Na CELAC, Lula diz que Israel faz punição
coletiva contra palestinos e pede união da América Latina
Durante rápido
discurso na 8ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da Comunidade dos Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em Kingstown, capital de São Vicente e
Granadinas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que a América
Latina segue como o centro da diplomacia global até 2025 por receber
importantes fóruns internacionais.
Após quatro anos sem
fazer parte das discussões da CELAC, principal fórum latino-americano para a
construção de consensos regionais, o Brasil voltou a participar de uma cúpula
do grupo nesta sexta-feira (1º). Uma das autoridades mais esperadas, o presidente
Lula destacou durante discurso que a região continua a ser um exemplo na
construção da paz mundial e que a América Latina deve fazer uma escolha:
"No contexto da difusão do poder global e esforço constante da
multipolaridade, a questão que volta é colocar se os países querem se integrar
ao mundo unidos ou separados", disse.
Conforme o presidente
brasileiro, a região latino-americana se converterá ao centro da diplomacia
global até 2025, já que vai receber importantes fóruns internacionais, como as
cúpulas do G20, em novembro, e do BRICS, já no próximo ano. Diante disso, há "mais
chance de influenciar os debates da atualidade", defendeu o petista.
Além disso, Lula
ressaltou que as prioridades brasileiras sob a presidência do grupo que reúne
as maiores economias do mundo (combate à pobreza e à fome, desenvolvimento
sustentável e mudança climática) vão ao encontro dos desafios históricos de
toda a região. "O desenvolvimento sustentável e a transição energética são
uma urgência do nosso tempo e uma oportunidade para todos nós", destacou.
"De acordo com a
CEPAL [Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe], dos 660 milhões de
latino-americanos e caribenhos, ainda há 180 milhões de pessoas que não possuem
renda suficiente para suas necessidades básicas e 70 milhões ainda passam fome.
Esse é um paradoxo para uma região que abriga grandes e diversificados
provedores de alimentos", afirmou.
·
Israel e 'punição coletiva' ao povo
palestino
Diante da presença do
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, o
presidente brasileiro pediu um basta à "punição coletiva que Israel"
impõe à população palestina e ainda propôs uma moção da CELAC para um cessar-fogo
imediato. Cada vez mais duras, as declarações são dadas em meio ao ataque
israelense que deixou pelo menos 112 mortos durante a distribuição de ajuda
humanitária na cidade de Gaza. "A vida dos reféns do Hamas também está em
jogo", pontuou.
Lula ainda lembrou a
situação do Haiti, para o qual pediu uma ação imediata frente a uma
"população dilacerada pelo caos social". Com um dos menores índices
de desenvolvimento humano da América Latina e mais de 65% dos habitantes em
situação de fome, o país que até hoje não conseguiu se reerguer do terremoto de
2011 convive também com instabilidade política e crescimento da atuação de
facções criminosas.
No fim, o presidente
parafraseou o ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos do
Brasil, Samuel Guimarães, que morreu em janeiro deste ano, e lembrou que
"os Estados da periferia do mundo precisam enxergar uns aos outros pelos
próprios olhos, e não sob o prisma das potências centrais".
>>>> Leia abaixo
o discurso completo:
É muito bom vir a São
Vicente e Granadinas para participar da oitava Cúpula da CELAC.
Este belo e acolhedor
país caribenho recebe hoje os líderes responsáveis por tornar realidade nossos
ideais de integração.
Uma das experiências
mais gratificantes dos meus primeiros mandatos está relacionada ao renascimento
do projeto integracionista na primeira década do século XXI.
Tive a oportunidade e
a satisfação de viver um momento ímpar desse desejo coletivo de maior
aproximação entre nós.
Trabalhamos pelo
fortalecimento e ampliação do MERCOSUL e pela criação da UNASUL.
Participei das etapas
iniciais de formação da CELAC em 2008, na Bahia, quando reunimos, pela primeira
vez, os 33 chefes de Estado e de Governo da América Latina e do Caribe.
Foi preciso esperar
500 anos para que isso acontecesse.
Apesar da nossa
diversidade, soubemos avançar a passos firmes na construção de consensos
regionais.
Nossa extraordinária
variedade cultural, étnica e geográfica não foi um empecilho.
Nossos distintos
modelos políticos e econômicos tampouco impediram o esforço permanente pelo
entendimento.
Tínhamos a nos unir
anseios comuns de justiça social, combate à pobreza e a promoção do
desenvolvimento.
Construímos uma
cultura de paz e entendimento.
Nos últimos anos,
contudo, voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para
fora do que para si própria.
Entre muitos de nós, a
intolerância ganhou força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam
se sentar à mesma mesa.
Estamos deixando de
cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas,
muitas delas alheias à região, se imponham.
Defender o fim do
bloqueio a Cuba e a soberania argentina nas Malvinas interessa a todos nós.
Todas as formas de
sanções unilaterais, sem amparo no Direito Internacional, são contraproducentes
e penalizam os mais vulneráveis.
Num momento em que os
gastos militares globais ultrapassam 2 trilhões de dólares por ano, recuperar o
espírito de solidariedade, diálogo e cooperação não poderia ser mais atual e
necessário.
Num mundo em que
tantos conflitos vitimam milhares de inocentes, sobretudo mulheres e crianças,
nossa região deve ser um exemplo de construção da paz.
Senhoras e senhores,
Não podemos deixar de
refletir sobre o nosso lugar no plano internacional.
Num contexto de
difusão do poder global e de reforço constante da multipolaridade, a questão
que volta a se colocar é se os países da América Latina e do Caribe querem se
integrar ao mundo unidos ou separados.
Isso é particularmente
relevante no momento atual, em que a nossa região se converterá no centro de
gravidade da diplomacia global, ao receber as cúpulas do G20, da APEC, do BRICS
e da COP30.
Se falamos como
região, temos mais chances de influenciar os grandes debates da atualidade.
Se atuamos juntos,
criamos sinergias que fortalecem nossos projetos individuais de
desenvolvimento.
As três prioridades da
presidência brasileira do G20 dialogam muito com nossos desafios históricos.
Nossa proposta da
Aliança Global contra a Fome e a Pobreza pode se beneficiar do Plano de
Segurança Alimentar e Erradicação da Pobreza da CELAC.
De acordo com a CEPAL,
dos 660 milhões de latino-americanos e caribenhos, ainda há 180 milhões de
pessoas que não possuem renda suficiente para suas necessidades básicas e 70
milhões ainda passam fome.
Esse é um paradoxo
para uma região que abriga grandes e diversificados provedores de alimentos.
O desenvolvimento
sustentável e a transição energética são uma urgência do nosso tempo e uma
oportunidade para todos nós.
Possuímos o maior
potencial energético renovável do mundo, se levarmos em conta a capacidade de
produzir biocombustíveis, energia eólica, solar e hidrogênio verde.
Contamos com mais de
1/3 das reservas de água do planeta e uma biodiversidade riquíssima.
Em nosso solo se
encontra vasto e diversificado conjunto de minerais estratégicos de grande
importância para os projetos industriais de última geração.
Neste ano em que
celebramos os 60 anos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD), vale a pena retomar o debate sobre o caráter
estrutural do subdesenvolvimento.
Economistas como Raul
Prebisch e Celso Furtado explicitaram os riscos associados a uma inserção
internacional baseada unicamente em vantagens comparativas.
Com a integração,
podemos atuar para [que] as ferramentas de Inteligência Artificial sejam uma
aliada dos nossos projetos de reindustrialização, mitigando seus efeitos
nefastos no mercado de trabalho.
O FMI estima que 40%
dos empregos no mundo serão negativamente afetados por essas novas tecnologias.
As necessárias
reformas das organizações internacionais embutem a demanda por mecanismos
inovadores de financiamento.
Os bancos
multilaterais de desenvolvimento devem destinar mais recursos, e de forma mais
ágil e sem condicionalidades, para iniciativas que realmente façam a diferença.
Com isso, será mais
fácil enfrentar nossa deficiente conexão física e investir na construção de
estradas, ferrovias, pontes, portos e conexões aéreas que permitam uma efetiva
circulação de pessoas e de mercadorias.
Senhoras e senhores,
Agradeço ao
companheiro Ralph Gonsalves, uma vez mais, pelo excepcional trabalho realizado
durante sua presidência.
Tenho certeza de que a
companheira Xiomara Castro terá o mesmo êxito na condução da CELAC.
O Brasil acredita na
CELAC como foro de construção de consensos, que cultiva a via do entendimento e
que não se deixa tentar por soluções impositivas.
Quero concluir
parafraseando o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, grande defensor da
vertente regional da política externa brasileira e que nos deixou recentemente.
Para atingir seus
objetivos estratégicos de desenvolvimento, os Estados da periferia do mundo
capitalista precisam enxergar uns aos outros pelos próprios olhos e não pelo
prisma dos países centrais.
A CELAC nos
proporciona essa possibilidade de pensar nossa inserção no mundo a partir de
nossas agendas e interesses.
Meus amigos e minhas
amigas,
Na Ucrânia, a cada dia
em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e
a destruição de lares.
No Haiti, precisamos
agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pelo
caos social. Há anos o Brasil vem dizendo que o problema do Haiti não é só de
segurança, mas, sobretudo, de desenvolvimento.
A tragédia humanitária
em Gaza requer de todos nós a capacidade de dizer um basta para a punição
coletiva que o governo de Israel impõe ao povo palestino.
As pessoas estão
morrendo na fila para obter comida.
A indiferença da
comunidade internacional é chocante.
Quero aproveitar a
presença do secretário-geral da ONU, meu companheiro António Guterres, para
propor uma moção da CELAC pelo fim imediato desse genocídio.
O secretário-geral
pode invocar o artigo 99 da Carta da ONU para levar à atenção do Conselho tema
que ameaça a paz e a segurança internacional.
Faço um apelo ao
governo japonês, que assume a presidência do Conselho a partir de hoje, para
que paute esse tema com toda a urgência.
Peço aos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU que deixem de lado suas diferenças
e ponham fim a essa matança.
Já são mais de 30 mil
mortos. As vidas de milhares de mulheres e crianças inocentes estão em jogo.
As vidas dos reféns do
Hamas também estão em jogo.
Eu quero terminar
dizendo para vocês que a nossa dignidade e humanidade estão em jogo. Por isso é
preciso parar a carnificina em nome da sobrevivência da humanidade, que precisa
de muito humanismo.
Em carta, deputados de Brasil e mais 12
países exigem que governos parem de vender armas a Israel
Em uma carta publicada
nesta sexta-feira (1º), mais de 200 legisladores de 13 países, incluindo o
Brasil, comprometeram-se a tentar persuadir os seus governos a imporem uma
proibição à venda de armas a Israel.
No documento,
elaborado pela organização Internacional Progressista, uma rede de deputados
ativistas focados na justiça internacional é vista como a melhor medida prática
para causar indignação pública pelas 30 mil mortes de palestinos na Faixa de
Gaza.
Os deputados
argumentam que não serão cúmplices da "grave violação do direito
internacional por parte de Israel" e apelam por um cessar-fogo imediato e
incondicional, reivindicação que até agora não foi ouvida ou foi rejeitada
pelos governos nacionais, segundo o The Guardian.
Os signatários são
todos deputados em parlamentos onde os governos permitem a venda de armas a Tel
Aviv: Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Irlanda, Países
Baixos, Portugal, Espanha, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos — este com apenas
duas assinaturas, das congressistas democratas Rashida Tlaib e Cori Bush.
Os organizadores
acreditam que os governos que fornecem armas são vulneráveis a desafios legais,
dada a escala da devastação em Gaza, que, segundo eles, vai além de qualquer
definição de autodefesa ou proporcionalidade.
"Sabemos que as
armas letais e as suas peças, fabricadas ou transportadas através dos nossos
países, ajudam atualmente o ataque israelense à Palestina, que custou mais de
30 mil vidas em Gaza e na Cisjordânia. Não podemos esperar. Após a decisão provisória
do Tribunal Internacional de Justiça [TIJ] sobre o caso da convenção de
genocídio contra o Estado de Israel, um embargo de armas passou de uma
necessidade moral para se tornar um requisito legal", diz o documento
citado pela mídia.
No entanto, vale
lembrar que o TIJ não tem poderes de aplicação da lei e os EUA já bloquearam
três vezes o projeto de resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que
procuraria transformar a decisão do TIJ em uma resolução do Conselho de
Segurança da ONU.
Também nesta
sexta-feira (1º), o Brasil se pronunciou sobre um ataque atribuído às Forças de
Defesa de Israel (FDI) que deixou 112 palestinos que esperavam por ajuda
humanitária mortos. Cerca de 750 pessoas ficaram feridas.
O Ministério das
Relações Exteriores brasileiro publicou uma nota afirmando que a situação é
intolerável e que "vai muito além da necessária apuração de
responsabilidades pelos mortos e feridos".
Após mais de quatro
meses de combates e destruição de praticamente todo o território palestino, a
guerra promovida por Israel já deixou mais de 30 mil civis mortos, dos quais 12
mil crianças, além de desabrigar pelo menos 1,7 milhão de pessoas. A população
da Faixa de Gaza é de cerca de 2,3 milhões.
Fonte: Sputnik Brasil
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