penal contra as fake news, que atingiu de
maneira direta os poderes da República: mais propriamente o Supremo Tribunal
Federal e a Justiça brasileira", pontua Ernani à Sputnik Brasil.
Ele
continua: "Uma ação penal que foi determinada para o seu comando por Dias
Toffoli, sem utilização do mecanismo de distribuição. Então foi uma coisa já
passando por um processo atípico, para muitos irregular, e que fere o
procedimento adequado de distribuição das ações na Corte."
Fonte:
The Intercept/Sputnik Brasil
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