segunda-feira, 4 de março de 2024

O que tornou Irlanda economia com maior produtividade entre países desenvolvidos

Não muito longe do trânsito do The Liberties, um bairro histórico da classe trabalhadora em Dublin, fica a grande fábrica de uma das marcas mais famosas da Irlanda: a Guinness.

A famosa cerveja é produzida nessa fábrica desde que seu criador, Arthur Guinness, adquiriu o prédio em ruínas em 1759. Mas, agora, a tradicional cerveja escura é produzida em um enorme complexo de prédios, ligados por tubos metálicos, ao ritmo do som de barris transportados em empilhadeiras.

A fábrica, de propriedade da multinacional de bebidas Diageo, pode parecer muito distante do início da Guinness, mas Aidan Crowe, diretor de operações de cerveja, diz que o processo básico da cervejaria não mudou muito. "Nosso processo principal é, na verdade, muito semelhante aos processos que Arthur Guinness teria usado."

A Brew House, em St Jame's Gate, no cais de Dublin, foi inaugurada em 2013 e era a mais eficiente do mundo na época, diz Crowe. Atualmente, a cervejaria produz 3,5 milhões de pints por dia – o equivalente a 1,3 bilhão de pints anualmente (um pint equivale a 0,56 litros). Pint é o tamanho de um copo de cerveja mais comum na Irlanda.

"A tecnologia nos permitiu ser muito mais eficientes, mudando a forma como lidamos com coisas como água fria, utilização de vapor, utilização de eletricidade, e outras coisas", diz ele.

Crowe diz que novas atualizações ainda serão feitas.

"Você define metas para si mesmo, talvez metas de cinco ou dez anos. Mas quando você atinge esses marcos, de repente descobre que o horizonte mudou", acrescenta.

·        O impulso das multinacionais

Com recursos enormes, empresas gigantes como a Diageo conseguem ampliar suas ambições. Mas não é apenas a Diageo. A economia da Irlanda está se beneficiando de ser o país-sede de muitas empresas multinacionais.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Irlanda é o país mais produtivo do mundo.

Em termos econômicos, produtividade é quanto valor um trabalhador acrescenta aos bens e serviços que produz. E alguns trabalhadores estão em melhor posição para acrescentar valor do que outros.

Por exemplo, apesar de estar ocupado o dia todo, a produtividade de uma pessoa atrás do balcão de um café está limitada ao que as pessoas estão dispostas a pagar pela comida e bebida que vendem. Mas em uma empresa multinacional de tecnologia ou em uma empresa farmacêutica, os funcionários trabalham em produtos e serviços de maior valor agregado — o que os torna mais produtivos em termos de números oficiais.

Emma Howard, economista da Universidade de Tecnologia de Dublin, afirma que a Irlanda é um exemplo global "único", com a elevada concentração de empresas multinacionais ajudando a aumentar os números da produtividade.

"Se olharmos para a nossa produtividade total do trabalho, ela é duas vezes e meia superior à média da União Europeia", diz ela. "Mas se dividirmos isso em produtividade do trabalho interno e produtividade do setor externo, há enormes diferenças."

O Escritório Central de Estatísticas da Irlanda mede a produtividade através do valor agregado bruto (VAB) por trabalhador por hora. O VAB é o produto total de bens e serviços, menos as despesas de produção.

Quando olhamos para esse número, vemos que as empresas estrangeiras fazem a produtividade da Irlanda crescer.

No segundo trimestre do ano passado, o VAB das empresas estrangeiras na Irlanda era de 414 euros por trabalhador, por hora. Para as empresas locais, esse valor foi de apenas 55 euros.

Os dados mostram também que, em 2022, as empresas estrangeiras representavam 56% do valor agregado bruto da economia irlandesa.

A atratividade da Irlanda para multinacionais acontece por uma série de razões — incluindo baixa incidência de impostos, diz Howard.

"Se olharmos para o tipo de empresas que está aqui – Google, Microsoft, Pfizer ou Meta – elas estão produzindo uma série de bens de valor muito elevado", diz ela.

"Alguns desses ativos podem ser propriedade intelectual, não são ativos físicos. Alguns podem estar sendo canalizados pela Irlanda para se aproveitar dos impostos baixos."

·        Números artificiais?

Para alguns economistas, as empresas multinacionais distorcem os números econômicos da Irlanda.

"Parece que elas geram muita atividade econômica, mas o que se ganha com isso [na Irlanda] não é muito. Em certo sentido, é completamente artificial", afirma Stefan Gerlach, economista-chefe do banco suíço EFG International e antigo vice-presidente do Banco Central da Irlanda.

Para ele, a enorme diferença de produtividade entre empresas estrangeiras e locais não é tão grande como os números indicam. "É um problema de medição", diz ele.

Gerlach salienta que o rendimento nacional bruto (RNB) pode ser uma forma mais precisa de discutir a produtividade da Irlanda.

Esse dado explica melhor a forma como as empresas multinacionais direcionam o fluxo de receitas através dos seus negócios.

Em 2023, um documento do Comitê Consultivo Fiscal da Irlanda afirmou que a utilização do RNB como medida poderia colocar a produtividade da Irlanda mais alinhada com a de outros países europeus.

Gerlach acredita que a utilização de uma medida de produtividade enganosa poderia orientar de forma equivocada as políticas dos governos. "Existe o risco de os políticos superestimarem os benefícios e subestimarem os riscos potenciais de se ter um grande pool internacional na economia."

Howard e Gerlach concordam que a atratividade da Irlanda como país para fazer negócios não se deve só por causa dos impostos. O fato de ser um país de língua inglesa e membro da União Europeia também é um benefício. Além disso, a Irlanda tem uma força de trabalho bem qualificada.

"Em todas as faixas etárias, temos uma proporção maior de trabalhadores com ensino superior do que a média da UE. Também temos uma proporção muito maior de pessoas formadas em STEM [ciências, tecnologia, engenharia e matemática] do que os demais países da UE", afirma Howard.

"Temos trabalhadores altamente qualificados — uma força de trabalho altamente qualificada — e isso tem impacto na nossa produtividade no trabalho", acrescenta.

Independentemente do que os dados mostrem, a produtividade muitas vezes melhora com a interação diária entre trabalhadores e diretores.

Esse tem sido particularmente o caso desde a pandemia, quando muito mais funcionários começaram a trabalhar em casa. Hoje em dia, é menos provável que os funcionários estejam no escritório e até mesmo no mesmo país.

Isso representa um desafio diário para Robin Blandford.

Sua empresa, a D4H, apoia equipes de resposta a emergências em todo o mundo. Ela fica sediada em um farol do século 19 no Cabo Howth, com vista para a Baía de Dublin.

O objetivo de Blandford é motivar o seu pessoal em sete países. "Para mim, produtividade é quando todos estamos caminhando na mesma direção", diz Blandford.

"Então é importante haver uma boa comunicação, todo mundo entendendo e se comunicando o máximo possível com as pessoas, entendendo o rumo que estamos tomando, como tomar uma decisão."

"À medida que nos espalhamos, o que pedimos às pessoas é que se tornem parte das suas comunidades. Não deixe o local de trabalho escolher seus amigos", conclui Blandford.

 

Ø  O maior país muçulmano do mundo que busca se tornar uma das 5 maiores economias

 

A maioria dos casais de meia-idade estão se preparando para se aposentar caso possam arcar com isso, mas Musmulyadi, 55 anos, e sua esposa Nurmis, 50, estão indo no caminho contrário à tendência.

Eles acabaram de migrar milhares de quilômetros para Nusantara, a futura capital da Indonésia que está emergindo da floresta tropical em meio aos orangotangos.

“Deve ser mais fácil encontrar emprego aqui enquanto eles ainda estão construindo a infraestrutura”, disse Musmulyadi à BBC Indonésia.

A futura casa deles hoje é um canteiro de obras em Nusantara, palavra javanesa para "arquipélago", na ilha de Bornéu.

Nurmis mistura o cimento enquanto Musmulyadi coloca os ladrilhos.

O sonho deles é comum entre os indonésios: Musmulyadi espera conseguir um emprego estável e tornar-se subcontratado no megaprojeto.

Desde que o presidente Joko Widodo, popularmente conhecido como Jokowi, anunciou a construção de Nusantara há dois anos, os negócios floresceram.

O governo prevê que 2 milhões de pessoas viverão aqui até 2029.

Mas a dezenas de quilômetros de distância, Syamsiah e seu marido Pandi estão preocupados com a possibilidade de serem despejados.

Eles pertencem a uma comunidade indígena de 20 mil pessoas e não têm propriedade legal de suas terras, onde sua família vive há gerações.

Pandi acordou uma manhã e viu o seu terreno demarcado, sem qualquer aviso prévio.

O governo quer tirar moradores dali com o argumento da proteção contra inundações. Entretanto, em fevereiro, Pandi conseguiu impedir a sua remoção na Justiça.

“Faço isso pelo futuro dos meus filhos e netos”, disse ele à BBC.

“Se eu não fizesse nada, os meus filhos e netos seriam apenas um lixo para o governo. É assim que lutamos contra a injustiça”.

Mas ele pode ter sido beneficiado apenas por um adiamento temporário, uma vez que outras comunidades indígenas já foram deslocadas após o governo pagar indenizações, embora a preços considerados muito baixos pelas famílias afetadas.

As histórias de Mulyadi e Pandi mostram como os projetos do presidente Widodo são muitas vezes uma faca de dois gumes: contestados, mas também uma potencial fonte de oportunidades.

•        Top 5 economias?

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), quando Widodo assumiu a presidência pela primeira vez em 2014, a Indonésia era a décima maior economia do mundo, com base na paridade do poder de compra (PPC).

Uma década depois, a Indonésia subiu para o sétimo lugar — atrás da China, dos Estados Unidos, da Índia, do Japão, da Alemanha e da Rússia.

Até 2027, prevê-se que o país com a maior população muçulmana do mundo ultrapasse economicamente a Rússia.

A nação do Sudeste Asiático realizou eleições presidenciais em 14 de fevereiro, onde números não oficiais mostram que o ministro da Defesa, Prabowo Subianto, está no caminho para vencer num único turno.

Ele prometeu continuar as políticas econômicas de Widodo. O filho do atual presidente, Gibran Rakabuming Raka, é o companheiro de chapa de Prabowo Subianto.

“Os programas de Jokowi são bons no papel e poderão aproximar a Indonésia das previsões do FMI”, afirma Josua Pardede, economista-chefe de um dos dez maiores bancos da Indonésia, o Permata Bank.

Mas o país tem uma ambição maior — ser um dos cinco países com mais alta renda até 2045, ano do centenário da sua independência.

Para conseguir isto, a economia indonésia deve crescer 6 a 7% ao ano, afirmou o ministro das Finanças do país, Sri Mulyani.

O crescimento atualmente está em 5%.

•        'Febre do níquel'

A Indonésia é famosa pela ilha turística de Bali, mas também abriga as maiores reservas de níquel do mundo — um componente essencial para a fabricação de baterias para veículos elétricos.

Quando o presidente Widodo anunciou pela primeira vez a proibição da exportação de níquel bruto em 2019, a União Europeia processou a Indonésia na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O presidente disse que queria desenvolver o processamento na Indonésia.

Um artigo de um centro de pesquisas independente, o Institute for Development of Economic Finance, afirma que a política nacional relativa ao níquel criou empregos e fez crescer a economia.

Mas a Indonésia ainda depende fortemente do investimento chinês para construir as fundições de níquel, levantando dúvidas sobre o futuro — especialmente porque o crescimento econômico da China deverá cair de 5,2% para 4,6% este ano.

O presidente Widodo também foi criticado por estender o "tapete vermelho" ao investimento chinês e colocar em segundo plano o impacto de sua política de infraestrutura nas disputas de terras e en questões de saúde e ambientais.

“A febre do níquel faz o governo perder a cabeça”, diz Melky Nahar, coordenador da Mining Advocacy Network (Jatam), uma organização não governamental.

•        Passeio pelas ilhas?

A conectividade é fundamental para o desenvolvimento da Indonésia, uma vez que o país consiste em 1.700 ilhas espalhadas por três fusos horários e sua atual capital, Jacarta, está afundando no mar.

Mas as sobrancelhas levantaram-se quando o presidente Widodo assinou em 2022 uma lei determinando a mudança da capital, enquanto o mundo ainda lutava para se recuperar da pandemia de coronavírus.

Alguns países, incluindo a China, demonstraram interesse em investir na nova cidade, mas não houve nada "concreto" até o momento.

“Até agora, tem sido difícil atrair grandes investidores globais para investirem em Nusantara”, afirma Nailul Huda, do centro de pesquisas Center of Economic and Law Studies.

O presidente tentou vários métodos, incluindo a aprovação de uma lei laboral pró-investidores que grupos da sociedade civil afirmam violar os direitos dos trabalhadores.

Widodo deixará o poder em outubro e, segundo relatos, vê a construção de Nusantara como seu legado.

Mas Firman Noor, pesquisador da Agência Nacional de Investigação em Inovação (BRIN), acredita que esta já é uma história manchada.

“Em muitos aspectos, Nusantara é um reflexo de como os valores democráticos desapareceram no desenvolvimento e nas práticas políticas ao longo dos últimos 10 anos”, afirma Noor.

Entretanto, o possível novo presidente Prabowo Subianto está tentando conquistar corações e mentes prometendo políticas populistas, como leite e almoço gratuitos para mães e crianças.

Especialistas alertam que estes projetos podem onerar o orçamento, que já está sobrecarregado pelos megaprojetos do atual presidente.

“Os almoços grátis e várias outras políticas irão esgotar o orçamento do Estado, provocando a dívida nacional”, diz Huda.

“Se as políticas do próximo governo continuarem a ser tão imprudentes como esta, penso que a dívida poderá duplicar até 2029, apesar do sonho de se tornar a maior economia do mundo.”

 

Ø  Não há coesão no governo da Alemanha e mídia local promove ilusão de democracia, diz MRE russo

 

Maria Zakharova diz que não há coesão nos comentários de agências governamentais alemãs sobre planos de ataque à Ponte da Crimeia, e que mídia local costura relatos "terrivelmente multidirecionais" para manter a ilusão de democracia no país.

A falta de comentários unificados de funcionários do governo alemão sobre a gravação que expôs planos militares para atacar a Ponte da Crimeia indica a ausência de um governo unificado no país, enquanto a mídia local tenta manter a ilusão de que existe uma democracia popular.

É o que declarou, neste sábado (2), a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, em uma postagem em seu canal no Telegram, na qual comentou as recentes notícias sobre o plano alemão para atacar a Ponte da Crimeia.

Zakharova chamou atenção para o fato de que os comentários das agências governamentais alemãs sobre o áudio gravado com a conversa dos militares não provêm de representantes oficiais, mas dos meios de comunicação, com fontes identificadas ou não. Ela afirmou que os fragmentos de declarações "são terrivelmente multidirecionais".

"Surpreendente? De forma alguma. O que isso significa? A ausência de um governo coeso na Alemanha. As elites, as autoridades e o povo não têm responsabilidade uns com os outros nem diálogo. Esta é uma evidência direta da ausência de democracia", escreveu Zakharova.

Ela acrescentou ainda que o episódio mostra que que "a única razão para a existência dos meios de comunicação na Alemanha é manter a ilusão de uma democracia popular". "Toda a informação é distorcida, a sua apresentação é encenada e a responsabilidade é retirada das autoridades", observou a representante oficial do MRE russo.

"Existe uma força invisível (e desconhecida) para o eleitor alemão, não relacionada com o sistema eleitoral, dentro do aparelho estatal da República Federal da Alemanha, que agora governa a Alemanha", acrescentou.

Zakharova sublinhou que os cidadãos alemães têm agora "uma oportunidade única de se salvarem, de puxar esse fio e fazer com que as autoridades tenham uma conversa direta sobre o que está acontecendo na Alemanha e quem está liderando o país". Ela destacou que Moscou exige uma explicação de Berlim em torno da conversa exposta.

Os planos para o ataque contra a Ponte da Crimeia vêm à tona em um momento que o regime de Kiev aumenta os ataques contra alvos civis em várias regiões fronteiriças. O plano foi noticiado pela editora-chefe do grupo Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, Margarita Simonyan, que publicou, na sexta-feira (1º), na rede social VK, a transcrição completa de uma conversa de 19 de fevereiro de 2024 entre altos oficiais das Forças Armadas da Alemanha.

·        Alemanha será arrastada ao conflito na Ucrânia se mísseis Taurus forem entregues, diz partido alemão

O copresidente de um partido de direita no país europeu advertiu o governo a não repassar as armas, que poderiam ser usadas contra a Ponte da Crimeia russa.

A Alemanha será arrastada para o conflito entre Moscou e Kiev se transferir seus mísseis Taurus para a Ucrânia, previu no sábado (2) o copresidente do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão).

"Os generais das Forças Armadas [alemãs] supostamente disseram que a Ponte da Crimeia poderia ser atacada com os mísseis Taurus da Alemanha. Esse ato simbólico arrastaria a Alemanha para a guerra. Não às transferências dos Taurus", escreveu Tino Chrupalla no X sobre o vazamento da conversa entre oficiais militares alemães discutindo tópicos de segurança relativos à Rússia e à Ucrânia.

Na sexta-feira (1º) Margarita Simonyan, editora-chefe do grupo Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, publicou o texto de uma conversa entre quatro representantes das Forças Armadas da Alemanha sobre um possível ataque à Ponte da Crimeia, da Rússia, com mísseis Taurus.

A conversa, que ocorreu em 19 de fevereiro, envolveu Ingo Gerhartz, inspetor da Força Aérea da Alemanha, o brigadeiro-general Frank Grafe, chefe de operações e exercícios do Comando da Força Aérea em Berlim, e dois funcionários do centro de operações aéreas do Comando Espacial das Forças Armadas alemãs.

O Ministério da Defesa alemão disse à Sputnik que não comenta a suposta gravação de seus militares.

A agência alemã T-online informou neste sábado (2), citando o Ministério da Defesa da Alemanha, que a contrainteligência alemã estava analisando o relato de uma possível interceptação da conversa.

 

Fonte: BBC News Mundo/ BBC Indonésia em Jacarta & Nusantara/Sputnik Brasil

 

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