segunda-feira, 25 de março de 2024

'Interferência estrangeira': o cinismo da intervenção ocidental nos assuntos domésticos dos Estados

Desde muito tempo que a regra da não intervenção nos assuntos internos dos Estados vem se tornando uma prática cada vez mais desrespeitada pelo Ocidente. A justificativa por trás dessas intervenções, na maioria das vezes, gira em torno da famigerada promoção de valores democráticos ou mesmo de uma suposta defesa dos direitos humanos.

A propósito, especialistas em política e parte da mídia nos países ocidentais veem a intervenção externa em assuntos estrangeiros como legítima quando é para o benefício de "nações que ainda são bárbaras ou atrasadas" (segundo sua classificação) ou se for para apoiar um povo "que luta contra um regime autoritário".

Essas desculpas são, em essência, tão implausíveis que somente um incauto poderia acreditar nelas.

Seu real efeito, no entanto, é o de pôr em xeque o próprio conceito de autonomia e soberania nas relações internacionais. Ademais, a história recente nos mostra que, como resultado dessas intervenções, nações são destruídas, economias arrasadas e regiões inteiras levadas a uma situação de caos permanente.

Entretanto, as chancelarias em Washington e em algumas importantes capitais europeias vangloriam-se de participar de ações militares no exterior pela chamada "causa da justiça" e pela "defesa da democracia e do mundo livre".

Ao mesmo tempo, elas excluem ou ignoram as consequências catastróficas de suas intervenções. Não notam e nem querem notar "os perigos de suas aventuras reformistas", que, ao longo dos últimos anos, minaram e jogaram por terra a autonomia dos Estados mais vulneráveis do sistema.

Decorre necessariamente dos resultados questionáveis de exemplos recentes da diplomacia intervencionista ocidental (como no âmbito da Primavera Árabe e das "revoluções coloridas" no espaço pós-soviético) a convicção mais do que clara de que toda interferência externa ocidental está fadada ao fracasso, gerando apenas instabilidade regional. Ora, não poderia ser de outra forma.

Afinal, a ingerência externa do Ocidente em assuntos domésticos de outros países é guiada por princípios inadequados e tem a ver mais com ganhos econômicos e geopolíticos do que propriamente com questões humanitárias.

Ainda assim, testemunhamos um continuado esforço por parte de Estados Unidos e Europa pela aprovação internacional de um "direito de intervir" em prol da defesa da democracia e dos direitos humanos em países ditos insubmissos. Resultado disso foi a criação em meados da segunda década dos anos 2000 do conceito de "responsabilidade de proteger", tão "brilhantemente aplicada" em países como Egito, Líbia, Síria e outros.

No mais, existem diversos argumentos adicionais em favor da inadmissibilidade da intervenção ocidental nas relações internas dos Estados. O primeiro deles baseia-se na ideia de que os Estados, tal como as pessoas, têm o direito de ser respeitados como fontes autônomas de vontade.

A reivindicação de autonomia de um Estado nesse sentido representa justamente um dos alicerces da ordem mundial instaurada após a Segunda Guerra Mundial. O argumento da autonomia sugere que a interferência nos assuntos domésticos de um Estado não é justificável nem do ponto de vista do direito internacional, nem como pré-requisito para a promoção de seu desenvolvimento, seja social seja econômico-político.

Outro argumento a favor do princípio da não intervenção resulta da constatação de que a interferência estrangeira se trata na verdade de uma violação às liberdades individuais das populações atingidas, bem como das instituições estatais vítimas de ingerência externa.

Nenhum governo detém o direito ou a prerrogativa de interferir no comportamento de outro ente político, assim como um Estado nacional não detém o direito de interferir na consciência de uma pessoa. Isso vale mesmo para quando a pessoa, se deixada sozinha, agir de maneira a se prejudicar.

A razão para isso é que o indivíduo está em uma posição melhor do que qualquer outra pessoa, e certamente do que qualquer governo, para determinar os seus próprios interesses. Assim é com os Estados.

Para além disso, o mundo já testemunhou as consequências adversas da interferência estrangeira ocidental indiscriminada em praticamente todas as regiões do planeta. Muitas das vezes, aliás, essa intervenção nos assuntos internos dos Estados se dá em um tom paternalista e professoral. O que não dizer, então, quando o Estado interveniente se mostra imbuído de impor ao Estado subjugado suas leis e modo de vida, geralmente estranhos às realidades locais?

É preciso ter em mente de uma vez por todas que as reivindicações dos membros de determinada sociedade serão geralmente mais bem atendidas por meio das soluções encontradas por essa mesma sociedade.

Uma sociedade organizada está claramente em posição melhor do que qualquer outra para avaliar os seus interesses e problemas e, assim, chegar a resolver suas contradições. Na verdade, ainda em casos excepcionais, a saber, quando determinado Estado atravessa uma grave crise de ordem civil ou econômica, a interferência estrangeira em seus assuntos domésticos apenas exacerba a situação, como foi o caso da Ucrânia em 2014.

Esse é só um dos exemplos que podem ser trazidos à tona. Há casos suficientes para preencher um livro, ou melhor, uma biblioteca inteira. A experiência já mostrou que os governos ocidentais raramente intervêm para melhorar a situação interna dos países nos quais atuam.

Mais do que isso, o Ocidente age fundamentalmente em função de seus próprios interesses escusos (não divulgados ao público), que envolvem ganhos de ordem econômica, social e/ou política no médio ou no longo prazo.

Afinal, seria muito ingênuo achar que o Ocidente gaste tantos recursos humanos, tecnológicos e financeiros no Leste Europeu, no Oriente Médio, no Norte da África, na Ásia ou na América Latina apenas porque são "altruístas". Não existe propriamente altruísmo nas relações internacionais. É uma pena, no entanto, que ainda se acredite nisso.

 

Ø  Índia convoca diplomata da Alemanha em protesto contra intromissão em assuntos internos indianos

 

Nova Deli criticou as declarações do porta-voz da chancelaria alemã, que mostrou dúvidas quanto à independência do Judiciário do país asiático.

A Índia convocou no sábado (23) o vice-chefe da Embaixada da Alemanha por intromissão nos assuntos internos do país.

O governo indiano transmitiu a Georg Enzweiler "um forte protesto da Índia", depois que Berlim criticou a prisão de Arvind Kejriwal, figura da oposição nacional e ministro-chefe do território da capital, Deli. Ele foi preso na quinta-feira (21) pela agência de combate a crimes financeiros da Índia por acusações de corrupção relacionadas à política de bebidas alcoólicas da cidade, mas nega sua culpa.

Na ocasião, Sebastian Fischer, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, disse que Kejriwal tem direito a um julgamento justo e imparcial.

"Presumimos e esperamos que, nesse caso, também se apliquem as regras relativas à independência do Judiciário e aos princípios democráticos básicos", disse Fischer em uma coletiva de imprensa.

No entanto, Nova Deli respondeu que "tais comentários interferem em nosso processo judicial e minam a independência de nosso Judiciário".

"A Índia é uma democracia vibrante e robusta, com um Estado de Direito", disse a declaração emitida pelo Ministério das Relações Exteriores da Índia.

"Como em todos os casos legais no país e em outros lugares do mundo democrático, a lei seguirá seu próprio curso no presente caso. As suposições tendenciosas feitas a esse respeito são altamente injustificadas", acrescentou a chancelaria.

 

Ø  Colunista dos EUA critica ajuda à Ucrânia: 'Não passa de uma doação com outro nome'

 

A ideia do Congresso dos EUA de atribuir fundos a Kiev nada mais é do que uma tentativa de tirar vantagem dos contribuintes norte-americanos sob o pretexto de boas intenções, escreveu o colunista Jude Russo, destacando que a economia da Ucrânia foi destruída antes mesmo do conflito começar.

O colunista norte-americano chamou a alocação de fundos para Kiev de "um esforço contínuo para reviver a guerra", no qual "os EUA se sentem realmente bem", e comentou a iniciativa de alguns membros do Congresso dos EUA de dar ajuda a Kiev na forma de empréstimo sem juros.

Na opinião de Russo, enviar mais dinheiro "gratuitamente" para a Ucrânia é uma questão muito duvidosa, dado que se Kiev chegar a um acordo com Moscou, "abandonará os EUA como uma mulher abandona um homem depois de um encontro porque não gostou dele", e esses empréstimos nunca serão reembolsados.

"A aposta [dos congressistas] é que o povo será tão irremediavelmente estúpido que os deixará escapar [...]. Há alguma dúvida de que isso não passa de mais um subsídio com outro nome?", questionou.

Em seu artigo publicado no The American Conservative, o autor criticou a ideia do senador norte-americano e "implacável falcão de guerra" Lindsey Graham, segundo a qual fornecer financiamento à Ucrânia supostamente lhe permitiria restaurar a sua economia.

O Congresso dos Estados Unidos ainda não chegou a acordo sobre um novo pedido de ajuda à Ucrânia, enquanto a administração Biden já declarou, em dezembro de 2023, que tinha esgotado as suas opções de transferências militares.

Embora a Casa Branca tenha informado no início de março que Washington havia encontrado uma maneira de enviar US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) em munições para Kiev.

O Kremlin observou repetidamente que o fornecimento de armas e ajuda financeira à Ucrânia pelo Ocidente apenas prolonga o conflito e não contribui para o início do processo de negociação para pôr fim a ele.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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