sábado, 24 de fevereiro de 2024

Reunião de Lula e Lavrov revela sinergia de Brasil e Rússia em questões internacionais, diz analista

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler russo, Sergei Lavrov, na quinta-feira (22), em Brasília, discutiu temas da agenda bilateral, debates ocorridos na reunião de chanceleres do G20 e questões globais.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o pesquisador em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Boris Zabolotsky afirma que o encontro entre as autoridades é um reflexo da cooperação entre Rússia e Brasil.

Segundo ele, "o encontro revela ainda mais a sinergia entre as posições brasileiras e russas em questões internacionais", ressaltando princípios como "a não interferência em assuntos internos, a condenação ao unilateralismo e a busca por um desenvolvimento sustentável".

Pesquisador do programa InteRussia, ele destaca que a visão de desenvolvimento sustentável inclui a busca por uma redistribuição de renda e a diminuição das desigualdades, diferindo da abordagem proposta pela agenda liberal do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ele observou que "as declarações tanto de Lavrov quanto do [chanceler brasileiro] Mauro Vieira, e também do próprio presidente Lula" durante o evento do G20, evidenciam essa congruência de posições.

Segundo Zabolotsky, essa agenda está alinhada com os objetivos do BRICS, que surgiram com a proposta de reforma do sistema de governança global. Ele salientou também que "há uma sinergia bastante importante entre a presidência brasileira no G20, o BRICS e a presidência russa do BRICS".

"As pautas entre esses dois agrupamentos são bastante parecidas […], os destaques também, as pautas que estão tendo destaque nessas duas reuniões, elas também são bastante congruentes."

O pesquisador destacou que o Brasil presidir o G20 até novembro trará a oportunidade de pautar questões fundamentais para a agenda nacional e internacional, tais como o conflito na Ucrânia.

Vale ressaltar que a Rússia apoia os esforços brasileiros na mediação do conflito — tais como a proposta de criação de um grupo para buscar a paz. No entanto, para o pesquisador, há "outros entraves que impedem que seja avançada determinada agenda em relação à paz ou à mediação".

"É que a paz que o governo [Vladimir] Zelensky, ou as potências ocidentais, exige é uma paz unilateral. Ou seja, é em posição de uma perspectiva para a Ucrânia, que para a Rússia seria de avançar uma agenda construtiva de fato, que vise à paz na Ucrânia."

Além disso, para o pesquisador, a posição do Brasil como líder no G20 permite que outras questões cruciais sejam pautadas, citando a repercussão das declarações de Lula sobre o genocídio em Gaza em comparação com o Holocausto.

Nesse quesito, Zabolotsky entende que a fala de Lula expôs certa hipocrisia ocidental e destacou a necessidade de uma abordagem mais equitativa de conflitos globais.

·        Em reunião com Lula, Lavrov reitera apoio russo ao Brasil para vaga permanente no Conselho da ONU

Temas da agenda bilateral, os debates ocorridos no G20 e as questões globais foram destaques da reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler russo Sergei Lavrov, que durou cerca de uma hora, no fim da tarde desta quinta-feira (22), no Palácio do Planalto, em Brasília.

De acordo com nota divulgada pelo governo brasileiro, o chanceler reforçou o convite para a Cúpula do BRICS, em outubro, na Rússia, e reiterou o apoio ao pleito do Brasil para ocupar um assento permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).

Lula agradeceu pela manifestação de apoio ao Brasil e confirmou que irá à Rússia para a Cúpula do BRICS.

O presidente reafirmou a importância de uma nova governança global para lidar com temas como inteligência artificial e mudanças climáticas, que não podem ser enfrentadas isoladamente, diz a nota.

Lula observou, ainda, a necessidade de aprimorar os mecanismos de financiamento aos países em desenvolvimento. No âmbito bilateral, Lula destacou os números correntes de comércio que atingiram recorde histórico em 2023 e a necessidade de diversificar a pauta comercial.

Lavrov expôs as posições da Rússia em relação ao conflito na Ucrânia. O presidente Lula reiterou a posição de que o Brasil continua disposto a colaborar com os esforços em favor da paz.

O chanceler também informou que o presidente Vladimir Putin se colocou à disposição para cooperar em questões bilaterais e assuntos internacionais com o Brasil e mandou "saudações calorosas" ao seu homólogo.

A reunião ocorreu logo depois do encontro de chanceleres do G20, no Rio de Janeiro. O Brasil apresentou formalmente aos chanceleres uma proposta de reforma da governança global da Organização das Nações Unidas (ONU) e suas instituições, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Logo após a reunião, Lula fez uma publicação em sua conta oficial na rede social X (antigo Twitter) sobre a conversa com o chanceler russo.

·        Planalto confirma viagem de Lula à Rússia para cúpula do BRICS

Atualmente, Moscou ocupa a cadeira da presidência do bloco. Viagem de Lula para cúpula foi confirmada após encontro com Sergei Lavrov.

O Palácio do Planalto confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai à Rússia e se reunirá com seu homólogo Vladimir Putin quando os dois líderes participarem da cúpula do BRICS programada para acontecer em outubro.

O comunicado com a informação foi emitido na quinta-feira (22) à noite, após o encontro de Lula com o chanceler russo, Sergei Lavrov.

No encontro, entre diversos assuntos, Lavrov reforçou o convite para Lula ir à cúpula e, ao mesmo tempo, o chefe das Relações Exteriores russo expôs a posição de Moscou em relação ao conflito na Ucrânia.

Lula reiterou que o Brasil "continua disposto a cooperar nos esforços em favor da paz", afirma a nota.

A reunião de chanceleres do G20 reuniu nos dias 21 e 22 de fevereiro, no Rio de Janeiro, os chefes da política externa das 20 maiores economias do mundo, além de países convidados e organizações internacionais. No total, 45 delegações participaram do evento.

O presidente brasileiro também se encontrou com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, nos dias do evento.

 

Ø  Moscou condena ações 'ilegais' da União Europeia, que adotou novas sanções contra a Rússia

 

A União Europeia comunicou a aprovação do 13º pacote de sanções contra a Rússia, que prevê medidas restritivas contra quase 200 pessoas tanto físicas como jurídicas.

As ações da União Europeia (UE), que adotou um novo pacote de sanções, são ilegais e prejudicam as normais legais internacionais do Conselho de Segurança da ONU, comentou nesta sexta-feira (23) o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

"A União Europeia continua as tentativas infrutíferas de pressionar a Rússia por meio de medidas restritivas unilaterais. Em 23 de fevereiro, os países da UE adotaram outro, o 13º, 'pacote' de sanções", disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em uma declaração publicada no seu portal.

"Consideramos tais ações da União Europeia ilegais, que minam as prerrogativas legais internacionais do Conselho de Segurança da ONU", continuou ele.

O novo 13º pacote de sanções antirrussas da União Europeia, que procura restringir o acesso da Rússia a componentes com aplicação militar e industrial para a operação militar especial na Ucrânia, foi aprovado hoje (23) e inclui 194 indivíduos e entidades, segundo uma declaração emitida pelo Conselho da União Europeia.

As entidades visadas foram referidas como estando presentes no Cazaquistão, na China, Índia, Sérvia, Sri Lanka, Tailândia e a Turquia. As restrições agora abrangem mais de cerca de 2.000 pessoas e organizações. O 13º pacote de sanções entrará em vigor mais tarde, após a publicação no jornal oficial da União Europeia.

•        Comissão Europeia apoia exclusão de produtos agrícolas da Rússia das sanções contra o país

O porta-voz da Comissão Europeia expressou a vontade de preservar a "segurança alimentar global" e excluir os produtos agrícolas russos das sanções.

A Comissão Europeia mantém sua posição de excluir os produtos agrícolas russos dos pacotes de sanções da União Europeia, disse na quinta-feira (22) o porta-voz da comissão.

"As importações agrícolas russas estão fora do escopo das sanções europeias porque são consideradas essenciais para manter a segurança alimentar global, e essa continua sendo nossa posição", anunciou Olof Gill em um briefing.

Os países ocidentais lançaram uma campanha abrangente de sanções contra a Rússia depois que ela começou a operação militar especial na Ucrânia em fevereiro de 2022.

A União Europeia adotou 12 pacotes de sanções e aprovou o 13º pacote no início desta semana. No entanto, as restrições excluem os produtos agrícolas e outros produtos para "não prejudicar a população russa".

As sanções têm tido um efeito mínimo na economia russa e, ao mesmo tempo, reduziram significativamente o potencial de crescimento na Europa, especialmente devido ao aumento dos preços dos combustíveis no continente, que depende em grande parte das importações.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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