Em 2024, Lula conciliará eleições, viagens pelo Brasil e agenda verde
Após um ano de reestruturação de políticas públicas
e retorno do Brasil ao mundo, nas palavras do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), a prioridade do chefe do Planalto para 2024 deverá ser viajar pelo
país, em ano de eleições
municipais, e conversar com prefeitos, governadores e empresários sobre parcerias para obras e políticas públicas do governo federal.
Esse foi o recado dado pelo chefe do Executivo
federal ao primeiro escalão do governo, na última reunião ministerial ampliada
do ano, na quarta-feira (20/12). Neste primeiro ano do atual mandato, Lula teve
agenda intensa de viagens internacionais, o que chamou de “volta do Brasil ao
mundo”.
Foram 15 viagens para 24 países, e cerca de 150
encontros bilaterais ou telefonemas com chefes de Estado, de governo e outros
líderes, segundo levantamento feito pelo Metrópoles com base na
agenda presidencial.
Agora, Lula deve olhar mais para o trabalho interno
a ser feito. Em ano de eleições municipais, o PT pretende consolidar uma base
para apoiar eventuais candidaturas do partido e garantir os palanques para o
pleito presidencial de 2026.
·
Eleições municipais
O presidente no Brasil deverá focar bastante nas
eleições municipais em 2024. Ainda que o PT não tenha muitos nomes competitivos
em grandes colegiados, como São Paulo, a ideia é compor com aliados
estratégicos, como o deputado federal Guilherme Boulos (PSol), pré-candidato na
capital paulista.
Em evento recente em São Paulo, Lula
prestigiou Boulos ao se queixar do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e
do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), ambos bolsonaristas.
Além de Lula, marcaram presença no evento o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ex-prefeito da cidade; o titular das
Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ex-secretário municipal de Saúde;
além de outros integrantes do primeiro escalão.
Na conferência do PT em Brasília, em dezembro, o
chefe do Executivo se dispôs a ser um “bom
cabo eleitoral” e citou a conciliação entre partidos para maiores chances de
candidatos eleitos, ao usar como exemplo a chapa dele com o vice-presidente da
República, Geraldo Alckmin, do PSB, em 2022.
O presidente também provocou a militância petista a
conquistar o eleitorado evangélico, o que
repetiu em discurso uma semana depois. Em outro momento, Lula falou sobre
cativar os jovens em evento com estudantes.
·
Fiscalização de obras
O chefe do Planalto anunciou planos para viajar o
país em 2024, após dedicar boa parte de 2023 à agenda internacional. Nos
próximos 12 meses, está nos planos do presidente fiscalizar o trabalho interno,
principalmente o andamento de obras financiadas pelo Novo
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo dele.
As viagens pelo Brasil deverão servir como
aproximação do petista com prefeitos e governadores, tanto para reforçar laços
já firmados quanto para fortalecer as relações com políticos de outros
partidos.
Outra prioridade será checar como a verba de cada
ministério é utilizada. Na reunião ministerial setorial de novembro, com
titulares da infraestrutura, o chefe do Executivo cobrou que os ministros sejam
“os melhores
gastadores de dinheiro em obras de interesse do povo brasileiro”.
Discurso semelhante foi repetido durante a última
reunião ministerial ampliada do ano, em 20 de dezembro. O petista cobrou dos
chefes das pastas que o próximo ano seja marcado por menos lançamentos e mais
entregas, com a conclusão de obras e inaugurações.
·
Agenda verde
Em 2024, Lula precisará aperfeiçoar a imagem do
país para, em 2025,
sediar a 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP). Belém, no
Pará, foi a capital escolhida para receber o evento, após Lula fazer campanha
para que um território amazônico no Brasil seja palco da conferência.
Apesar da proposta de se consolidar como uma
liderança verde na COP28, em Dubai, neste ano, a agenda brasileira acabou
ofuscada pela confirmação, durante o evento, de que o Brasil havia aceitado o
convite, feito pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados
(Opep+), para se
tornar um dos “aliados” do grupo, a partir de janeiro de 2024. O que
gerou, na conferência, a “menção desonrosa” de Fóssil do Ano para o país.
Especialistas reunidos na conferência do clima
apontaram que a adesão ao
grupo de petroleiros lançou luz sobre as contradições da política ambiental
brasileira. Durante o evento da ONU, o Brasil anunciou projetos ainda tímidos,
a serem desenvolvidos até a conferência em Belém.
Apesar das turbulências na COP28, o evento foi
encerrado com um compromisso histórico dos países signatários pela redução do
uso de combustíveis fósseis. As fontes de energia não renováveis – carvão,
petróleo e gás – são os principais vilões em termos globais de emissão de gases
causadores do efeito estufa.
Para conseguir entregar resultados condizentes com
o compromisso de manter o aumento da temperatura do planeta Terra a 1,5ºC acima
dos níveis pré-industriais, ao longo do próximo ano, o tema ainda precisa ser
amplamente debatido no Brasil.
O país promete uma transição energética na
tentativa de se tornar cada vez mais independente de carvão, gás e petróleo, no
entanto, ainda precisa delimitar políticas mais assertivas e se desvencilhar de
práticas tradicionais ligadas à exploração de petróleo, para tanto.
·
G20
Apesar de prometer novo foco nos assuntos internos,
o presidente não abandonará a agenda internacional por completo. Até novembro
de 2024, o país preside o Grupo dos Vinte, ou G20, e trabalha para garantir
prioridade para os assuntos sociais dentro dos debates financeiros. Para tanto,
terá como fio condutor três objetivos
principais.
São eles: o combate à fome e às desigualdades;
preservação e inovação ambiental; e maior engajamento de debates com a
sociedade civil.
Em dezembro, o Palácio Itamaraty sediou as
primeiras reuniões do G20, entre elas um encontro inédito entre as duas trilhas
do bloco: a trilha de Sherpas – conduzida pelos representantes políticos dos
líderes – e a de finanças. Pela primeira vez, a gestão brasileira promoveu um
encontro de alinhamento entre as duas vertentes do bloco.
Os próximos encontros serão retomados a partir de
janeiro. No total, a presidência brasileira do G20 vai organizar 74 reuniões
técnicas e 25 encontros ministeriais, que culminarão com a cúpula dos líderes
em 18 e 19 de novembro de 2024.
Ø PT terá até
10 deputados concorrendo a prefeituras em 2024
Depois da definição do PT em apoiar candidatos de
outros partidos em três das principais cidades do país, o Partido dos
Trabalhadores agora define quem vai disputar de fato as prefeituras, que tem
mandato de deputado federal. São pelo menos 10 congressistas.
O PT vai apoiar Guilherme Boulos (PSol), em São
Paulo; Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro; e Geraldo Júnior (MDB), em
Salvador. Nos três casos, deve indicar os vices. Os nomes mais cotados,
respectivamente, são de Marta Suplicy (sem partido) e Marcelo Freixo (PT) —na
capital baiana ainda não há nome consolidado.
<<< Entre os deputados que disputarão em
capitais em 2024 estão:
Natália Bonavides — Natal (RN);
Adriana Accorsi — Goiânia (GO);
Rogério Correia — Belo Horizonte (MG) e;
Maria do Rosário — Porto Alegre (RS).
<<<< Também haverá candidaturas em
outras cidades médias do país:
Zé Neto — Feira de Santana (BA);
Waldenor Pereira — Vitória da Conquista (BA);
Alencar Santana — Guarulhos (SP);
Washington Quaquá — Maricá (RJ);
Dimas Gadelha — São Gonçalo (RJ) e;
Denise Pessôa — Caxias do Sul (RS).
Ø O país que
esquece Bolsonaro, pouco a pouco. Por Sónia Sapage
Há um ano, Luís Inácio Lula da Silva prometia “cuidar” das
pessoas e “reconstruir o país” depois de “anos de devastação”. A esperança,
para os que deixaram o Brasil durante a presidência de Jair Bolsonaro e para
muitos que ficaram, foi imediata.
Ao fim dos primeiros dias, com a invasão da Praça
dos Três Poderes, em Brasília, percebeu-se que o regresso não seria um passeio
no parque. A fasquia estava alta para um Presidente que passou 580 dias na
prisão, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e que
indirectamente abrira espaço à ascensão de um político populista.
Mas Bolsonaro foi-se eclipsando à medida que os
meses passaram, muito fustigado por processos e decisões judiciais que acabaram
por colocá-lo num pousio forçado de oito anos, durante
os quais estará impedido de concorrer ao Palácio do Planalto ou a outros cargos
políticos. O que não se eclipsou foi o bolsonarismo, que continua vivo e tem
ambições.
Isso significa que as divisões numa sociedade que
estava excessivamente polarizada não foram ultrapassadas neste último ano, mas também
não impediram o Governo de Lula de obter algumas vitórias políticas. A
recente reforma
tributária, o “arcabouço
fiscal” e a consequente subida do rating da dívida brasileira
foram boas notícias que o Presidente pode agradecer a Fernando Haddad, o seu
ministro das Finanças.
As más (notícias), que também as houve, Lula pode
agradecê-las a si próprio. As que tiveram maior repercussão recordam-se através
de duas frases do próprio: 1) “Posso dizer que se eu for Presidente do Brasil e
ele [Vladimir Putin] vier ao
Brasil, não há nenhuma razão para ele ser preso” (proferida após a emissão de
um mandado de captura internacional em nome de Putin) e 2) “É preciso que os
Estados Unidos parem de
incentivar a guerra e comecem a falar em paz” (dita no final de uma visita à China).
As posições sobre a Ucrânia, que Lula da Silva se
esforçou por explicar e normalizar, tiveram efeitos até em Portugal, ofuscando
as celebrações do 49.º aniversário do 25 de Abril, que coincidiram com a visita
do chefe de Estado a Lisboa — quem não recorda o espetáculo dos deputados
do Chega a interromperem o Presidente brasileiro a cada oportunidade?
Um ano depois do regresso de Lula, o mundo fará
balanços e avaliações, lembrará as conquistas e as derrotas, as promessas
cumpridas e as que ficaram no papel. E o Brasil, esse, será cada vez mais o
país que esquece Bolsonaro, pouco a pouco
Fonte: Metrópoles
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