sexta-feira, 26 de abril de 2024

Entenda porque o Subúrbio de Salvador é tão cobiçado pelas facções CV e BDM

Nas últimas duas semanas a região do Subúrbio de Salvador vem sendo palco de uma guerra protagonizada pelas facções criminosas Comando Vermelho (CV), que tenta expandir território, e o Bonde do Maluco (BDM), até então, detentor do controle de venda de entorpecentes em vários trechos da localidade.

A situação se intensificou no último dia 10 deste mês, quando vários integrantes do CV invadiram a região do bairro de Mirantes de Periperi para tomar o controle das localidades. A ação, inclusive, resultou na morte de um morador que estava de folga e foi atingido dentro de sua residência por uma 'bala perdida'. Desde então, não só em Mirantes, mas em várias localidades, o confronto se tornou rotina.

"Dia 10 teve a primeira investida do Comando Vermelho numa região que era controlada pelo BDM. Uma entrada muito violenta e com muitos homens. Isso é o que chamou muita atenção e acabou causando todo o transtorno e pânico na população. Muitos disparos de armas de fogo, de calibres diversos, principalmente armas de uso restrito das forças armadas. Eles picharam paredes, invadindo casas, expulsando moradores e tudo mais", destacou o Major João Daniel, comandante da 18ª Companhia Independente da Polícia Militar, em conversa com o Portal A TARDE.

Mas porque o território do Subúrbio é tão cobiçado pelas facções criminosas? Para o oficial, a busca pelo controle da localidade é explicada pelas características "territorialistas" destas organizações criminosas e pela posição estratégica do Subúrbio, que fica próximo à Estrada do Derba, BA 528 e BR 324, além da vasta área de vegetação, que dificulta a ação das forças policiais.

"Eles são territorialistas. Se você ver a identificação no mapa vai ver que existe uma área de vegetação densa. Então, quem detém o todo daquela localidade acaba detendo também toda a localidade de zona de matagal. Só que essa zona de mata faz ligação com o Derba, e o Derba faz ligação direta, praticamente, com a BR-324. Então, acaba sendo um ponto de chegada e de escoamento, tanto de drogas, quanto de armas, rotas de fuga, e tudo mais. Então a questão do territorialismo é exatamente isso daí: questões geográficas que, para eles, terminam sendo um facilitador para as ações criminosas diversas que eles possam pensar. Então, eles querem ter o total domínio do território, de forma que a vida criminosa deles", salientou.

A 18ª é responsável pela cobertura dos bairros de Periperi, Rio Sena, Coutos, Praia Grande, Vista Alegre, Alto da Teresinha e Nova Constituinte. No entanto, a região é muito mais complexa. Só a Avenida Afrânio Peixoto, popular Suburbana, com ligação com a estrada do Derba, atravessa o território coberto por mais três CIPMs; 14ª CPIM (Lobato), 19ª CIPM (Paripe) e 31ª CIPM (Valéria).

Lá, a disputa pelo domínio é algo histório. No ano passado, em um dos territórios mais cobiçados pelas facções, valéria, um policial federal morreu e outros dois agentes da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado - FICCO/ BA, ficaram feridos. Na ocasião, os agentes estavam seguindo para uma ação no bairro, quando foram surpreendidos por um dos grupos que se preparava para invadir o território inimigo.

Parte da região, inclusive, e dominada por uma terceira facção criminosa, a Katiara. "A localidade é estratégica. Ali é a saída e a entrada da cidade, um ponto interestadual. Um local de grande interesse, tanto que há uma disputa entre duas ou três facções criminosas que tentam controlar a região", disse o delegado da Polícia Federal, Ricardo Andrade.

Apesar de considerar a área de atuação, o delegado da Delegacia de Repressão a entorpecentes e o Grupo de Investigações Sensíveis da Polícia federal, Diego Gordilho, salientou, em uma matéria publicada em agosto do ano passado, que os domínios dos grupos criminosos costumam ser sazonais."Isso não é uma coisa fixa. Esses territórios são sempre alvos de disputas".

•        Após onda de terror, Subúrbio volta à “total normalidade”, diz major

Após duas semanas de terror, com uma escalada abrupta na violência em bairros do Subúrbio de Salvador, o major PM João Daniel, comandante da 18ª Companhia Independente da Polícia Militar (18ª CIPM/Periperi) afirmou em entrevista ao Portal A TARDE, que a região está retomando sua rotina usual.

“Já está voltando a total normalidade dentro do bairro, da Baixada do Mirante, Colinas de Periperi, Mirantes de Periperi, toda aquela área que foi afetada por essa horda de insurgentes criminosos que estavam no local”, afirmou o major, que destacou que atuação da PM na região permanece.

“O policiamento continua, o policiamento ordinário. Nós seguimos acompanhando, através de operações de inteligência, a movimentação desses grupos criminosos, e continuaremos atuando na área devidamente e, se necessário, com alguns apoios. Se necessário, vamos fazer algumas operações”, acrescentou.

A “guerra” começou na tarde do dia 10 de abril, quando uma facção criminosa invadiu o bairro de Periperi, cujo tráfico era controlado por um grupo rival. A partir daí, o terror foi instaurado na região. Ainda no dia 10, um garçom que estava de folga foi vítima de bala perdida e morreu na localidade de Mirantes de Periperi.

“Foi uma entrada muito violenta, que foi o que chamou muita atenção e acabou causando todo o transtorno e pânico na população. Foi uma entrada muito violenta, com muitos homens, muitos disparos de armas de fogo de diversos calibres, principalmente armas de uso restrito das Forças Armadas, e implementando o terror, pichando casas, invadindo casas, expulsando as pessoas das casas e tudo mais”, relatou o major João Daniel.

Dois dias depois, uma escola e postos de saúde foram fechados no bairro, por causa da violência. No mesmo dia, o secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, determinou reforço por tempo indeterminado no combate às facções na região do Subúrbio Ferroviário, com uso de veículos e aeronaves pelas Polícias Militar e Civil no patrulhamento e em ações de inteligência.

Durante os dias de terror, que atingiu principalmente o bairro de Periperi, casos de violência extrema ocorreram na região. Um deles foi o corpo encontrado decapitado em Mirantes de Periperi. No dia anterior, uma cabeça humana havia sido encontrada dentro de uma lata de tinta.

No bairro de Alto de Coutos, um criminoso invadiu uma casa e fez de refém a família que morava no imóvel. A PM foi até o local negociar, o criminoso tentou fugir, entrou em confronto com os policiais e acabou morto.

Ainda durante as operações policiais no Subúrbio, dois policiais foram baleados - um caso ocorreu no Lobato, enquanto o outro foi em Mirantes de Periperi. As ações policiais ainda apreenderam um arsenal de armas de uma facção, em Periperi.

De acordo com o comandante da 18ª CIPM, desde o início, a PM iniciou o combate às facções que disputavam a área na região.

“Havia uma guerra entre as duas facções, e o número de marginais acabou se alastrando mais, e aí a gente já começou a fazer algumas operações já contando com o apoio de outras unidades, principalmente unidades especializadas. Durante a semana, a gente veio fazendo algumas operações - operações terrestres, operações aéreas -, utilizando tudo o que a polícia tem de melhor, para poder debelar essa situação. Então foi utilizado o Batalhão Patamo, Batalhão de Choque, Rondesp, Cipe Polo, Grupamento Aéreo, que foi fantástico, foi importantíssimo na situação”, destacou o major João Daniel.

Para o PM, a estratégia de reforçar o policiamento com as unidades especializadas foi de extrema importância para restauração da normalidade no Subúrbio de Salvador. “A gente acabou tendo êxito na apreensão de armas, principalmente fuzis; muitos carregadores, muita munição, drogas, e a prisão de pelo menos cinco pessoas, sendo que houve dois resistentes e algumas pistolas, três ou quatro pistolas; munição farta, muitos carregadores, principalmente carregadores de fuzis, carregadores de pistolas que davam para colocar mais de 50 munições em um só carregador”, relatou.

Em uma coletiva de imprensa realizada na terça-feira, 23, a Secretaria de Segurança Pública apresentou os números das operações policiais no primeiro trimestre. Segundo a SSP-BA, 35 líderes de facções foram localizados em Salvador. No encontro, também foram apresentados números de operações em bairros do Subúrbio.

Em Periperi: cinco presos, um adolescente apreendido, quatro suspeitos que resistiram às abordagens policiais e morreram em confronto, além da apreensão de fuzil, espingarda, duas pistolas, granada, 79 carregadores, 218 munições e dois coletes balísticos. [Veja vídeo abaixo]

No Lobato: Foragido da Justiça integrante do Baralho do Crime localizado, uma prisão em flagrante, além da apreensão de pistola, munição e carregador.

•        PM retira pichações de facções criminosas na região do Subúrbio

Pichações de facções criminosas, responsáveis pela onda de violência nos últimos dias na região do Subúrbio de Salvador, estampadas nas paredes de casas e comércios começaram a ser cobertas. A ação teve apoio de policiais militares do Comando de Policiamento Regional da Capital - CPRC/BTS, 18ª Companhia Independente de Polícia Militar- Periperi e Base Comunitária de Segurança do Rio Sena deram apoio.

A ação foi realizada na Baixada de Mirantes de Periperi, Rua Daniel Além e Transversais, Rua Lindaura Borges, e Travessa 8 de maio.

Além da retirada dos símbolos das organizações, a região também teve o policiamento reforçado. Segundo a PM, o objetivo desta ação consiste em realizar a contenção do avanço da incidência criminal visto os fatos ocorridos na última semana passada, onde ocorrera uma guerra entre duas facções a fim de estabelecer domínio territorial.

 

Fonte: A Tarde

 

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