Ricardo Nêggo Tom: Jesus Cristo - um
sem-terra como líder de um cristianismo latifundiário
Desde a Grande Revolta
Judaica, ou, a Primeira Guerra Judaico-Romana, ocorrida entre os anos 66 e 73
D.C, que foi a primeira rebelião da população da Judéia contra a dominação
romana, o Império Romano começou a se articular politicamente para tentar
conter a revolta dos Judeus que não aceitavam, entre outras coisas, ter que
prestar culto aos deuses de Roma e pagar impostos ao seu governo. Anos mais
tarde, após o Império Romano já ter expandido ainda mais o seu território de
domínio, surge a figura de Constantino, a quem podemos chamar de o verdadeiro
deus do cristianismo sistêmico em vigor nos dias de hoje. Até então perseguida
e proibida por Roma, a fé cristã primitiva, baseada nos ensinamentos de Cristo,
ganhava um importante e oportunista aliado.
Na véspera da batalha
na ponte Mílvia, Constantino, o grande, um dos tetrarcas do Império Romano,
teria sonhado ou tido uma visão com as iniciais do nome de Cristo, que deveriam
ser grafadas no escudo dos soldados do seu exército, o que lhe garantiria a vitória
na batalha contra o também Imperador romano Maxêncio, conhecido como “O
usurpador”. Seguindo o que havia sido
recomendado em sonho, Constantino venceu a batalha, levou Maxêncio à morte por
afogamento no rio Tibre e extinguiu o regime tetrarca, tornando-se o único
governante do Império Romano. Grato à ajuda que teria recebido do deus dos
cristãos, ele declara o fim da perseguição aos seguidores de Cristo, dando
início a um político e conveniente processo de cristianização do Império
Romano, o que foi oficializado anos mais tarde pelo Imperador Teodósio, que
reconheceu o cristianismo como religião oficial de Roma.
Jesus Cristo, a essa
altura dos fatos, já era apenas um detalhe para o cristianismo romano. Tanto,
que uma das primeiras iniciativas de personalização da religião foi retratá-lo
à imagem e semelhança de Roma. Branco, loiro e de olhos azuis, uma farsa que a
Igreja Católica cuida de manter verídica até os dias atuais. Aliás, há
historiadores que defendem a tese de que a romanização do cristianismo visava
conter a revolta de judeus e palestinos contra os cidadãos romanos, utilizando
a figura conciliadora e legalista do Cristo que um dia ensinou aos judeus que
eles deveriam dar à César o que é de César, ou seja, pagar tributos à Roma sem
reclamar. Sem contar que Jesus teria nascido em Belém, cidade Palestina próxima
a Jerusalém, região que era governada por Roma, o que poderia sugerir uma
rendição à fé daquele povo, o reconhecimento da divindade de Jesus e um pedido
de desculpas pela crucificação do maior profeta daquela terra.
Assim sendo, o caráter
divino de Jesus no cristianismo romano deu lugar a um título que era concedido
a alguém tido como superior dos superiores politicamente. Um Imperador. E ele
passou a ser chamado de “rei dos reis”, o mesmo título que já havia sido ostentado
por Nabucodonosor II, Imperador da Babilônia, e também por outros Imperadores
na Assíria e na Etiópia séculos antes de Cristo. Vale lembrar que na Roma
antiga o Imperador também era cultuado como uma divindade, o que não mudou com
a entronização de Jesus Cristo ao panteão romano. Uma prova da conveniente e
restrita aceitação do cristianismo como religião oficial do Estado. Os
“Césares”, os Imperadores, e os “Augustos”, os “veneráveis” e “majestosos”, se
mantinham no mesmo patamar que Jesus Cristo, ainda que de forma subliminar.
Eles detinham o verdadeiro poder sobre o latifúndio, mas passaram a utilizar o
Deus cristão como laranja para justificar suas ações de governo.
Quando o MTST posta
uma foto de Jesus sendo crucificado e ironiza com a frase “bandido bom é
bandido morto”, numa clara alusão a extrema-direita que professa o mesmo
cristianismo político de Constantino, os bolsonaristas se arvoram em produzir o
cancelamento da candidatura de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo e a
ratificar a narrativa de demonização da esquerda como inimiga da fé cristã. Em
que pese a postagem ter sido pouco inteligente, dada as atuais circunstâncias
político-religiosas que atravessam a democracia brasileira, a reação dos
opositores evidencia o mau-caratismo e a desonestidade intelectual que os
caracterizam. Jesus foi julgado como um bandido pelo mesmo Império Romano que
três séculos depois o adotava como sua principal divindade. Recebeu a pena
máxima que era imposta aos condenados - a morte na cruz – exatamente por ter
denunciado a hipocrisia dos “bolsonaristas” de seu tempo.
Jesus era um
sem-terra, um homem do povo cuja ideologia social e política incomodava aos
poderosos. Propunha a partilha do pão, mandava os ricos doarem tudo o que
tinham para os mais pobres, esteve ao lado das minorias e o seu conceito de
“salvador da humanidade” é uma metáfora que define a sua elevada proposta de
mudança das relações sociais no mundo. Uma proposta de um mundo justo,
fraterno, pacífico e igualitário, algo que jamais seria atingido através da
dominação de um povo sobre o outro. A proposta de um Deus que ama a todos sem
distinção e lhes deseja uma vida plena e abundante, diferente de uma realidade
religiosa onde o deus é criado à imagem e semelhança daqueles que detêm o poder
e apresentado como o salvador daqueles que são oprimidos por esse poder. Jesus
ameaçou a autoridade religiosa do seu tempo e desafiou a fé das pessoas que
acreditavam que seus algozes poderiam conduzi-las a uma vida eterna na presença
de Deus. Se voltasse nos dias de hoje, seria morto por Malafaia, Macedo e
companhia, por desautorizá-los diante das ovelhas que cegamente são conduzidas
por esses falsos pastores.
O cristianismo
latifundiário tem um líder sem-terra, mas odeia os movimentos sociais que
defendem os mesmos princípios que Jesus defendeu e faz de tudo para
crucificá-los e apresentá-los à sociedade como inimigos da fé cristã. Talvez
seja mesmo, quando falamos de um cristianismo asqueroso e nauseante, que tenta
violentar liberdades individuais e avanços coletivos, a pretexto da defesa da
palavra e da moral do seu deus. O deus de Constantino, Teodósio, Hitler,
Malafaia, Flordelis, Bolsonaro e de todos os ditos cristãos que se dizem
seguidores de um “rei dos reis” que nunca teve majestade, mas que conseguiu
reinar sobre todos os outros com humildade, simplicidade, respeito e amor ao
próximo. Um filho de Deus, assim como todos aqueles que promovem a paz, a equidade
e a justiça social. Boa Páscoa!
60 anos do golpe de 64, 60 sem reforma
agrária, 60 anos sem estabilidade econômica e social. Tragédia ainda viva. Por
César Fonseca
Depois de 60 anos do
golpe militar de 1964, os capitalistas tupiniquins, aliados aos sócios
internacionais, orientados pelos Estados Unidos, fracassaram em implantar o
capitalismo no Brasil à moda ocidental desenvolvida; de fato, o fenômeno se
estende à América Latina, no cenário da guerra fria entre EUA e União
Soviética. Os americanos, ancorados, ideologicamente, na Doutrina Monroes, para
quem a América é dos americanos, financiaram a militarização política
latino-americana, para defender o sistema capitalista da ameaça comunista,
sustentada na ideologia marxista-leninista, exposta na experiência
revolucionária cubana.
O fracasso,
essencialmente, decorreu da impossibilidade de implantação na América Latina,
especialmente, no Brasil, no modo de produção capitalista, porque as lideranças
políticas tupiniquins jamais fizeram o dever de casa de implantar o capitalismo
conforme lição de casa desenvolvida nos países capitalistas desenvolvidos.
Desenvolveu-se, na
periferia capitalista, apenas, arremedo de capitalismo, totalmente, dependente
do capitalismo cêntrico, dada insuficiência de estrutura periférica para
distribuição da renda nacional, excessivamente concentrada nas mãos do capital
externo.
REFORMA AGRÁRIA E
INDUSTRIALIZAÇÃO
A divisão da
propriedade rural, conforme o manual do capital, é o primeiro passo para
formação do mercado de consumo de massas; sem ele, o mercado interno não
cresce, suficientemente, para consumir a oferta de mercadorias em quantidade
superior à demanda por falta de poder de compra social.
E, principalmente, sem
democratização do acesso à terra por meio da reforma agrária, atributo
essencialmente capitalista para ampliar a renda nacional, não é possível a
industrialização.
Os trabalhistas, no
Brasil, com Jango Goulart, em 1964 ousaram defender e implementar a reforma
agrária, para seguir o manual clássico do capitalismo, mas foram barrados nessa
empreitada pela união dos latifundiários com os militares, apoiados pelos Estados
Unidos.
A lição da história é
expressiva: a Inglaterra iniciou sua revolução industrial pela reforma agrária.
A população agrária,
ligada, primeiro, pelo meio ferroviário, depois, rodoviário e hidroviário,
multiplicou a mobilidade social devido às trocas de mercadorias.
CAPITALISMO
BRASILEIRO: OBRA INCONCLUSA
No Brasil, a classe
empresarial, herdeira do latifúndio nordestino fincado em capitanias
hereditárias que depois seriam loteadas politicamente pelo poder central, não
fez o dever histórico do capitalismo anglo-saxão.
Sustentou-se,
basicamente, na acumulação de capital rural da propriedade extensiva e
concentrada, voltada para exportação de matérias primas baratas para comprar
importações industrializadas caras do capitalismo cêntrico, sofrendo,
consequentemente, deterioração permanente nos termos de trocas e crises
cambiais intermitentes.
Nesse cenário do
latifúndio extensivo, sobreacumulador de capital, só se dá bem uma parcela
minoritária da população, que absorve toda a renda mediante superestrutura
jurídica e política neocolonial e escravocrata.
GOLPE ANTI-REFORMA
AGRÁRIA
Expulsou os homens do
campo para as cidades.
Entupiu as cidades de
habitantes que virariam operários assalariados, consumidores do produto
industrial, para gerar lucro ao capital.
Com o produto
industrial de valor agregado, os ingleses venderam caro para comprar matéria
prima barata, na periferia capitalista, e elevar a lucratividade imperialista
da libra esterlina nas trocas internacionais.
Seguiram as lições de
Adam Smith.
Nos Estados Unidos,
idem, sem a reforma agrária, mediante grandes desapropriações de terras ao
longo das ferrovias, financiadas pelo capital inglês, que cortam o território
continental, não formariam cidades ao longo do percurso.
O golpe de 1964 buscou
um só objetivo: inviabilizar a reforma agrária do ex-presidente Jango Goulart,
no contexto das suas reformas de base: reforma financeira, administrativa, para
controlar a dependência de capitais, destituídos de controles etc.
A classe latifundiária
ociosa exportadora, maioria no Congresso, aliou-se com o governo americano e
exterminou a experiência janguista, no nascedouro, por meio dos militares,
sempre a serviço do capital agrário exportador.
O projeto de JK, para
disputar a eleição de 1965, que os militares golpistas cancelaram, tinha por
meta a reforma agrária capitalista no molde anglo-americano.
A classe militar
barrou.
Por meio dela, JK, que
prometeu 50 em 5, visou, em primeiro lugar, o transporte rodoviário.
As indústrias de
automóveis e caminhões, que, no capitalismo cêntrico, enfrentavam excesso de
ociosidade industrial, queda da taxa de lucro, bancarrotas, como rescaldo da
violenta crise de 1929, vieram correndo para se instalarem no Brasil, país
continental rasgado de norte a sul por JK.
Adiantou-se o projeto
de Juscelino na vertente do transporte rodoviário, mas faltava o consumidor que
somente seria criado pela reforma agrária, com democratização e acesso à
propriedade rural.
FRACASSO POLÍTICO
MILITAR
Os militares, no
poder, tiveram força para reprimir politicamente os adversários, mas não
conseguiram, politicamente, fazer reforma agrária, para estabilizar econômica,
política e financeiramente, o país, conforme modo de produção capitalista
burguês, como nos países capitalistas desenvolvidos, de modo a conquistar
efetiva soberania nacional.
Permaneceu o
capitalismo de pé quebrado.
No poder, os militares
foram conduzidos pelo capital agrário, não conseguiram comandá-lo nem dobrá-lo
para sair da sua condição histórico-econômica reacionária colonizada pelas
potências externas.
Viraram instrumentos
das potências e de suas políticas neoliberais, enquanto, internamente, perdia
apoio da sociedade civil, contrária à ditadura e sequestro brutal da
democracia, no facilitário da repressão política.
Não conseguiram,
portanto, depois de darem o golpe de 64, fazer o dever de casa que os
trabalhistas, desde Getúlio Vargas, vinham fazendo, após revolução de 1930,
para modernizar as estruturas produtivas nacionais, dominadas pelo modelo
neocolonial do século 19, do tempo do Império, herdado pela República Velha.
A reforma agrária, que
era fundamental como passo decisivo para completar reformas progressistas
adiantadas por Vargas, alvo preferencial de Jango Goulart, naufragou.
Geisel criou,
ex-getulista, militante varguista na Revolução de 1930, chegou a criar a
Embrapa, para modernizar a agricultura brasileira, mas não teve força para
democratizar a produção pela divisão territorial da propriedade no Brasil
excessivamente concentrada.
Perdeu a luta para a
parceira latifúndio-imperialismo americano, contrário à industrialização
brasileira, desde sempre, com amplo apoio da mídia conservadora pró-Washington.
NEOLIBERALISMO BARRA
REFORMA AGRÁRIA
Depois da ditadura
(1964-1984), o neoliberalismo financeiro de Tio Sam, que nos anos 1970,
descolou do padrão ouro e deixou o dólar flutuar, tudo ficou mais difícil, a
partir da Nova República neoliberal pró-Washington, radicalmente anti-Getúlio.
Emergiria, com a Nova
República(1985-2023), sob Consenso de Washington, a montagem do capitalismo
financeiro especulativo, cuja palavra de ordem é o liberou geral da circulação
de capitais e remoção dos entraves nacionalistas internos à essa livre circulação
capitalista, tudo sob comando da regra neoliberal, pautada no tripé
econômico(metas inflacionárias, câmbio flutuante, superávit primário); ou seja
estratégia econômica com reforço ideológico antinacionalista para dificultar
cada vez mais a industrialização e soberania nacional.
Dessa forma, o
capitalismo brasileiro, que não cuidou da reforma agrária, da reforma
financeira, da reforma educacional – para formar mão de obra de qualidade para
valorizar o produto industrial nacional – não prosperou, sustentavelmente, por
falta de distribuição equitativa da renda nacional.
A super concentração
da renda que produz a super desigualdade social acelerada pelo modelo
neoliberal, de financeirização econômica especulativa, que só favorece a Faria
Lima, não deixa a industrialização lulista deslanchar.
Desse modo, então,
fica comprometida a construção da estabilidade social soberana.
Por isso, o golpe de
1964 segue sempre sendo uma ameaça permanente, diária, ininterrupta, porque as
contradições do país capitalista que fracassou na implementação da reforma
agrária sempre explodirão quando as circunstâncias geradas pela luta de classe explodem
em perigo de guerra civil.
1964, portanto, está
vivo porque suas causas não foram ainda removidas.
Na Páscoa, Jesus alterou a lógica e deu
voz às mulheres. Por Florestan Fernandes Jr
Neste domingo (31/03),
os cristãos celebraram o dia em que três mulheres foram ao túmulo onde Jesus
havia sido enterrado, para ali cumprir a tradição das cerimônias fúnebres (que
não haviam feito pq Jesus foi morto na sexta-feira). Elas iam conversando entre
si e se perguntando como fariam pra tirar a pedra (os túmulos eram vedados com
uma pedra imensa).
O túmulo era vigiado
dia e noite por soldados romanos, pois havia a profecia da ressurreição e as
autoridades daquele tempo temiam que algum dos seguidores de Jesus roubasse o
túmulo pra simular a ressurreição.
O fato é que elas
chegaram lá e viram a pedra removida e o túmulo vazio.
Dois homens com roupas
reluzentes questionaram as mulheres, perguntando o motivo delas estarem
procurando entre os mortos, aquele que estava vivo. "Jesus não está mais
aqui, ele ressuscitou", disseram. Os homens lembraram às mulheres o que
Jesus disse quando estava entre os mortais, que seria necessário que ele fosse
entregue nas mãos dos pecadores e morresse crucificado, para então ressuscitar
no terceiro dia.
Jesus escolheu dar a
notícia de sua ressurreição para mulheres. Na cultura da época, o testemunho de
uma mulher não tinha valor. E Jesus escolheu mulheres. Ele alterou a lógica
daquele tempo. Deu voz aos excluídos (as mulheres). Sabem qual foi a reação dos
discípulos, segundo a Bíblia?
Os homens não
acreditaram nelas, as palavras daquelas mulheres lhes pareciam um delírio.
Contudo, Pedro
levantou-se e saiu correndo até o sepulcro. Ao chegar, abaixando-se, viu as
faixas de linho e mais nada; então afastou-se e voltou perplexo com o que
acontecera.
Foi também pra as
mulheres que Cristo apareceu primeiro, após a ressurreição. Elas, que não
arredaram o pé de perto dele durante o martírio e o sepultamento, quando os
homens se esconderam apavorados (menos João, que estava perto quando Jesus foi
crucificado, e morto).
Foram as mulheres as
portadoras da notícia que dividiu a história do ocidente. Sem ressurreição não
haveria cristianismo. Não haveria antes e depois de Cristo.
É nesse Deus que se
fez homem e morreu na cruz, por amor à humanidade que o cristianismo deve se
firmar. Os homens que se dizem líderes religiosos, em sua maioria pervertem a
essência do cristianismo, que é amor e cuidado de pessoas.
Fonte: Brasil 247
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